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Apontamentos Etnográficos sobre os Povos de Angola

Parte I:

- Apontamento etno-sociológico.

- Mapa provável do povoamento do Continente Africano entre o III e o VIII milênios.

- Mapa dos Grupos Étnicos de Angola.

- Mapa da divisão Etno-Linguística dos povos de Angola.

- Agrupamentos Étnicos em Angola.

Apontamento Etno-Sociológico

Para o etnógrafo, o Continente Africano é o verdadeiro paraíso de pesquisa e estudo; lá se encontram todos os estágios da civilização humana, desde o Período Paleolítico até ao Contemporâneo.


Não é possível formar uma idéia político-social e econômica de um povo, sem que desse povo de tenha uma idéia global acerca da sua personalidade “comportamento coletivo, consuetudinário”. Para dar essa idéia global acerca da “personalidade” dos povos de Angola, torna-se necessário que primeiro se faça uma breve nota explicativa do aparecimento, formação e sub-divisão desses povos.


As linhas étnicas em Angola têm três linhas distintas:


Em primeiro lugar vamos considerar os Bosquímanos ou Mukuankalas – Hotentotes, que dominaram a metade Sul da África até cerca de cinco mil anos atrás.


Supõem alguns Antropólogos que estes indivíduos de características completamente distintas de todos os outros seres humanos, descendem de remota família caucasiana.


Há cerca de cinco mil anos atrás, dá-se a invasão dos Bantus – plural de N’tu, que quer dizer “Ser Hmano” – povos vindos das margens do Mar Vermelho em busca de melhores terras e pastagens – com os movimentos glaciares entre o III e o VIII milênios começou a formar-se o Deserto do Norte de África – e que, em maior número e com armamento mais sofisticado, foram chacinando e escorraçando o restante da etnia anteriormente dominante, para as regiões Desérticas do Sul do Continente.


A terceira Etnia, que não vamos considerar, são os brancos, descendentes dos Europeus que colonizaram o País e que desembarcaram pela primeira vez na foz do Rio Zaire, no século XV.


A primeira etnia considerada, a dos Bosquímanos – termo que deriva de Bush Man – limitou-se às regiões desérticas, e mantiveram inalterados os seus costumes, ou até regrediram, face às dificuldades e da aridez da região que ocupam.


Limitam-se à “caça e colheita”, isto é, caçam e colhem frutos, verduras, raízes e tubérculos de crescimento espontâneo para alimentação; nada cultivam e mantêm hábitos nômades.


A segunda linha étnica, os Bantus, novos senhores das planícies e florestas, sub-dividiram-se e ocuparam regiões de características diferentes, de caça, de pastagens, de agricultura, de pesca, mais ou menos ricas, o que determinou tornarem-se mais ou menos combativos. Com o passar dos séculos adquiriram novos costumes de acordo com as regiões ocupadas; a própria língua mãe sofreu alterações de região para região, o que dá origem a novos povos, com novos costumes e características de vida próprias, embora Bantus por raiz.


Nestes apontamentos destaco assuntos que, pela pequena diferença de povo para povo, podem ser generalizados; destaco alguns costumes de diferenças marcantes de povo para povo, falo sobre os grandes potentados, algumas figuras de monarcas que se evidenciaram, sobre alguns lugares históricos e sobre a tradição oral – lendas, histórias, provérbios e adivinhas – através das quais os povos Africanos têm perpetuado os seus conhecimentos e cultura.


Acho importante esclarecer que falo de costumes puros, tão independentes da cultura ocidental levada pelos colonizadores, quanto possível, e que ainda hoje se encontram pelo país.


Costumes de uma lógica, civismo e riqueza cultural muitas vezes superiores aos ocidentais.


Generalizando aspectos de muitos pontos em comum, e destacando assuntos de diferenças significativas, entendi que reduziria a monotonia da leitura, evitando repetir hábitos comuns que, apesar dos séculos decorridos, ainda se conservam.


Em momento nenhum foram usados os procedimentos sistemáticos de comparação, e ou metodologia científica, que estabelecem tipologias e confrontos de característica por característica das diversas tribos; não pretendi fazer um trabalho de caráter acadêmico, antes um livro de leitura escorreita que sem ser cansativo possa esclarecer pontos de uma cultura ainda praticamente desconhecida e exótica, quando não, considerada incultura.


Existem atualmente cerca de cinco mil Mukuankalas/Bosquímanos e perto de nove milhões de Bantus em Angola.


Quanto à falta de conhecimento da cultura – costumes, civilização, princípios éticos e filosóficos – dos povos Africanos, foi a causadora de abismos de incompreenção entre colonizados e colonizadores.


Na África colonial, era costume as classes mais privilegiadas – de esmagadora maioria branca – terem diversos empregados domésticos, por vezes trazidos diretamente dos kimbos – aldeias nativas – do mato para a cidade, onde, por força das circunstâncias se viam na necessidade de aprender serviços e a conviver com realidades que culturalmente nada lhes diziam.


Volta e meia, um desses serviçais “Had Oc”, encontrando pela casa um objeto não usado por ninguém, mas do qual ele necessitasse, pegava-o.


A acusação de roubo, causava a mais autêntica admiração e negativa:


- Não roubei não, peguei porque ninguém estava precisando!


Outro costume dos aborígines Africanos em geral, e ainda hoje muito encontrado em Angola, independentemente de origem étnica, e mesmo entre camadas com forte influência da cultura ocidental, e que tem sido constante alvo de críticas e desdém, é a seqüência dos elementos de uma família quando caminhando. O homem vai na frente, não carregando qualquer tipo de peso; mais atrás uma dezena de metros, vai a mulher carregando todo o peso – kinda com mantimentos e panos, filho de colo, o que for – também mais de uma dezena de metros atrás da mulher, vai a prole de filhos.


Assim caminham quer em pequenas ou longas jornadas, e mantendo constante diálogo.


Atitude inconcebível para a cultura ocidental, impregnada de conceitos cavalheirescos não adaptados à realidade da vida africana.


Organização de marcha coerente, se nos lembrarmos que, desde tempos imemoriais, caminhando por terras que a qualquer momento poderiam reservar como surpresa o aparecimento de um predador, o homem, chefe e defensor do clã familiar, não podia levar qualquer peso que por ventura viesse a estorvar-lhe os movimentos de defesa. A mulher, um pouco mais atrás, tinha condições de fugir em caso de perigo real; os filhos, bem mais atrás, só por grande fatalidade não conseguiriam livrar-se do perigo pela fuga.


A conversa constante, e às vezes incoerente ou despropositada durante a caminhada? Era, ou melhor, é, o jeito de manter contato sem tirar os olhos do caminho; vamos e venhamos, sem torcicolos.


Rejeito veementemente os conceitos arbitrários de progresso, bem como teorias evolucionistas segundo as quais a cultura ocidental é invariavelmente colocada no topo da escala de civilização.


As culturas devem ser estudadas pelo seu valor inerente, pois todas elas têm uma lógica, e só parecem exóticas a quem não procura entender o sentido e a coerência das suas normas e costumes.


Também está longe da minha pretensão, dar um formato acadêmico a este apanhado de apontamentos. Não é essa a intenção. A intenção é esclarecer, mostrar o sentido e o grau de civismo de culturas tão pouco compreendidas apesar de já estarmos no XXIº século da nossa era.


Assim, escrevendo sobre costumes de povos que tanto influenciaram a formação da minha cultura, pois fui um observador participante, tenho como esperança contribuir um pouquinho para a compreensão, tolerância e respeito, entre povos de culturas diferentes.





Mapa 1 (Continente Africano)

Delineamento provável do povoamento do Continente Africano entre o III e o VIII milênios.

-----------à Itinerário dos povos pastores

:::::::::::::::: Deserto

------------- Floresta Tropical (Rain Forest)

Mapa 2 (Angola)

Grupos étnicos em Angola

1- Zombo 2 – Congo 3 – Dembo 4 – Lunda 5 – Tchokwé 6 – M’Bângala

7 – N’Dongo 8 – Songo 9 – Luena 10 – Luchase 11 – M’Bunda 12 – M’Bunda

13 – Mukuankala ou Bosquímanos, Hotentote 14 – M’Bwela 15 – Kwaniama

16 – Wale 17 – Kwamatuí 18 – Tchimba 19 – Ovimbundo 20 – Ovimbumdo

21 – Nyaneka 22 – Gingas ou Jagas 23 – Mayombes (pigmeus)

Mapa 3 (Angola)

Divisão Etno-Linguística dos povos de Angola

A – Raiz Bantu B – De Raiz não Bantu

1 – Kikongo 10 – Hotentotes – Mukuankalas

2 – Kimbundo 11 – Mupa, Kuenes, Kedes

3 – Lunda Tchokwé 10 – Hotentotes, Koisan

4 – Umbundo 11 – Wátuas, Kwepes, Kuissis

5 – Ganguela 12 - Kurokas

6 – Nhaneca Humbe

7 – Ambó

8 - Herero

9 - Xindonga

Localização Geográfica de Angola

Angola localiza-se no lado Ocidental do Continente Africano, abaixo do equador, tem uma área de um milhão duzentos e quarenta e seis mil e seiscentos quilômetros quadrados, e tem como fronteiras:

Norte - República do Zaire

Este - Zaire e Zâmbia

Sul - Namíbia

Oeste - Oceano Atlântico

O enclave de Cabinda, que faz parte do território Angolano, é limitado a:

Oeste – Oceano Atlântico

Norte – República Popular do Congo

Este - República Popular do Congo

Sul - Zaire

População : Cerca de Onze Milhões de habitantes

Religião : A grande maioria pratica o animismo tradicional. Uma minoria é católica.

Agrupamentos étnicos em Angola

A) De raiz Bantu

1 – Grupo Kikongo: Vili, Yombe, Kakongo, Oyo, Moxikongo, Sosso, Congo, Zombo, Yaka, Sucu, Pombo, Guenze, Paca, Code, Moxico.


2 – Grupo Kimbundo:Ambundo, Luanda, Hungo, Luango, N’Temo, Puna, Dembo, Jinga, Bondo, Bângala, Holo, Kari, Xinge, Minungo, Songo, Bambeiro, Kissama, Libôlo, Kibala, Haco, Sende.


3 – Grupo Lunda-Tchokwé:Tchokwé, Lunda, Lunda-Lua-Xinde, N’Dembo, Mataba, Kalongo, May.


4 – Grupo Umbundo: Bieno, Bailundo, Sele, Sumbe, M’Buy, Kissange, Lumbo, Dombe, Hamma, Ganda, Huambo, Sambo, Kakonda, Xikuma, Mulondo.


5 - Grupo Ganguela: Luimbe, Luena, Luwale, Luchase, Bundo, Ganguela, Ambwela, Ambwela-Mabumba, Engongeiro, N’Golieno, M’Bande, Kangala, Yahuma, Luio, Neoia, Kamaxi, N’Dungo, N”Mengo, N’Memba, Aviko, Muxitos, Luy.


6 – Grupo Nhaneka-Humbe: M’Vila, Gambo, Humbe, Donguena, Hinga, Kuânkwa, Handa-Mupa, Handa-Kioungo, Vahono, Kilengue-Musso, Mukubal.


7 – Grupo Ambó: Kwanyama, Kwamatuy, Ualekafima, Kuangar, Mayaka, Dombondola.


8 – Gruou Herero: Dimba, Ximba, Xavíkua, Kuanyoka, Kuwale, Kuendelengo.


9 – Grupo Xindonga: Kussu.





B) Não Bantus, de Raiz Hotentote



1 – KöiSan ou Mukuankalas – Bosquímanos.


2 – Kedes, Mupas, Kunenes.


3 – Wátuas, Kwepes, Kuissis.


4 – Kurokas.




Generalidades sobre a sexualidade dos povos de Angola

A Sexualidade é um componente de primordial importância no dia a dia dos diversos povos africanos. O erotismo, essa força primária e fundamental, está expressa em todos os costumes e manifestações artísticas dos povos desse Continente; nos rituais de fertilidade humana, de animais e da terra – nas crenças religiosas e feiticistas, na pintura e estatuária, na sensualidade da dança e da música.


Os ritos sexuais, remontando à pré-história e comprovados em pinturas rupestres que sobreviveram até aos nossos tempos, mostram a importância que o erotismo vem tendo na particular visão dos povos de cultura negra.


Com o advento da colonização do Continente Africano, a força política que a igreja e o clero tiveram nos povos colonizadores, passou a haver uma repressão normal que impedia que se concebesse para o sexo, uma limitação que não fosse estritamente genital, e dentro dos limites do matrimônio; qualquer outra manifestação erótica constituía contravenção teológica e religiosa.


Apesar da influência das culturas ocidentais dos colonizadores, os valores eróticos sobreviveram entre os povos Africanos, tanto no âmbito biológico quanto no espiritual e artístico.


Em prol da fertilidade se fazem verdadeiros rituais eróticos, como por exemplo entre os Ganguelas, a “Kauena” – dança do fogo.


Desde as mais remotas civilizações, a libido vem sendo representada pelo fogo, pela chama; o sensualismo, pelo calor. Nos mais diversos graus da evolução das civilizações se encontram rituais alusivos ao ato sexual, em que a presença do fogo é fundamental; aquece e excita!


A Kauena dos Ganguelas acontece em determinadas épocas do ano, por indicação e escolha dos feiticeiros – a quem os espíritos determinam ser a época da fertilidade – em noites de Lua Nova.


Num dos extremos do terreiro reúnem-se os homens todos, em volta dos tocadores de N’Goma – espécie de tambor –cujo ressoar vai aumentando de intensidade até se tornar ensurdecedor; por essa altura aparecem do outro lado do terreiro chamas em movimento, numa coreografia fantástica, espalhando milhares de fagulhas, sob cuja iluminação tênue, aparecem os velhos da tribo, sentados ao redor da clareira, e que apenas se movimentam para passar ou receber a Mutopa – cachimbo de água, feito de uma cabaça, em que é fumada uma mistura de tabaco e cânhamo -- no seu movimento contínuo.


A coreografia das chamas é executada por mulheres completamente nuas que, simultaneamente vão imprimindo aos quadris um movimento circular, lento e cadenciado, com meneios lúbricos e provocantes, que vão acendendo nos olhares masculinos uma chama inquieta de desejo, que vai aumentando até ao paroxismo.


Os tocadores são substituídos à medida que caem exaustos, o reboar é sempre crescente, os homens abandonam a atitude inerte de meros assistentes e integram-se ao ritmo, num ondear de corpos coleante; as cordas e archotes em chamas são abandonadas no chão, o som dos N’gomas vai então diminuindo, a modesta iluminação das chamas vai desaparecendo, até impor-se o breu da noite e os sons dos pares em acasalamento.


O erotismo e a sensualidade são como já foi mencionado, de importância primordial; para melhor se falar dessa importância, vou dividir os aspectos abrangentes da sexualidade dos povos de Angola, por tela:



I – CARACTERÍSTICAS E MODIFICAÇÕES ANATÔMICAS, VESTUÁRIO E ADORNOS.

1) Características anatômicas: Entre os povos africanos em geral, desde que pouco ou nada influenciados pela cultura ocidental, é freqüente a manipulação para modificar diversas partes do corpo, especialmente, dos órgãos genitais.


Segundo Antropólogos diversos – apesar da disparidade de opiniões – a característica mais marcante entre os homens de diversas origens tribais, se encontra nos Mukuankalas que, em vez do “Pênis Pêndulos” normal entre todos os outros homens de todas as raças do mundo, apresentam o “Pênis Rictus”, curto e pequeno em termos de comparação universal, mas que mesmo em estado de repouso mantém a posição horizontal de semi-ereção; mesmo desempenhando atividades desprovidas de qualquer estímulo sexual, como a caça, por exemplo.


A vagina das mulheres negras de origem Bantu é em geral mais estreita e mais profunda do que as das européias – até dezesseis centímetros, em vez de dez – e do tipo proeminente, em que a maior amplitude longitudinal do períneo, bem como o orifício vaginal mais elevado, permite que a função biológica de urinar possa ser levada a efeito em pé. É freqüente as mulheres africanas urinarem de pé.


Como conseqüência de variadas manipulações, a vagina das mulheres africanas apresenta outras sensíveis diferenças, em relação às outras raças.


Basicamente dois tipos característicos são mais comuns: a “anclitonídea”, em que o clitóris é eliminado por amputação ou cauterização, e a “hipertética”, com os lábios vaginais alongados por massagens e estiramento.


A alteração mais marcante está, no entanto uma vez mais entre os Mukunkalas, as mulheres mukuankalas, que por meios artificiais conseguem o alongamento tanto dos lábios vaginais, quanto do clitóris, que chega a ter de dez a quinze centímetros de comprimento, adaptando assim o aparelho genital feminino, ao “Pênis Rictus”, -- curto e pequeno – dos homens deste grupo.



2) Tatuagens e cortes: Tatuagens por corte na carne são alguns dos métodos de embelezamento artificial; porém, a finalidade dessas marcas não é somente a modificação plástica e estética, mas representam também marcas tribais, sinais que distinguem indivíduos de diversas tribos.


As cicatrizes em relevo têm também um papel erótico, pois aumentam a sensibilidade dos terminais nervosos.


3) Embelezamento: Os adornos e embelezamento em geral, têm também uma finalidade prática, que é a de distinguir faixas etárias – infância, puberdade, e idade adulta, em ambos os sexos -- bem como castas e atividades, e até condição econômica.


Entre as mulheres M’uílas, Mukubais e Kwaniamas, aros metálicos no pescoço, tornozelos e pulsos, indicam número de cabeças de gado do clã.


4) Vestuário: Nas regiões de clima mais quente, e apesar as influência contrária das religiões importadas e dos costumes dos colonizadores, predomina a quase total nudez.


Para a confecção de roupas, são usadas as peles de animais, tecidos de algodão e outras fibras vegetais, como do coqueiro, e do sisal. As estamparias apresentam motivos étnicos e tribais.



5) Adornos: Os adornos têm várias finalidades bem definidas; uma é atrair a atenção do sexo oposto, outra é a proteção do corpo e do espírito, no caso de amuletos feiticistas que protegem de males diversos. Unhas e dentes de animais, são usados como troféu, ostentando a coragem e destreza que foram necessárias para abater o animal em questão e obter as peças. Anéis metálicos são usados como indicativo de condição econômica; pinturas são específicas para guerra, caça e rituais diversos – fertilidade, puberdade etc...—não existe o adorno como objeto de vaidade pura e simples.




II – SEXUALIDADE INFANTIL, CIRCUNCISÃO E EXCISÃO CLITORIANA E DE PEQUENOS LÁBIOS.


1) Infância e primeira adolescência: Na cultura africana a sexualidade não é um tabu, nem tem nada de pecaminoso. Um casal que se disponha a manter relações sexuais, procura um lugar recatado, não por entender que deve esconder-se para praticar o ato, mas porque o ato em si exige recato e concentração, difíceis de conseguir em lugares movimentados.


Se surpreendidos em tal atividade, continuam agindo de forma natural, bem como age de forma natural a pessoa que eventualmente surpreenda o casal em semelhante função.


As cubatas – casas – não têm portas, e os filhos desde cedo se acostumam a presenciar a atividade sexual dos pais e dos vizinhos. Assim, as manifestações sexuais da infância e primeira adolescência, se dão de forma normal. Obedecendo ao instinto.


O exercío sexual entre os jovens é considerado como parte fundamental do treinamento para a vida adulta, e assim, brincadeiras de “marido e mulher” em que acontece o intercurso sexual, são freqüentes na juventude e até na infância.


A masturbação entre os rapazes tem também como motivo a vontade de retrair a pele que cobre o prepúcio, de modo que os faça parecer adultos circuncisos.


A virgindade feminina não é minimamente considerada, já que a manipulação para alongamento dos lábios vaginais e do clitóris, e do alargamento das paredes vaginais – em que são usados até chifres de animais – tende a ser rompida bem cedo de forma acidental.


Outro motivo para a não repressão à sexualidade dos jovens, é que os rapazes não circuncidados são considerados inférteis, e inofensivos no que concerne à procriação. O mesmo em relação às moças pré-púberes; e o conceito de pré-puberdade, tanto em rapazes como em moças, é elástico, uma vez que os rituais se dão em épocas específicas, juntando na altura os jovens que estão mais ou menos na idade considerada certa, e que pode levar ao ritual de passagem da puberdade à vida adulta, tanto impúberes, como púberes já com certo tempo.


A liberdade sexual é assim ampliada; anuladas quaisquer restrições ao intercurso sexual, em qualquer idade.


2) Menstruação: A menstruação é um marco fundamental na vida da mulher. Entre algumas tribos da linha Bantu, ocorrendo a primeira menstruação, a moça é confinada junto com as outras na mesma situação, onde é iniciada a escola preparatória para a vida adulta.


Nessa escola preparatória, de tempo de duração variável, é ensinado às moças tudo o que é considerado importante, desde a maneira de proceder em relação aos homens, ao que os maridos podem esperar delas como esposas, e até métodos contraceptivos “coitus interruptus”, abortivos de ervas etc...


O fluido menstrual é considerado impuro, e crêem ate, que um homem que tenha relações com uma mulher nessas situação, corre o risco de perder a virilidade.


Enquanto estiverem menstruadas, às mulheres é vetado o convívio comunitário, cozinhar para os homens, e em algumas tribos existe até uma cubata isolada, onde se reúnem as mulheres nesse período.


As mulheres só na terceira idade, após a menopausa, deixam de ser consideradas perigosas e passam então a ter direito a voto nos conselhos tribais.


3) Circuncisão: A circuncisão é para a cultura africana, mais do que a mera intervenção cirúrgica em que é amputada a pele que cobre o prepúcio do pênis. Representa a passagem da adolescência para a idade adulta, e é, tal como na menstruação feminina, acompanhada de um período de duração variável, em que são ministrados os conhecimentos fundamentais ao homem, bem como treinamento no uso de armas para a caça e guerra, luta corporal, etc...


Dadas as condições de sepcia em que a intervenção cirúrgica é efetuada e o primitivismo dos métodos cicatrizantes, são freqüentes os casos de infecção, com maior ou menor gravidade, em que não é incomum um rapaz vir a morrer, vítima de septicemia.


A circuncisão – ritual – serva assim também de uma espécie de método seletivo, em que sobrevivem os mais resistentes e fortes.


O circuncidador é sempre escolhido entre os mais conceituados anciãos da tribo que, além da técnica operatória, tenha também conhecimento sobre ervas e misturas – cinza e barro – cicatrizantes.


4) Excisão clitoriana: A extirpação do clitóris tem origem indeterminada, e parece ter como objetivo retirar parte do prazer e desejo sexuais à mulher, limitando-lhes assim a atividade sexual à procriação.


O ritual tem lugar a cada dois ou três anos, depois de se ter reunido o número suficiente de candidatas, sendo o sinal indicativo da época própria, o aparecimento dos pelos pubianos, e sempre posterior à primeira menstruação. Basicamente usam três tipos de intervenção:


- Amputação total do clitóris.


- Cauterização com um ferro em brasa


- Corte do nervo clitoriano.


A operação é efetuada por uma velha da tribo, com óbvios conhecimentos anatômicos sobre o assunto, ainda que empíricos.


5) Iniciação púbere feminina: A iniciação púbere das moças é uma escola em que são transmitidos todos os conhecimentos abrangendo os aspectos da vida adulta, e é apenas uma prévia da escola da vida, na época da primeira menstruação.


São focados assuntos como postura e deveres femininos no contexto tribal, sexo, métodos conceptivos e abortivos, maternidade, lactação, cuidados com as crianças desde o nascimento, técnicas de fiação de fibras, tecelagem, olaria, etc...


Os abortos, raros, dão-se unicamente por indicação dos feiticeiros, quando por qualquer motivo se presuma que o feto em gestação pode vir deformado ou com algum tipo de anomalia.




III – SEXUALIDADE DOS ADULTOS



1) Conceitos Gerais: Pelo anteriormente descrito, ficou claro que rapazes e moças, nas diversas etapas da vida, até serem adultos, têm todas as condições de satisfazerem os seus impulsos sexuais, sem qualquer limitação.


Os estímulos sexuais vêm normalmente de forma espontânea, ou através da expressão corporal na dança; nas culturas africanas não se usa o beijo, e raramente o estímulo dos órgãos genitais do parceiro. A posição de cópula mais usada é de lado.


2) Matrimônio: Entre as civilizações africanas não ocidentalizadas, não se conhece casos de monogamia. O desequilíbrio quantitativo entre homens e mulheres é solucionado pela poligamia ou pela poliandria – comum em Angola entre os Luenas.


A poligamia responde melhor a determinadas facetas éticas, de costumes, sociais e econômicas.


Aos homens é vedado o intercurso sexual com mulheres no período menstrual, durante a gestação, e no período de resguardo pós-parto, que dura meses. Assim, a poligamia atenua a contenção e abstinência sexual masculina, a que estes princípios levariam num sistema monogâmico.


Do ponto de vista econômico, como tanto a agricultura como o pastoreio são atividades eminentemente femininas, diversas mulheres contribuem de maneira mais significativa para a consolidação do patrimônio do clã.


No aspecto meramente social da comunidade, e como em geral o número de mulheres é superior ao de homens, a monogamia impediria muitas mulheres de ter uma casa, uma família, um homem.


Entretanto são observadas regras básicas para evitar conflitos nesse tipo de relacionamento.


O homem pode ter várias mulheres, mas nunca duas na mesma casa; cada mulher tem a sua casa e a sua área de terra para cultivo, para prover a própria subsistência e a dos filhos, muito embora as terras sejam comunitárias; e o homem jamais deve mostrar favoritismos.


A escolha de uma esposa obedece também a critérios completamente diferentes dos ocidentais; os predicados mais valorizados são a capacidade reprodutora – fertilidade -- e a capacidade de trabalho da mulher. A beleza é um fator de completa irrelevância.


Após a escolha, o pretendente revela à família da escolhida as suas intenções.


Começa aí um ritual de valorização da mulher, que dificilmente é compreendido por outros povos de outras culturas.


A família se mostra contrariada com a possibilidade de perder a moça, e o pretendente faz então uma oferta de bens materiais – gado, sal, milho, farinha, panos, etc.. – que não tem como objetivo atribuir um preço à futura mulher, mas sim mostrar o quanto ele a quer; um querer forte o suficiente para se sacrificar a ponto de se desfazer ou conseguir a relação de ofertas. É o LEMBAMENTO.


Acertado o Lembamento, é marcado o casamento, e no dia acordado, o noivo vai buscar a futura esposa que, numa pantomima e gestos de recusa, deve mostrar-se contrariada pela mudança de situação, e abandono da família.



Pede ajuda às pessoas da família – enquanto o homem a puxa pelo braço – que se finge de surda, e rompe-se assim o elo familiar anterior.



Nos casamentos da cultura africana, se desconhece completamente o ciúme, como sentimento de posse.



Na hospitalidade intrínseca aos povos da linhagem Bantu, freqüentemente é incluída a hospitalidade sexual, em que o visitante pode ser convidado a pernoitar na casa de uma mulher casada – até pelo próprio marido – desde que ela esteja de acordo.



Não existe, como já foi dito, o ciúme, e a relação extra matrimonial pode, tal como a matrimonial, originar uma gravidez. O chefe da família considera qualquer filho gerado por uma de suas mulheres, como seu. Mas, para não quebrar a consangüinidade, a descendência é em linha uterina. O descendente é o sobrinho filho da irmã. Ele e irmã vêm do mesmo útero, logo a consangüinidade do sobrinho é inquestionável, enquanto o filho pode ou não ter o sangue dele.



Do mesmo jeito que a fertilidade é importante, a esterilidade é execrada a ponto de poder originar a devolução da mulher à família – cúmulo da degradação.



A mulher que depois de um determinado tempo não engravida, está sujeita a que o marido a devolva, pedindo de volta tudo o que haja oferecido no lembamento.





3) A prostituição: Com tantas facilidades à satisfação dos impulsos sexuais, a prostituição segundo os conceitos ocidentais, não existe. Mas existem as prostitutas rituais ou de orientação sexual dos jovens, normalmente escolhidas entre as viúvas da tribo.





4) Doenças Venéreas: As doenças venéreas são comuns, e tratadas pelos Kimbandas – curandeiros – como todas as outras doenças, e quando recalcitrantes na regressão, o feiticeiro pode atribuir a causa a conjunções espirituais.




O contato sexual com pessoas doentes é evitado na medida do possível, conceito tão abrangente este de na medida do possível, que em algumas tribos a transmissão e alastramento das doenças sexualmente transmissíveis, chega a tornar-se uma verdadeira epidemia.





CIRCUNCISÃO ENTRE OS GANGUELAS


O ritual tem lugar numa clareira natural – Bamba – usada para o mesmo fim por gerações. De um lado ficam as cubatas que vão servir de moradia aos Kimbandas – o feiticeiro chefe do ritual, o operador, o intérprete dos espíritos e os ajudantes. Depois vêm diversos semi-cercados, sem qualquer espécie de proteção e que servirão de habitação aos iniciados durante o tempo que durar o ritual e Escola da Vida – Mukanda Kandongo.


Na véspera do dia marcado para a cerimônia, realiza-se no Sobado um batuque de comemoração pelo início do ritual, em que os rapazes que vão participar, mais do que ninguém, dançam até à exaustão.


O esgotamento físico por esta noite, junto com os efeitos do Marufo – fermentado de seiva de palmeira – são os únicos anestésicos para o dia posterior.


Quando rompe a madrugada, o Kimbanda chefe põe fim ao batuque e declara aberta a Mukanda Kandongo.


Os jovens participantes são então pintados de branco, perdem os nomes de criança e recebem todos eles o nome de Fungandas.


Os Fungandas dão a seguir entrada na clareira sagrada, onde permanecem sentados, lado a lado, tendo cada um junto de si um ajudante de Kimbanda.


O Kimbanda dirigente evoca então os espíritos auxiliado pelo pelo rufar dos batuques, e após, o Kimbanda operador, munido de todos os instrumentos e amuletos, dá início às operações de corte dos prepúcios.


O ajudante segura fortemente o Funganda, enquanto tenta incutir-lhe no espírito o orgulho de homem, para ajuda-lo a suportar as dores.


Após o corte, o sangue é estancado e a ferida envolvida por uma mistura de ervas e outras substâncias cicatrizantes, cinzas inclusive, em algumas tribos é usado também o estrume vacum, e o pênis envolvido por folhas que o isolem do contato com as pernas.


Terminada esta parte, o Kimbanda intérprete dos espíritos declara o funganda operado “homem”, e deixa-o ir para a Mwela – cercado – que lhe é destinada, onde se completará a cicatrização.


Na mwela sofrerá durante o período de cicatrização, as intempéries, pois este sofrimento vai ajuda-lo a preparar-se para os maus momentos da vida.


Durante o período de cicatrização, ficam imobilizados em posição quase letárgica, e assim, são alimetados pelos ajudantes do Kimbanda, que também os ajudam a satisfazer as suas necessidades fisiológicas.


A segunda parte da Mukanda começa a partir da completa cicatrização.


Os fungandas que resistirem a esta primeira fase – muitos morrem de septicemia – podem então levantar-se, limpar as Mwelas e entram então já homens na fase de aprendizado da vida.


Exercitam o corpo em provas de corrida, aprendem a usar a lança e a zagaia, é-lhes ensinada a técnica da espera e avanço para o bom êxito da caçada, a paciência para a pesca, e as tradições tribais, que jamais devem ser menosprezadas.


Durante esta segunda fase, são freqüentemente postos à prova, em situações em que tenham que demonstrar coragem e tenacidade, e têm se subsistir por eles próprios, pela caça e pesca.


O sentimento que mais lhes é incutido, é o de camaradagem pelos companheiros da mesma Mukanda; o ritual os irá irmanar pelo resto da vida.


Chegados ao fim da segunda parte da Mukanda, os Fungandas escolhem o nome de adultos, normalmente de um animal que tenham abatido e que lhes tenha causado particular orgulho.


Começa aí a terceira fase.


Na terceira e última fase, têm especial destaque os Kimbandas intervenientes dos espíritos, pois estes são os verdadeiros mestres das coisas da vida. Cada Kimbanda tem nessa terceira fase, um aspecto da vida a ensinar; desde o Kimbanda que ensina os segredos e mistérios do amor, incluindo as artimanhas femininas, até noções de justiça e vícios a evitar.


Com o fim dos ensinamentos, é chegado o fim do ritual – que chega a durar meses -- e os novos homens saem para o banho sagrado de purificação e preparam-se para os rituais de despedida.


Na última noite são entoados cânticos alegres, feitas juras de segredo pelo que ali aconteceu, e recebidos os últimos conselhos para a vida.


No dia seguinte, logo ao raiar do sol, tem lugar a cerimônia mais comovente de toda a Mukanda, que é o enterro dos Fungandas que não resistiram às provas.


Os cadáveres são descidos dos ramos de árvores onde hajam sido colocados, e desenrolados das folhagens que lhes serviam de mortalha, para que os novos homens, antes de entrarem na vida, tomem mais uma vez contato com a morte.


Em seguida são novamente amortalhados e, ao som de um batuque fúnebre, enterrados perto das Mwelas que lhes pertenciam.


Quando esta cerimônia chega ao fim, já todas as sanzalas – aldeias – receberam a notícia do fim da Mukanda. Vão então homens e mulheres, em sinal de júbilo, esperar os ex-Fungandas.



À chegada à sanzala, segue-se um batuque de comemoração; é uma noite alegre, onde só se vê tristeza, nas mães que perderam os filhos durante o ritual.




OKU-HITA ESUKO DIMBA -- PUBERDADE DAS MOÇAS DIMBA



As moças Dimba, normalmente são submetidas ao ritual da puberdade, antes da puberdade fisiológica. Esta antecipação em relação às outras tribos deve-se ao fato de que é encarada com bastante contrariedade e até hostilidade, qualquer gravidez que se antecipe ao ritual.


A cerimônia é efetuada para cada garota em particular, podendo a título excepcional, juntar-se duas primas ou duas irmãs.


As coisas acontecem então assim:


No dia em que se decide que a moça deve começar o seu tempo de aprendizagem, deixam-na passear enfeitada e despreocupadamente, como se ignorasse o que se irá passar.


De repente, uma das acompanhantes grita alertando-a ao aparecimento de um grupo de rapazes que, saindo em sua perseguição a agarram e levam para a Onganga – casa – do pai; deitam-na então no chão, e com a cara virada para a terra.


Enquanto isso, ela, a mãe e as acompanhantes choram em desespero, esfregando a testa da moça com carvão, como se se tratasse de uma cerimônia fúnebre, de um óbito.


É nomeada então uma mulher, da linha uterina do pai, para mestra de cerimônias – é ela que durante os dias que se seguem irá ministrar todos os conhecimentos e ensinamentos úteis e importantes para a vida da futura mulher.


Durante tosa a noite desse dia, as mulheres entoam cânticos alusivos, e na manhã seguinte, a mãe ou a tia materna, a levam às costas para a sombra de uma Mulemba – figueira de grande porte.


Aí são quebradas as pulseiras de madeira que lhe ornam os braços e tornozelos, e que são indicativos de condição pré-púbere.


Homens e mulheres se entregam a esse número divertido, enquanto ela, simulando contrariedade, se defende com uma chibata, em violentas vergastadas. Por fim, vencida, oferece a última argola a uma dama de honra.


Depois disso, a primeira mulher do pai, pinta o corpo da debutante, em riscas alternadas de cinza e carvão. Acabado este enfeite simbólico, a moça dirige-se para casa, amparada a um cajado, e curvada, como se lhe pesassem os anos de meninice; atrás dela seguem as acompanhantes, com ditos espirituosos e de incentivo.


À porta do curral, encontram um grupo de rapazes dispostos a lhes impedir a passagem; a moça bate então com o cajado no chão, e se eles não se afastarem a este aviso, ela bate-lhes, e aos rapazes não é permitido revidar.


No último dia, é morto por apnéia, para que possa aproveitar-se o sangue, um boi de cor preta, e que ela deve chorar, pois este animal é sacrificado em sua homenagem.


Faz-se então uma festa, em que ela come o fígado do boi, e oferece pedaços da carne aos presentes.


No final da refeição, a debutante levanta-se e diante de todos, pede autorização à mestra para dizer obscenidades; a autorização é concedida, e ela diz e simula todo o tipo de obscenidades, pretendendo com isso mostrar desinibição.


Nessa noite também, pede à mestra que exemplifique todos os movimentos eróticos do ato sexual, ao que esta também acede.


De manhã, na companhia de amigas, vai ao rio lavar-se das pinturas anteriormente feitas e recolhe-se logo à cubata.


No dia seguinte logo de manhã, senta-se na pele do boi sacrificado em sua homenagem, aguardando a chegada da mestra para untar-lhe o corpo com gordura e armar-lhe o penteado próprio desta fase da vida.


Depois disto, a mestra cinge-lhe os rins com fibras vegetais, e pendura-lhe à cintura uma parte do couro do boi preto.


Aí tem início uma série de visitas a fazer a parentes e amigos, para que a moça se apresente já na sua nova condição.








PUBERDADE M’UÍLA



As moças M’uílas usam até à época da festa da puberdade, um penteado de tranças enfeitadas com contas coloridas e que lhes chega quase aos ombros.


Quando aparecem os primeiros vestígios de menstruação, a moça é afastada da aldeia e começam os preparativos para a cerimônia.


No dia marcado é levada de volta pelos parentes à sanzala, para que, na presença de todos, seja desmanchado o penteado de menina, e armado o de moça disponível para o casamento.


A debutante finge surpresa a esta revelação, e foge a refugiar-se no mato. Logo uma comitiva de rapazes sai em perseguição dela, e trazem-na de volta, onde em frente à casa da mestra a deitam no chão e cobrem com peles de antílopes.


A mestra explica-lhe então as mudanças que a sua vida vai sofrer, pois a partir da cerimônia passará a ser considerada mulher.


É então levada ao rio para se lavar, e volta à aldeia onde é desmanchado o penteado infantil e armado o da nova condição; em crista, ao alto da cabeça, e sedimentado por uma mistura de gordura animal e argila vermelha.


Começa depois disto a fase de aprendizado, após a qual tem lugar uma festa e apresentação aos membros da tribo, na sua nova condição. Está então preparada para o casamento.




PUBERDADE ENTRE OS CABINDAS



A puberdade entre as moças Cabindas, dá-se quando pela primeira vez lhes aparece o fluxo menstrual, acontecimento para o qual já estão completamente preparadas, em conversas de iniciação com as outras mulheres, e por ensinamentos maternos.


Quando vem a primeira menstruação, a moça comunica o fato aos pais que, em sinal de regozijo, penduram como uma bandeira o pano que lhe cobria o sexo.


A família prepara então uma massa de Takula – substância vermelha – com a qual a debutante é pintada.


Para esta parte da cerimônia é feita uma encenação, em que a moça é mandada a uma sanzala vizinha, junto com uma amiga, enquanto no seu próprio kimbo são feitos os preparativos da cerimônia.


Ao chegar, fingindo surpresa pelo que está acontecendo, simula fugir, é perseguida, agarrada e então pintada.


Depois disso tem lugar uma festa que dura toda a noite, e ao amanhecer ela é declarada apta a entrar na “Casa da Tinta”.


Nesta casa, escola da vida para as moças, ela aprende tudo o que é importante para a vida adulta.


Quando saem desta casa, as moças estão prontas para o casamento. Caso este não ocorra logo de imediato, as moças são declaradas livres para ganharem a própria vida como melhor entenderem.


Obs – As mulheres Cabindas têm feições e tipo físico muito bonito, e dessa conjunção de fatores, muito se aproveitaram tanto colonizadores como povos de outras tribos, para as levarem à prostituição; o que não é impeditivo a que venham a casar.





PUBERDADE DAS CHAVÍKUAS



Entre os Chavíkuas, a diferença mais marcante dos rituais da puberdade, é o tempo, de quase total confinamento – em torno dos seis meses -- a que as moças são submetidas durante a fase de aprendizado.


Ficam reclusas durante esse tempo, numa cubata afastada do kimbo, onde só recebem a visita das mestras e de moças que lhes levam comida, e de onde só saem esporadicamente à noite, com a cabeça coberta, para visitar a mãe.


Passado este período, a mestra principal acompanha-as à sanzala, e dá, com cada uma das moças às costas, uma volta completa ao Arimo –terreiro – anunciando mais uma moça pronta a casar.


Este passeio provoca o ajuntamento de rapazes, para quem a moça canta e executa as danças aprendidas no período de reclusão.


A partir desta altura começam a aparecer os pretendentes, e com todos eles a moça pode dormir, a título de experiência; quando um deles realmente se distinguir dos demais, pelo valor da oferta à família, o casamento é marcado.


O casamento é por sua vez, uma cerimônia bastante simples; limitam-se os noivos a uma testemunha e a beber um fermentado de milho de uma mesma cabaça, derramando em seguida o resto no chão. Seria mau presságio alguém mais beber da mesma bebida.




PUBERDADE DE RAPAZES CHIMBAS E KUVALES



Para os rapazes Chimbas e Kuvales – ambos sub-clãs dos Chavíkuas – a puberdade não se limita à circuncisão.


Após o ritual da circuncisão eles continuam ostentando a única trança que caracteriza a infância.


Esta trança só é desmanchada por uma das tias, junto ao altar da família – Oku Luo – fazendo em seguida as duas tranças do penteado adulto.


Acabado o aranjo do penteado, o pai vem para junto do filho, unta-lhe o cabelo com uma pasta de gordura animal, excrementos de gado bovino e takula, pronunciando de forma articulada e distintamente uma única frase:


- Meu filho já é homem, já pode ter mulher!



Só a partir deste pequeno ritual familiar, é que o rapaz passa a ser considerado homem.





O LEMBAMENTO ENTRE OS BANTUS


O Lembamento, ao contrário do que as pessoas de cultura ocidental pensam, quando tomam conhecimento desse costume, não é uma compra que o futuro genro faz ao sogro, mas sim uma oferta valiosa, como prova da estima que o rapaz tem pela moça com quem pretende se casar.


Uns quatro séculos recuados no tempo encontra-se um costume um pouco alterado; os Bantus, tinham então como costume, só casar uma moça com um rapaz que tivesse uma irmã, para casar com o irmão da moça; este costuma, aparentemente estranho, tinha como objetivo evitar que uma moça, entrando numa nova família, fosse por ela maltratada ou menosprezada. Qualquer coisa como “não faça à minha filha o que não gostaria que eu fizesse à sua”.


Diz a lenda que um grande Soba – chefe – não teve filhas, e sim três filhos varões. Quando o mais velho dos três – M’Baxi N’Gonga – chegou à idade de casar, não conseguiu arranjar noiva, pois todos os possíveis sogros o recusavam alegando não ter ele uma irmã para dar em troca.


O rapaz, desgostoso, falou do problema ao pai e ao conselho de secúlos – velhos -- que reuniram para descobrir uma solução para tão complexo problema.


Ao fim de uma série de deliberações, decidiu-se pelo fim desse costume, mas ficou decidido também que, qualquer indivíduo que quisesse casar, teria que dar ao pai da futura esposa uma prova concreta do quanto estimava a moça, e até que ponto estava resolvido a sacrificar-se por ela.


Por isso, todos os rapazes passaram a oferecer aos pais da pretendida algo do que melhor tivessem e estimassem; inclusive trabalho.


Esta é a verdadeira razão do lembamento, não uma simples permuta comercial.





O HUNDE ENTRE OS BANTU



Outro costume curioso entre os povos de origem Bantu, é o Hunde; consiste em casar-se um indivíduo com a viúva do irmão, caso não haja filhos dela do primeiro matrimônio


O primeiro filho deste segundo matrimônio recebe o nome do tio que morreu, dando assim continuidade à existência.



OLUJI VÁTWA OU CERIMONIAL PRÉ-NUBENTE DE VIÚVOS


Ao contrário do que acontece entre muitas outras tribos, entre os Vátwas, qualquer viúvo ou viúva pode voltar a contrair matrimônio, desde que se submete ao ritual OLUJI.


Manda a etiqueta que os viúvos só demonstrem vontade de voltar a casar, passado um período de luto protocolar.


Findo este prazo, os candidatos a nubentes vão apresentar-se ao feiticeiro, revelando suas intenções. O feiticeiro acede então a fazer, mediante pagamento, ao viúvo ou viúva, o Oluji, pois acreditam que a omissão deste estranho ritual, tem como conseqüência nova viuvez em pouco tempo.


O ritual em si comporta duas partes distintas:


A primeira parte consiste numa lavagem que o feiticeiro faz ao viúvo ou viúva. Esta lavagem, que é feita num ponto específico do rio, tem como objetivo principal remover as cinzas de luto da cabeça do conjugue sobrevivente, e no caso de ser uma mulher, modificar-lhe o penteado, de acordo com a sua nova disponibilidade.


A segunda parte, ou o Oluji propriamente dito, consiste na realização de um ato sexual, em que o sexo oposto é moldado em argila.


Esta segunda parte tem lugar num canto escondido da mata, e sob a orientação do feiticeiro que, mal termina o ato, molda com a argila usada, uma bola, que vai enterrar num buraco por ele cavado, em lugar que mais ninguém conheça.


Se por acidente algum estranho encontrar a bola de argila, quebra todo o efeito do ritual, que terá que ser repetido.


Cumpridas estas formalidades, o matrimônio processa-se como qualquer outro, dentro das normas estabelecidas.






GENERALIDADES SOBRE AS RELIGIÕES DOS POVOS DE ANGOLA



Podemos definir como religião as práticas de fé, pelas quais o ser humano reconhece a existência de poderes extra terrenos, aos quais está ligada a sua vida, o seu ser, tanto na vida terrena como para além dela.


Os povos da linha étnica KöiSan, essencialmente animistas, cultuam as forças da natureza e os elementos naturais como dádivas e partes dos seres desencarnados. Na sua vida nômade não têm muitas condições para construções de altares, ou escolha especial de lugares para cultos religiosos.


São pragmáticos quanto às forças que cultuam; se o tempo está bom e lhes torna a vida fácil, está tudo bem. Se tempestades ou qualquer outra força da natureza lhes dificulta a vida, é porque as entidades estão descontentes, e é hora de serem cultuadas, agradadas.


Temem as trovoadas, raios e ventos violentos que causem tempestades de areia, que consideram como entidades repressoras.


Agradecem de forma mística à vida, aos animais e plantas de que se alimentam, à chuva, aos cursos de rio, ao bom tempo e cultuam constantemente o fogo.


Sentem-se irmanados com todos os seres vivos, e respeitam a vida ao ponto de se desculparem com os animais que matam para alimentação.


Os povos de origem Bantu cultuam os espíritos, são politeístas, animistas e feiticistas. Profundamente místicos e presos a temores mais supersticiosos do que religiosos, acham que os espíritos têm intervenção direta na vida dos homens, tanto para o bem quanto para o mal. A luta dos espíritos é constante. A luta dos espíritos é constante, para qualquer das fileiras, na tentativa de um resultado final favorável.


Povos de origem Nilótica que são, talvez haja ainda um indelével resquício da influência Romana na região, e sua mitologia, em que os deuses no Olimpo manipulavam a vida dos homens de acordo com as suas preferências e simpatias.


Os óbitos e velórios são acompanhados de cantos e danças, que têm como finalidade deixar a alma do defunto satisfeita, afastando dela a depressão pelo fato de ter desencarnado, e com isso ter mais sossego para encontrar os novos caminhos que vai ter que trilhar.


Acreditam que os espíritos, percebendo que as pessoas estão tristes com pela sua partida, terão dificuldade de afastar-se da vida material, ficando assim numa situação indefinida e neutra, vivendo ao nível dos mortais, sendo espíritos, o que os tornará revoltados e os fará interferir de forma negativa na vida das pessoas; são os chamados Kazumbis.


A tristeza pela morte de alguém, no entanto existe, e é visível nas lágrimas que escorrem pelos rostos em cantoria.


O canto tem também a finalidade de agradar os espíritos em volta, para que se acalmem e afastem, sem levar mais ninguém.


Os óbitos festejados, sempre foram motivo de incompreensão por parte dos colonizadores, raramente preocupados em entender a razão do ritual.





KIMBUNDOS – RELIGIÃO



Os Kimbundos, politeístas como a maioria das tribos africanas, têm duas entidades soberanas, várias entidades intermediárias ou semideuses e algumas entidades ajudantes ou de terceira categoria.


I – ENTIDADES SOBERANAS:


I.1 – N’ZAMBI. É o criador, representa o bem, e não interfere diretamente nos destinos dos humanos. Paira em todos os lugares e só é evocado em última instância. Também é conhecido por Kalunga.


I.2 – KANLUNGANGOMBE. É o ente das profundezas, da escuridão, que tira a vida, julga e pune os espíritos dos mortos.



II – ENTIDADES INTERMEDIÁRIAS:




II. 1 – MIONDONAS. São espíritos tutelares e nascem com as pessoas, transmitidos por via paterna; é o equivalente aos anjos da guarda da religião Cristã. Defendem as pessoas do mal, lutando até com outros espíritos movidos pelo feitiço.



Quando a pessoa tem uma vontade irresistível de comer alguma coisa, é o Miondona que está com vontade, por ter sido aliciado por outros espíritos, com iguarias. Por isso, as vontades devem ser satisfeitas, para que o Miondona não se distraia na sua missão de defesa da pessoa.




II. 2 – KALUNDUS. São espíritos evoluídos, de alta posição hierárquica> São espíritos de pessoas que já viveram, e têm por isso uma mais lúcida compreensão dos problemas e carências terrenas. Podem ser protetores, justiceiros ou curandeiros; são tolerantes, e também nascem com as pessoas, por herança materna.




II. 3 – KAZUMBIS. São espíritos de pessoas de vida terrena recente, mas não são evoluídos. São intolerantes, maus, vingativos e interferem na vida das pessoas de forma negativa, para prejudicar.




II. 4 – MALUNGAS. São espíritos afáveis de origem branca, tanto masculinos como femininos. Não se revelam facilmente, apenas incorporam médiuns e somente em santuário – DILOMBE.




II. 5 – KITUTAS. São seres espirituais terrenos, vivem nas matas, rios e rochas. São oriundos de pessoas com anormalidades físicas. São maus, vingativos, e terríveis nas suas maquinações para prejudicar. Carentes, exigem atenção e cultos constantes.



II. 6 – KIANDAS. São os espíritos das águas, tanto do mar como dos rios, lagos ou qualquer outro lugar onde haja um pouco de água. São de todas as raças e tanto masculinos como femininos. Espíritos brincalhões aparecem às pessoas em forma humana e sedutora. Levando avante suas brincadeira, muitas vezes acabam prejudicando, mas essencialmente não têm esse intuito.








III – ENTIDADES DE TERCEIRA CATEGORIA:




III. 1 – ZUMBI ou N’DELE. Espíritos de pessoas falecidas ainda há pouco tempo, e, portanto confusos na nova condição.



III. 2 – KILULO. São as almas penadas, que vagueiam por muito tempo, para expiação das culpas terrenas.



III. 3 – MUCULO. Espíritos recém desencarnados, de natureza brincalhona. Manifestam-se espontaneamente incorporando médiuns sem serem convocados, e nas situações menos propícias, confundindo assim as pessoas.



III.4 – XI-NI-MAYO. Assim são designados de uma forma geral os espíritos das profundezas. Para que determinados rituais possam surtir efeito, deve-se derramar no chão pequenas quantidades de bebida, para lhes agradar.






SACERDOTES



I) KIMBANDA. Adivinho, curandeiro, é também o exorcista. Trata as doenças diagnosticando-as por adivinhação, debela azares e maus fluidos, harmoniza ou não casais, é conhecedor de ervas e misturas medicinais e poções amorosas, e pode até matar, nas cerimônias que preside.


Tornam-se Kimbandas por inspiração dos espíritos tutelares. Enquanto aprendizes são designados pelo nome KABANDA, e acompanham o seu mestre em todos os seus passos, até que este os considere preparados.


A dedicação dos Kimbandas ao sacerdócio é total, impedindo-os até de terem família, mas não são obrigados à castidade. De uma maneira geral, são venais e vingativos.



II) KILAMBA. É o sacerdote que preside os ritos dos espíritos da água. Os Kilambas já nasceram com o dom de se comunicar com esses espíritos.


Cuidam de casos como tempestades no mar, acalmando-o, inundações, estiagens e pedindo chuva, quando necessário.


Dominam também alguns tipos de animais e pragas, podendo afasta-los quando essa presença é prejudicial.


A predestinação dos Kilambas é caracterizada por algum tipo de deficiência física. Nos rituais os Kilambas fazem oferendas de comida e bebida às entidades, numa pedra, sobre um pano limpo, perto do local onde a entidade a ser agradada vive.



III) MULÔSI. É o sacerdote que só se dedica a praticar o mal; o feiticeiro, o bruxo.


A sua prática se designa como UANGA. Adquire-se o dom por espontânea vontade, e a iniciação dá-se por enfeitiçamento de um parente íntimo – pai, mãe, irmão, irmã, filho ou filha.


Na fase de aprendizado têm o nome de MAKASSO. O poder do mal do feiticeiro, reside no pensamento, na força mental dirigida para o mal; ele permanece fechado na sua cubata, agitando uma vareta, ao som de cujo zumbido vai desejando e evocando o mal. O mal vai com o vento, pelos ares, e chama-se BUNGULAMENTO.





IV) MÙKUA – BAMBA. Múkua – bamba é o homem do chicote, é o fiscal dos feiticeiros, que os preside, fiscaliza e pune. ´logicamente mais poderoso que os outros feiticeiros.


O poder lhes é conferido pelo Kimbanda, após lhe ter sido revelado em sonho. Caça feiticeiros, usando um bastão na mão direita e duas pedras esféricas, uma na mão direita e outra embaixo da língua.



Quando as vibrações das duas pedras lhe indicam estar na presença de um feiticeiro – camuflado, não oficial – toca-o com o bastão, imobilizando-o em pedra. Depois disso denuncia a pessoa à tribo.



São normalmente venais, podendo ser subornados com bens materiais –gado—para não denunciarem uma determinada pessoa.



Na presença de qualquer catástrofe ou acontecimento prejudicial para a tribo, de qualquer evento cuja culpa possa ser atribuída a um feiticeiro não oficial, não se coíbe de ameaçar de denúncia os elementos de maiores posses da tribo.








ELEMENTOS GERAIS RELATIVOS À RELIGIÃO




1) O ritual de evocação dos espíritos chama-se DISSEKUELA.



2) O terreiro onde se efetuam os rituais religiosos, chama-se DIKANGA-dos-KALUNDUS.



3) O médium é chamado de XINGUILADOR ou DUMBE.



4) A incorporação de um espírito, é chamada de PELO.



5) O lugar onde os sacerdotes se reúnem, é o DILOMBE.



6) Para que um rito decorra sem perturbações sobrenaturais, inicia-se com sinalizações no solo do lugar. São usadas para isso, quatro substâncias:



a) PEMBA. Calcário tipo Gesso ou Caulim; atrai a graça dos espíritos. Com a PEMBA é traçada uma linha vertical. A PEMBA é o purificador, e afasta os maus espíritos, soprando-se um pouco para o ar, ou na direção de alguém.



b) UCUSSO. Ocre vermelho que também atrai as boas graças dos espíritos, e com ele são traçadas linhas horizontais.



c) UNDO. Ocre escuro, também do agrado dos espíritos.



d) ULOMBO. É um pó preto, que tem o mesmo efeito sobre os espíritos.



7) Para a segurança dos rituais, usam-se dois símbolos místicos a que dão o nome de XICOS. O primeiro à entrada do terreiro, é feito com Pemba e Ucusso, onde se derramam nove doses de Kioto ou Marufo – bebidas fermentadas, com razoável graduação alcoólica –simultaneamente à evocação dos espíritos bons; o segundo, de desenho igual, também com Pemba e Ucusso, é feito no centro do terreiro e no meio dele, é quebrado um ovo.





ADIVINHAÇÃO



Existem inúmeros sistemas ou métodos usados para a adivinhação, bem como inúmeros são os acessórios de que se valem os feiticeiros no exercício da sua atividade.


Comumente, o destino dos suspeitos de culpa de um determinado acontecimento – que pode ser inclusive um fenômeno natural, como falta de ou excesso de chuva – é selado de acordo com a atitude de determinados objetos, perante certas circunstâncias; por exemplo, uma pena de ave à qual se chegue uma chama, e que queima ou simplesmente retorce pelo calor. De acordo com o que acontecer com a pena, é declarada a culpa ou inocência do acusado.


É aqui que entra a corrupção dos feiticeiros.


Primeiro, declarando culpado, um desafeto, por pura vingança, ou um homem de vastos bens; segundo, regulando a aproximação da pena à chama, de acordo com o que quer que a ela aconteça.


O acusado que tem bens, tão logo saiba da sua condição de suspeito, começa a enviar pessoas da família e amigos, para falar com o feiticeiro e entabular negociações.


Quando as oferendas atingem o valor esperado, é marcada a prova da pena que irá dirimir qualquer dúvida.


O dado curioso é quando após a prova definitiva, o resultado é contrário ao anteriormente combinado com o feiticeiro – e pelo qual o feiticeiro haja recebido pagamento; é colocada uma ação no tribunal tribal, onde a história é contada em todos os pormenores, indenizações são pedidas e as partes são ouvidas, mas, seja qual for o resultado da contenda, o feiticeiro não perde credibilidade nem prestígio, nem tem jamais os seus poderes contestados.


Quando o assunto é mais sério, e o ritual exige mais efeitos plásticos e coreográficos, a adivinhação é feita pelos objetos da CABAÇA.

Todos os feiticeiros e adivinhos têm uma Cabaça, relativamente pequena, cheia de pequenos objetos: dentes de animais, pequenos ossos, pedaços de madeira, pequenas esculturas em madeira também, pedras coloridas, sementes e ervas, da qual se servem no trabalho de adivinhação.


O feiticeiro manda reunir o povo da sanzala, homens de um lado de terreiro e mulheres e crianças do outro, e ao som dos N’gomas – pequenos tamboretes –

Fazem a entrada espetacular após um tempo de espera que aumente a apreensão de todos.


Ao tórrido sol africano, a imobilização e desconforto acabam amolecendo os corpos, e conseqüentemente os espíritos.


Mas o feiticeiro entra de forma espetacular, paramentado com todos os assustadores atavios da sua indumentária, e faz calar o batuque.


No centro do terreiro, gesticula e executa uma dança vibrante, estende a pele de um animal – geralmente antílope de pequeno porte – e evoca os espíritos; em seguida sacode a cabaça, evoca mais uma vez a ajuda espiritual e espalha os objetos na pele estendida.


Ajoelha-se então junto da pele, estuda e interpreta a mensagem dos objetos, levanta-se, fita um a um os presentes de forma alarmante, e, quando sente que a tenção e o medo atingiram o ponto culminante, teatralmente aponta e declina o nome do culpado.


Se a acusação não for aceite em primeira instância, se contestada, marca-se então a prova do MUAJE, que irá em definitivo corroborar ou não a acusação.


O MUAJE é uma prova em que o acusado ingere, na presença de toda a tribo, um veneno preparado pelo feiticeiro. Dá-se de novo o ciclo de negociações e subornos.


Se o acusado ao tomar o veneno morrer, fica claro que a acusação procedia; se o organismo rejeitar o veneno pelo vômito, fica evidenciada a inocência.


Feiticeiro, hábil alquimista no preparo de poções e venenos, ministrará – consoante a sua vontade e as oferendas recebidas no período que antecede a prova – o veneno em quantidade suficiente para ser letal, ou em grande quantidade, de maneira a haver rejeição orgânica, o acusado o vomite e sobreviva, provando a sua inocência.






MANHINGA HAPI – SANGUE MAU - BALUBA



Os Balubas usam muito as sangrias nos métodos de cura. Para dores reumáticas, dores indefinidas, inchaços e cansaços em geral.



O ritual é efetuado por um Kimbanda que, após uma infinidade de pequenas incisões no corpo do paciente, executa uma dança evocando os espíritos, completando com isso o tratamento.



A explicação para esses males curados por sangrias é a de que o paciente, inadvertidamente haja pisado um túmulo, cujo ocupante, irritado pelo desrespeito, em vingança, envenene o sangue da pessoa.



Os cortes permitirão a saída do sangue, e a evocação dos espíritos pela dança, fará com que só saia o sangue envenenado.




UANGA – FEITIÇO -- TCHOKWÉ



A TRIBO Tchokwé ou Kiôko é das que mais se utiliza de ícones nas suas superstições religiosas. Não há acontecimento de sorte que não dê origem a uma estatueta a acrescentar à coleção.


É comum ver-se gestantes portando em volta do ventre um cordão do qual pende uma porção de objetos e imagens, cada qual com a sua função: para definir o sexo do feto, uma figura de pássaro para que venha a ter a agilidade e leveza das aves, uma de cachorro, para que a fidelidade e dedicação à família sejam caninas, e de um leão para a coragem e por aí vai.


A imagem mais impressionante, entre as veneradas por essa tribo do nordeste de Angola, a KUBA-WAVULA. É o feitiço das mortes e incêndios, e que só acontece nas noites de chuva – Wavula – no momento do relâmpago – KUBA.


É representado por um boneco disforme, com lascas de madeira aguçadas ouriçando o corpo, e com uma boca delineada por dentes humanos.


Às portas dos mussôcos, vêem-se também ícones em forma de animais, que representam a MAHAMBA, espíritos encarregados por N’Zambi de se ocuparem dos assuntos terrenos, e a quem periodicamente vão prestar contas do que se passa na terra.


Os povos de cultura negra levam a crença nas suas entidades, ao ponto de dificilmente contestarem uma acusação, por grave que seja, por parte do feiticeiro.


Se em consciência nada fizeram para merecer a acusação, então a culpa só pode ser do seu espírito – Kazumbi – e deve submeter-se às sanções, para que o povo se veja livre dos malefícios que, embora involuntariamente, está trazendo.


Submetem-se às decisões do feiticeiro com toda a resignação e estoicismo, e raramente lhes passa pela cabeça a contestação.


Há registros diversos por parte das autoridades do tempo colonial, de tentativa de interferência inócua por parte destas, nos assuntos religiosos tribais.


Uma delas foi registrada por um Chefe de Posto da CAMEIA, que tendo conhecimento de que duas mulheres eram acusadas de serem feiticeiras, procurou-as e encontrou-as caminhando voluntariamente para o Kimbo, onde muito provavelmente seriam executadas.



Tentou convence-las a não irem, no que não foi bem sucedido; elas confirmaram que tinham sabido da acusação, e estavam indo de livre e espontânea vontade para se submeter ao julgamento pelo feiticeiro e, se fosse o caso, ao castigo.



Ante tal decisão, o chefe do posto prendeu-as, para as livrar da provável morte, mas não adiantou, as duas fugiram e foram para a Sanzala. Tempos depois, o chefe do posto soube que as duas haviam sido executadas.






GENERALIDADES SOBRE A JUSTIÇA ENTRE OS POVOS DE ANGOLA



Os Juízes de qualquer querela, são sempre os chefes e o conselho de secúlos -- Anciãos – da tribo, e os julgamentos se dão embaixo de uma MULEMBA – Fícus Psilopoga – considerada uma árvore sagrada, de vasta copa e ampla sombra. Sempre se encontra esse tipo de árvore perto da casa de um Soba.


Os povos de Angola da linha étnica Bantu, têm um apurado senso de justiça, e as causas chegam a durar gerações para se resolver – quando complicadas -- pois todas as partes são acuradamente escutadas, todas as testemunhas prestam seus depoimentos, e todos os elementos da tribo podem ir declarar o que quiseram acerca de qualquer das partes, mesmo que nada tenha a ver com o caso em questão – por exemplo se consideram que o acusado ou o autor são pessoas boas ou más, e porquê – desde que considerem relevante para o desenrolar do julgamento.


A justiça é consuetudinária, de costumes, e ninguém se defende alegando desconhecimento.


Questões que podem ser colocadas em julgamento?


Perfídia – crime gravíssimo – divergência entre casais, dívidas negadas – que podem vir de gerações – estupro, injúrias, violências, ferimentos provocados – ainda que involuntariamente – e de uma maneira geral, o mal sem justificativa; maltratar um animal sem razão, tirar um fruto verde de uma árvore que não é comido por estar verde.


Para se formar um tribunal e julgar uma causa, o queixoso apresenta-se ao Soba, dizendo das razões que o levam a clamar por justiça, e leva uns presentinhos, uns agrados.


O Soba manda em seguida avisar a outra parte da acusação que lhe é feita.


Reunidas as primeiras testemunhas – enquanto durar o julgamento podem aparecer outras – e quando o Soba decidir, tem início o julgamento.


Na audiência as partes sentam-se em semi-círculo dos lados da comissão julgadora, e frente a frente.


O chefe dá então a palavra ao queixoso e às testemunhas deste.


A seguir fala o acusado apresentando as suas razões e defesa, e as testemunhas corroborando o seu ponto de vista.


Depois de todos os participantes dos dois lados serem ouvidos, o conselho dos anciãos delibera e dá o parecer e o Soba dá a sentença.


A seqüência não é rígida, porque, como já foi dito atrás, a qualquer tempo e em qualquer altura, pode aparecer alguém para prestar um depoimento que considere relevante para o caso. Por exemplo dizer que o acusado é uma excelente pessoa porque em determinada circunstância agiu de forma correta, ou corajosa, ou o ajudou. Este testemunho ´pe atentamente escutado e levado em consideração.


Dada a sentença, o lado que vencer faz uma verdadeira festa, com cortejo de adeptos até à casa do derrotado, enquanto dançam, cantam e representam verdadeiras obscenidades e injúrias dirigidas à parte perdedora, numa euforia que pode durar dias.


Os casos mais complicados e que saem desse âmbito, são entregues aos feiticeiros.


Um exemplo de ENDAKA -- querela – relativamente freqüente, é quando uma mulher casada tem um filho que é comprovadamente de outro homem.


Os povos africanos em geral – no seu estado de pureza cultural – não têm a noção ocidental de tempo e de distância; assim, o habitante de uma sanzala pode sair em digressão pelo mato, e demorar meses, anos até. Nesse espaço de tempo, as mulheres têm relações sexuais com outros homens, como por exemplo um visitante de uma outra aldeia que por ali se demore algum tempo; desse relacionamento pode advir uma gravidez!


O marido entretanto chega e encontra a mulher grávida ou com um recém nascido nos braços, e aí surge a questão.


Ele chega para assumir o seu lugar e tomar posse de tudo o que lhe pertence, o que por ninguém é contestado, seja qual for o tempo da ausência, mas, eventualmente, o homem que gerou o filho na mulher dele, pode ter a pretensão de reclamar a criança.


É formado o tribunal com todas as argumentações de ambas as partes, mas invariavelmente a sentença é favorável ao marido, dentro da lógica de que, o outro plantou na terra alheia, e o fruto é por direito do dono da terra.


Se por acaso um viajante se ausentar por um tempo tal, que leve as pessoas a acreditar que tenha morrido, e as mulheres voltarem a casar e ter filhos com o novo marido, ele retornando, toma posse e lhe é reconhecido esse direito; das mulheres, filhos e demais bens que haja deixado.


São casos raros, mas quando acontecem, costumam dar origem a novas querelas, em relação à devolução dos bens dados pelo segundo marido como lembamento; uma das questões que podem levar gerações para solucionar, e para cujo ressarcimento, até o primeiro marido, o viajante e ausente, pode ser convocado.


A morte de um queixoso ou de um reclamado, não dão fim à querela, esta continua, e as famílias respondem pelo morto.


Casos interessantes são também os de devolução de uma esposa, por incapacidade de gerar filhos por exemplo.


Um exemplo de uma pérola de jurisprudência, é a história de um súdito que foi à presença do Soba N’Ganga Kelly, que reinava na região de Kabatukila, explicar que a mulher por quem havia dado caro Lembamento, o havia abandonado e voltado para casa do pai, sem qualquer motivo. Pretendia assim que lhe fossem devolvidos os bens que dera, em sinal de apreço pela noiva.


O pai da noiva defendeu-se confirmando que recebera os bens citados e os aceitara, pois até se juntar com o marido, a moça era digna do apreço demonstrado pelo noivo; depois de casada, se o marido não conseguia controlar a esposa, como poderia ele, que era apenas o pai, controla-la?


N’Ganga Kelly, pensou um pouco e decidiu:


Ele, como pai e vivendo tanto tempo com a filha, tinha por obrigação conhece-la, e assim saber que ela seria capaz de tal atitude; e nessas circunstâncias, nunca deveria ter exigido um Lembamento tão vultoso.



Por ter procedido de má fé, obrigava-o a devolver ao marido, duas terças partes dos bens recebidos.



Caso a filha voltasse ater um pretendente para casar, ele deveria pedir como Lembamento, bens equivalentes a uma terça parte do anteriormente pedido, já que a filha não valia mais do que isso, e esse segundo Lembamento deveria ser integralmente entregue ao primeiro marido.






SÍMBOLOS DE PODER MANDO E FORÇA




São variados os objetos e adornos que simbolizam poder, mando, força, casta, condição sócio econômica, tribo, etc...


Abaixo relaciono os principais, com seus respectivos significados e explicações.



PLUMAGENS: Penas de Faisão KOLONUY, de cor verde metálico, são exclusivas dos chefes, indicam além da casta elevada, poder e mando. Outros tipos de plumagens são funcionam como uma espécie de auto propaganda, indicando qualidades a que o usuário entende fazer jus.


Penas de Gavião, Águia e aves de rapina em geral, indicam força e destreza. Penas de Galinha d’Angola – Capota – significam leveza e agilidade. De Panda indicam paciência e de Onduba – ave pequena – inocência.



COCARES: Os cocares, com associação de penas de significado diverso e trabalhos de miçangas com desenhos característicos, são exclusivos dos chefes e seus parentes ou delegados.



ADORNOS PEITORAIS E COLARES: Os povos de origem Bantu consideram o peito a parte nobre do corpo. Aí usam os símbolos de estirpe e sangue – linha matrilinear.


Um dos adornos mais considerados é o ZIMBO, pequena concha univalve de molusco, cinza ou branca, de tal maneira apreciada, que já serviu de moeda de troca em transações comerciais. Em algumas tribos do nordeste de Angola, o ZIMBO ou CONUS, é emblema restrito aos chefes por linhagem de sangue.


O valor do Zimbo como moeda era elevado. Um Zimbo valia, por exemplo, um escravo ou uma preza de elefante, e chegou a ser falsificado com barro cozido.


A Lenda dos Zimbos, diz que um homem, de nome Katanda, conseguiu atingir a Lua subindo por andaimes de Bambu, e resolveu trazer a metade dela para a terra, mas no caminho de volta, a Lua foi-se multiplicando e encolhendo até virar uma porção – finita – de Zimbos.



Para simbolizar força e coragem, são usados colares de dentes caninos e de prezas e unhas de felinos.



PULSEIRAS: Entre as pulseiras, os LUKANOS, são o mais elevado símbolo de poder, passados para o descendente num aperto de mão; nunca ficam soltos, sem estar num braço. São pulseiras volumosas, pois têm grande quantidade de materiais na sua composição:


- Tendões do pulso de chefes defuntos,

- Tendões de animais, principalmente felinos – força e coragem,

- Fibras ressequidas do órgão sexual masculino – virilidade,


Com acúmulo e sobreposição de chefe para chefe.


Os Lukanos congregam as condições de insígnia, de poder e de mando, além de diversas outras forças sobrenaturais.


Os Lukanos são usados no pulso correspondente à linha ascendente a que pertencem:


- No pulso esquerdo – KOKU DIÁ IMAMA – o braço da mãe, se são herdados do tio irmão da mãe, que é o mais comum.


- No pulso direito – KOKU DIÁ UTATA – o braço do pai, se são herdados do pai.



PELES E PANOS: As peles de animais usados no vestuário, cama, cadeira e TCHIOTA – cabana sem paredes, que é o lugar dos homens – têm sempre um significado que é ligado às qualidades do animal ; força, agilidade, coragem etc...


Os panos de confecção nativa trazem invariavelmente os símbolos da tribo.


CABO DE CAUDAS DE ANIMAL: Um cabo largo, feito com uma parte de um chifre de antílope, cheio de pequenos ossos, unhas e outros objetos considerados mágicos, revestido de contas e miçangas, com um feixe pelos de cauda de antílope numa das pontas.


É uma insígnia de autoridade digna dos chefes, com poderes mágicos que afastam temporais e limpam o ambiente de espíritos malignos.


Só o chefe pode maneja-lo de forma eficiente; com qualquer outra pessoa pode ter o efeito contrário.


Tem também o poder de atrair a sorte, pessoas e até objetos; pela vasta gama de poderes que tem, serve também de amuleto.



BASTÕES E ESPADAS: Os Bastões dos Sobas, usados como símbolo de mando, são normalmente trabalhados com figuras alusivas à história da dinastia ou linha uterina. Não têm qualquer outro significado especial.


As Espadas são de uso exclusivo dos chefes e simbolizam o direito de justiça, de vida e morte.


Uma espada só deve ser desembainhada em caso extremo, porque não pode ser guardada de novo sem executar alguém ou sem que a ponta toque a terra.


Quando desembainhada, as pessoas esperam que o Soba reflita um pouco e toque com a ponta dela o solo, para que possa ser guardada sem que tenha que haver mortes.


É usada em casos de justiça imediata, ou por puro despotismo.




JAVITE OU MACHADA : É uma machada trabalhada, e embora tenha uma parte perfurante e outra cortante, é um objeto meramente heráldico e que apenas simboliza comando. É portado à altura do peito.




ESCUDO E LANÇA: O único lugar em Angola onde o escudo é usado junto com a lança é no Leste, entre os LUENAS, e mesmo assim por influência externa.



A origem vem do tempo da guerra que os ZULUS – que usam esse equipamento – fizeram contra os BABEMBA, no nordeste do Zimbábwé. Os Zulus venceram essa guerra e deixaram uma fama de audácia e gênio militar tão grande, que impressionou tanto as populações, que passaram a adota-lo como símbolo de prestígio guerreiro.




TAMBORES: Há tambores que servem unicamente para anunciar a chegada de chefes ou sacerdotes. O som que sai deles, simboliza poder.




PLANTAS: As Mulembas – Fícus psilopoga – são árvores de realeza. Perto da casa de cada chefe se pode encontrar uma, e à sombra das suas folhas se reúnem as pessoas para meditar, julgar, deliberar ou simplesmente conversar.






MÁSCARAS.



Em todas as tribos de Angola, se encontra o uso de máscaras, embora se note maior freqüência entre os Tchokwé, Lundas, M’Bundos, Luxase, Luenas, Luimbes, Bângalas, Minungos, Xinges, Yacas, Jagas, Kicongos, Kimbundos, Ganguelas; na região do Kubango, Kunene, Kuamatwis e Mukubais.


Com relação a materiais empregados e processos de manufatura, podemos dividir as máscaras em três gêneros:


1) MÁSCARAS DE FIBRA ENCORDOADA. São máscaras mais rígidas, fabricadas de entrançados ou encordoados de fibras vegetais, pouco detalhadas e de confecção de negligente acabamento.


2) MÁSCARAS DE ENTRECASCAS DE MADEIRA E RESINAS. São máscaras em que a resina é aplicada e moldada a ferro quente, sobre as entrecascas, representando um trabalho mais elaborado que as anteriores, mas de acabamento ainda bastante rústico.


3) MÁSCARAS DE MADEIRA ENTALHADA. São verdadeiras esculturas, em alguns casos atingindo um aprimoramento de detalhes e acabamento, muito bom.



SIGNIFICADOS: São usadas apenas por homens que já tenham passado pelo ritual da circuncisão, adultos; para as mulheres e rapazes pré-circuncidados, as máscaras são seres de origem sobrenatural. O segredo só é revelado aos rapazes, durante a Mukanda.


Os significados das máscaras – em parte ou em conjunto com o resto da indumentária do mascarado – pela sua expressão facial, admoestam, denunciam, ironizam, exorcizam, curam, castigam, afastam pragas e tempestades, provocam chuvas, fertilizam terras e seres vivos, desviam influências negativas de forças ocultas, espíritos e feitiços.


Encontram-se máscaras representando espíritos de guia de chefes já falecidos, que significam como que renascimento e continuidade da vida terrena para essas pessoas.


Em todos os rituais de imolação é indispensável o uso das máscaras.



CRENÇAS E SUPERSTIÇÕES: A principal crença e superstição em relação às máscaras, é que o espírito do dançarino não larga a máscara após a morte deste.


Assim, ninguém usa a máscara de terceiros, para que o espírito que nela vive não se apodere do corpo da pessoa que a usou.




FUNÇÃO SOCIAL: A função social da máscara é de grande amplitude; as máscaras acompanham a estrutura da organização social do povo e têm papel importante na vigilância dos costumes e praxes sociais.


São usadas como folclore, na religião, na magia, na justiça, fertilidade, vida ou morte.



ORIGEM: A origem das máscaras, que na verdade representam sempre distorções da face humana, com o objetivo de assustar, criticar ou fazer rir, deve ter sido a própria face humana pintada.


O passo seguinte na evolução imagina-se que tenha sido o uso de peles de animais com perfurações para os olhos e boca, mas também pintadas, passando às fibras vegetais, entrecasca de árvores com resinas, para finalmente chegar à madeira entalhada.






DA CORALINA AO ANGOLAR, OBJETOS E PRODUTOS QUE SERVIRAM DE MOEDA DE TROCA EM ANGOLA.





Antes de circular moeda em Angola, o sistema pelo qual os povos comercializavam os seus produtos, era o de permuta por outros produtos. Com o tempo, foram observando que sobre determinados produtos e objetos, convergia a preferência dos mercadores, e assim, esses objetos e produtos começaram a ser utilizados como base de permuta, tal como hoje se utiliza a moeda, com um valor pré determinado.


A ordem de preferência, era inicialmente para os produtos que pudessem servir de adorno, seguindo-se os produtos de necessidade, e por fim os produtos úteis.


A despeito de todos os esforços de Salvador Correia, a moeda cunhada só apareceu em Angola por volta do ano de 1864, pois até essa altura, o Governo de Portugal, considerava que a circulação de moeda era um sinal de soberania, o que nas colônias era completamente inadmissível.


O primeiro objeto que se supõe tenha sido utilizado como moeda em permutas comerciais, foi a CORALINA, pedra semipreciosa, de cor castanho avermelhado, clara, e que valia consoante o tamanho.


Em seguida terão aparecido os ZIMBOS e CAURIS, conchas de moluscos – búzios – que foram muito apreciados como adorno.


De tal maneira apreciados, que em algumas regiões do interior viraram símbolos de nobreza, e o seu uso só era permitido aos chefes e respectivas famílias; e um CAURI, valia um boi.




OS ZIMBOS: São pequenos, aproximadamente um centímetro de comprimento, e conhecem-se três tipos. Branco acinzentado, com listas e com pintas. Dois Zimbos valiam um escravo ou uma preza de elefante.



OS CAURIS: De formato idêntico ao dos Zimbos, porém maiores, com cerca de três centímetros de comprimento; o uso dos Cauris generalizou-se por volta do século XVI, tento tido origem na ilha de Luanda, onde os pescadores os apanhavam na maré baixa das noites de Lua Cheia. São de um branco polido, envernizado natural, e algumas tribos africanas atribuem-lhes poderes mágicos.



Outro produto que na mesma época teve grande importância nas permutas foi o SAL.


Provinha essencialmente das minas de N’Goma, na Kissama, de onde era extraído a escopro e facão, e moldado em barras de um palmo por uma mão de largura, de onde eram então transportados às costas até ao Rio Kuanza, por onde iam para o interior.




OS OBJETOS DE COBRE: De adorno, de defesa ou de utilidade agrícola, tiveram também a sua época de preponderância, mas o objeto que mais se destacou, foi sem dúvida nenhuma a CRUZETA; era uma peça em forma de X, com cerca de trinta centímetros de largura, feita em cobre puro martelado, e com uma nervura em uma das faces, o que lhe dava autenticidade.


Supõe-se que a peça tenha aparecido por volta do século XVII na região da LUNDA.


Os Tchokwé são exímios na arte siderúrgica -- usam uns fornos que simulam a mulher no momento do parto -- e no vizinho Zaire, tem o mundo o maior produtor deste metal.


Como curiosidade, os Tchokwé, além de darem ao forno a forma de uma mulher na hora do parto, chamam o metal fundido de NANA, criança, e o carvão de Zingwé, placenta.


Uma Cruzeta tinha o valor de dois porcos ou um boi.


Em Kassange, Tchokwé, Lundas e Lubas, trocavam Cruzetas por miçangas e coral vermelho.


No século XIX começaram a desaparecer as Cruzetas, pois os indígenas preferiam deixar de as fundir, a revelar o lugar de onde extraíam o metal.




OS PANOS: Fabricados à base de fibra de palmeiras, em forma de quadrado, com cerca de setenta centímetros de lado, tiveram também bastante procura. Vinham principalmente do Congo e do Lubango.




AS MIÇANGAS: Como objetos de adorno que eram, tiveram também muita aceitação. As preferidas eram as TUKETES, pequenos cilindros de madeira, pintados de vermelho, branco e preto. Apareceram depois as mais variadas miçangas, dos mais variados tipos, cores e materiais; o valor delas variava também.


Na foz do Rio Cuvo, por exemplo, uma vaca era trocada por quinze contas grandes; seis ovos valiam trinta contas Olho de Rola, uma galinha valia doze contas Apipadas, etc...




OS ESCRAVOS: Que desde sempre existiram, só começaram a servir de moeda com o aparecimento dos navegadores Portugueses. No século XVI, um negro normal, de cerca de trinta anos, valia aproximadamente 22$000 ( Vinte e Dois Mil Reis ); no século XVII, os que iam para as minas e seringais do Brasil, valiam cerca de 360$000 ( Trezentos e Sessenta Mil Reis ). A escravatura chegou a ser a maior fonte de renda do estado.




O MARFIM: Foi numa certa época, a principal fonte de receita para o exterior, e tinha o seu centro de comércio na cidade de São Philipe de Benguela. Em 1790, o marfim valia entre 100 e 200 Reis por Libra. Uma preza que pesasse noventa Libras, podia ser trocada por quarenta e cinco escravos ou 5.000 búzios.


A caça ao elefante tomou tais proporções, que Capelo e Ivans, em 1886, vaticinaram a sua extinção.




OS LIBONGOS: Eram outra espécie de pano, de tal maneira aceite como moeda corrente, que por fins da ocupação Holandesa, cerca de 1649, não se sentia a necessidade da introdução de moeda cunhada.


Em 1694, D Pedro II e D.João V, mandaram para Angola moedas de 5, 10 e 20 Reis; D. João I acrescentou a estas, a moeda de 40 Reis.


Dez anos depois, D.José mandou cunhar em prata e cobre, a primeira moeda de Angola, a MACUTA.


Em 1910, depois de implantada a República em Portugal, a unidade monetária Real perdeu grande parte do valor; mudou-se então o sistema monetário, e foi cunhado o Escudo.


Em Outubro de 1911, tornou-se extensivo às colônias.


Em 1º de Junho de 1928, é posto em circulação em Angola, o ANGOLAR, cujo valor intrínseco era o do Escudo, mas de uso exclusivo em Angola.


Anos mais tarde é abolido o Angolar e cunhada nova moeda, o Escudo, mas também de uso exclusivo em Angola.



Faltou mencionar, por uso menos expressivo, muitos outros produtos que serviram como base de permutas, tais como as peles de animais, o mel, a cera, conchas de todos os tipos, pedras coloridas.



E faltou também falar sobre MEDIDAS. Os funantes ao iniciarem em Angola o comércio de fazendas, introduziram diversos tipos de medida: a GARRADA, conteúdo de líquido equivalente a dois litros e meio, o PANO, de setenta por setenta centímetros, o CORTADO, número de panos suficiente para vestir um indivíduo, a PEÇA, porção de tecido que o tear produzia de uma vez, e a ESPINGARDA, arma de fogo rudimentar para caça.





SISTEMAS DE CAÇA



Basicamente, os povos de Angola usam dois tipos de sistemas para caçar: por armadilhas e com armas.


Há inúmeras armadilhas, adaptadas e específicas para cada tipo de caça que se pretende capturar. Gaiolas de gravetos ou caniços, ou diversos tipos de visgo -- cola com base em resinas -- para as aves. Redes suspensas para animais pequenos, que são perseguidos por cães e homens em direção às armadilhas, laços armados em troncos flexíveis e resistentes, fazendo mola, para os animais de porte médio. Fossos, eventualmente com espetos no fundo, para felinos, búfalos e antílopes de grande porte. Esses fossos são camuflados por folhas e ramagens colocadas na trilha ou perto de uma isca viva -- no caso dos felinos -- cabrito, ou qualquer outro animal de criação que atraia o felino.


No caso do uso de armas -- arco e flecha, zagaias, lanças e armas de fogo -- a caça pode ser individual ou em grupo.


Na individual, o caçador, ciente de toda a técnica de rastreamento, posicionamento sempre contra o vento, camuflagem e mimetismo, persegue ou espera a caça em lugares estratégicos, como os bebedouros, onde os rastros e marcas no solo são um verdadeiro jornal de informação para o homem; escolhida a preza, caso não consiga abate-la na hora, tem início a perseguição.


Caçar um animal de grande porte representa sempre prestígio, que será tão maior, quanto maior for a ferocidade do animal caçado.


Alguns rapazes, após a circuncisão, desafiam frontalmente felinos -- leões e onças -- num combate corpo a corpo, para o qual é necessário além de grande destreza, uma imensa doze de coragem.


Acontecem esses desafios, invariavelmente em bebedouros, em noites de Lua Nova; a total escuridão evita que o caçador seja visto antes do tempo.


O caçador escolhe uma árvore, que esteja contra o vento e perto da água, de onde assiste, nas horas que antecedem o raiar do dia, às diversas manadas que vêm dessedentar-se, e espera a chegada de um leão solitário, ou de uma onça.


A chegada do Leão ou da Onça, lhe é anunciada pelo tropel convulsivo dos animais no pânico da fuga, até que o gemido de um antílope retardatário ou distraído, e a agitação da luta vislumbrada aos primeiros e difusos raios do clarear, lhe indiquem estar na hora.


Pula então da árvore, e lança em riste, se aproxima em desafio, da fera.


A fera, frente a uma refeição suculenta e já assegurada, faz ainda uma tentativa de intimidação, para afastar o intruso, rosnando ameaçadora, para em seguida correr e pular sobre o homem.


Este espera, lança apoiada no chão, que tenta apontar certeira ao coração do animal.


É difícil o caçador sair incólume dessa aventura, mesmo quando a lança rasga o coração do bicho de primeira, este, no estertor da morte, sempre deixa o caçador com ferimentos, cujas cicatrizes serão exibidas como troféu, por toda a vida.


O rapaz retorna à sanzala, com a pele e o coração -- que comerá -- tendões com que confeccionará adornos, e é recebido com honras de herói.


A caça em grupo utiliza-se normalmente de uma equipe de batedores que, fazendo tanto barulho quanto possível, afugentem a caça direto para o grupo de caçadores; ou fazem a queimada de uma árvore em U, em cuja abertura contra o vento, esperam os animais em fuga desordenada pelo desespero e pavor.


Após as caçadas em grupo, fazem-se sempre grandes festas, com batuque, em que a tradição oral fixa as aventuras dessa caçada, e relembra as de outras.


Um outro tipo de caça em grupo, que exige imensa coragem, é a que fazem os pigmeus do Mayombe ao elefante.


Cercam o animal, e depois vão atirando as suas lanças, que se espetam na pele dura a pouca profundidade, mas que lhe causam ferimentos que vão sangrando e minando-lhe as forças. O animal, enlouquecido pela dor, que vem de todas as direções, agita-se também em desespero, o que contribui para um mais rápido esgotamento físico.


Nessa briga, não raro, vai pegando com a tromba um ou outro caçador, que lança esmagando contra o solo.


Mas os caçadores não se atemorizam nem desistem, e quando o imenso bicho, por fim, esgotado cai, então é espetado como um agulheiro até à morte.


Deve dizer-se que, apesar da crueldade da morte, nada é desperdiçado, o aproveitamento é total, da carne, que é posta a secar e que dura meses, aos ossos aproveitados para os mais diversos fins, pele, tudo terá a sua utilidade. E que também não é predatória, matam estritamente o necessário, escolhendo sempre que podem, até por razões óbvias, um animal já ferido por luta entre machos, na disputa de fêmeas ou de liderança.




COSTUMES DIVERSOS



KÖISAN OU MUKUANKALAS OU BOSQUÍMANOS – HOTENTOTES:


Acredita-se que os povos desta linha étnica tenham uma remota origem caucasiana. Até cerca de cinco mil anos atrás, ocuparam todo o hemisfério sul do Continente Africano.


Com a formação dos desertos do Norte de África, os Bantus, povos pastores oriundos das margens do Mar Vermelho, iniciaram movimentos migratórios para o sul, em busca de terras e pastagens.


Melhor armados, mais belicosos e em maior número, foram combatendo e afugentando os Mukuankalas para as regiões pobres e desérticas do sul da África – Kalahári e Namíbia – onde se adaptaram e vivem até hoje.


Têm características físicas e antropológicas que os diferem de todas as outras raças do mundo: Cor terrosa clara, olhos rasgados e oblíquos de oriental – que os protege da forte luminosidade do deserto – uma lordose lombar que dá origem a nádegas proeminentes – verdadeiros reservatórios de energia – as mulheres acumulam gordura nas nádegas e coxas, sendo, no entanto delgadas no resto do corpo.


As pernas são desproporcionalmente compridas em relação ao tronco, pés bem largos e de dedos curtos, numa adaptação para as caminhadas pelas areias do deserto.


A característica mais marcante ou curiosa é o “Pênis Rictus”, o pênis em constante semi-ereção, e de proporções consideradas pequenas, em comparação com a média dos homens de outras raças, que têm o “Pênis Pêndulos”.


São povos nômades, de grupos familiares pequenos, nunca mais do que quarenta pessoas; uma família em que o chefe é sempre o mais velho dos homens.


Não se conhece qualquer cerimônia para iniciação sexual ou casamento; o rapaz, após caçar o seu primeiro animal, oferece a pele à moça pretendida – que já tenha menstruado; se ela aceitar, está realizado o casamento.


Caçam usando principalmente o arco e flecha, eventualmente a lança, e muito raramente armadilhas.


Usam venenos paralisantes nas pontas das flechas e das lanças, arte que dominam, de que são grandes conhecedores, servindo-se de venenos de cobras, secreções de insetos e seivas vegetais.


São exímios caçadores, talvez os melhores rastreadores do mundo, e com capacidade de mimetismo inacreditável; chegando a enterrar-se no solo, disfarçando o rosto com cascas vegetais, de tal maneira que se possa passar ao lado deles, sem que se perceba.


Os homens se ocupam do fabrico de armas, caça e procura de água; as mulheres tecem cestos e tapetes rudimentares e fazem panelas e vasilhas de madeira, além da procura de tubérculos, répteis e larvas que são uma base alimentar.


São conhecedores dos mistérios do deserto como nenhum outro povo. Sabem distinguir os indícios mínimos que indicam onde poderão, cavando, achar água minando, as plantas que mantêm reservatórios nas raízes em tubérculo, e, em última análise, se não conseguem achar água na região em que se encontram, capturam um babuíno pequeno, novo. É todo um processo interessantíssimo. Os babuínos são os únicos animais do deserto que detêm o conhecimento dos rios subterrâneos, e dos locais e épocas em que eles afloram, normalmente entre pedrais, segredo que guardam ciosamente de todos os outros animais. Os Mukuankalas então, sabendo-se observados por babuínos, escondem entre alguma fenda de pedras ou de árvores, alguns grãos ou planta comestível, e afastam-se, sem dar a parecer que se sabem observados. O babuíno novo – macaco velho não mete a mão em cumbuca, é um ditado verdadeiro -- quando sente que os homens estão distantes, vai lá, enfia a mão espalmada, segura os grãos, e não larga mais, deixando-se capturar. Os Mukuankalas prendem-no então a uma pedra, em lugar sem sombra, e alimentam-no de carne por um dia e uma noite, sem lhe dar água. No dia seguinte, libertam-no, e o símio, enlouquecido de sede, esquece toda a cautela e sigilo e vai direto para o afloramento de água, sem sequer se dar conta de que está sendo seguido pelos captores.

Usam muito os ovos de avestruz, que além de lhes servir de alimento rico em proteínas, lhes servem também de reservatórios de água, que transportam ou enterram em lugares estratégicos de sua passagem na vida nômade, e dos quais nunca se esquecem. É incompreensível, como num lugar de configuração homogênea, de referências mutantes, como as dunas, conseguem lembrar-se anos depois, do lugar exato onde mantêm os ovos com água enterrados.


As cascas dos ovos de avestruz que se quebram, são também aproveitadas, transformadas em contas que lhes servem de adorno.


O alimento é sempre compartilhado por todo o grupo, mas o homem que mata a preza, é que destina para quem vai o couro.


Cultuam as forças da natureza, e mostram grande consideração pela vida, por todos os seres vivos.


Como manifestações artísticas, têm as pinturas rupestres, a dança e a mímica, que se manifesta principalmente em representações de cenas de caça.


Estes povos sobrevivem ainda hoje fiéis à cultura primitiva, apesar da influência dos Bantus e dos brancos.


A linguagem dos Mukuankalas se caracteriza pelos estalidos de língua, intermeando e acentuando as palavras, e por sons guturais.


O termo Bosquímano vem da palavra bushman – homem dos bosques – nome dado pelos Boers da África do Sul; os Bantus deram a estes povos o nome de Mukuankalas, som que mais se parecia com o que eles fazem para se designar.


Alguns grupos ou famílias findem e moldam ferro, e apresentam uma tendência sedentária, sendo obrigados ao nomadismo pela necessidade de novas pastagens, na região desértica em que vivem.


É um povo afável e tímido. Por serem nômades, não têm muitas condições de se apegarem a sentimentalismos pouco práticos, e assim, quando algum elemento da família, por doença ou idade já não consegue acompanhar o ritmo de caminhada do resto do grupo, é deixado para trás, junto a um pedral ou.

Arbusto que dê um pouco de sombra, com uma pequena reserva de água e comida, aguardando algum predador.


Não enterram os mortos, não só por acreditarem que esse costume dificulta a saída do espírito, mas também porque, sendo nômades, não vêem necessidade nem há a capacidade prática, de sinalizar os lugares onde os mortos são sepultados para posteriores homenagens.


Como se disse atrás, cultuam as forças da natureza e espíritos indefinidos, como o espírito da doença e do fogo. O espírito do fogo é o mais cultuado; onde quer que parem, acendem de imediato uma fogueira -- que mantêm alimentada pelo tempo que no lugar permanecerem. Para fazer fogo, usam ainda o método da fricção de duas madeiras de consistência diferentes, ou as pedras de sílex com folhagens e capim seco.


O fogo representa para eles, além de uma eficaz defesa contra as feras, o único agente de calor nas noites frias do deserto.


São muito perseguidos pelas outras tribos, e eventualmente capturados como escravos; se não são escravizados, têm pelo menos que pagar pesados tributos -- prezas de elefante, peles de animais etc... -- aos povos por cujas terras transitam no seu nomadismo.





KUISSIS OU KUISIS:

Vivem na faixa litorânea do norte de Moçâmedes, entre o mar e o deserto. São descendentes mestiços dos Mukuankalas e estão no mesmo estágio de evolução que eles; vivem da caça e coleta de frutos, raízes, mel e répteis.


Para se alimentarem, não se coíbem de usar os restos dos festins de animais carnívoros.


Quando dois animais machos lutam, disputando uma liderança ou uma fêmea, eles perseguem o derrotado -- enfraquecido por ferimentos e perda de sangue -- e quando o alcançam comem-no ali mesmo, e permanecem no lugar enquanto houver o que comer, ou enquanto não forem afastados por hienas, mabecos -- espécie de cachorro selvagem -- ou por abutres.



MUKUÍSSES:

Descendentes também dos Mukuankalas -- linha étnica Hotentote -- eram inicialmente sedentários, ocupando a área da Jamba até Moçâmedes, restringindo-se hoje às cercanias do Morro Maluco, perto da Huíla.


Não belicosos, sempre foram perseguidos pelos outros povos, para serem utilizados como escravos; tornaram-se em conseqüência dessa perseguição, hábeis na fuga e na camuflagem.


Como os seus perseguidores os tentam pegar normalmente à mão, para não os danificarem para o trabalho escravo, os Mukuísses untam o corpo com uma mistura à base de gordura animal, que os deixa escorregadios e lhes facilita se livrarem dos captores quando agarrados.


KUROKAS:

Os Ova-Kwanyoka são um povo pré-Bantu, e descendem também dos Mukuankalas, com características físicas e antropológicas similares, bem como a linguagem -- por estalidos de língua e sons guturais -- se bem que, em vez da cor terrosa, são negros.

Habitam as margens do Rio Kuruka, perto da Baía dos Tigres -- assim chamada pela grande quantidade de tubarões Tigre que podem ser vistos nas suas águas -- e alimentam-se da caça, da pesca e dos frutos, legumes e tubérculos espontâneos.

Padre Carlos Estermann, em “Etnografia do Sudoeste de Angola”, cita Duarte Pacheco e Pilarte da Silva, que concluem que os Kurokas são originários de uma mestiçagem de Mukuankalas com os Ova-Kuissis ou Kuissis.

Kurokas, Kuissis e Mukuísses, são designados pelos povos de linhagem étnica Bantu, por Wá-Twa -- errantes -- os escravos os designam por -- Ova-Zolotwa -- errantes negros -- para os distinguir dos Mukuankalas.

KAMUSSEKELES, OU MUSSEKELES/MUSSEKERES:

São povos que vivem entre o Kubango e o Kuango -- rios do sul de Angola -- nas florestas que ficam perto das margens dos rios.


São altos e fortes, com características físicas bem diferentes das dos Hotentotes, embora com os olhos em fenda e a cor terrosa. Atribui-se por isso a sua ascendência étnica, aos hotentotes.


Alimentam-se da caça, raízes e mel . São lutadores e guerreiros tenazes e corajosos, se bem que desorganizados. São ótimos caçadores e perseguidores implacáveis da caça.


LUXAZES:

Os Luxazes habitam as margens do Rio Kuito, e podem ser considerados comerciantes, por excelência e vocação.

Cultivam pouco, e vivem praticamente do comércio e permutas -- cera por sal e peixe seco com os Kimbundos; pederneira e ferro com os Tchokwé, que trabalham em machados, lanças, pontas de flecha, enxadas e facas, que permutam por cera, cânhamo e tabaco com os Bailundos.

Foram os primeiros, entre os povos de Angola, a controlar o fogo. Usam isqueiros de pederneira e fuzil -- ferro forjado e temperado em água fria – com uma mecha de algodão embebida em óleo vegetal ou gordura animal.

As mulheres, ao contrário da grande maioria das mulheres africanas, não transportam os filhos às costas, transportam-nos do lado, na ilharga; às costas transportam cestos com diversas coisas, presos por tiras de couro à testa.

É um povo bonito e forte, com mulheres muito elegantes na postura de costas retas, vestes de cores alegres e homens de porte atlético.

AMBWELAS:

Os Ambuelas são um povo pacífico por índole, embora fortes e hábeis com armas; são bons e corajosos caçadores, mas não guerreiros.

São povos que vivem em aglomerados numerosos, mas são muito fechados nos relacionamentos, evitando contato até com outras tribos da mesma linha étnica, o grupo dos Ganguelas.

Habitam o sudoeste de Angola, na região denominada por “Terras do Fim do Mundo”, e o norte do Botzwanna, perto dos rios Kuango e Kubango.

Pacifistas ao ponto de preferirem pagar vassalagem a tribos menos numerosas e que eles facilmente derrotariam em guerra, do que brigar pela hegemonia e independência. Ao contrário da maioria dos povos africanos, que apreciam e estimam o cachorro como companhia, os Ambwelas apreciam-no como alimento. A carne de cachorro é seguramente das que mais apreciam.

São hábeis oleiros e tecelões de esteiras e fios de algodão -- fiam e tecem -- além de amplamente conhecidos também pela perfeição com que trabalham o ferro.

MULONDOS:

Dos Mulondos, cito dois costumes feiticistas, raramente encontrados em outros povos, até da mesma linha ou grupo étnico.

São os OMUTEKELY e os MUNA-MANYA.

Os Omutekely são feiticeiros especiais, que têm praticamente como única atividade encomendar – no sentido de pedir -- aos espíritos, a morte de alguém.

É um ciclo vicioso de vingança e morte, que tem início quando morre uma pessoa inesperadamente e sem causa conhecida; a morte é então atribuída ao feitiço.

Os parentes recorrem ao Omutekele, a quem pedem que descubra e revele o culpado.

Após esta primeira etapa, e revelado o culpado, recorrem de novo, pedindo desta vez que esse culpado morra, vingando a morte anterior. Para o ritual, o feiticeiro mistura num chifre de antílope, a terra pisada pelo acusado, excrementos de vários animais e diversos tipos de objetos místicos, e coloca no topo, uma brasa incandescente.

Em seguida inicia uma dança e canto espirituais, ao fim da qual indica a época em que a vingança se consumará. A entropia feiticista pode durar “Ad Infinitum”.

Por Muna-Manya -- dono da pedra -- é conhecido entre os Mulondos, o dono da pedra de fazer chover.

Qualquer indivíduo pode ter a faculdade de fazer precipitar a chuva, quando esta se faz necessária e tarda, desde que possua uma determinada pedra, com características muito especiais, e conheça os preceitos do ritual.

Quando a chuva tarda e as culturas começam a ficar ameaçadas, o Soba chama um dos Muna-Manya -- é raro haver mais do que dois, em cada Sobado -- a fim de apressarem a precipitação pluviométrica.

Para tanto, enquanto o Muna-Manya oferece libações, em postura humilde diante da pedra, o Soba, na companhia de uma moça pré-púbere, sopra com pequenos canudos uma cuia ritual cheia de água.

Este poder, apesar de não ser restrito a qualquer classe hierárquica, é dos mais pretendidos e estimados, porque embora não confira autoridade, dá grande prestígio a quem o possui.

GRUPO NHANEKA-HUMBE:

Tanto entre os povos Nhaneka, quanto entre os Humbe, é levado a efeito sazonalmente a “Festa do Boi Sagrado”.

É um ritual de premonição, em relação aos resultados da colheita vindoura.

Um boi, malhado de preto e branco, é entregue pelo Soba aos cuidados de um Mene-Humbe -- grande pastor -- para que dele cuide até à época do ritual.

Na época própria, o Mene-Humbe, seguido por um cortejo de que fazem parte praticamente todos os habitantes da sanzala onde mora o Soba, dirige-se com o boi à casa deste chefe, que dá ao boi, na palma da mão, um pó branco preparado com cascas de árvore -- Omu-Abugulu.

Caso o boi não lamba o pó da mão do Soba, o presságio é negativo, o pastor responsabilizado e, dependendo do humor do Soba, pode até ser executado.

No caso de lamber o pó, o presságio é positivo, anuncia boas colheitas, o que é amplamente aplaudido pela população de seguidores.

Aí acontece uma festa apoteótica, em que a ordem de alegria geral é de tal maneira rigorosa que, enquanto a festa dure, estão vetados os cultos tristes.

A festa termina com o início do cortejo “ONDYELY”, em que o boi percorre todas as terras do Sobado, para que agora, já considerado sagrado, possa ser saudado por todos.

Outro costume curioso entre os Humbes, é quando uma moça pré-púbere engravida.

Os contatos sexuais, como na maioria dos povos em Angola, são encarados de forma natural, e jamais coibidos.

Qualquer garota, de qualquer idade, pode dormir com rapazes; o que não pode é engravidar.

Na tentativa de evitar que isso aconteça, as mães instruem as filhas a amarrar bem o pano da tanga entre as pernas, ou a praticar o coito interrompido; desvelos maternos bem intencionados, mas pouco práticos e nem sempre eficazes.

Quando acontece a gravidez indesejada a uma moça que ainda não tenha passado pelo ritual da puberdade, torna-se necessário que o feiticeiro a leve até à margem do Rio Kunene para um banho purificador, já que ela está conspurcada.

Na margem do rio, a moça sobe num galho de árvore que esteja bem sobre a correnteza, e que é cortado pelo feiticeiro, precipitando a moça no caudal violento; normalmente os jacarés do Kunene são mais rápidos para chegar à moça, do que ela nadar até à margem.

Uma das medidas práticas para evitar a gravidez das moças antes do ritual da puberdade é faze-las passar pelo ritual antes da puberdade fisiológica; o que por sua vez origina verem-se garotas com responsabilidades matrimoniais, em idade em que nas outras tribos apenas se ocupam com cantorias e brincadeiras infantis.

Entretanto, após a puberdade ritual, os nascimentos são amplamente festejados, a menos que sejam gêmeos.

O nascimento de gêmeos entre os Humbes, é sempre sinal de mau presságio, que só pode ser combatido por meio de uma série de rituais de contra efeito.

Mal nascem os gêmeos, é chamado um Kimbanda para fazer a OKUTUNTHA, que consiste na lavagem da testa, nuca, cotovelos, joelhos e planta dos pés de toda a família.

Em seguida constrói-se fora da sanzala uma cubata para onde mãe e filhos são levados, e onde ficarão de quarentena por um largo período, determinado pelo feiticeiro; durante esse tempo, a mãe tem o encargo de, além de cuidar dos filhos, tecer dois pequenos cestos, que mais tarde lhes servirão de pratos.

No dia em que o feiticeiro der por findo o prazo de isolamento, vai logo de manhã avisar a mãe, e quando o sol estiver na vertical, o feiticeiro leva toda a família, pai, mãe e outros filhos além dos gêmeos, para uma clareira no meio do mato, onde o pai haja erguido um estrado.

Lá chegados, o pai, a mãe e os gêmeos, sentam-se nus no estrado, para que possam ser lavados com um preparado especial. A lavagem segue uma determinada ordem: Primeiro a mãe, depois o gêmeo que primeiro tenha nascido, depois o pai, e por último o gêmeo que nasceu em segundo lugar.

Só depois deste ritual é que as placentas podem ser enterradas, e a viad tomar um curso normal para a família.

É de notar que, apesar de toda a necessidade de purificação que causa o nascimento de gêmeos, se forem trigêmeos não acontece nada, absolutamente nada, procede-se como se houvesse nascido um só bêbê.

KWANKWAS:

Os Kwankwas, tribo da linha étnica Humbe, acreditam que a prática da caça não pode ser exercida, sem que o caçador receba um espírito favorável.

O ritual de iniciação de um caçador tem como único objetivo, facilitar ao espírito a entrada no corpo do candidato.

O feiticeiro começa por fazer no corpo do futuro caçador, um desenho tracejado, usando para isso Takula ou Cinza; em seguida é sacrificado um animal com cujo sangue o feiticeiro complementa o desenho no corpo.

Tudo isto acontece ao entardecer de um dia, marcado pelo feiticeiro, após o pretendente ter manifestado o desejo de se tornar desse modo, útil à tribo.

Na noite que se segue ao entardecer da iniciação, faz-se a dança da caça, de que só tomam parte caçadores consagrados, e em que o iniciado se mantém todo o tempo sentado, com as armas sobre as pernas. Quando começa o amanhecer, pára a dança e começam os preparativos para a primeira caçada do iniciado.

Limpam-no das cinzas e do sangue, e tendo como única indumentária um pano enrolado a tiracolo, o novato parte para a aventura.

Caso seja bem sucedido, o primeiro pedaço de carne da peça abatida, é-lhe servido, e festeja-se a adesão do novo membro à classe; caso não tenha êxito, é porque os espíritos não estavam favoráveis, e o ritual terá que ser repetido passado um tempo.

É um costume dos caçadores Kwankwas, construir um estrado perto da cubata em que mora, e onde serão colocadas para exibição, todas as cabeças dos animais que abate ao longo da vida ativa.

GRUPO DOS AMBÓS:

A origem do termo Ambó perde-se no tempo, mas, assim foram designados os povos localizados a norte da Namíbia, englobando as gentes do Grupo Étnico Donga, os “Ova-Donga”. A forma gráfica correta do termo é “Ova-M’bo”, que foi sofrendo alterações até chegar a Ambó.

A família Ambó inclui do lado da Namíbia – antigo Sudoeste Africano – os Onga, Kwambi, Gandgela, Kwaluty, Lolocktsy Gunda; do lado Angolano os Dombolas, Kwamatwy, Kwanyama, Evale e Kafima.

Entre os Ambos do lado Angolano, as duas tribos que mais se distinguiram pelo valor como guerreiros e pelo poderios econômico que alcançaram, foram os Kwanyama e os Kwamatuy.

A lenda do aparecimento dos Kwanyama, diz que uma parcela da tribo dos Donga, errando pelo deserto do Kalaháry -- tratava-se provavelmente de um grupo Wa-Twa, comedores de raízes -- atingiu uma região rica em vegetação e caça, onde se fixaram. Passaram a comer carne -- Nyama -- passando depois disso a ser designados ou a se auto designarem como os Wa-Twa-Nyama, ou os Wa-Twa da carne, que acabou degenerando para Kwanyama, e que os Portugueses simplificaram a pronúncia para Cuanhama.

Na realidade, sendo Wa-Twa, e portanto nômades, devem ter chegado à região que vai quase até à Huíla, por puro nomadismo, e não por estarem perdidos no Kalaháry.

A região, rica em boa alimentação e pastos, fez deles um povo forte, de compleição física avantajada, próspero e que se tornou temido na guerra. Têm como base de alimentação, o leite, o mel, carne, frutas e milho.

As crianças são amamentadas até tarde, e quando a lactação materna termina, passam a dar à criança, uma coalhada de leite adoçada com mel.

O nascimento de uma criança é motivo de alegria para a família e todo o clã.

A parturiente dá à luz sem qualquer ajuda, numa cubata rodeada por velhas -- Ovalikadi; a placenta é enterrada no local do nascimento, o cordão umbilical cortado com os dentes e untado com uma pasta de ervas cicatrizantes, misturadas a cinzas.

O corpo do recém nascido é untado com uma pasta à base de manteiga e LUKULA, extraído da árvore Chora-Sangue -- Omulio-Sonde -- por acreditarem que essa substância tem propriedades que impedem a aproximação de espíritos maus.

Após o nascimento a mãe grita para fora da cubata:

- Temos “Omutwa Ohukwa”, pisadora de milho, se for menina, ou “Omukwaty Womafuma”, caçador, se for um menino.

Em ambos os casos, se escutam as exclamações de alegria entoadas por toda a tribo:

- Diririririririririririririririririririririri........

A escolha do nome é decidida por toda a família, mais ou menos uma semana após o parto, e obedece a orientações conhecidas.

Os nomes são precedidos da expressão Manu para os rapazes, e Namu para as meninas; por exemplo: Namutenya ou Manutenya. Se nascidos de noite – Dufiko -- Manufiko Namufiko, se de manhã -- Ongula -- inspira nomes como Namugula ou Manugula.

Até aos sete anos aproximadamente, quando cai a primeira dentição, a criança é cuidada exclusivamente pela mãe; a partir dessa idade as meninas começam a acompanhar as mulheres e os meninos os homens.

Começam a adestrar-se no manejo das armas de caça, o arco e flecha --Ondabi -- com ponta de madeira, usado para aves de pequeno porte.

Já um pouco mais velhos, começam a usar as flechas com ponta de ferro, e trazem à cintura, uma faca de dois gumes -- Omakonda -- retida à cintura por bainha de madeira, chifre de boi ou couro de animal.

Já o nascimento de gêmeos, como foi dito atrás, é encarado com apreensão por toda a família Ambó, e, portanto também pelos Kwanyamas.

Acreditam que o homem, com uma ejaculação só tem capacidade para gerar um filho; e se vem mais de um, é entendido como intervenção dos espíritos, capas de trazer má sorte à família e à tribo.

Diferentemente dos Nhaneka Humbe, que só têm preconceitos quanto a dois filhos numa mesma gestação, os Ambos têm-no em relação a mais de um filho por gestação.

Para neutralizar esse mal, tem que se proceder a um ritual de purificação dos recém nascidos e da mãe, cerimônia presidida por um Ondudo -- curandeiro adivinho -- que asperge a todos e ao lugar, inclusive aos visitantes, com um banho de ervas, durante a primeira Lua.

Combatidos os efeitos negativos, tudo o mais decorre normalmente.

Outra tribo que procedia com verdadeiro barbarismo ao nascimento de gêmeos, ou de crianças com qualquer tipo de deficiência física, eram os MUKUBAIS. Os recém nascidos nessas condições, entre os Mukubais, eram abandonados em covas, no mato, onde eram devorados por predadores ou formigas, antes de ocorrer a morte por inanição.

A influência cultural ocidental trazida pelos colonizadores, bem como a ação dos missionários, extinguiu, ou pelo menos atenuou muito esse tipo de vandalismo.

KWANYAMAS:

É um povo extremamente orgulhoso, de um porte físico imponente e majestoso, e que se considera superior a todas os outro povos.

Foi uma das tribos que maior resistência fez à ocupação colonial, nunca se deixando subjugar por completo, e até hoje, alguém que queira entrar em território Kwanyama, só poderá faze-lo com expressa autorização do Soba.

É conhecida a história do Soba Manugula-Homandumbe que, vendo-se em luta desesperada com militares brancos, quando só ele e uns poucos guerreiros restavam, lhes perguntou se preferiam morrer ou ser escravos dos brancos e, sem esperar resposta os matou, suicidando-se em seguida.

Povo de qualidades guerreiras extraordinárias, aliadas ao fato de se encontrarem sempre militarmente organizados, fizeram-se impor, não só aos povos vizinhos, mas também ao invasor branco.

De uma audácia fantástica, chegaram por vezes a tentar negociações de paz, apenas como mera estratégia, pois tão logo se sentiam capazes de voltar à luta, com boas chances de vitória, esqueciam imediatamente os tratados anteriores, para voltar a marcar a sua posição.

A educação deste povo tem aspectos em comum com a antiga civilização Grega de Esparta: praticam o laconismo, e o roubo é permitido -- a terceiros, jamais entre eles -- desde que não se deixem apanhar. O ladrão que é descoberto é impiedosamente castigado pela chibata diante de toda a tribo; não pelo roubo propriamente dito, mas por não ter tido a argúcia suficiente para não ser descoberto. Do sofrimento físico, nada deixam transparecer, mas a humilhação pública, leva-os na maioria dos casos ao abandono e convívio da tribo.

O indivíduo que mais gado consiga furtar às tribos vizinhas, ou que em condições mais precárias consiga matar um leão, rapidamente sobe no conceito da tribo. Ao contrário, qualquer indivíduo que dê mostras de medo ou covardia, seja em que situação for, torna-se alvo das chacotas da tribo, é-lhe interditada a caça, e passa a ser ajudante das mulheres nas tarefas de tomar conta do gado e da lavoura.

As mulheres também, à semelhança de Esparta, têm que ser fortes e saudáveis, pois disso depende a saúde dos filhos que forem gerados.

Os homens são adestrados desde cedo nos exercício da guerra, corrida, luta, manejo de armas, sendo o único povo cavaleiro em todo o território Angolano.

As mulheres desde cedo são preparadas para o casamento, incluindo essa preparação, exercício físicos que as tornem fortes e resistentes às doenças, fatores que consideram indispensáveis à fertilidade.

A mulher que não corresponder à expectativa do marido, e for devolvida, dificilmente conseguirá casar com outro guerreiro, restando-lhe juntar-se a algum membro da tribo rotulado de covarde.

Como modo de vida, os Kwanyamas são essencialmente criadores de gado e pequenos agricultores.

Para o homem, só é apropriado o ofício de caçador guerreiro, ficando para as mulheres a agricultura e criação de gado, da qual periodicamente têm que prestar conta ao seu homem.

Os homens, quando afastados da caça, tornam-se indolentes e permanecem dias seguidos na sanzala, fazendo simplesmente nada.

O sistema político é o feudalismo, tendo os Sobas poderes absolutos, mas estando subjugados a um Rei. A este Rei, e só a ele, é conferido o direito de vida ou de morte sobre os Kwanyamas; e é indiscutivelmente obedecido, seja qual for o seu capricho, inclusive pelos Sobas.

Como indumentária os homens usam apenas uma tanga; as mulheres, como adornos, imensos colares de contas coloridas e pulseiras de cobre trabalhadas, que junto com os penteados, indicam o seu estado civil e condição econômica.

Ilustrando o orgulho e tenacidade deste povo, lembro de uma história verídica passada com o pai de amigos meus, que tinha uma indústria pesqueira perto de Moçâmedes.

Certo dia apareceu na indústria um Kwanyama ainda jovem,vindo diretamente do Kimbo, pedindo emprego; caso raríssimo, motivos mais relevantes o deviam motivar, acima da compensação monetária.

O dono da indústria -- através de intérprete -- disse que sim, que havia, mas só nas traineiras de pesca, e era fundamental saber nadar. Perguntou-lhe se sabia nadar.

O Kwanyama disse que sim, sabia.

O industrial então, indicando um pequeno bote aportado relativamente próximo ao quebra-mar, pediu-lhe que nadasse até lá.

O rapaz hesitou apenas uma fração de segundo e entrou no mar ... de onde precisou ser retirado, pois quase morreu afogado.

Preferia morrer a voltar atrás com a palavra, ou ser pego na mentira. Ou ainda porque, jamais lhe ocorreu que não soubesse; se outros sabiam, como um Kwanyama não iria saber?

OS MUKUBAIS:

Também da linha Ambó, habitam a região da Serra da Schela, num semi nomadismo de acordo com as necessidades de pastagens para o gado, em função do qual vivem.

É um povo essencialmente pastor; a única coisa que cultivam é a “massambala”, cereal de grãos pequenos, quando, encontrando uma área de pastagens vasta, pretendem demorar-se no local.

A base de alimentação deste povo é leite e derivados, e a massambala, da qual fazem uma farinha para pirão. Carne, só comem quando caçam ou quando um boi morre de morte natural.

Como se disse acima, vivem em função do gado, pelo qual têm tanto apreço que até o roubam de outros povos; o deles, defendem-no a qualquer preço, muito embora no geral, não sejam belicosos.

É um povo forte e saudável, de porte altivo e que, à semelhança dos Kwanyamas, também se considera superior a todos os outros, a ponto de preservar a pureza da sua estirpe; não admitem qualquer ligação com os povos de outras tribos, e se uma mulher Mukubal tiver relações com um homem que não seja da tribo, será severamente castigada, ainda que tenha sido forçada. Os filhos desta ligação, se os houver, serão mortos.

Embora pratiquem o roubo de gado, consideram vergonhoso roubar qualquer outra espécie de mantimentos ou o que seja, e seja de quem for.

Embora fortes, corajosos e orgulhosos, se atacados, preferem retirar para evitar o confronto, que só acontece se for inevitável ou porque tenham que defender o gado; nesses casos, tornam-se combatentes temíveis.

A mulher Mukubal considera um estigma de fraqueza ter poucos filhos, e têm portanto, tantos quantos o seu organismo lhes permitir. Preservam desta forma a espécie, e o curioso é que se conservam esbeltas apesar disso, até idades avançadas.

A nota destoante da plástica das Mukubais -- pelos padrões de beleza ocidentais -- é que desde cedo forçam o achatamento do peito, com tiras de couro amarradas ao tronco. Para os padrões ocidentais, é uma verdadeira quebra da graciosidade e harmonia das formas femininas.

O ritual mais importante deste povo, é a festa do Boi Sagrado, por encarnar espíritos antepassados. Periodicamente dá uma volta por todas as sanzalas de Mokubais, para que lhe formulem desejos.

OS MAYACAS:

É outro ramo do Grupo Ambó. Vivem nas margens do Rio Kwango, e são regidos, dominados e tiranizados por um grupo de feiticeiros, conhecedores dos segredos do sobrenatural. O grupo de feiticeiros é dividido em três classes: a primeira é a dos Otchimbos, que têm parentesco próximo com os espíritos e são adivinhos; a segunda é a dos Kangas, os únicos capazes de livrar um indivíduo de qualquer feitiço ou maldição; por último, mas não menos importantes, vêm os Kimbandas, que são os curandeiros.

Quando um feiticeiro consegue acumular todos estes poderes, torna-se o chefe dos chefes. Os Otchimbos e os Kangas, vestem-se de pele de onça, cobrindo a cabeça com a pele da cabeça de um leão; os Kimbandas usam roupas de fibras vegetais desfiadas e coloridas, e tapam a cara com máscaras de madeira entalhada.

Periodicamente os Otchimbos comunicam-se com os espíritos, a fim de, por eles aconselhados, melhor decidirem a vida das tribos. Acontece assim: ao entardecer de um dia escolhido por todos os feiticeiros, reúnem-se Otchimbos, Kangas e Kimbandas num local afastado e tido como sagrado.

O Otchimbo principal, nesse local e em transe, vai espalhando os objetos místicos em cuja disposição está encerrada a mensagem, que será por ele interpretada, após sair do transe.

As mensagens, invariavelmente exigem sacrifícios animais e oferendas por parte do povo.

Nos assuntos de maior vulto -- ameaça de seca, falta de caça, epidemias -- é praticado o ritual do veneno ou “Obilunga”, que consiste em descobrir o culpado da catástrofe, entre vários suspeitos.

Os suspeitos são reunidos na clareira e interrogados, não havendo confissão por parte de nenhum deles -- isto é, se nenhum deles tem consciência de que pode estar causando o mal -- o Kimbanda prepara uma bebida para cada um deles, colocando em apenas uma das bebidas uma dose de veneno fatal. Os suspeitos escolhem as bebidas e tomam, ficando deste modo identificado e castigado o culpado.

Deste povo, fala-se também de um ritual, Kindóki, que era um sacrifício humano -- de um dos elementos da tribo -- cujas vísceras eram maceradas com ervas mágicas, e a pasta resultante, esfregado nas juntas de um parente doente, para o livrar da doença.

É um povo hostil a visitas e visitantes!

OS BIENOS:

A data de fundação da tribo Bieno remonta ao Séc.VII. É um povo criador de gado e não belicoso.

Foi fundada por Mwata Bié, um Humbe dissidente que levou o séqüito e grande quantidade de gado, para a região hoje conhecida como Bié. Teve como esposa principal, uma mulher de nome Cahanda, oriunda da terra de Soungo, e cujo povo habitava na época a região de N’Jundo.

Bié e Cahanda tiveram grande prole que se espalhou pela região, dando origem às tribos Kimbangala, Nheme e Kukema. Bié reinou por cerca de dez anos, ao fim dos quais foi assassinado por um sobrinho -- N’Gongo Hamulanda -- que em seguida assumiu o trono. N’Gongo Hamulanda casou-se então com Cahenda, que lhe deu dois filhos: Ulunda e Kibaba.

O sucessor de N’Gongo foi Ulunda, que ampliou os domínios dos Bienos expulsando os Ganguela-Nhemba para a região entre a Kukema e o Kuanza. Nessa expanção foram absorvendo outras tribos Ganguela de menor expressão.

Ulunda foi um chefe de grande prestígio, mas teve morte prematura, assassinado pelo irmão Kibaba, que assumiu o trono Bieno.

Kibaba reinou com tanta crueldade e devassidão, que foi deposto e executado pelo povo.

O povo escolheu entã para suceder Kibaba, o primeiro filho de Ulundo, N’Dalo.

N’Dalo era muito novo quando assumiu o trono e tinha por isso um tutor da mesma linha uterina, e de nome Anhambué.

O primogênito de Enhambué, ganancioso, envenenou o pai e o jovam N”Dalo, mas o povo Bieno, mais uma vez mostrando não compactuar com a crueldade, executou-o, e como castigo não deixou nenhum dos seus descendentes assumir o poder; quem subiu ao trono governante foi N’Guilla-Mull, irmão de Enhambué.

N’Guila Hull, o oitavo soba do povo Bieno, era igualmente cruel, tendo como principal produto de comércio, crianças da própria tribo; Silva Porto, no seu diário de viagens a África, cita-o como grande apreciador de festivais de canibalismo.

Foi no entanto um bom administrador, político e comandante militar. Fez alianças políticas com outras tribos Ganguelas, para alargar mais as influências do seu Império, desenvolveu, armou e organizou militarmente as forças guerreiras sob o seu domínio, mandou construir o Forte da Kibaka.

Reinou como um verdadeiro senhor feudal, a quem os súditos das tribos limítrofes eram obrigados a pagar pesados tributos de vassalagem. Com isto, fortaleceu enormemente a economia do reino.

Morreu bem avançado na idade, no auge político, econômico e militar do reino Bieno.

Depois dele, com os sucessores N’Kakwen e N’assojaba, os Bienos entraram numa fase de decadência total, até que, por volta de 1830 estavam reduzidos ao sobado, comandado pelo soba M’Bandwa, que se submeteu sem oposição ne luta, ao colonizador Português.

OS BAILUNDOS:

A Lenda da formação do povo Bailundo, confunde-se um pouco com a de Adão e Eva, acreditando-se portanto que sem dúvida foi influenciada pelo clero.

Diz que o primeiro casal, Féty – o Princípio – e Tamoya – a Perfeição – depois de muito vagarem pelo mundo, escolheram para viver, a confluência dos rios Kunene e Kunungânua, na área do Kuima.

Tiveram três filhos: Kalangue, Sambo e Bailundo, que deram origem aos povos do Huambo, e duas filhas, Bié e Kuima, das quais se originaram os povos das regiões do mesmo nome.

Os fatos históricos, se bem que confusos e apresentados de maneira diferente por diversos Historiadores e Etnólogos, são um pouco menos poéticos, porém mais precisos.

Cerca do ano de 160, depois da epopéia do Massangano, um grande grupo de Jagas, receando represálias dos colonizadores Portugueses por terem enfileirado ao lado da Rainha N’Zinga M’Bandi e dos Holandeses, contra a presença de Portugal em Angola, migrou para o Sul.

A numerosa caravana era chefiada por quatro valorosos guerreiros, autênticos potentados: Huambo, Chibamba, Sambo e Katiavala.

Após meses de viagem, se instalaram da seguinte maneira: Katiavala no Bongo, e os restantes na área do Katepe, onde Huambo se fez proclamar Soba e senhor absoluto do povo.

Mais tarde katiavala entrou em guerra com Huambo, por inveja do prestígio deste junto do seu povo, escorraçou-os e tomou a sucessão de Huambo, tomando desde então o nome de Bailundo Tatuado.

Huambo fugiu para a Kaála, onde definitivamente se fixou, Chibamba foi para o Kingenge, ali fundando o sobado da Tchiaka e adotou o nome de Tchilulo, e Sambo foi para o Kamdumbo, onde passou a ocupar a terra a que deu o nome. São guerreiros por índole, e segundo eles crêem, por predestinação.

Apesar de todo o atavismo belicoso, é um povo que se deixa explorar pelos sobas, que os subjugam com impostos extorsivos, os Otchivanda ou Ulambo.

Até relativamente pouco tempo atrás, entre os Bailundos, a doença terminal de um soba, era uma sucessão de acontecimentos bizarros.

Quando o Soba adoecia, reuniam-se os mais hábeis feiticeiros e Kimbandas de maior fama, para diagnosticar e combater a doença do chefe.

Como medida paliativa inicial, eram afastadas todas as mulheres do convívio com o doente porque, elas são tentadoras e afrodisíacas, itens dispensáveis a um homem debilitado por doença.

Depois de feitas todas as diligências curativas, se o Soba continuasse a não dar mostras de melhoras, eram afastados todos os Kimbandas e feiticeiros, com exceção do Kimbanda assistente do Soba, e de três secúlos -- Velhos.

Estes esperavam ainda um tempo, ao fim do qual, se o estado de prostração permanecesse, não o deixavam morrer de morte natural, pois para os Bailundos, a morte natural não é digna.

Enforcavam-no no teto da cubata, no maior segredo, conservando sempre uma pele de antílope na fechando a porta, e iam preparando o povo para o pior.

Continuavam visitando a cubata do chefe durante um tempo, simulando assim que ele ainda estava vivo, muito embora, a cada visita a perspectiva fosse mais negativa.

Quando finalmente a cabeça se separasse do corpo, pela deterioração dos tecidos, o Soba era dado como morto. Essa massa decomposta, era então embrulhada e amarrada em tecidos de fibras vegetais e ervas diversas. Depois das cerimônias de despedida e encomenda da alma, tinha lugar o óbito, e depois, junto à sepultura, uma sessão espírita que tinha como intuito descobrir o causador da morte.

Esse ritual acontecia com o corpo do soba suspenso de um galho de árvore, e dois guerreiros balançando-o ritmicamente, enquanto perguntavam ao espírito quem era o culpado pela morte do corpo; iam neste entretanto, mensionando o nome de todos os componentes da tribo, primeiro dos parentes, e depois das outras pessoas. Quando, à menção de um nome, o corpo balançasse de maneira diferente, ou mais acentuada, estava descoberto o culpado.

O culpado teria que contribuir com uma série de animais que eram sacrificados, e cujo sangue era derramado no chão, para ser absorvido pela terra e assim servir de alimento aos espíritos.

A cabeça separada do corpo, era enterrada pela família, em lugar escolhido e de difícil acesso, para que jamais pudesse servir de troféu para ninguém; acontecer isso, seria a desgraça para toda a tribo.

O novo soba era escolhido pelos secúlos, respeitando os laços uterinos, e depois disso ia pessoalmente apagar todas as fogueiras existentes, e acender uma nova na Embala.

Esta fogueira devia ser bastante viva e crepitante, pois o seu tempo de duração era prelúdio do tempo de duração do governo do novo chefe.

Só depois disso vinham os rituais de proteção ao soba recém empossado, bem como os festejos concernentes -- batuques, caçadas e eventualmente uma incursão guerreira.

Até às décadas de quarenta e cinqüenta, um soba só era considerado realmente chefe, na verdadeira acepção da palavra, após promover uma guerra.

POVO HUMBUNDO:

Entre os costumes Humbundo, um dos mais complexos e detalhados, é o ritual da morte e a despedida e encomenda do espírito.

Manda a ética que, quando morre algum membro da tribo, se é encontrado por alguém que não seja parente próximo, a notícia seja dada ao mais próximo dos parentes, à hora de melhor disposição, que é a da refeição.

Segue-se à notícia uma cena alucinante, pois mandam os mesmos preceitos éticos que o notificado, em demonstração de dor pública, exagere nas demonstrações de inconformismo.

Um mensageiro vai depois avisar todos os parentes, para que se reúnam na cubata do defunto tão cedo quanto possível, para dar início às cerimônias rituais de despedida do espírito.

Nesse meio tempo, as mulheres vão preparando a Kissângwa - bebida obtida com um fermentado de milho ou massambala – que animará os vivos na vigília ao morto.

Depois da chegada do último parente, reúnem-se em duas cubatas, homens numa e mulheres na outra, ficando na cubata em que está o morto, os do mesmo sexo.

Durante a noite inteira são entoados cânticos de despedida, que acompanham e alegram a subida do espírito, entremeados por histórias vividas pelo defunto, contadas pelos membros da tribo, à medida que delas se forem lembrando. Os animais que caçou, os bichos que teve, as viagens que efetuou, atitudes em que tenha se destacado.

De madrugada tem início o óbito propriamente dito. O Onganga entoa um cântico fúnebre acompanhado pelo som dos batuques em tom contínuo e baixo, e pelo coro dos presentes, num gemido muito baixo, como que longínquo. Após as rezas de encomenda, o corpo enrolado em esteiras, em cortejo, é levado ao local de sepultamento.

No dia seguinte, todos os parentes em luto fechado, vão visitar de novo a campa, levando cada um, um objeto de uso pessoal do morto, para que, caso este, em espírito, sinta necessidade de voltar a usar um dos objetos, não necessite voltar à sanzala. Os objetos estarão em volta e sobre a campa.

O ritual torna-se por vezes bastante demorado, pois alguns parentes podem morar em Kimbos bastante afastados, acontecendo nesses casos e vigília, com o corpo em adiantado estado de decomposição.

Nem estado deteriorado do corpo, nem o mau cheiro inerente, alteram a urgência do ritual; o importante é estarem todos os parentes reunidos, a fim de melhor evidenciar o vácuo que o morto deixa com o seu desaparecimento.

Entre os Hanhas, povo da família Umbundo, ao nascimento de uma criança, segue-se um ritual pouco comum.

A parturiente fica de joelhos, sentada sobre os calcanhares, e com a coxas bem separadas, mantidas nessa posição por uma mulher que a assiste, até que a criança nasça por si só, caindo num ninho forrado com capim e folhas macias.

Em seguida a criança é lavada, e vem então uma velha, para purificar mãe e filho.

Essa velha, com uma faca bem afiada, faz em torno do sexo da mãe, uma série de pequenos golpes, com cujo sangue fricciona a testa, pescoço e umbigo de mãe e filho.

Só após a purificação é permitida a entrada do pai na cubata, para ver a criança. No dia seguinte, o pai pega numa panela de barro onde tenha sido colocada a placenta e vai enterra-la no mato, perto de uma grande árvore, pois acredita que assim o filho poderá adquirir as qualidades da árvore: robustez , imponência e longevidade.

Quando o parto é difìcil, uma velha prepara uma beberragem de ervas, com a qual lava o sexo do pai, dando em seguida o líquido a beber à mãe ; é uma poção que provoca o vômito, cujas contrações acabam ajudando a expulsão do bêbê.

KIMBUNDOS:

Um dos aspectos extremamente interessantes e louváveis entre os Kimbundos, é a solidez da estrutura familiar. Não há qualquer espírito de oposição de idéias no seio de uma família, que possa abalar essa estrutura.

A educação, proteção e cuidados diversos, ficam ao encargo do pai; alimentação aos cuidados da mãe.

Os sogros são, no entender dos Kimbundos, os maiores responsáveis pelos atritos domésticos, de maneira que, resolvem o problema cortando por completo o relacionamento logo após o casamento.

Se por um acaso se encontrarem, afastam-se sem sequer se comprimentarem ou olharem; os cunhados de sexo diferente podem ver-se, mas devem evitar conversar.

Não é no entanto interditado a um pai ou uma mãe, falar com o filho ou filha casados, mas devem avisar com antecedência, para que genro ou nora possam afastar-se durante a visita.

Tal costume não significa que haja ódios de parte a parte, ao contrário; se acontecer um genro ou uma nora terem que falar com sogro ou sogra, ou vice versa, fazem-no com respeito e mostrando respeito e amizade; simplesmente evitam de forma radical o contato gratuito.

O adultério no homem é comum; consideram que a grande capacidade que o homem tem para gerar filhos, em contraposição à mulher, que apenas pode ter um filho por ano, ou duas gestações a cada três anos, o determina a ter quantas mulheres puder.

A infidelidade feminina, se bem que não restringida de forma rígida, não é bem encarada; o que quer dizer que, acontecendo, não vai causar grandes alterações na paz familiar.

A esterilidade ou qualquer outro tipo de descontentamento de um dos cônjuges, pode levar à separação, que é simples e amigável.

No caso da separação ser pretendida pela mulher, a única cláusula inapelável, é a restituição dos bens oferecidos pelo marido, no lembamento. Sempre em harmonia e sem qualquer animosidade.

Só há uma altura da vida, em que mulher nenhuma pensa em ser infiel, que pe durante a gravidez, por acreditarem que a prevaricação pode resultar em morte no parto.

Outro sentimento elevado neste povo, é a amizade. Todo o homem escolhe em certa altura da puberdade, um dileto amigo, e a dedicação mútua a esta amizade é inabalável, e para toda a vida. Pode um Kimbundo separar-se da mulher ou até renegar os filhos, mas nunca, em circunstância alguma o faria com um amigo.

OS GINGAS:

Os Gingas, tendo sido a tribo base dos N’Gola, foram um povo rebelde e guerreiro até meados do século XVI.

Chefiados por N’Zinga M’Bandi – a Rainha Ginga - enfrentaram o colonizador Português em várias batalhas famosas e sangrentas, culminando com a Epopéia do Massangano, em que se aliaram aos Holandeses, contra a ocupação de Portugal em Angola.

Povo de compleição atlética, guerreiros convictos, nem mesmo depois de derrotados deixaram de praticar os exercícios de guerra e adestramento com armas, na esperança de voltar a ter um chefe da índole da Rainha Ginga, que os levasse de novo a ser o potentado de outrora.

Para isso precisavam de homens que viessem a ser combatentes, e não de mulheres.

Instituíram então uma Lei, que expulsava da tribo como imprestável, qualquer mulher que tivesse mais de duas filhas seguidas.

A única autoridade por eles reconhecida, política e judicialmente, era o Soba.

Quando um Soba morria, e até que um outro assumisse o poder e o destino do povo, praticavam-se no interregno os maiores crimes e roubos, na certeza da impunidade.

A partir de 1680, os remanescentes, tornaram-se agricultores e comerciantes; iam a Malange trocar e vender o produto das suas lavras.

Uma parte deles, os mais inconformados com o fim do potentado, acabaram migrando para outras regiões, onde acabaram fundando novos potentados.

OS LUNDAS:

Entre os Lundas, ao contrário da maioria dos povos de Angola, o nascimento de gêmeos é altamente festejado, pois considera-se tal acontecimento, indício de bom presságio.

É fundamental a mais completa imparcialidade, da parte dos familiares, no tratamento para com irmão monozigotos.

Se acontece um deles ter de ser castigado, o outro também é; o que se oferece a um se oferece ao outro, a comida é repartida igual para os dois gêmeos – Anapaza – e até, se por acaso um deles estiver fora do Mussôco, nem por isso deixa de ter o seu lugar à refeição dos pais e irmãos, e de lhe ser servida a sua porção de alimento.

O que estiver viajando, também se servirá em porção dupla.

Mas só nos apercebemos do conceito real em que a maioria tem os gêmeos, quando um deles morre. A morte de um gêmeo é, no ponto de vista de um Lunda, um mal irreparável, acontecimento trágico chorado como nenhum outro, dor que nunca chega a ter resignação.

Depois de inúmeras cerimônias fúnebres e rituais feiticistas, a mãe do morto encomenda ao entalhador – Songui – o retrato – Capéria – ou sombra – Tchitchukié – do filho. Essa sombra, a mãe transportará para sempre, debaixo do braço esquerdo, até o gêmeo sobrevivente ser considerado homem.

Depois dele terminar o ritual da circuncisão, a responsabilidade pela figura do morto, passa a ser por conta do irmão.

Ele tem o dever de se fazer acompanhar sempre por esta recordação e trata-la com o maior zelo, contar-lhe das experiências da vida e venera-lo como espírito; nunca acreditam completamente na morte de um ente tão querido.

Um gêmeo a quem tenha morrido o irmão, deverá sempre seguir os pressentimentos que lhe ocorram, pois são tomados como avisos do irmão que, no Éden, goza da companhia de seres omniscientes.

POVO GANGUELA:

No Alto Zambeze vivem os Luenas, tribo que pertence ao grupo lingüístico dos Ganguelas. O nome vem do Rio Luena, afluente do Zambeze, e a região por eles ocupada é de grande abundância alimentar.

No solo, fertilizado pelas cheias periódicas do Zambeze, aparecem espontaneamente variadas árvores frutíferas e magníficas pastagens, a que imensas manadas dos mais variados antílopes não resistem; aparece também uma erva rica em látex.

É também neste solo, que aparecem os peixes-que-nascem-como-o-arroz; determinada espécie de peixes – Mukussos – que desovam na cheia do rio, e cujos ovos se mantêm debaixo da terra até à cheia seguinte.

Esses pequenos peixes, depois de secos, são muito apreciados não só pelos Luenas, mas também pelos povos vizinhos, e assim, representam uma das fontes de comércio Luena; principalmente com os Tchokué.

O Rio lhes oferece uma grande variedade de peixes, além das lontras, de que aproveitam a carne e o couro.

Com o privilégio de terem a caça, a pesca e a agricultura ao máximo facilitados, vivem despreocupadamente. É um povo alegre e cordato, não belicoso.

Dividem o tempo livre, que é muito, entre cantos, danças, sexo, e o consumo de “Liamba” – Maconha/Cannabis – a que eles dão o nome de capim de N’Zambi.

As cubatas são amplas, de forma quadrangular, brancas e decoradas por fora com pinturas que representam de uma maneira geram, cenas amorosas.

Vivem muito para o amor e prazeres carnais, de tal maneira que os Tchokué chamam as doenças venéreas de “Mal Luena”. É a única tribo em Angola onde se pratica a poliandria.

Outra característica bem marcantes deste povo, é a maneira franca com que recebem um visitante; ou melhor a naturalidade com que encaram a hospitalidade um dever.

Mal o viajante chega à aldeia, dirige-se para a Tchiota – cabana sem paredes onde se reúnem os homens.

Caso ele chegue à Tchiota à hora da refeição, serve-se e come sem que ninguém precise de o convidar, e sem que ele precise de agradecer. Após a refeição, e pelos dias que se seguirem, ele vai dizer quem é, de onde vem, para onde vai, quem encontrou no caminho, essas pessoas de onde vinham e para onde iam, e quem encontraram, etc...depois do relatório é a vez dos habitantes da aldeia lhe contarem quem passou por lá, de onde vinha e para onde...

Com isso, mantêm um sistema de informação bem atualizado.

O visitante pode dormir do lado da fogueira, na Tchiota, ou numa cabana ocupada por uma mulher, casada ou não, que esteja livre no momento.

Quando vai embora, limita-se a despedir-se do Soba, sem que deva agradecimentos a ninguém.

Perto de Mukonda – antiga Nova Chaves – vive o povo Muxico, também do grupo Ganguela.

O foco central deste povo é o Soba, em volta do qual giram todos os poderes, do político ao espiritual. Os Sobas, depois de mortos eram enterrados em locais acessíveis, para que não houvesse dificuldade para venere-los, como em vida. Os túmulos eram em forma de túnel, e o Soba sepultado era colocado sentado, na mesma posição em que usava ficar em vida.

Era costume, até há poucas décadas atrás, sepultar os Sobas com duas mulheres, ou duas crianças; uma para lhe tratar dos cachimbos e a outra para lhos acender.

Junto do túmulo era construída uma cubata, que o espírito poderia ocupar sempre que sentisse saudades da vida terrena.

Os Muxicos sempre tiveram especial consideração pelos artistas, músicos, escultores. São um povo de habilidades e aptidão reconhecidas no manejo dos instrumentos musicais, em especial no manejo do Kanguxi, espécie de violino de três cordas, tangido por um arco tratado a resina. Os sons do Kanguxi, acompanham de forma melodiosa todos os cerimoniais, com exceção do início de uma guerra.

Os preparativos de uma guerra, são acompanhados pelo som nervoso da Mukupiela, tambor curto e revestido de couro dos dois lados.

Os escultores, acreditava-se que tivessem recebido os seus dons diretamente de N’Zambi. Perfeitos nos trabalhos de madeira, eram prolixos na produção de estátuas, estatuetas, máscaras entalhadas, bastões, cadeiras de Soba etc...

Embora fosse distinguida a classe dos artistas, todo o povo Muxico, em maior ou menor grau, tem a vocação artística; todos tiram os seus acordes dos instrumentos musicais, ou de uma forma ou de outra trabalham e esculpem a madeira, ainda que apenas nas partes internas em madeira, das habitações. As cubatas do povo Muxico, são todas elas verdadeiras galerias de arte, com entalhados dignos de um museu.

Entre os Luy, outro ramo do grupo ganguela, era bárbaro o funeral de um Soba.

O Soba, ddepois de morto e de ter passado todos os rituais fúnebres, era colocado na cova em que seria sepultado, junto com todas as pessoas que lhe tivessem sido chegadas em vida.

O sucessor, era investido imediatamente após a morte do chefe, por um dos secúlos do conselho de velhos, que o ungia com a ponta de uma lança, numa investidura muito semelhante à dos cavaleiros na Europa medieval.

Terminada a cerimônia do sepultamento do Soba e respectivos acompanhantes, o novo chefe retirava com todo o povo para um novo local escolhido para Kimbo, ficando o antigo local para veneração, onde os velhos em determinadas épocas iam em peregrinação.

OS KIKONGO:

Para o povo Muxito, da família Kikongo, a morte de um Soba era acompanhada de uma série de outras mortes, voluntárias , ou pelo menos encaradas com resignação estóica, de pessoas que deveriam acompanha-lo, para que no além túmulo ele pudesse continuar a gozar de determinados privilégios.

Pela tradição morriam também a mulher mais nova, o conselheiro mais velho e o mais diligente dos serviçais.

Caso o Soba, na agonia da morte, determinasse que queria outros acompanhantes além destes três, a sua vontade seria cumprida sem qualquer contestação.

Este costume tradicional, foi dos que as autoridades coloniais mais tiveram dificuldade em combater, pois apesar da vigilância exercida, durante muitos anos a morte do Soba continuou mantendo todos os preceitos tradicionais. Escondiam-se nos lugares mais inacessíveis, para levar o ritual a efeito.

Dos últimos casos em que se teve conhecimento oficial dessa prática, foi no ano de 1926, quando da morte do Soba Mazeze.

Nesse ano, marcharam o Soba Mazeze e respetiva comitiva, para o Posto do Lucano, em visita cordial.

Nesse entretanto, deslocou-se ao Sobado, um sobrinho de Mazeze, Sobeta em território Congolês, que por sua vez ia visitar o tio. Como não o encontrasse, resolveu ir ele também ao Lucano, para lá cumprimentar o Patriarca.

As duas comitivas encontraram-se no caminho, estando já Mazeze de volta, e todos pararam para celebrar. A celebração demorou vários dias, em que foram consumidas expressivas quantidades de cabaças de Marufo ( fermentado de seiva de palmeira ), tanto pelos chefes, como pelos acompanhantes.

Dada por finda a celebração, voltaram as diuas comitivas ao Sobado, onde Mazeze chegou já bastante doente.

A despeito de todas as tentativas de cura por parte dos Tchimbandas, poucos dias depois o chefe morreu.

A autoridade colonial do Lucano, tendo tido conhecimento dessa morte, e sabedora dos costumes tribais, logo rumou para o Sobado, junto com um pequeno destacamento de Cipaios e Capitas ( forças militarizadas constituídas por homens de outras tribos, de apoio às administrações coloniais portuguesas ), numa tentativa de evitar o morticínio.

Mas o destacamento chegou tarde, várias pessoas já haviam morrido em conseqüência do ritual. Mas as autoridades não conseguiram apurar nada de concreto, pois o povo interrogado, limitava-se a responder que os personagens extras, tinham morrido por haverem tomado o mesmo líquido que o Soba, e não por qualquer outra razão.

Como se disse acima, este costume foi dos mais difíceis de combater pelos colonizadores, e nada garante que esteja completamente erradicado, que ainda hoje não se pratique nos mais recondidos e inacessíveis lugares do mato, com a anuência de todos.

0S CABINDAS:

É o nome dado aos povos que habitam a região do Enclave de Cabinda, no Norte de Angola, e que abrange as tribos Bakongo, Bavoio, Bassundi, Balinke, Bavili, Ahoki e Mayombe, os antigos reinos do N’Goio, Kakongo e Loango.

O primeiro Soba foi chamado de Ma-Yombe; Ma significa terra, e Yombe significa longe, numa alusão a terem vindo de terras distantes, em movimento migratório.

A religião dos povos do Enclave de Cabinda, difere em vários pontos da religião de outros povos de origem Bantu, com figuras mitológicas de funções específicas.

Os últimos KöiSan

Poucos anos atrás, o Mundo maravilhou-se com um filme alegre, movimentado e hilariante, que fugia ao padrão pasteurizado das comédias Hollyhoodianas.

Estou falando de Os Deuses devem estar loucos, em que a figura de maior destaque do filme, passado no Deserto do Kalaári/Namíbia( nome Hotentote para terra sem gente), era um Bosquímano.

Para a grande maioria do público que assistiu ao filme, foi certamente a primeira vez que tomou contato com essa etnia Africana, com características antropológicas próprias, adaptadas à vida no deserto, porém descendentes remotos de caucasianos.

É um povo nômade, que vive da caça e colheita, como viviam os seres humanos do período paleolítico da História

Em início do Séc.XXI, e apesar dos contatos que têm com as tribos negras de agricultores e artesãos, mantêm um sistema de vida tribal idêntico à época Neandertal – 130.000 a 40.000 anos atrás -- com todo o respeito ao meio ambiente que os cerca.

Ignoram o sentido de propriedade privada, tudo o que caçam e colhem pertence ao grupo familiar, que também não descrimina sexos, nem tem um chefe ou líder rígido. As decisões são tomadas pelo grupo e é seguida a vontade da maioria; o patriarca tem apenas o voto de Minerva, em casos de empate ou grandes indecisões.

Como características antropológicas de adaptação à vida no deserto, têm os olhos amendoados, oblongados, como das pessoas orientais, em proteção à luminosidade, têm pernas desproporcionalmente longas em relação ao tronco, o que os ajuda nas caminhadas nômades. Os pés são também desproporcionais, grandes e largos, evitando que afundem nas areias mais soltas, e têm, principalmente as mulheres, uma lordose lombar, devido às nádegas grandes, verdadeiros depósitos de gordura, uma reserva natural para épocas difíceis.

Uma outra característica curiosa deste povo, é o dialeto, com um linguajar ponteado de estalidos – cliques – de língua.

Espremidos no deserto, pelos Bantus ao Norte e pelos Boers ao Sul, aprenderam a sobreviver à carência de água, extraindo-a de tubérculos que só eles sabem como e onde encontrar, e colhendo gotas de orvalho das folhas e em reentrâncias das pedras.

A água que captam e não consomem, guardam-na em ovos de avestruz, enterrados no deserto, sem qualquer referência, mas que eles encontram na primeira tentativa, mesmo depois de meses ou anos sem passar pelo local.

Têm métodos curiosos e inteligentes, para resolver as suas necessidades; por exemplo se por um acaso não conseguem água pelos meios comuns e tradicionais, capturam um macaco novo ( macaco velho não mete mão em cumbuca), colocando alguns grãos num buraco onde só caiba a mão do símio alongada, e tendo a certeza de que estão sendo observados. Capturado, alimentam-no à vontade com comida salgada durante um dia e uma noite, após o que o soltam, e vão atrás. Os macacos são os únicos animais do deserto que conhecem as reservas e poços subterrâneos escondidos entre as pedras, depois é só soltar o macaco e segui-lo.

Vivem em grupos familiares pequenos, entre dez e quinze pessoas, incluindo as crianças, mas são amistosos, e os grupos visitam-se e frequentam-se.

RELIGIÃO E DEUSES

1 – Kuiti-Kuiti: Filho de um deus, já nasceu velho e com os poderes do pai, em M’Boma Uala Lisongo.

Tem quatro irmãos: N’Kunda, M’Baki, N’Randa e M’Boze. Casou com M’Boze, de quem teve um casal de filhos, M’Zore e N’Kanga. M’Boze cometeu incesto com N’Kanga, que concebeu e nasceram gêmeos.

2 – M’Boze: Irmã e mulher de Kuiti-Kuiti, que foi abandonada por ele após ter parido gêmeos, fruto da ligação incestuosa como filho N’Kanga, tornou-se uma figura amarga, e é a entidade das pragas e maldições.

3 – Lusunzi: Filha de Né-Binda Né-M’Boma e de M’boze. Casou com o irmão N’Kanga. É a entidade que regula os atos da vida social e moral; proíbe relações com uma moça que não tenha passado pela Kualama – iniciação - proíbe à mulher ter relações e cozinhar para o marido enquanto menstruada, proíbe relações e casamentos entre consangüíneos.

4 – N’Kanga: Filho de Kuity-Kuitu e de M’Boze, casado com Luzunzi, preside todas as ceromônias e governa espiritualmente as terras de Kingagaca, N’Goio e Kankatu.

5 – M’Vemba: Filha de Né M’Binda Né M’Boma e de M’Boze, é a entidade invocada nas grandes calamidades. Tem poder de sustar as grandes forças da natureza quando em ação, o de fazer reverter os resultados dessa ação violenta.

6 – Lunga: Também filha de Né M’Binda Né M’Boma e de M’Boze, habita as florestas das margens e da foz dos rios. É a deusa ecológica e invocada para a salvação dos rios e florestas.

7 – M’Bunzi ou M’Bungi: Filha de N’Kanga e N’Boze, é e deusa ou entidade da desarmonia, desentendimento, intriga e traição. É uma deusa invocada especialmente nas terras de M’Puto Kinzaze e da Matamba.

8 – M’Pangi: Filha de Luzunzi, habita a Baía de Cabinda, numa pedra encostada no morro do Porto Rico. É um espírito mau, vingativo, evocado para as vinganças e para fazer o mal.

9 – N’Kunda M’Baki N’Randa: Irmão de Kuity-Kuity, é casado com N’Sanda Kunda. É o deus da chuva e das tempestades. É um deus com cauda, e quando evocado aponta a cauda para o céu, e a chuva passa a cair na quantidade e pelo tempo que ele quizer; caso seja excessiva, basta que aponte a cauda para o chão, para a chuva parar de cair.

10 – Makunku: Filho de Luzunzi, é o deus das preocupações. O seu principal poder é sobre os movimentos do sol. Qualquer trabalho iniciado por ele tem que terminar antes do pôr do sol; se tiver que demorar um pouco mais, ele manda o sol parar, ou até recuar um pouco, até que o trabalho esteja terminado. É um deus que viaja muito, pois consegue em instantes ir de um lugar para outro, para assistir e aliviar todas as preocupações do povo.

DEUSES MENORES OU DE SEGUNDA ORDEM

São todos filhos adotivos de Lusunzi.

1 – Wela-ke-Luzunzi: É a entidade que protege os pobres e os tristes

2 – Kinkinda e Kilili: São as entidades protetoras dos grãos de milho, da mandioca e das farinhas que deles resultam.

3 – Kimpunkulo e Kinzunda: São as entidades protetoras da agricultura.

4 – M’Baki, Lukola-Limpangi, Mundala-Mipangi e Luki-a-Limpangi: São as entidades que protegem os riachos, onde habitam, junto com toda a fauna e flora desses lugares.

MITOLOGIA DO CLÃ BAKONGO

1 – N’Zambi: É o ente supremo e bom, que tem o poder criador. Chamam-lhe também de Tata ou Tata-Itu – Pai ou Pai Nosso.

2 – Bakisi ou N’Kisi: São seres sobrehumanos que protegem o homem. Bakasi Basi são os espíritos da terra; N’Kisi N’Si são os espíritos do poder. Usam outros espíritos nas suas tarefas, e são de uma maneira geral bons, mas se for necessário, podem também fazer o mal.

3 – Zindundu: São espíritos de albinos, monstruosos e incapazes de procriar. São temidos por todos os espíritos do mal, muito embora não esteja muito bem definido que tipo de poder eles têm, nem como o exercem. Os albinos, em vida também são temidos a ponto de, nos mercados os deixarem pegar o que quiserem, sem terrem que pagar por nada.

4 – Basima: São os espíritos dos gêmeos; são bons e respeitados. Em vida os gêmeos também são respeitados como seres especiais; deles sempre se espera atitudes boas e generosas, e se por um acaso tomam uma atitude que não o seja, considera-se que houve forte razão para isso, ou que a atitude não foi bem interpretada.

5 – Kilombos: São os espíritos que entram nos cérebros, os intrepretam e influenciam.

6 – Vimbu: São espíritos maus, de pessoas que morreram inchadas, com chagas, doenças de pele e irritações.

Os Cabindas são um povo sadio, forte e amigável. A situação geográfica de Cabinda, tendo de um lado o mar rico em peixe, e do outro a hostil e quase impenetrável Floresta do Mayombe, contribuiu para que os homens deste povo se dediquem quase exclusivamente ao mar; o povo Cabinda é um povo de pescadores. Na pesca, utilizam para enfrentar o mar, estreitas pirogas, por eles construídas, de modo a serem resistentes à batida das ondas e melhor cortarem as águas.

A pesca é um trabalho árduo e perigoso, que é da exclusiva responsabilidade dos homens; às mulheres cabem as tarefas ligadas à agricultura e os trabalhos domésticos.

O homem Cabinda, sendo alegre e despreocupado, quando regressa das incursões piscatórias entrega-se a dias de ociosidade, ficando em terra até que se tenha consumido o produto de tão arriscada tarefa.

Em Cabinda, tal como é freqüente nos povos de angola, o número de mulheres supera o dos homens, o que lá se torna um fenômeno de conseqüências adversas. Deve-se essa adversidade, ao fato de ser em cabinda, bastante irregular a poligamia, fica difícil para as mulheres arranjar um marido.

Começa deste modo, uma série de costumes e acontecimentos exclusivos deste povo.

Os homens, sabendo-se em menor número, e com uma noção acurada das leis de oferta e demanda do mercado, e em conseqüência alvos de cobiça, não vêem razão para fazer gastos com Lembamento. Mas como a ceromônia só pode realizar-se dentro desta base, são as próprias mulheres que fazem as economia necessárias, para isso se prostituindo inclusive, e sem que isso as desprestigie, ou que por isso venham a ser menosprezadas pelo futuro esposo.

As moças, após saírem da “Casa da Tinta” , escola onde na época da puberdade e primeira menstruação, se aperfeiçoam nos conhecimentos de agricultura, maternos, concubinas etc...são apresentadas pelos familiares, embelezadas por um pó – Talulo – que lhes dá um tom avermelhado, ao mesmo tempo em que a família anuncia ter uma moça pronta para casar.

Não aparecendo nenhum candidato disposto a dar o lembamento estipulado, a moça é liberada para ir trabalhar; com economias fica mais fácil casar-se.

As questões de separação são complicadas, pois a mulher não aceita facilmente o divórcio; tornam-se em geral quezilas de tribunal, resolvidas pelo Soba e Conselho dos Velhos – cuja decisão é irrecorrível – à sombra de uma Mulemba – Muanza Kilua – que quer dizer “Sombra da Verdade”.

As sessões Jurídicas têm início quando o Soba manda soar o Mussaco, tambor só usado nessa ceromônia.

Entre os Cabindas há também dois costumes que são exclusivos desse povo, que são o Licoêze e o Moela.

O Licoêze consiste na restituição dos bens oferecidos como lembamento, à família da mulher, caso ela morra. Apesar de, entre os Cabindas serem as mulheres a economizar para o Lembamento, se a mulher morre, a família dela se obriga a devolver os bens recebidos.

Quando é o homem a morrer, a família dele presta a ela a homenagem da Moela, que consiste na libertação imediata dela, para refazer a vida, caso não tenham filhos menores e a oportunidade surja.

Caso tenha filhos menores, deve observar um período de luto, ao fim do qual, caso queira casar de novo, deve abdicar dos filhos em favor da família do marido. O curioso é que, apesar deste puritanismo aparente, a jovem viúva, para sustentar os filhos, pode enveredar pela prostituição, sem que isso a desmereça aos olhos seja de quem for. Devo acrescentar que, a prostituição no contexto em que é apresentado neste apontamento, é um costume relativamente recente, bem posterior ao advento da colonização.

Entre o povo Cabinda, o tira-teima dos feiticeiros e adivinhos, quando alguém é apontado como culpado de alguma coisa e nega, toma uma característica ligeiramente diferente.

Tem o nome de “Sanga”, e é o ritual da faca quente.

Os suspeitos ficam em lugar de destaque na roda de povo em volta do feiticeiro que, após monopolizar a atenção e criar a atmosfera de temor e desconforto, inicia o ritual.

Faz uma cova no chão, onde coloca e tapa uma pedra mágica, fazendo em cima uma fogueira, onde coloca esquentando, a faca justiceira.

Após preces ora gritadas, ora murmuradas, desenha usando Pemba ou Cinza umedecidas, um círculo branco abaixo do joelho de cada um dos suspeitos.

Nesses círculos, será encostada a faca quente, e a pele que intumescer denunciando queimadura, aponta o culpado.

OS MAYOMBES:

É um dos povos mais interessantes e curiosos de todo o território Angolano.

Pigmeus fortes e atarracados, extremamente corajosos e arrojados na caça – enfrentam elefantes com lanças – não belicosos e amistosos, se bem que tímidos no convívio normal com estranhos.

São semi nômades e fixam-se por espaços de tempo relativamente curtos nos lugares. Alimentam-se de caça, répteis, insetos, vegetais e frutas espontâneas.

É um povo que, pelas características físicas, dificilmente acreditaríamos serem capazes de enfrentar tão majestosa e agressiva floresta.

Corajosos como se disse acima, a ponto de enfrentarem o elefante com pequenas lanças – que vão espetando e fugindo, até que o animal, exaurido pela tortura e perda de sangue, acabe por desistir da luta pela vida – temem de forma apavorada apenas os Gorilas.

Protegem-se das intempéries por cascas de árvores, que têm também a vantagem de os camuflar.

Vivem em pequenas famílias, cujo chefe é o homem mais velho, e quando algum elemento do grupo morre, é enterrado com todos os pertences.

O semi nomadismo é uma boa mabeira de viver, para uma gente tão bem adaptada psicológica e fisiologicamente à floresta; quando os Belgas tomaram conta do território, depois da Primeira Grande Guerra – antes o território fora da fronteira de Angola, era Alemão – decidiram por uma política protecionista em relação aos Bantuís – Pigmeus – da Floresta Ituri – continuação da Floresta do Mayombe.

A intenção era boa, mas o protecionismo levou-os a fixarem-se num sedentarismo ao qual não se adaptaram, e que facilitou a ação de outras tribos, que os atacavam e escravisavam, além de lhes tomar as mulheres jovens, impossibilitando-os de se reproduzirem.

Poucos grupos mantiveram a tradição nômade, e o número de pigmeus baixou de aproximadamente um milhão e meio há trezentos anos, para menos de dez mil atuais.

TCHOKWÉS – HIERARQUIA RELIGIOSA

N’Zambi (1)

Samuang (2) Feminino Namuang (3) Masculino

Tchirhongo(8) Kuba-Wavula(6) Kakuka (5)Tuhemba(massuko)(4) Katoto (9)

Katwa(10) Mwana-Pwo (7)

1 – N’Zambi: É o Criador do Mundo.

2 e 3 – Primeiro casal da terra, representados por dois troncos secos e estreitos, com as esculturas de um casal nas extremidades, ficam erguidos perto das cubatas e isolados.

4 – Divindade feminina que ajuda as sementeiras. Primeira filha de 2 e 3. É representada por um tronco estreito e seco, com uma figura feminina esculpida na ponta. Esse tronco fica espetado do lado de uma paliçada pequena, que tem em cima figuras representando a família e descendentes.

5 – Filho de 1 e 2 , tem poderes de premonição. É representado por um boneco e uma tábua, na qual se esfrega o boneco, até este dar as respostas pretendidas.

6 – Divindade má, mata, queima e destrói em dias de chuva – Wavula – no momento do raio – Kuba. É representado por um manipanço disforme, com dentes pontudos e irregulares simulando uma boca.

7 – Totalmente feminina nos trejeitos e enfeites, é uma divindade protetora e alegre.

8 – Personagem masculino, austero, representa força e mando.

9 – Personagem grotesco, ridículo e cômico.

10 – Figura amedrontadora, de feitiço muito poderoso, protege quem o agrada e prejudica os que o substimam.

SACRIFÍCIOS HUMANOS E ANTROPOFAGIA

Em quase todos os relatos de exploradores africanos, Etnógrafos e Etnólogos, que escrevem ou escreveram sobre os povos de Angola, se encontram referências e registros de rituais com sacrifícios humanos. Foram registrados acontecimentos desses entre os Lubas, Luenas, Kwanyamas e Huílas.

De uma maneira geral, o sacrifício visava a adquirir a força, a virilidade ou a coragem – ou todas essas qualidades juntas – do sacrificado, e era feita em oferenda aos espíritos.

Entre os Kwanyama, Kwamatuy e Mukubais, verificaram-se e foram registrados muitos sacrifícios de crianças, por nascerem com deformações físicas ou por serem fruto de uniões indesejadas e até em casos especiais de coroações de Sobas.

Outro motivo que podia levar a sacrifícios de seres humanos, por indução de feiticeiros, era o ritual para livrar, exorcizar uma pessoa de uma obcessão causada por um espírito.

Rituais que incluíssem além de sacrifício, canibalismo de partes do corpo do sacrificado, eram mais raros. Consoante os fins que se pretendia, os órgãos mais visados para a consumação destes festins, eram o coração e o pênis; eventualmente também o sangue – todos considerados fontes vitais.

Entre os povos de Angola, não há registro de antropofagia simples e pura, sem conotação religiosa ou feiticista.

De qualquer modo é muito e inexata a observação científica neste assunto particular, pois invariavelmente os participantes, temerosos de repressões das autoridades coloniais, tomavam todas as precauções e se escondiam para essas práticas, e as testemunhas silenciavam ou negavam peremptoriamente que houvessem ocorrido.

At´pe 1974 apareciam registros de acontecimentos destes, por parte das autoridades coloniais. Em 1974 foi muito comentado um caso acontecido na região da Huíla, entre os M’Huíla, e que consta dos arquivos do tribunal da Huíla.

ZINDUMBA – ZA – WÂNTU ( OS HOMENS LEÃO )

Os Zindumba – Za – Wantu, cuja existência era comprovada até poucos anos atrás por oficiais do Kwango, eram uma seita que, vestidos com pele de leão e imitando o urro do felino, se aproveitavam do temor que o disfarce incutia nas populações, para poderem proceder a vinganças, prepotências, roubos.

A cerimônia de iniciação dos “Bantu-Simba”, designação dada à seita por vários autores – Bantu como plural de N’Tu, que quer dizer Ser Humano, e Simba, que significa Leão – era qualquer coisa de terrificante e original.

O grupo escolhia para a admissão de um novo membro, uma noite de Lua Nova; ia então à casa do candidato onde, executando uma exótica dança, lhe dava a entender que era chegada a hora de prestar provas para a admissão. Quando o novato, entre temeroso e ansioso assomava à porta, do grupo destacava-se o chefe que, sem proferir palavra, entregava ao futuro irmão Simba, uma Zagaia e três flexas envenenadas.

Iam em seguida, com o novato no meio, floresta a dentro, à procura de um leão, que este teria que matar sem qualquer espécie de ajuda e usando apenas as armas que lhe houvessem dado.

Se falhasse, o grupo tratava de matar a fera, e o candidato perdia no ato a esperança de vir a integrar a bizarra oligarquia.

Caso conseguisse matar o animal, o feiticeiro retirava do cadáver o coração ainda quente, e com ele traçava na testa do novo membro o sinal Wântu, esfregava-o em seguida no peito, de modo a deixar bem marcada uma mancha de sangue.

O novo aderente, finda esta parte do ritual, empunhava uma faca, retirava e vestia a pele ainda úmida do bicho morto, e gritava: Eu, Bantu-Simba, consegui vencer o Leão, o seu coração deixou sangue no meu peito, sou agora mais forte que ele.

Ditas estas palavras, tentava imitar o furioso bramido do Rei dos Animais, e iniciava a dança nervosa dos seus novos companheiros.

GENTE DA REGIÃO DAS NEVES

Alguns autores assinalam que, perto da Humpata, viveu um povo da Região das Neves, nome dado à região pelo fato de ser muito fria e com certa frequência cair granizo.

A curiosidade deste povo está em que, apesar de terem cor e traços negróides, são descendentes de Holandeses, Boers.

De feições que têm muito de Europeu, e cabelos lisos e escorridos, com tonalidades claras. O dialeto em que se comunicavam, tinha muitos vocábulos que lembravam palavras Holandesas.

As mulheres usavam vestidos compridos, de mangas até aos pulsos, e os homens, trajes parecidos aos europeus, e por eles mesmo confeccionados.

Viviam do gado e do cultivo da terra, e só utilizavam as aldeias de brancos para as transações comerciais.

Como transporte dos produtos que comercializavam, usavam os carros de boi, com duas ou três parelhas, e com um formato bem idêntico ao do Carro Bôer.

Eram tímidos e não hospitaleiros, se bem que não beligerantes; mas pouco receptivos às pesquisas ao seu modo de vida. Pouco se sabe dos costumes deste povo.

Acredita-se que nos últimos 70 anos, tenham sido absorvidos por outras tribos.

Os Grandes Potentados da História

Reino do Kongo

Fundado por volta do Séc.XIII, por Nimi-A-Lukeni, reuniu todas as triboa da língua Kikongo, e chegou a ter como limites, ao Sul o Rio Kuanza, e ao Norte o atual Gabão.

De economia forte, baseada na agricultura, crição de gado, trabalhos em olaria, ferro e verga, caça e pesca, utilizavam o Zimbo (pequeno Búzio de cor cinza), como moeda de grande aceitação em todo o território.

Quando Diogo Cão, em 1484 chegou ao Reino do Kongo, encarregado por carta régia de descobrir novos territórios para o Império Português, e implantou o Padrão símbolo na foz do Rio N’Zire(Zaire), o reino tinha como Soba ( Monarca ), Mwene Kongo ou Manikongo.

O domínio de Manikongo ia do Luango até Ponta Negra no litoral, e do Macoco ao Zambeze, Norte Sul, e Manikongo reunia ao título de Rei do Kongo, o de Senhor dos Ambundos, da Mataba, da Kissama, de N’Gola ( que deu origem à palavra Angola ), do Kakongo, dos Sete Reinos do Konguere-Amulala, dos Banguelungos, dos Anzicos e Luangas. Temos assim uma idéia do poderio e domínio dos Monarcas do Reino do Kongo.

Em 14 de Dezembro de 1490, saiu de Lisboa a 1ª expedição Portuguesa rumo às novas terras, chefiada por Rui de Souza, e que levavam além de colonos, missionários com o objetivo de iniciarem Mwene Kongo, na religião dos brancos. Foram recebidos sem hostilidade, mas Mwene Kongo, muito embora não impedisse a atividade dos missionários, ele próprio continuou fiel ao animismo.

O sucessor de Mwene Kongo, foi seu sobrinho mais velho ( filho da irmã, a sucessão é matriarcal, uterina ), N’Gunga-O’Cuum, a quem os Portugueses auxiliaram numa expedição bélica contra os Anzicos, povo que dominava o Alto Zambeze. A expedição foi um sucesso, e os conselhos estratégicos dos Portugueses, fundamentais para anexar mais essa fatia de terra ao já extenso potentado.

Com o prestígio recém adquirido na campanha militar, os Portugueses passaram a ser ouvidos não só nos assuntos concernentes à guerra, mas também nos assuntos econômicos, políticos e religiosos.

Começaram assim a influenciar N’Gunga-O’Cuum, de uma maneira que fosse proveitosa ao Império Português, todas as decisões do Monarca.

O Soba N’Jovi, sucessor de O’Cuum, já muito dependente das orientações dos colonizadores, foi o 1º monarca que prestou vassalagem ao Rei de Portugal.

Entretanto, quando N’jovi viu quais as verdadeiras intenções dos conselheiros brancos, tirou-lhes as regalias, renegou a Fé Cristã, e voltou-se de novo para o animismo.

Em 1509 N’Jovi foi sucedido por N’Pemba-Ká-N’Ginga, que voltou a criar alianças com a Igreja Católica e, influenciado por esta, voltou a aceitar conselheiros Portugueses, a quem devolveu todos os privilégios anteriormente cortados.

A influência colonizadora de Portugal sobre este soberano foi tal que, durante uma expedição de guerra feita ao Sul, contra os Ambundos, além de levar estrategistas brancos como auxiliares e orientadores de falanges, deixou como seu sucessor durante a campanha, com todos os poderes, o Feitor do Rei de Portugal, Álvaro Lopes.

Os colonizadores, fortemente imiscuídos e enraizados em todos os sistemas de poder do reino, trataram de destruir e fragilizar todos os elos familiares, assente nos quais estava todo o poder sucessório e de coesão do potentado.

Nessa mesma época, a coesão do reino e aliados, foi também fortemente minada pelas guerras iniciadas pelos Gingas e Jagas, que vizavam o poder do Kongo para a tribo.

Em 1658 morreu o monarca Mwene Solo Ya Kukuri – D. António – que, aconselhado pelos Portugueses, como 1ª medida mandou matar os irmãos e todos os outros príncipes de sangue real. Mas pouco tempo depois, arrependido, voltou a retirar todas as regalias e bens dos brancos, promulgou editais contra e religião Cristã e declarou-se inimigo dos Portugueses.

Em 1662, o seu sucessor Mwene Vitukuri – D. Álvaro VII – declarou guerra contra os Portugueses, levando avante a promessa do Soba anterior.

Voltou o Reino do Kongo a congregar todos os povos visinhos, que um simples sinal tinha a capacidade de levantar em armas. Exércitos fantásticos e coesos, marcharam contra os Portugueses, com forças conjuntas que, em 1663, totalizavam cercade 900 mil homens.

Entretanto, na Guerra dos Dembos, os Portugueses conseguiram matar Vitukuri, e os exércitos, perdido o poder carismático do chefe, acabaram retirando.

O Reino do Kongo ficou assim sem sucessores de linhagem real, e passou por uma fase de lutas sucessórias, que mais contribuíram para a fragmentação.

Como os Portugueses ainda mantinham influência em boa parte das famílias de casta elevada, conseguiram por volta do ano de 1700, manipular a sucessão do rei. O novo Rei do Kongo, verdadeiro súdito de Portugal, determinava e decidia mais em favor do Império Português do que do Reino do Kongo, e com isso foi minado por completo o poderio do Império Negro.

Reino de N’Gola ou N’Dongo

O Reino de N’Gola foi fundado por volta de do Séc.XIV, na Matamba, por N’Gola M’Bandi, e tinha como cidade principal, Kapassa.

Tinha como fronteiras, ao Norte o Rio Dange e o Ambuíla, ao Sul o Planalto do Bié, a Leste o Kassange e a Sudeste a Kissama.

A partir de 1575, os Portugueses passaram a instalar-se na região ao Sul do Rio Kuanza, onde, além da intenção de explorar prata, tinham uma inesgotável fonte de escravos, capturados pelos exércitos de N’Gola M’Bandi.

Soberano de um potentado, e em posição extremamente sólida em relação às forças coloniais, o Soba do N’Dongo, antevendo o enfraquecimento das forças Portuguesas, com a saída do Governador João Correia de Souza, manda em 1623 como emissária, a Luanda, sua irmã N’Zinga M’Bandi, exigindo do novo governador Pedro de Souza Coelho, o desalojamento dos Jagas da Baixa de Kassange, região que queria sob o seu domínio.

O Governador Português, em nome do Rei de Portugal, concordou com a imposição – que já havia sido anteriormente tratada em negociações de paz , com N’Gola M’Bandi, mas não cumpriu o acordo.

N’Zinga M’Bandi, com quem o 2º acordo fora tratado,indignada pelo não cumprimento do combinado, força o irmão Soberano a declarar guerra aos colonizadores, mas, descontente com as estratégias de combate do irmão, razão a que atribuía a guerra ainda não estar vencida, e suspeitando que o irmão poderia de novo tentar negociar a paz, o que ela achava indigno, envenenou-o e se proclamou o novo Soberano do N’Dongo.

Simultaneamente inicia uma guerra aberta contra os Jagas, com vitórias retumbantes, que anexaram toda a área do Kassange ao Reino dos Jingas.

Em 1635, chega a Angola o novo Governador, Francisco de Vasconcelos da Cunha que, a troco do restabelecimento das rotas da escravatura, com os povos do sul da Matamba, consegue deter o avanço de N’Zinga M’Bandi em direção a Luanda.

Òr esta altura, N’Zinga M’Bandi, também conhecida por Rainha Ginga, já era soberana também da Matamba.

Nesse meio tempo, os Sobas do Libôlo em luta contra os Jagas, vão ao Massangano pedir a ajuda dos Portugueses. Os Portugueses, imaginando que esta aliança, além de pacificar e dominar os Jagas, poderia trazer a adesão de expressivas forças aliadas contra a Rainha Ginga, concordaram de imediato.

N’Zinga M’Bandi, sabendo da movimentação das tropas Portuguesas indo intervir na guerra dos Jagas contra os Sobas do Libôlo, marcha contra eles , e apesar da superioridade do exército Luso, os Gingas infringem-lhes uma derrota esmagadora.

A Rainha Ginga, magnânimamente poupa os sobreviventes brancos e perdoa os negros aliados do Libôlo.

Quando em Luanda assume o Governador Sotomayor, decidido a recuperar prestígio perdido pelos Portugueses por causa das guerras contra os Gingas, resolve iniciar o mandato enviando uma expedição militar ao Massangano, para se confrontar e derrotar a Soberana.

No Rio Zenza, o exército Português encontra um destacamento de Gingas e finge retirar evitando o confronto, porém atacam de noite e chacinam quase todos os guerreiros; os poucos que conseguem escapar da matança e avisar a Rainha Ginga do ocorrido, foram decapitados por não terem tido a dignidade e coragem de perecer em combate como os companheiros.

A Rainha Ginga, irritada por este golpe que considerou covarde, alia-se aos Holandeses, que na época ocupavam Luanda e dominavam uma faixa litotânea, na luta contra o exército de ortugal.

Em 1646, o exército Português reúne mais de 40 mil homens em armas, entre tropas européias e aliados das nações negras, e infringe uma derrota definitiva ao exército dos Gingas, às margens do Rio Dande.

N’Zinga M’Bando, a Rainha Ginga, que me 1621 em manobra política havia aceitado o batismo católico – D. Ana de Souza – e que vivia com um harém de homens, que obrigava a vestirem-se de mulher e trata-la como homem, negocia novo tratado de paz com Portugal.

Todos os chefes aliados dos Gingas foram decapitados, e os Holandeses derrotados e expulsos.

Negociando escravos, N’Zinga M’Bandi conseguiu levantar de novo a economia do potentadp, mas militarmente nunca mais se reergueu.

O Reino do N’Gola, no apogeu do reinado de N’Zinga M’Bandi, em expansão territorial, chegou e ter duas vezes e meia a área da França. Entre 1600 e 1880, foram negociados mais de 3 milhões de escravos.

Reino da Lunda

O reino da Lunda, que no Séc.XVII chegou a ser um dos grandes potentados de Angola,foi fundado no início do Séc.XVI, no Leste de Angola, por Mwatiânvua e sua mulher Lukocheka.

Embora fosse um reino só e coeso em todos os aspetos e sentidos, Mwatiâmvua governava a metade Norte e a Rainha Lukocheka reinava na metade Sul. Tinham poderes iguais, e as decisões que fossem concernentes ao Reino como um todo, eram baseadas no consenso dos dois, ajudados pelo conselho de séculos (velhos).

Foi um Reino economicamente muito forte, com agricultura muito bem estruturada, com milho, massango e massambala, trabalharam o ferro, o cobre e os tecidos, foram fortes no comércio de escravos, marfim e tecidos.

No Séc. XVIII, uma parte do povo decidiu migrar para a região do atual Moxico, dando origem ao povo Tchokwé ( Kiôco ). Foi o primeiro sinal de fragmentação do Reino Lunda, que talvez fruto do crescimento econômico, ou das facilidades de vida, dadas pela exuberância do solo, foram-se entregando mais aos prazeres da vida do que aos interesses do Reino.

Os Tchokwé foram-se fortalecendo e alargando os domínios territoriais, tomando terra dos Lundas, que pacificamente iam cedendo.

Em 1885, os Tchokwé, chefiados pelo Soba Mwatchisengue-Wa –Tembo, invadiram militarmente e ocuparam o território da Lunda.

Ao contrário dos Lundas, que não eram belicosos, os Tchokwé foram guereiros bravíssimos, de espírito extraordinariamente beligerante, que só acabaram sendo vencidos pelas forças coloniais portuguesas, por volta de 1920.

A ocupaçãp Belga em África, no ex-Congo Belga, atual Zaire, foi um golpe de misericórdia no Reino da Lunda. Perderam a expressão como potentado, embora os Lundas apesar de militarmente subjugados, e em fase economicamente decadente, continuassem a preservar os seus hábitos, costumes e tradições, resistindo à absorção de outros costumes tribais.

Os Lundas da Nação Tchokwé, adquiriram alguns novos costumes, que passaram a integrar a sua cultura e tradição; após a invasão chfiadad por Mwatchisengue-Wa-Tembo, e a ocupaçãp militar do território da Lunda, tentaram forçar os Lundas aos novos hábitos adquiridos, no que não foram bem sucedidos.

Culturalmente os Lundas não foram dominados.

Reino Bailundo

O Reino Bailundo foi fundado no Séc.XVII, pelo Soba Katiawala, que chefiando expressivo número de guerreiros, migrou da Kibala.

Foi um Reino que chegou a congregar todos os povos de língua M’Bundo ( Umbundo ) em estados Federados ao Chefe Bailundo, e que se estendia do Planalto Central, a Benguela e ao Bié.

Foram economicamente fortes, explorando e comercializando o milho, o óleo de palma, a cera, o mel e o marfim; trabalharam o ferro, e comercializaram, com muito bons resultados para a economia do estado, os escravos.

Entre os Bailundos, a propriedade da terra era coletiva. Militarmente muito fortes e bem organizados, lutaram de 1645 a 1776 contra a ocupação colonial Portuguesa, praticamente sem tréguas nem concessões.

Os Portugueses conseguiam vitórias militares, mas não tinham força de ocupação e eram de novo rechaçados; o governo colonial iniciou então uma política Maquiavélica, que foi instigar as lutas entre os estados Bailundos.

Essa política foi bem sucedida, os estados iniciaram uma série de lutas pela egemonia e poder, que só teve como conseqüência enfraquecer internamente o Reino. Essas lutas acirraram ódios tribais, que mais e mais as alimentavam.

O Reino Bailundo fragmentou-se, perdeu a coesão e finalmente, em 1896, foi ocupado pelo exército Português.

Seis anos mais tarde, o Chefe Bailundo Mutu-Ya-Kewela, conseguiu reunir guerreiros e revoltar-se noavamente contra o domínio colonial, mas um ano depois foi novamente subjugado.

A partir de 1903, o Reini Bailundo perdeu completamente a expressão política de autonomia, pois as forças coloniais começaram, após o domínio militar, a manipular as sucessões dos monarcas, colocando em lugares de chefia, Sobas simpáticos à causa colonial.

Simultaneamente, autoridades civis administrativas, ajudados por Cipaios – indígenas de força para militar armada, normalmente de ouras tribos rivais – controlavam e impediam o reagrupamento e reorganização dos povos subjugados.

Reino Kwanyama ( Kuanhama )

O Reino Kwanyama foi fundado no final do Séc.XVIII, por Kawongekwa, e teve como cidade principal, N’Jiva.

Os Kwanyama foram a tribo que mais se destacou entre as tribos Ambó.

Foi um Reino de economia e organização militar poderosa. A guerra dava-lhes escravos e gado.

Os homens ocupavam-se da guerra, da criação de gado e da moldagem do ferro; as mulheres ocupavam-se da agricultura e da olaria, complementando a estrutura econômica. Na agricultura ocupavam-se principalmente do cultivo do milho, massango e massambala -- pequenos grãos de cereal.

Mas a atividade que maior lucro lhes dava era mesmo a guerra, com os saques de gado e bens materiais, captura de escravos e expansão territorial.

Enfrentaram de forma tenaz, as forças de ocupação colonial, nunca se deixando subjugar por completo, bem como se impuseram a todos os povos visinhos. Sempre se mantiveram militarmente organizados e preparados para os confrontos bélicos, não só por motivos expancionistas, mas principalmente para a preservarem a independência econômica. Políticos astutos, chegaram a negociar por diversas vezes a paz, mas como mera estratégia, para consegurem tempo para se reestruturarem; tão logo se sentiam de novo fortalecidos, voltavam ao combate.

Povo de um orgulho inflexível, os chefes militares Kwanyamas, quando derrotados em alguma batalha, se a retirada estratégica não era possível, preferiam suicidar-se a ser feitos prisioneiros; preferiam a morte à vergonha da submissão.

De educação Espartana, lacônicos e altivos, davam valor à coragem na mesma proporção que desprezavam a covardia. Qualquer guerreiro que eventualmente tomasse uma atitude de medo ou covardia, era sumariamente excluído do convívio dos homens, só lhe sendo permitidas as tarefas das mulheres.

Em 1915, chefiados pelo Soba Mandumbe, enfrentaram e venceram as forças coloniais de ocupação. Mandumbe conseguiu manter essa vitória por pouco tempo; traído por comandantes militares em quem depositava total confiança, suicidou-se em 1917, e só então o Kwanyama foi conquistado.

Reino do Lobossi

A formação do Reino do Lobossi, pode dizer-se que foi um dos episódios mais sanguinários da história dos povos africanos.

No início do Séc.XIX, o grande chefe Tchaka – terrível – fundou o Império Zulu, constituído pela confederação dos povos Bantos do Leste, os Matabele, e ficava situado entre os Rios Orange e Zambeze, na Província de Natal, na África do Sul.

Os povos visinhos, Bazutos e Bekwanas, temendo a proximidade de tão grande e poderoso reino, migraram em direção a Leste, em busca de maior segurança. O movimento migratório intensificou-se quando o Soba Mozilikatze, fugindo à tirania de Tchaka, assumiu o comando dos Matabele, marchou em direção ao Transvaal, e arrazou a ferro e fogo os povos da região.

Por volta de 1824, chefiava a migração dos Bazutos, o Soba Tchibitano, que partindo do Orange conseguiu engrossar as suas forças, com guerreiros que capturava nas batalhas em que entrava, nas terras por onde passava.

Atravessou o Kalaári e atingiu o território do Zambeze, sempre perseguido por Mozilikatze. As duas hordes acabaram sendo fundidas pelo gêno militar e político de Xi-Bytano, e passou assim este povo único a chamar-se Makololo.

Como já nessa altura Xi-Bytano possuísse imenso rebanho bovino, procurando terras mais ricas em pastagens, atravessou o Zambeze pouco abaixo das Cataratas Vitória, e numa saga esmagadora e devastadora de povos pacíficos, mal armados e menos numerosos, acabou por fixar-se na região Kapwé, fundando aí o Reino Barotze-M’Bunda.

Porém, os Matabeles conservavam-se inimigos tribais dos Mokololos, e foram atacar o novo reino que, perdendo o confronto armado, voltou a deslocar-se, indo para os domínios do povo Luy, que ia da margem esquerda do Zambeze, até ao Rio Kapombo, afluente deste.

Xi-Bytavo, verdadeiro gênio militar e político, com relativa facilidade conquista o Reino Luy e o organiza. Mas os Luynos eram inteligentes, e apesar de militarmente subjugados, insinuando-se aos poucos, acabaram por substituir os Makololos no contrle político do reino.

Os matabeles ainda tentaram nova incursão contra os Makololos, mas desta vez, Xi-Bytano, numa manobra militar de mestre, conseguiu sitia-los nas ilhas do Rio Zambeze, onde acabaram por render-se pela fome.

Tem início depois disto, um longo período de paz e de prosperidade. Xi-Bytano morre e é substituído por sua filha Mamoxissane, que por sua vez casa e transmite o poder ao marido Tchikereto. Este Soba reinou pouco tempo, adoeceu e morreu em 1863, sendo substituído por seu irmão Omborolo.

Os Luynos, descontentes com esta sucessão irregular, rebelaram-se em 1864, chefiados por Tchipopa, mataram Omborolo e massacraram quase todos os Mokololos

Tchipopa mostrou-se um monarca ditador, sanguinário e cruel – divertia-se por vezes alimentando jacarés com crianças da tribo – e em pouco tempo foi assassinado por seu sobrinho Manuanino, de dezessete anos, que se proclama Soba, e que como primeira medida manda matar todos os chefes que o haviam apoiado no golpe.

Entretanto, os poucos chefes que escaparam, juntaram-se e organizaram-se, provocando novo levantamento popular contra a tirania de Manuanino.

Foi outro período sangrento de guerras e assassinatos tribais, pois Manunino, perspicaz apesar da pouca idade, havia previsto e se preparado para qualquer tipo de insurreição ao seu governo; mas os aliados de Manuanino, descontentes com prepotência do chefe, começaram a desertar, enfileirando ao lado dos rebeldes ao reino.

Enfraquecido e praticamente sozinho, em 1878, Manuanino foge, acompanhado de uns poucos guerreiros fies a ele. Assume o poder o seu primo Lobossi, que fundou o reino a que deu o seu nome.

Os Grandes Chefes

Lobossi do Luy

Lobossi, subiu ao trono do Luy – Lia-Luy – aos dezenove anos, em 1878. De extraordinária inteligência, herdeiro de um poderoso reino, com um vastíssimo rebanho de gado bovino, destacou-se como admonistrador e político, conduzindo o reino numa fase de prosperidade econômica crescente.

Debilitado militarmente, apesar do poder econômico de que o seu reino desfrutava, preferiu as alianças políticas com as forças colonialistas, aos confrontos em armas. Com ele contatou Serpa Pinto, que partira em expedição de Bengula em finais de 1879, com a missão de negociar a abertura do livre comércio na África Oriental. Uma das cláusulas importantes, dos acordos e alianças entre Lobossi e Serpa Pinto, foi a proibição do tráfico de escravos nos domínios do reino.

Lobossi não perdeu a oportunidade de dar a Serpa Pinto, uma demonstração do poder econômico de que dispunha; ofereceu à pequena comitiva do sertanejo Português, 30 bois, que segundo a tradição deveriam ser imediatamente sacrificados para um banquete acompanhado por dezenas de cabaças de kimbombo – bebida fermentada de milho – como prova de regozijo pela presença do visitante.

De toda essa carne, seria oferecida uma perna ao Soba, e uma pequena porção aos conselheiros e homens de confiança, todo o resto era para a exígua comitiva de brancos.

Ekukui II do Bailundo

Quando Ekuikui II assumiu o trono dos Bailundos, em 1876, já os Portugueses dominavam boa parte do Norte de Angola e se preparavam para dominar o Sul.

O Monarca negro, com uma visão perspicaz, entendeu que os brancos invasores, eram um inimigo mais poderoso, e conseqüentemente o que primeiro precisava de ser combatido e aniquilado.

Resolveu preparar o seu povo para a guerra contra os brancos; parou todas as pequenas guerras, que tanto desgaste e pouco proveito traziam à nação Bailundo, fortaleceu-se economicamente, através de produtos que comercializava – milho, cera, mel, marfim e escravos – fortaleceu e estruturou o exército, e estabeleceu diversas alianças políticas com outros povos, sendo a principal, com o Monarca N’Dunduma do Bié.

As fprças coloniais de Portugal, percebendo a estratégia engendrada por Ekukui II, e sabendo que o Soba Bailundo estava iniciando conversações e alianças com outros povos do Planalto Central de Angola, decidiram atacar o Bailundo e o Bié simultaneamente, antes que as alianças políticas se consumassem, e as tribos do Planalto Central, com a sua adesão, mais fortalecessem os exércitos coligados aos Bailundos.

A luta contra Portugal durou toda a sua regência, isto é, até ao ano de 1893, ano em que morreu.

Mas seu sucessor, empossado sem grandes pompas, continuou a guerra.

Mandumbe dos Kwanyamas e Matobe dos Kwamatuy ( Kuanhamas e Kuamatos )

Mandumbe, sucessor dos Kwanyamas e Matobe, sucessor dos Kwamatuy, insatisfeitos pela forma como os reinos que respetivamente herdariam, estavam sendo governados, prepararam o estratagema que anteciparia a subida deles aos tronos dos dois territórios, e assumirem o poder; decidiram que Mandumbe mataria o Soba Kwamatuy e Matobe mataria assassinaria o Soba Kwanyama.

Mortos os soberanos, os sucessores foram proclamados Sobas, Matobe com 18 anos e Mandumbe com 16 anos.. Mandumbe começou por governar na Embala Pequena – Pereira D’Eça, dos tempos coloniais – pois não tinha ainda idade para ir para a Embala Grande, N’Giva.

Mandumbe mostrou-se desde o início do seu reinado, um monarca fantástico, carismático, inteligente, coerente, e um estrategista militar de primeira qualidade.

Desde o princípio da sua regência, ditou leis que revolucionaram os costumes do povo; como medida de higiene, mandou que todos os homens, a partir dessa altura, começassem a andar com a cabeça e a cara raspadas, e para mostrar até que ponto fazia questão de que a sua determinação fosse cumprida, mandou chamar um velho feiticeiro que vivia afastado da tribo, e que por todos era temido, e em frente ao povo reunido, ele mesmo cortou os cabelos e a barba do eremita.

Castigava de forma severa todo o adulto que tirasse um fruto verde de uma arvora, e o rejeitasse por estar verde, bem como quem danificasse plantas que fossem produtoras de alimento. Descobriu e explorou as Tchipakas – reservatórios de água – utilizando os furos artesianos, melhorou a agricultura, utilizando sistemas de irrigação.

Mas principalmente, armou, reorganizou e começou a treinar o seu exército para a guerra.

Repeliu uma invasão dos Ingleses ao território Kwanyama, e aproveitando-se da guerra entre Portugueses e Alemães na disputa pelo Sul de Angola, consegue adquirir armas dos Alemães, para combater o Português.

No 1º confronto que teve contra o exército Português, ainda na Embala Pequena, em 1915, Mandumbe perde a batalha e retira estrategicamente. Percorre então todas as Nações Ambó, incitando-as a se unirem contra o invasor branco.

Unidos, os Ambó enfrentaram e venceram as tropas do Comandante Pereira D’Eça, que foram por sua vez obrigados a fazer a sua retirada estratégica.

Portugueses e Ingleses uniram-se contra Mandumbe em diversas batalhas que nada decidiam, até que conseguiram corromper alguns aliados dos Ambó e assi venceram as batalhas de Môngua e Mufilo.

Desgostoso com a traição, e vendo-se irremediavelmente perdido, Mandumbe mata os últimos guerreiros que estavam com ele, e suicida-se em 1917.

Sobrevieram depois questões entre os Portugueses e os Ingleses, porque os Ingleses, tendo-se apossado da cabeça de Mandumbe, alegavam ser eles os verdadeiros conquistadores dos Kwanyama, e reivindicavam por isso a revisão e o alargamento das fronteiras. Após uns quantos confrontos bélicos, a opinião Lusitana acabou por prevalecer.

M’Bula Matady dos Kongueses

M’Bula Matady, que significa quebra pedras, foi talvez o 1º grande chefe de uma Nação Africana, a opor resistência armada à ocupação colonial Portuguesa.

Em 1570, o grande monarca chefiou uma revolta contra os Portugueses e foi repelido.

Reuniu então todos os povos do reino, e iniciou uma resistência armada que durou anos, à ocupação do território do Kongo, pelos representantes do Reino de Portugal.

Resistência que manteve até à sua morte, e que o seu sucessor, desgastado pela guerra, achou por bem terminar.

N’Zinga M’Bandi ou Rainha Ginga

Após envenenar o seu irmão N’Gola M’Bandi, o Soba de N’Gola, sobe ao trono N’ Zinga M’Bandi, por volta de 1619 ou 1620. Viria a tornar-se uma das figuras mais carismáticas de toda a História de Angola e dos povos de Angola.

Ainda durante o reinado do seu irmão N’Gola M’Bando, é enviada por ele a Luanda, para negociar com o Governador colonial, Pedro de Souza Coelho, a expulsão dos Jagas, povo ancestralmente inimigo dos Gingas, da região de Kassange e Pungo Andongo.

Recebida em Luanda pela autoridade Colonial, vinca desde o início a sua personalidade; entrando N’Zinga M’Bandi no salão de recepção, repara a N’Zinga M’Bandi que havia apenas uma cadeira para o Governador, restando para ela e comitiva, almofadões e peles de leopardo espalhados em semi-círculo, pelo chão, em frente à cadeira.

Recusando-se a falar em nível inferior ao do interlocutor, o que aconteceria se se sentasse nos almofadões, fez um sinal aos membros da comitiva, de onde se destacaram vários para, com os próprios corpos fazerem um trono improvisado, mais alto do que o do representante do Reino de Portugal, onde ela se manteve sentada até ao final da audiência.

No início dessa audiência, o Governador Português tentou exigir da parte dos Gingas o compromisso do pagamento anual de um tributo de vassalagem. Mal escutou a proposta, a orgulhosa embaixatriz dos N’Gola, replicou vivamente, que tal condição só deveria ser imposta um povo conquistado, vencido, e jamais a um príncipe soberano, que voluntariamente buscava a amizade de um outro seu igual.

N’Zinga M’Bandi aspirava sobretudo à unificaççao de todos os sobados N’Gola, mas a confusão era grande naquela altura; o Reino do Kongo pretendia anexar aos seus domínios os mais próximos sobados do Reino de N’Gola. Por sua vez, nem todos os Sobas N’Gola concordavam com as idéias de unificação da soberana. Os sobados entre N’Gola e Kongo, eram vassalos ora de um ora de outro, e por vezes, de ambos.

Aumentando ainda mais esta confusão geral, havia a presença dos Portugueses, cujo domínio político não era efetivo; mas o poderio pelo Kongo, em virtude do auxílio dos colonizadores, levavam os sobados menos poderosos de N’Gola, a aproximarem-se também.

É nesse caldo de indefenição política que a Rainha Ginga começa a ocupar militarmente e a tutelar diversos sobados menores, como os de Lukala, N’Dondo, Matamba, Kassange, Dembos e Kissama, alguns do Kongo, e alguns do Planalto Central.

As tropas Portuguesas, não conseguindo bate-la na guerra, lhe aprisiona duas irmãs, que leval para Luanda.

Mais tarde, alia-se aos Holandeses, que haviam ocupado Luanda, e deles se manteve aliada durante os sete anos que durou a ocupação.

A sua ação durante este período de tempo, ajuda de forma eficiente os Holandeses, e foi realmente contra exércitos por ela comandados, que se passaram os episódios mais sangrentos das guerras do Massangano.

Derrotados e explusos os Holandeses, a Rainha Ginga depõe as armas, e tenta uma cartada diplomática, negociando a paz.

Com tanto sucesso negocia, que consegue além da paz, a libertação das suas duas irmãs, cativas desde 1628.

Derrotada, não esqueceu os ideais de hegemonia e unificação do seu povo, e em 1671, aos setenta anos de idade, tenta mais uma vez, embora sem resultado, um movimentos de revolta.

Em 1680, aos setenta e oito anos de idade, morre no Pungo Andongo N’Zinga M’Bando, ou Rainha Ginga, ou D.Ana de Souza -- nome Cristão com que fora batizada em Luanda, quando pela 1ª vez, e na qualidade de embaixatriz de seu irmão, o Soba N’Gola M’Bando, se confrontou com as autoridades coloniais Portuguesas.

Morreu cercada por seu harém de homens, que fazia questão de manter vestidos de mulher, e que a tratavam como se fosse homem.

Morreu a mulher, não o mito.

ORGANIZAÇÕES POLÍTICO-RELIGIOSAS

Watch Tower

O movimento religioso Watch Tower foi fundado na Pensilvânia, na cidade de Allegany, em 1872, por Charles Taze Russel que, baseado numa particular interpretação da Bíblia, dava como falsas todas as outras religiões ou divergências do Cristianismo.

Os seu membros consideravam-se os únicos verdadeiros, e começaram por designar-se simplesmente CRISTÃOS, vindo posteriormente a adotar o nome de Watch Tower.

Com propaganda eficiente nas classes mais receptivas, e tendo em cada novo membro um angariador convicto, o movimento se espraiou rápido pelo mundo.

Em 1879 saiu o prmeiro jornal do movimento com tradução em várias línguas; em Português teve o título de “A SENTINELA”, e era editado no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.

Em 1884, num processo de organização e garantia de continuidade, é fundada a sociedade chamada “THE WATCH TOWER BIBLE AND TRACT SOCIETY”.

Com esse noma se manteve até 26 de Junho de 1931 quando, num congresso com representantes de todo o mundo, em Columbos, Ohio, optaram pelo nome de “JEHOVAH’S WITNESSES – TESTEMUNHAS DE JEOVÁ”.

Segundo os seus adeoptos, só existe uma religião verdadeira, a que foi praticada por Adão e Eva, antes da expulsão do Paraíso, e cujos preceitos foram diretamente ditados por Deus.

As outras religiões aparecem em função da desobediência do Anjo que Deus encarregou de vigiar Adão e Eva. Esse Anjo, querendo passar-se por Deus, mandou a serpente tentar Eva, para comer do fruto da árvore do bem e do mel. Frutificaram daí as outras religiões, mas Deus assegurou o triunfo final aos seguidores da verdadeira religião.

Em Angola, o Watch Tower estabeleceu-se ao Sul de Benguela, área em que essencialmente exerceu a sua influência.

Foi um dos pólos a minar a soberania portuguesa, pois do ponto de vista político e social, induz à rebelião permanente contra todos os valores constituídos, por considera-los forças do mal, ou pelo mal emanadas, já que não estão nos parâmetros da Watch Tower.

Os adeoptos negros das testemunhas de Jeová, fortalecidos e encorajados na fé à religião adotada, começaram a ter a coragem de afrontar e renegar todos os valores políticos, sociais e religiosos dos colonizadores.

Kimbangismo

O Kimbangismo foi a doutrina iniciada por Simão Kimbango, que lhe deu o nome.

Simão Kimbango nasceu em 1881, na Missão Batista de N’Gombe Lutete, circunscrita a Thisville.

O pai de Simão Kimbango era Kimbanda na tribo, e assim ele assistia desde cedo às cerimônias de cura, com as concernentes evocação dos espíritos, com médiuns em transe, convulsões e tremores nervosos, que mais tarde caracterizariam os seus cultos.

Freqüentou a missão como estudante, mas só chegou a catequista -- ministrava o ensino do catecismo às crianças - pois sofria de um problema vocal o que o impedia de dominar a palavra oral.

Numa viagem ao Kushase teve uma visão e um desmaio, em que lhe aparece um ser com uma Bíblia e lhe impõe pregar a palavra de Deus.

Nas pregações impressionou pelos tremores e convulsões e começou a reunir adeptos e seguidores.

Já com um grupo expressivo de seguidores, auto denominou-se com o epíteto de “Grande Profeta”, organizou uma hierarquia, e passou a chamar a aldeia de “Nova Jerusalém”.

Em pouco tempo a religião foi degenerando em movimento político e revolucionário, e os Belgas, então colonizadores do Congo, quando se aperceberam da amplitude do movimento, ordenaram a prisão do líder religioso.

Simão Kimbango foi preso, mas em pouco tempo conseguiu evadir-se, o que fez com que subisse extraordinariamente na consideração e conceito dos kimbangistas.

Os adeptos de hierarquia mais elevada começaram então a anunciar que ele voltaria como libertador, e nessa condição lhes traria a paz, alegria e todas as riquezas.

Volta entretanto a ser preso, e desta vez é julgado pelas autoridades coloniais como chefe de rebelião civil e política, e o condenam à morte, pena comutada pelo Rei Alberto da Bélgica, em prisão perpétua.

Morreu exilado no Katanga, em 1951.

Mas o Kimbangismo, que sobreviveu à sua morte tendo como líder Simão M’Padi, mistura elementos e dogmas das religiões tradicionais, e do Antigo e Novo Testamento, com estaque e ênfase para os aspectos proféticos.

Kimbango, que era iconoclasta e moralista, proibira as imagens sacras, os feitiços, a poligamia e as danças com conteúdo e conotação erótica ou obscena, como as da fertilidade.

Com a infiltração política, acrescenta mais três proibições ou orientações:

- Proibição do pagamento do imposto colonial

- Proibição de novas plantações de mandioca

- Proibição da limpeza dos caminhos que levavam ao cemitério

Era a negação à condição de dominado, a negação à produção de alimento acima do necessário para o consumo das populações indígenas, e a negação ao servilismo pelos valores dos colonizadores.

Após a morte de Simão Kimbango, com Simão M’Padi, manifesta-se também de maneira irrefutável, a tendência anti européia.

Tocoísmo

Smão Toco, que deu nome e origem à “Seita Tocoísta”, nasceu em Sadi Kibongo, em Makela do Zombo, em 24 de Fevereiro de 1918.

Em pequeno freqüentou a escola da Missão Batista de Kibokolo, com tal aproveitamento que em 1933 é enviado com bolsa da missão, para estudar em Luanda, no Liceu Salvador Correia.

Depois de completar o Primeiro Ciclo, voltou à missão para lecionar. Orador persuasivo e catalisador das atenções. Foi bem sucedido a ponto de, dali ser enviado para lecionar na Missão do Bembe.

Cinco anos depois, com encargos que não correspondiam ao salário, e sentindo-se injustiçado por não o valorizarem como sabia que merecia, emigrou para Leopoldville.

Na missão batista da cidade congolesa, e com os antecedentes que tinha, arranjou emprego, passando também a reger um coro de jovens angolanos.

A partir de 1940, deixa-se influenciar pelo movimento do Watch Tower – Torre de Vigilância – seita conhecida no Congo pela denominação de Kitawala, cujp poder de agregação muito o impressionou.

Simultaneamente Toco entra em contato com membros do Kimbangismo, e o que mais o seduz é o fato de um negro ter tido a capacidade de fundar uma religião só para negros.

Em 25 de Julho de 1949, Simão Toco assiste a um ritual em que acontece um fenômeno de catarse coletiva, o que definitivamente o motiva a fundar a sua própria religião. Desliga-se das missões batistas e começa a reunir-se com adeptos iniciais em sua própria casa.

Em 22 de Novembro, ele e uma centena de seguidores, são presos pelas autoridades coloniais portuguesas, que lhe fixam residência no Bembe; mas o ditador Português Salazar, não se contentava em impedir o povo de pensar e escolher os seus destinos políticos. Com fortes ligações com o clero, na figura do Cardeal Cerejeira, roubava-lhe também a liberdade de optar por qualquer outra religião que não fosse a católica.

Religiões eram fortemente reprimidas, e o Tocoísmo, com conotações políticas e raciais, mais do que todas as outras. Por espalhar a sua doutrina, Simão Toco foi assim sendo transferido para Luanda, Kasonda, Kalukembe, Kassinga, e por todos os lugares ia deixando a sua semente da doutrina Tocoísta.

Os Tocoístas, vestidos de um branco imaculado, seguiam praticamente à risca os preceitos políticos e unirraciais do Kimbangismo, o que os levou a entrar em choque com os Universalistas do Watch Tower.

Politicamente pregavam a necessidade de expulsão de todos os brancos e de uma independência negra.

* * *

Em países africanos, como por exemplo a Nigéria e o Kassay, no tempo em que eram colônias Inglesas, surgiram diversas associações secretas, de caráter meramente político, e que tinham como objetivo eliminar os brancos começando pelos religiosos das missões. No ex Congo Belga, os movimentos revolucionários armados pela independência, começaram precisamente nas missões religiosas, onde foram feitas verdadeiras chacinas.

Na Nigéria, os Ingleses deram aos povos dessas associações o nome de “Silenciosos”, e no Kassay foram chamados de “Rostos Brancos”.

O Secreto, deve-se unicamente ao fato de se terem formado as associações sem o conhecimento do colonizador, o que é óbvio, pois tinham como objetivo eliminar esse mesmo colonizador.

* * *

No ex Congo Belga, depois Zaire e atualmente República Popular do Congo, surgiram algumas sociedades secretas que tinham como principal objetivo preservar costumes e outros aspectos culturais da influência repressora do colonialismo; um dos costumes mais fortemente reprimidos era o canibalismo.

Na região de Maniema, território de Shabunda, ao norte da Província de katanga e ao sul de Stanleyville, surgiram as sociedades secretas do Bwamé e dos Homens Leopardo, esta última responsável por milhares de mortes de homens, mulheres e crianças, na segunda metade do século XX.

Aliás, Maniema significa textualmente “Comedores de Homens”.

Em relação às tribos Maniema, Henry M. Stanley disse:

- Esses selvagens só vêem um congresso missinário como matéria prima para um rosbife.

Comunismo Tribal

Em várias tribos, das mais diversas etnias angolanas, se verifica a existência de alianças intertribais em que se encontra o sistema de bens comunitários.

A riqueza comum é colocada à disposição da comunidade, e a administração desses bens é exercida em comum, ou por membros escolhidos por todos.

E o Coletivismo, prática altamente vantajosa para a maioria, em que clãs aparentados -- leão com onça, mabeco com cachorro, elefante com rinoceronte -- se aliam em cooperativas de sistema coletivista, visando o interesse comunitário.

No Sul, verifica-se muito este tipo de coletivismo entre as tribos Kilengues, Dombes, Kwanyamas, Kwamatuy; ao Norte entre Kikongos e Kimbundos; e a Leste entre os Ganguelas.

Mas no Kwanza Sul, na foz do Rio N’Gunza, existe uma tribo onde se pratica o comunismo puro, no sentido filosófico.

Todos trabalham em prol da comunidade, de acordo com as suas possibilidades, e a todos era distribuído o produto de acordo com as suas necessidades.

Era o Kimbo do Ximbutica, Soba sábio e tolerante que soube fazer do seu pedaço de terra -- o delta da foz do rio -- um éden de prosperidade e boa vontade, sem cobiças nem ganâncias.

A cultura e os costumes dos Pigmeus

POVO FEIO E COM GRANDES BUNDAS: LENDAS

Os Pigmeu criaram formas culturais próprias, de acordo com as exigências do seu hábitat. Isso, ao lado dos obstáculos geográficos e naturais, foi um dos fatores que os levou a viver isolados. Mesmo os poucos intercâmbios comerciais de carne e mel selvagem sempre se deram através de intermediários.

O longo isolamento na selva e a falta de contato com os demais povos africanos deu origem a lendas absurdas e racistas. Costumava-se descrevê-los como um povo muito feio, meio animal, chegando-se a fantasiar que possuíam grandes rabos.

Tais lendas foram responsáveis por atitudes discriminatórias por parte dos Bantu africanos, como também dos árabes e europeus, que os consideravam animais, sem alma. Há umas dezenas de anos, por exemplo, a tribo africana dos Magbetu perseguiu e matou todos os Pigmeu de seus arredores, caçando-os como se fossem javalis.

Fisicamente bem proporcionados, os Pigmeu são "baixinhos" se comparados aos nossos padrões: a altura média das mulheres é de 135 centímetros e a dos homens, de 145. Eles mesmos consideram sua baixa estatura uma vantagem, porque os faz ágeis em suas andanças pelas obscuras selvas africanas. E ainda fazem troça, chamando os altos e fortes Bantu de "elefantes desajeitados".

A cor da pele, acobreada e com matizes avermelhados, distingue-os claramente dos Bantu, de pele negra ou café-escuro. Também se diferenciam por suas tradições, costumes e sistema de vida. Por isso, é comum ouvir um pigmeu dizer: "Biso na baindu..." - "Nós e os negros...".

Em todos os grupos pigmeus, a unidade sócio-econômica é a aldeia, formada por uma dezena de cabanas e habitada por grupos de trinta a setenta pessoas. O mais velho, ou o caçador mais hábil, preside cada unidade.

A cabana, semi-esférica e totalmente coberta de folhas, tem de 2 a 3 metros de diâmetro e uma altura que raramente supera os 150 centímetros. Antigamente, sua construção era tarefa exclusiva das mulheres.

Os instrumentos de trabalho dos Pigmeu são poucos e feitos com madeira, ossos, chifres, fibras naturais e vegetais, dentes e sementes duras. Além de suas casas, são hábeis na construção de pontes de cipó sobre os rios.

CAÇA: MOMENTO MÁGICO DA COMUNIDADE

A estrutura social dos Pigmeu é muito precisa, e há uma nítida divisão sexual do trabalho. As mulheres recolhem na selva tubérculos, fungos, larvas e cogumelos. A pesca, que só acontece na estação seca, é reservada, em alguns grupos, às mulheres e crianças.

Já a caça é atividade exclusivamente masculina e se constitui num momento mágico na vida da comunidade pigméia. Os homens se preparam para sair à caça se abstendo das relações sexuais e evitando toda "ofensa" à comunidade. Antes de partirem, há cerimônias de purificação e propiciação.

Nessas cerimônias, Mama Idei, a mulher mais velha do grupo, joga punhados de folhas sobre o fogo, fazendo a seguinte oração: "Abençoa, ó Deus, esses filhos teus. Olha para eles com atenção: estão famintos! Faz com que muitos animais caiam em suas mãos".

Então, com a boca cheia d'água, benze os arcos, as flechas e as redes dos caçadores com pequenos borrifos. Em seguida, cada caçador enche a boca de água e borrifa sobre o fogo, pedindo o perdão de seus pecados: "Deus, se agi mal, perdoa-me. Que a caçada não fracasse por culpa minha".

Certos grupos pigmeus são famosos pela caça do elefante, uma atividade valente e arriscada. Nela, alguns caçadores se aproximam o mais possível do animal e dificultam-lhe a marcha para que se distraia e caminhe devagar.

Enquanto isso, um dos homens se arrasta por debaixo do ventre do animal e lhe corta os tendões de uma das patas traseiras. Dessa forma, o elefante, debilitado e ferido, cai ao chão, e todos os caçadores se reúnem para matá-lo.

DIVERSÃO: DANÇAS COLETIVAS E JOGOS MÍMICOS

Os Pigmeu, por viverem na floresta tropical escura, quente e úmida, encontram na coleta e na caça suas formas de subsistência. Não acumulam alimentos nem bens naturais e vivem daquilo que a natureza lhes oferece. Mas nem sempre contam com o suficiente para atender às necessidades mínimas - às vezes, passam longos períodos de fome.

Como os demais povos caçadores da África, nunca se interessaram nem pela agricultura nem pela criação de gado. O único animal doméstico que costumam ter é o cachorro.

A mulher é muito respeitada na sociedade pigméia, e a monogamia é uma tradição tão firme que chega a ser difícil aos estudiosos explicá-la.

O homem em idade de casar busca uma esposa em um grupo distinto do seu. É uma forma de intercâmbio: um grupo cede a outro uma mulher se este está em condições de dar-lhe outra no lugar, para que o vazio deixado por uma seja preenchido pela outra.

Todas as noites, os Pigmeu costumam se reunir em danças coletivas e jogos mímicos, que são suas atividades preferidas nas horas de lazer.

Não é fácil falar da religião dos Pigmeu, porque eles não costumam expressar suas crenças com ritos externos e, além disso, a religião dos diferentes grupos não é uniforme.

Geralmente, crêem num Ser Supremo criador, que se personifica no deus da selva, do céu e do além. Crêem ainda que as almas dos bons se convertem em estrelas do firmamento, enquanto as almas dos maus são condenadas a vagar eternamente pela selva e dão origem às doenças dos humanos.

Os Pigmeu acreditam também na vida além da morte, mas não se estendem muito sobre o assunto, logo se esquecendo das tumbas de seus antepassados.

POVO BANTU: PATRÕES NEGROS DOS PIGMEU

As relações dos Pigmeu com a administração dos Estados em que vivem são complicadas e difíceis, como para qualquer povo semi-nômade. Os governos querem que se tornem sedentários para obrigá-los a seguir seus programas de desenvolvimento e integrá-los à economia nacional.

Alguns países pretenderiam usar os Pigmeu como curiosidade turística e convertê-los em patrimônio nacional, como se se tratassem de animais raros de uma reserva. Esta é uma situação discriminatória que, nascida das diferenças entre os Pigmeu e os demais povos africanos, ainda perdura hoje.

De natureza dócil e ingênua, os Pigmeu foram facilmente subjugados pelos Bantu. Em certas regiões, chegam a ser considerados parte do seu patrimônio familiar e, como tais, são transmitidos como herança de geração em geração.

Nessas condições, é o patrão negro quem responde por eles diante da sociedade. Defendem-nos em tribunais, onde às vezes os Pigmeu nem sequer têm o direito de comparecer, e conservam seus eventuais documentos públicos, que usam sem maiores controles.

Os Bantu desfrutam dos bens que os Pigmeu caçam e colhem e exigem que trabalhem em seus campos. Em troca, lhes dão retalhos velhos de tecido, alguns produtos de cultivo e até suas cabanas, quando estas já estão semidestruídas.

VIDA E CULTURA AMEAÇADAS PELO PROGRESSO

Quando estão entre estranhos e distantes de seu hábitat, os Pigmeu parecem tristes, preguiçosos, introvertidos. Na selva, ao contrário, são alegres, muito ativos, comunicativos e acolhedores. Para eles, o sistema comunitário é essencial e determinante.

Enquanto para o negro em geral a selva é uma madrasta perigosa, para os Pigmeu é uma mãe amorosa que os acolhe, nutre e protege. Dela eles recebem o material para construir suas cabanas, a madeira para seus arcos e flechas e o alimento cotidiano.

Hoje, como no passado, a sorte dos Pigmeu está ligada à selva. Fora dela, sua cultura e sua vida se perdem. Mas ultimamente o seu meio ambiente está sendo cada vez modificado e destruído pela extração de madeira, extensas plantações de café, minas de ouro e diamantes e implantações industriais.

Além disso, o uso de armas de fogo por parte de negros e brancos afasta sempre mais os animais selvagens, dificultando a caça, atividade essencial para a subsistência dos Pigmeu.

Qual o futuro dos Pigmeu? Eles conseguirão se integrar numa sociedade moderna sem perder a sua identidade cultural?

A discussão avança em terreno desconhecido. Qual o tipo de desenvolvimento adequado para uma população semi-nômade? Sabe-se muito pouco a respeito, e há o risco, sobretudo, de se querer responder a essa questão em nome dos próprios Pigmeu

LUGARES HISTÓRICOS

( TURÍSTICOS E CURIOSIDADES )

PINTURAS RUPESTRES DE TCHITUNDO-HULO

A cerca de quarenta quilômetros do Virei, em pleno Deserto de Moçâmedes – Namíbia – existem dois morros gêmeos, sendo um deles conhecido como Morro Sagrado.

No teto de pequenas grutas deste morro, descobriu-se em passado recente – 1949/1950 – uma série de pinturas rupestres representando principalmente cenas de caça.

Arqueólogos acorreram ao local após a divulgação da descoberta, e foram encontrando também pelo solo, instrumentos diversos de pedra lascada.

Comoção no mundo da Arqueologia e da História, mas por pouco tempo, pois estudos acurados de Geólogos comprovam que, além das grutas estarem muito expostas, são de rocha granítica, de fácil desagregação, e que essa desagregação é contínua, de tal maneira que, se as pinturas tivessem o tempo que se imaginava quando da descoberta, há muito haviam desaparecido. Conclusão, as pinturas, bem como os instrumentos encontrados, são do final do Século XIX, início do Século XX, e quase de certeza feitos pelos Mukuankalas.

A História do Tchitundo-Hulo é no entanto pitoresca.

No alto do morro hoje denominado de Morro Sagrado, havia uma aldeia que, pela posição que ocupava, era denominada Tchitundo-Hulo – Aldeia do Céu.

Um dia, uma família de leões decidiu instalar-se também no alto do morro, e após devorarem um ou dois aldeãos, o povoado foi abandonado, deixando no entanto vestígios da sua civilização.

O Morro Sagrado goza da fama supersticiosa de que, quem ousar profanar as suas encostas, é castigado com morte súbita, pelos espíritos dos antigos habitantes.

Aconteceu há alguns anos atrás, um fato que veio corroborar e contribuir para a perpetuação dessa crença; um eminente professor da Universidade de Coimbra, Dr. Carriço, foi para o deserto de Moçâmedes estudar a Welwitchia Mirabilis, planta que só existe no Deserto da Namíbia/ Kalahári, e aproveitando para estudar também a flora do deserto.

Cardíaco desconhecedor dessa sua condição, morreu vítima de ataque fulminante no esforço da subida da encosta..

Para os supersticiosos foi o cumprimento da professia da ira dos espíritos.

Curioso também, é que são dois os morros, “gêmeos”, mas só a um a superstição do povo impôs o tabu.

WELWITCHIA MIRABILIS

O Deserto Namíbia/Kalahári é o único lugar do mundo onde pode ser encontrada esta original planta.

De folhas largas e espraiadas, com fibras extremamente duras, e uma raiz que vai buscar água a profundidades impressionantes. Muitos Botânicos consideram que se trata de uma planta marinha, adaptada a novas condições de vida após o reinado das águas, e de uma resistência admirável.

O androceu da planta apresenta uma meia calote esférica convexa, com flores polinizadas; o geniceu apresenta a forma da grandes lábios vaginais como receptáculo para a polinização.

Considerada também por muitos biólogos como a transação entre o reino vegetal e o mineral,a planta é na verdade, um elo entre as Gimnospérmicas e as Angiospérmicas.

TCHIPAKA (MURALHA DE PEDRAS)DE KANGALONGUE

Cerca de setenta quilômetros da cidade da Huíla. Em Kangalongue, encontra-se a muralha de pedras que tem uma forma singular, ( figura na página seguinte ).

No lado esquerdo de quem entra nas muralhas, encontra-se uma lage de pedra queimada, que sugere um altar de sacrfícios.

A cerca de seis quilômetros de Kangalongue, encontram-se os amuralhados de Jaú. De forma circular, também em pedra, mas com uma única entrada, também construída em pedra, e com vestígios de cabanas.

Próximo uns cinco quilômetros, estão as grutas de Kondimba, onde se vêem ossos insepultos e restos de cerâmica.

Tchipaca (Muralha de Pedra) de Cangalongo – Sul para Norte

( no vão a Norte, a Lage Queimada)

MENIRES DOS HOMENS DO NEVOEIRO

No Deserto de Moçâmedes/Namíbia, perto do Morro Vermelho, encontran-se umas pedras grandes e estreitas, dispostas de tal maneira, que podem sugerir vestígios de um povo.

A Oralitura – tradição oral – dos Kwepes, conta sobre um povo de baixa estatura, designado por “OWAKUAMBUNDO”, de “OWA” que indica plural, “KWA” que significa nevoeiro, e “M’BUNDO” que significa “ humano”, o que numa tradução livre, podem ser nomeados como “AO HOMENS DO NEVOEIRO”.

Ainda segundo a tradição oral dos Kwepes, o povo Owakwmbundo, encontrava-se numa fase de evolução tão primitiva, que sequer conhecia o fogo, e teriam sido exterminados pelos próprios Kwepes, no que é hoje o Oásis de São João do Sul.

Habitavam as cercanias do Morro Vermelho, num nomadismo restrito, não se sabe desde quando, embora haja notícias datadas do século XVII, que comprovam sua existência nessa época.

MUXIMA – NOSSA SENHORA DA MUXIMA

A Santa Padroeira – não oficial – dos povos do Norte de Angola, é a Nossa Senhora da Muxima, cuja igreja se encontra na Kissama, e a quem, há cerca de cem anos se vêm atribuindo milagres os mais diversos.

Movidos pela fé aos seus poderes, para a Muxima se dirigem peregrinos, que a pé, chegam a percorrer mais de trezentos quilômetros.

Os fiéis vêem com papéis onde trazem escrito os pedidos, reivindicações, agradecimentos, e até reprimendas e admoestações por pedidos não concedidos.

A fé de uma boa parte dos povos de Angola não Cristianizados, se confunde muito com as crenças supersticiosas feiticistas, onde se barganha e negocia muito com as entidades, através dos sacerdotes.

Para dar uma idéia dos pedidos que são feitos à Santa, e como são feitos, transcrevo um, tirado do Livro “Por Terras de Angola, de Lima Vidal, também transcrito por Henrique Galvão em “Outras Terras Outras Gentes”.

Quote:

“Pelo sinal da Santa Cruz livre-nos Deus Nosso Senhor, inimigo. Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo, Amém.

Ilma, Exma Senhora Dona Maria Santíssima da Trindade da Muxima. Eu sua pregadora Beatriz de Souza Santos, que faço esta promessa, pedindo à D. Senhora a sua fineza desta enfermidade de lumbriga que eu tenho para eu ficar sadio o cirurgião quando me cura o remédio fica sem efeito para que quando me der saúde estarei pagar 400 Réis pela minha D.Senhora se não me dei são de então não pagarei nada como pediu a D.Senhora pois o meu pedido seram servido para eu estar pagar. Peço e mais peço me ajudar com essa minha enfermidade a minha Senhora.

Sem mais dizer

Tomba 5 de Fevereiro de 1912

Sua pregadora

Beatriz de Souza Santos”

Unquote

É um pedido negociado, mas franco e aberto, nele não existe hipocrisia nem dissimulação.

Em dúvida, também não se pode negar que esteja impregnado de fé, muito menos se pode negar fé, a quem viaja, se desloca por distâncias enormes, a pé, para se dirigir a uma entidade em seu próprio templo.

O FORTE E AS PEDRAS DE KANDUMBO

A cerca de vinte e cinco quilômetros da cidade do Huambo, em direção ao Bié, ergue-se uma monstruosa massa granítica, que foi cenário de titânicas lutas do Soba N’Dala, contra os colonizadores portugueses; essa massa é o soberbo forte natural das Pedras do Kandumbo!

Os Huambos, anteriormente batidos na Embala do Huambo, perto do Soque, e depois nas Pedras da ganda e Kané, perto da Kaála, depositaram neste forte natural e no grande chefe N’Dala – víbora – e seus comandantes de guerra Kalley, Kassango, Tchipulowando e Tchinlundulo, todas as suas últimas esperanças.

Decorria o ano de 1902, e os colonizadores brancos, ajudados por uma força Bôer, cercaram o Forte de Kandumbo; a batalha durou três dias e quatro noites, de tiroteio ininterrupto, no fim dos quais, em 20 de Setembro de 1902, o Capitão Teixeira Moutinho, do exército colonial, ordenou os últimos tiros de dois canhões de setenta milímetros, contra o povo Huambo.

O Exército português, ajudado pelos Boers, pelos canhões e pela traição de um Soba, que mostrou ao sitiante a maneira de penetrar no Forte Natural, vencia a batalha do Kandumbo.

N’Dala jazia morto perto da paliçada exterior.

N’Dala teve como sucessores: Nondolo, Kachikwala,Xilundulo, Sambuanda e Samokoloco.

Os crânios de N’Dala e sucessores, à exceção de de Sambuanda e Samokoloco, repousaram num relicário triangular, a que se dá o nome de Kalunda.

Foram reconstruídas as cubatas de N’Dala e do Tchimbanda Samakaka, com o pequeno templo, Etambo, bem como algumas cubatas de guerreiros e mulheres deles.

Segundo a crença dos huambos, o Soba N’Dala, bem como todos os guerreiros mortos na batalha de 16 a 20 de Setembro de 1902, não conformados com a derrota, ainda não deixaram as Pedras de kandumbo, sendo possível vê-los, encarnados nos pequenos Kanitas – roedores que vivem nas pedras – que se escondem e espreitam curiosos, à aproximação de qualquer estranho que venha como um intrometido devassar a monótona calma de memórias de antepassados.

Alguns registros não confirmados, mencionam dois conselheiros pouco comuns entre os assessores de N’Dala: um Liberiano da Monróvia e um Hádgi da Costa do Marfim.

Libéria é uma República fundada por Norte Americanos em 1821, na Costa Ocidental da África, para receber os escravos alforriados. A capital é Monróvia, em homenagem a James Monroe, Presidente dos EUA entre 1817 e 1825.

Hadgi é o nome dado pelos Muçulmanos, aos fiéis que já tenham feito a peregrinação a Meca e Medina, em visita à Kaába, ou Pedra Negra, lugar santo da Religião Muçulmana.

Os Hádgi são considerados santos hoemns, sábios, pelas suas constantes citações dos Surate – Capítulos do Coorão.

PUNGO ANDONGO

As Pedras Negras do Pungo Andongo, gigantescos megalitos a cerca de cem quilômetros de Malange, situam-se entre o Lukala e o Kuanza, a Oeste de M’Baka.

A configuração dessas pedras enormes, que chegam a atingir mais de cem metros de altura, é de uma magnificência rude, que chega a lembrar paisagens extra terrestres.

Esse monólitos de configuração exótica, bojudos e lisos, erudidos por ventos milenares, são provavelmente o resultado de grandes convulções da Era dos Glaciares.

A cpr predominante das rochas é o preto, apesar de serem constituídos de massas de gneisses, xistos vermelhos e calcários de colorações diversas.

Impõem respeito, a imponência e o silêncio do Pungo Andongo.

Foram a Fprtaleza Natural das hostes da célebre Rainha Ginga, ou N’Zinga M’Bandi quando, aspirando à unificação dos povos de todos os Sobados do Reino N’Gola, combatendo e submetendo Jagas, o Libôlo, a Matamba, o Kassange, se preparava para aumentar os seus domínios até à Kissama.

O Pungo Andongo, como fortaleza inexpugnável que era, serviu de abrigo e lugar de reestruturação às tropas holandesas, a quem N’Zinga M’Bandi se aliou no combate aos portugueses.

Dispostas como um labirinto assimétrico, guardadas em alguns poucos pontos estratégicos, tornavam-se um pesadelo para eventuais invasores.

Mesmo na época atual, são poucas as pessoas da região que se aventuram nos seus meandros.

Local de desaparecimento de muita gente, tornou-se também um tabu místico para os povos da região, que acreditam que o lugar é habitado pelos espíritos dos antigos guerreiros que, irritados com invasões indesejáveis, orientam os perdidos por caminhos errados, até que morram.

Bem no alto de um dos maiores monolitos do Pungo Andongo, vê-se nítida, em baixo relevo na rocha, a marca de um pé enorme. Diz a lenda que é a marca da pegada de N’Zinga M’Bandi, que tinha esse lugar como ponto principal de observação à aproximação de tropas invasoras.

Pedras Negras do Pungo Andongo e abaixo a marca do pé de N’Zinga M’Bandi

QUEDAS DE ÁGUA DE KALANDULA DO RIO LUKALA

MALANGE

As quedas de Água de Kalandula, que ficam no Rio Lukala, a cerca de noventa quilômetros ao Norte de Malange, são as maiores quedas de água de todo o território de Angola.

Águas claras e brilhantes, despencam de aproximadamente cem metros de altura, em um semi círculo com cerca de duzentos metros de diâmetro, cercadas de exuberantes plantas tropicais.

Caindo em pesadas massas, e de forma caprichosa, as águas chocam-se violentamente contra as paredes rochosas, com o ribombar de uma trovoada fortíssima, espalhando pela atmosfera uma poalha de água perceptível a grande distância, e constante.

Após a magnífica queda, o Rio Lukala retoma a sua calma placidez, entre margens povoadas de palmeiras, até se reunir ao Rio Kuanza.

Nessa área do território, são freqüentes as quedas de água. Numa área relativamente pequena, podem ser vistas também as quedas do Luando e as do Mussoledo, menores do que as do kalandula, mas também impressionantes.

Quedas de água também dignas de anotação, são as do Rio Luena, no Moxico, e as do Rio Luando, no Bié.

FORTE DE KABATULILA

Entre Malange e Kafunfo, na Serra de Kabatukila, dominando a grandiosidade da Baixa de Kassange, encontra-se o forte a que a serra deu o nome, e que encerra séculos de história, mistérios e lendas.

Construído inicialmente para repelir os ataques dos Bângalas, migrados do Nordeste de Angola, serviu depois mais tarde, como ponto de apoio aos portugueses, no combate à captura e comércio de escravos.

Foi também usado como base nas frentes de trabalho e de pesquisa no combate à Mosca Tzé Tzé ou Mosca do Sono – Glossiania morsitans – díptero hematófago, pouco maior do que a mosca comum, cuja picada inocula um protozoário parasita do sangue, o Tripanossomo, que provoca a doença do sono ou tripanossomíase, em homem e animais.

Essa doença provoca distrofia e lassidão muscular nas vítimas. A mosca cravava-se nas vítimas por meio de uns ganchos que tem nas patas; as vítimas, mesmo animais de grande porte, acabam morrendo de inanição, em sonolentos bocejos.

A Mosca do Sono foi erradicada de Angola em 1950, e s principais focos de concentração eram a Baixa de Kassange e o Pungo Andongo.

Na região de Kabatukile, reinou um Soba, de nome N’Ganga Kally, que passou à história do seu povo, pelo modo salomônico com que ministrava a justiça; com uma rapidez e equilíbrio tal, que dificilmente tinha decisões contestadas por qualquer das partes.

Casos que em geral exigiriam réplicas e tréplicas morosas e pormenorizadas, evidenciando todas as nuances, resolvia-os N’Ganga Kelly em minutos.

Um exemplo de uma pérola de jurisprudência, é a do súdito que foi à sua presença, explicar que a mulher por quem havia dado caro “Lembamento”, o abandonara e voltara para casa do pai, sem qualquer motivo. Pretendia assim, que lhe fossem devolvidos os bens que dera em sinal de apreço pela noiva.

O pai da noiva defendeu-se confirmando que recebera os bens citados, e os aceitara, pois até se juntar com o marido, a moça era digna do apreço por ela demonstrado; depois de casada, se o marido não conseguia controlar a esposa, como poderia ele, que era apenas pai?

N’Gala Kelly, pensou um pouco e argüiu:

Ele, como pai, vivendo tanto tempo com a filha, tinha por obrigação conhece-la, e assim, saber que ela era capaz de tal atitude; e nessas circunstâncias, nunca deveria ter exigido um Lembamento tão vultoso.

Por ter procedido de má fé, obrigava-se a devolver ao frustrado marido, duas terças partes dos bens recebidos.

Caso a sua filha voltasse a ter um pretendente para casar, ele deveria pedir como Lembamento, bens equivalentes a uma terça parte dos anteriormente ofertados, já que ela não valia mais do que isso, e esse segundo lembamento deveria ser integralmente entregue ao primeiro marido

VULCÃO YÔNA.

Em 1960, a imprensa angolana noticiou com um certo ênfase, a possibilidade da eclosão de um vulcão no Yôna.

Primeiro foram escutados rumores subterrâneos fortes no maciço de Xamalinde, depois noticiou-se que, após serem escutados, o que já se considerava serem os sons de um vulcão prestes a eruptir, aparecia na Baía dos Tigres uma água esverdeada, forte cheiro de enxofre, e grande quantidade de peixes mortos.

Falou-se em fumaça que saía do solo, perto da Espinheira.

Enfim, falou-se o suficiente para atrair cientistas e pesquisadores de todo o mundo, que após acurados estudos acabaram por concluir que os estrondos o rumores subterrâneos tinham origem nas camadas de quartzo que se deslocavam, quando a erosão desgastava o terreno em que essas camadas se encontravam assentes horizontalmente.

A mudança de cor da água, explicada como mudança de maré, e a influência da corrente fria de Benguela; a quantidade de peixes mortos, foi justificada como fenômeno cíclico ou sazonal, de natural controle de preservação das espécies, e motivadas por superpopulações em áreas em que os predadores naturais, estivessem temporariamente afastados.

As fumaças que saíam do solo, não foram confirmadas, e as esperanças doa angolanos de terem o seu vulcão, abandonadas e esquecidas.

BAÍA DOS TIGRES

O nome dessa baía, se deve à grande quantidade de tubarões Tigre que, em cardume, podem ser vistos a deambular preguiçosamente por um mar de tal maneira rico em peixe, que eles não têm necessidade, nem motivo, para se afastarem do lugar.

São Martinho dos Tigres, é uma vila espremida pelo deserto contra o mar, com uma única rua, que serve também de pista para os aviões. Conheci-a pouco depois de obter a minha licença para pilotar monomotores. Umas poucas casas de cada lado, açoitadas por ventos e tempestades de areia do deserto.

É uma vila de pescadores, fundada por João Rosa Machado, que vivem da pesca e para a pesca, com tanto afinco e constância, que até os cachorros se alimentam de peixe, que vão pegar junto à rebentação das ondas, com ardis e perícia de felinos.

Região áspera e agreste, é o paraíso para os adeptos da pesca e caça submarina.

Na pista de pouso, e nos esporádicos aviões, se resume o lazer de uma população tímida e introvertida, que se aproxima aos poucos para saber notícias do exterior daquela ilha, cercada de mar e deserto.

Antes de pousar, faz-se necessário sobrevoar duas ou três vezes a pista, para que pessoas e animais, indolentemente a abandonem e liberem.

BAIXA DE KASSANGE

As lendas da Baixa de Kassange, contam em geral, da dificuldade de transpor a escarpa, no lugar onde a Serra se partiu ao meio, e uma das metades afundou; ou também em algumas de caráter romântico, como a dos dois amantes que no momento do fenômeno, escaparam milagrosamente de sucumbir com a metade afundada.

Mas o que na verdade se passou na Baixa de Kassange, foi decerto mais drástico do que qualquer lenda poderia contar.

Durante séculos, o que ficou na memória dos povos, foi a Baixa, onde os Sobas de Kassange, concentravam milhares de homens, mulheres e crianças, escravizados, depois de roubados aos seus povos.

Era nessa Baixa de vegetação exuberante, onde pulava vida animal, que os escravos que resistiam as provações e tratamento bárbaro, eram comercializados com gado, antes da triagem para a barra do Kuanza,perto de São Paulo da Assumpção de Loanda, ou São Philipe de Benguela, estações de descanso e engorda, para o embarque definitivo para o Brasil, terra para eles ignorada, onde a troco de pancada, haveriam de enriquecer as tradições, o folclore, os senhores de engenho e os coronéis de cacau.

Chagados ao Brasil, cantaram certamente ao som das Marimbas, Tchissange e batuque, a beleza e nostalgia da paisagem Angolana.

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Os escravocratas tinham linhas de avaliação e preferência na aquisição dos escravos. Os Senegaleses eram apreciados por seu caráter taciturno; os povos de Serra Leoa, Costa do Marfim e Costa do Ouro, eram considerados rebeldes e desertores. Os Ibo da Nigéria, eram bons trabalhadores, mas propensos ao suicídio, e os povos do Congo e Angola eram os mais apreciados, por unirem robustez física a uma certa passividade.

Os escravos Angolanos, eram disputados por fazendeiros de Haiti, das Bahamas e pelos senhores de engenho do Brasil, como mercadoria de primeira qualidade.

TARATAS DO RUACANÁ

No Rio Kunene – o nome vem de Kuonene, que quer dizer água grande – na Serra de Kaná, encontram-se as cataratas do Ruacaná, termo indígena que quer dizer Água da Serra de Kaná.

É uma serie de cataratas múltiplas, em semi-circulo, sendo que a principal é de cerca de setenta metros de altura, numa extensão de aproximadamente oitocentos metros.

A segunda queda, a meio de uma borda que vai até a margem esquerda tem aproximadamente quinze metros de altura, e as cutículas de água das duas principais quedas, formam na estação seca, um constante Arco-Íris, que só se dissipa quando as chuvas voltam.

Na estação chuvosa, os três braços do rio, formam um só leito, e uma única queda com mais de trezentos metros.

Os povos Ambó e Mukuankala, quando em movimento migratório, passam por toscas pontes, amarradas de cipós e lianas, na travessia do Rio.

Posteriormente, nas guerras Boers, foi um ponto estratégico de defesa dos exércitos de Portugal.

Mas o que há de destacar nas quedas de água do Ruacaná, é a beleza, e a atração turística que podem representar, principalmente numa viagem a partir da Baía dos Tigres, pela costa, entre o Oceano Atlântico e o deserto, acompanhado de manadas de Zebras, Gnus, Impalas e Orix Gazela, com seus chifres de sabre japonês, e os bandos de Avestruz de passada gigante.

SÃO PHILIPE DE BENGUELA HÁ CEM ANOS

A cidade de S Philipe de Benguela era, no ano de 1870, um importante centro comercial, onde os povos do interior, principalmente os Bienos, iam permutar seus artigos, fugindo à exploração dos funantes, que já não lhes davam condições satisfatórias.

Vinham estas comitivas de mercadores a pé, do Bié ou outras regiões ainda mais distantes, vender as suas mercadorias, a preços cujas cotações eram na época:

- Um Angolar e quarenta e cinco centavos, a libra de marfim de lei, não quebrado.

- Oitenta centavos a libra de cera limpa.

- Oito angolares e cinqüenta a arroba da borracha.

- Dois angolares a pele de onça, boa.

Os artigos mais procurados or essas caravanas vindas do interior, eram as bebidas alcoólicas, o sal, a pólvora, tecidos de riscado, armas, catanas-facões, espelhos e missangas.

Benguela foi primeiro, um grande centro de concentração e exportação de escravos, e posteriormente tornou-se importante centro de comércio. Esses dois fatores, levaram a uma grande miscigenação de povos e costumes, gente de diferentes tradições, alem de ter sofrido também, e em função das circunstâncias anteriores, muita influência por parte dos brancos.

Tudo isto alterou bastante os costumes e modo de vida do povo de Benguela, mas o dialeto, manteve-se Umbundo. Os homens do povo de Benguela ocupavam-se essencialmente da pesca; as mulheres da agricultura e criação.

Há cem anos, Benguela era uma cidade espraiada, com construções baixas, em que se destacavam o hospital municipal, o Palácio Residencial do Governador Colonial, o Quartel das tropas portuguesas e a Alfândega, cuja cifra de rendimentos aduaneiros, orçava já a expressiva ordem dos Cem Contos de Réis ao ano.

Após o pôr do sol, a atividade ficava restrita aos quintais das casas comerciais, onde as comitivas acampavam, e por vezes se demoravam nas barganhas comerciais.

Uma ou outra tipóia, em que dois homens transportavam o seu patrão, o seu amo, esgueirava-se rapidamente pelas ruas desertas, fugindo ao desagradável encontro com as hienas que, afoitas, à noite circulavam pelas ruas da cidade, procurando carniça ou caça fácil, e que, se sentiam em superioridade de força, atacavam o homem.

As hienas calculavam a sua possibilidade para o ataque, pelo tamanho da vítima em potencial, e assim, os europeus, desenvolveram um costume, de portarem sempre um guarda-chuva, ou bengala e chapéu; escutando a risada característica das hienas, abriam o guarda-chuva, ou penduravam o chapéu na ponta da bengala, mantendo o braço bem esticado para o alto.

As feras, equilibradas nas patas traseiras, achando-se mais baixas do que o adversário, não atacavam.

CATUMBELA DAS OSTRAS

Catumbela, hoje pequena vila entre o Lobito e Benguela, distando cerca de oito quilômetros do Lobito, e aproximadamente vinte e dois de Benguela, localizada na margem direita da foz do Rio que lhe deu o nome, foi um dos pontos de descanso e engorda dos escravos, que embarcariam em S. Philipe de Benguela, para as plantações agrícolas de todo o mundo.

Esse descanso era fundamental, pois os escravos, arrancados violentamente aos arimos e senzalas pelos pombeiros – fornecedores de escravos, geralmente mulatos- eram obrigados a percorrer a pé, e sub-alimentados, centenas de kilometros, até aos locais de embarque.

Eram embarcados por camadas, amontoados em porões de veleiros, no meio da imundice, e sem circulação de ar, com alimentação escassa e inadequada, para travessias que duravam até três meses.

A percentagem de escravos que morriam por causas diretas ou indiretas dessas condições de sepcia e subnutrição era elevada, impunha-se por isso um período de descanso e alimentação consistente, que lhes refizesse as forças e a resistência.

Em Catumbela eram batizados por padres cristãos que, além do nome escrito num papel, lhes faziam por meio de intérpretes, o seguinte discurso:

“Meus amigos, vocês agora são filhos de Deus, livres do pecado original, e vão partir para terras portuguesas e espanholas, onde viverão segundo a nossa fé. Não pensem mais nas vossas casas, e partam com boa vontade”.

Em princípios do século XVII, passavam por Catumbela, uma média de vinte mil escravos anualmente.

Citando o Padre Antonio Vieira, o escritos inglês C.R. Boxer, no seu livro sobre Salvador Correia de Sá, o libertador de Luanda, da tomada desta pelos holandeses, diz que “O Brasil tinha a alma em África e o corpo na América”.

O Lobito, uma restinga de areia, era o prolongamento de Catumbela, e em cuja entrada podiam ser encontrados bancos de ostras em numero incalculável.

Devido a essas ostras, e à proximidade de Catumbela, o primeiro nome que Lobito teve, foi “Catumbela das Ostras”.

Só bem mais tarde, no início do século XX, tomou o nome de Lobito, forma distorcida e adulterada de Lo Epito; em Umbundo, Epito significa porta, e Lo é a forma plural para o termo. É uma alusão à forma resguardada da baía, entre a costa e a restinga de areia, que faz da cidade uma abertura – porta - para o mar e a navegação.

O CARNAVAL DE ANGOLA

O festejo do carnaval nos bairros pobres as cidade de São Paulo as Assumpção de Loanda, remota a mais de um século; com efeito sabe-se de danças e mascaras carnavalescas, anteriores a 1870.

A primeira de que se tem registro, foi a “Matinguita”, dança em que só figuravam homens, trajados de branco, com boné e botas, à semelhança dos marinheiros de guerra.

Os instrumentos que faziam o acompanhamento musical da coreografia, eram o Batuque e as Puítas, e esta resumia-se a um andar bamboleante com pequenos pulos para a frente e para trás.

Por volta de 1880, apareceu uma dança, a “Kinava”, que era um aperfeiçoamento da Mantiguita. Na Kinava, à semelhança da anterior, também só figuravam homens trajados de marinheiros, mas em blocos, e com separação pela escala militar hierárquica.

Á frente ia um reduzido pelotão, com as fardas a imitar as dos oficiais da marinha, com Galões e Dragonas, e na cabeça, Boné de Pala; ao centro, puxado pelo grupo dianteiro, vinha um barco, armado sobre um carro de bois; o terceiro bloco, era o dos outros participantes todos vestidos de marinheiros.

Dançavam e cantavam ao som de Dikanzas e Batuque, a que se juntava o coro de vozes. A coreografia era uma marcha engraçada, imitando o andar bamboleante dos homens do mar.

Este grupo passava pelas ruas da cidade, parando às portas das casas, onde depois de um pouco de exibição, recebiam um “Matabicho”; o grupo parava no portão do quintal, o “comandante” subia ao posto de comando onde, com um tubo oco simulando uma luneta de longo alcance, fingia olhar o horizonte, dando tempo a que todos os moradores da casa se aproximassem do barco carnavalesco.

Quando o numero de espectadores já era considerado aceitável, descia do posto de observação e dava o sinal para começar a dança e o canto.

Terminada a exibição, com uma vênia cortes, davam a entender estava terminada a apresentação, e esperavam o Matabicho – gratificação em dinheiro, ou um garrafão de vinho e um pouco de comida, para ajudar a “matar o bicho da fome e da sede”.

Poucos anos depois, por volta de 1885, apareceram nos Musseques de Luanda, dois outros tipos de grupo: os Jimbas e os Cazumbis.

Os Jimbas, ficaram com esse nome, por causa das Jimbas, principais instrumentos a acompanharem a musica e dança, apesar de usarem também Dikanzas, e latas percutidas com pedaços de pau.

Os homens alinhavam enfeitados com panos vistosos à cintura, e lenços cruzados no peito; as mulheres alem dos panos vistosos, usavam adornos nos pulsos e tornozelos.

Homens e mulheres, comunicamente pintados, dançavam em coreografia desconexa, esforçando-se as mulheres para associar ao ritmo, graciosidade e sensualidade.

Os Cazumbis, também em grupos mistos, vestiam todos de branco, e completamente tapados, com fronhas na cabeça e luvas nas mãos.

Eram grupos divertidos, que pulavam e emitiam sons guturais, fingindo assustar as pessoas; por fazerem lembrar fantasmas, foi-lhes dado o nome de Cazumbis.

Por volta de 1910, surgiu o “Samba Cuteco”, que eram pares de homens, um deles vestido de mulher, com saias curtas e calções por baixo.

Os pares faziam palhaçadas, sacolejavam com o corpo, e de vez em quando, o que se vestia de mulher, andava sobre as mãos, mostrando os calções, o que provocava hilaridade do publico.

O nome de Samba Cuteco, supõem-se vir de Kussamba, que quer dizer folgar, brincar, e de Kutekuka, que significa desatinar, em alusão as brincadeiras que o par de foliões fazia.

Desde o inicio, os grupos folclóricos que tomaram parte no carnaval de Luanda, procuraram como motivo das canções que acompanhava a coreografia, escarnecer e satirizar outros grupos rivais, aproveitando-se de qualquer falta cometida por dirigentes ou participantes.

Esta rivalidade carnavalesca era o ponto culminante do carnaval, e motivo de expectativa de todos os foliões.

O grupo “Cidrália” formou-se por volta do ano de 1935, resultado da fusão dos grupos “Invieta e caridade”, passando a designar-se por união Cidrália, abreviado para Cidrália.

Tinha mais de trezentos participantes, entre homens, mulheres e crianças, que se vestiam a preceito e apresentavam todos os anos temas variados.

No ano de estréia por exemplo, simularam o desembarque de entidades oficiais – nas pessoas dos Sobas kapulo, Munongo, e Kumbi - que o grupo foi recepcionar trajando à antiga, para subentender a vontade que essas entidades teriam de assistir o carnaval.

Essa primeira apresentação do grupo, teve tanto sucesso, que causou a inveja de muitos outros grupos carnavalescos, especialmente a do grupo do Musseque Prenda que, por causa da inveja demonstrada, passou a designar-se pelos “Invejados”.

Este grupo, também bastante numeroso, tinha cerca de duzentos elementos, homens, mulheres e crianças.

Os homens trajavam calças brancas, largAngola localiza-se no lado Ocidental do Continente Africano, abaixo do equador, tem uma área de um milhão duzentos e quarenta e seis mil e seiscentos quilômetros quadrados, e tem como fronteiras:Norte - República do ZaireEste - Zaire e ZâmbiaSul - NamíbiaOeste - Oceano AtlânticoO enclave de Cabinda, que faz parte do território Angolano, é limitado a:Oeste – Oceano AtlânticoNorte – República Popular do CongoEste - República Popular do CongoSul - ZairePopulação : Cerca de Onze Milhões de habitantesReligião : A grande maioria pratica o animismo tradicional. Uma minoria é católica.Agrupamentos étnicos em AngolaA) De raiz Bantu1 – Grupo Kikongo: Vili, Yombe, Kakongo, Oyo, Moxikongo, Sosso, Congo, Zombo, Yaka, Sucu, Pombo, Guenze, Paca, Code, Moxico.2 – Grupo Kimbundo:Ambundo, Luanda, Hungo, Luango, N’Temo, Puna, Dembo, Jinga, Bondo, Bângala, Holo, Kari, Xinge, Minungo, Songo, Bambeiro, Kissama, Libôlo, Kibala, Haco, Sende.3 – Grupo Lunda-Tchokwé:Tchokwé, Lunda, Lunda-Lua-Xinde, N’Dembo, Mataba, Kalongo, May.4 – Grupo Umbundo: Bieno, Bailundo, Sele, Sumbe, M’Buy, Kissange, Lumbo, Dombe, Hamma, Ganda, Huambo, Sambo, Kakonda, Xikuma, Mulondo.5 - Grupo Ganguela: Luimbe, Luena, Luwale, Luchase, Bundo, Ganguela, Ambwela, Ambwela-Mabumba, Engongeiro, N’Golieno, M’Bande, Kangala, Yahuma, Luio, Neoia, Kamaxi, N’Dungo, N”Mengo, N’Memba, Aviko, Muxitos, Luy.6 – Grupo Nhaneka-Humbe: M’Vila, Gambo, Humbe, Donguena, Hinga, Kuânkwa, Handa-Mupa, Handa-Kioungo, Vahono, Kilengue-Musso, Mukubal.7 – Grupo Ambó: Kwanyama, Kwamatuy, Ualekafima, Kuangar, Mayaka, Dombondola.8 – Gruou Herero: Dimba, Ximba, Xavíkua, Kuanyoka, Kuwale, Kuendelengo.9 – Grupo Xindonga: Kussu.B) Não Bantus, de Raiz Hotentote1 – KöiSan ou Mukuankalas – Bosquímanos.2 – Kedes, Mupas, Kunenes.3 – Wátuas, Kwepes, Kuissis.4 – Kurokas.Generalidades sobre a sexualidade dos povos de AngolaA Sexualidade é um componente de primordial importância no dia a dia dos diversos povos africanos. O erotismo, essa força primária e fundamental, está expressa em todos os costumes e manifestações artísticas dos povos desse Continente; nos rituais de fertilidade humana, de animais e da terra – nas crenças religiosas e feiticistas, na pintura e estatuária, na sensualidade da dança e da música.Os ritos sexuais, remontando à pré-história e comprovados em pinturas rupestres que sobreviveram até aos nossos tempos, mostram a importância que o erotismo vem tendo na particular visão dos povos de cultura negra.Com o advento da colonização do Continente Africano, a força política que a igreja e o clero tiveram nos povos colonizadores, passou a haver uma repressão normal que impedia que se concebesse para o sexo, uma limitação que não fosse estritamente genital, e dentro dos limites do matrimônio; qualquer outra manifestação erótica constituía contravenção teológica e religiosa.Apesar da influência das culturas ocidentais dos colonizadores, os valores eróticos sobreviveram entre os povos Africanos, tanto no âmbito biológico quanto no espiritual e artístico.Em prol da fertilidade se fazem verdadeiros rituais eróticos, como por exemplo entre os Ganguelas, a “Kauena” – dança do fogo.Desde as mais remotas civilizações, a libido vem sendo representada pelo fogo, pela chama; o sensualismo, pelo calor. Nos mais diversos graus da evolução das civilizações se encontram rituais alusivos ao ato sexual, em que a presença do fogo é fundamental; aquece e excita!A Kauena dos Ganguelas acontece em determinadas épocas do ano, por indicação e escolha dos feiticeiros – a quem os espíritos determinam ser a época da fertilidade – em noites de Lua Nova.Num dos extremos do terreiro reúnem-se os homens todos, em volta dos tocadores de N’Goma – espécie de tambor –cujo ressoar vai aumentando de intensidade até se tornar ensurdecedor; por essa altura aparecem do outro lado do terreiro chamas em movimento, numa coreografia fantástica, espalhando milhares de fagulhas, sob cuja iluminação tênue, aparecem os velhos da tribo, sentados ao redor da clareira, e que apenas se movimentam para passar ou receber a Mutopa – cachimbo de água, feito de uma cabaça, em que é fumada uma mistura de tabaco e cânhamo -- no seu movimento contínuo.A coreografia das chamas é executada por mulheres completamente nuas que, simultaneamente vão imprimindo aos quadris um movimento circular, lento e cadenciado, com meneios lúbricos e provocantes, que vão acendendo nos olhares masculinos uma chama inquieta de desejo, que vai aumentando até ao paroxismo.Os tocadores são substituídos à medida que caem exaustos, o reboar é sempre crescente, os homens abandonam a atitude inerte de meros assistentes e integram-se ao ritmo, num ondear de corpos coleante; as cordas e archotes em chamas são abandonadas no chão, o som dos N’gomas vai então diminuindo, a modesta iluminação das chamas vai desaparecendo, até impor-se o breu da noite e os sons dos pares em acasalamento.O erotismo e a sensualidade são como já foi mencionado, de importância primordial; para melhor se falar dessa importância, vou dividir os aspectos abrangentes da sexualidade dos povos de Angola, por tela:I – CARACTERÍSTICAS E MODIFICAÇÕES ANATÔMICAS, VESTUÁRIO E ADORNOS.1) Características anatômicas: Entre os povos africanos em geral, desde que pouco ou nada influenciados pela cultura ocidental, é freqüente a manipulação para modificar diversas partes do corpo, especialmente, dos órgãos genitais.Segundo Antropólogos diversos – apesar da disparidade de opiniões – a característica mais marcante entre os homens de diversas origens tribais, se encontra nos Mukuankalas que, em vez do “Pênis Pêndulos” normal entre todos os outros homens de todas as raças do mundo, apresentam o “Pênis Rictus”, curto e pequeno em termos de comparação universal, mas que mesmo em estado de repouso mantém a posição horizontal de semi-ereção; mesmo desempenhando atividades desprovidas de qualquer estímulo sexual, como a caça, por exemplo.A vagina das mulheres negras de origem Bantu é em geral mais estreita e mais profunda do que as das européias – até dezesseis centímetros, em vez de dez – e do tipo proeminente, em que a maior amplitude longitudinal do períneo, bem como o orifício vaginal mais elevado, permite que a função biológica de urinar possa ser levada a efeito em pé. É freqüente as mulheres africanas urinarem de pé.Como conseqüência de variadas manipulações, a vagina das mulheres africanas apresenta outras sensíveis diferenças, em relação às outras raças.Basicamente dois tipos característicos são mais comuns: a “anclitonídea”, em que o clitóris é eliminado por amputação ou cauterização, e a “hipertética”, com os lábios vaginais alongados por massagens e estiramento.A alteração mais marcante está, no entanto uma vez mais entre os Mukunkalas, as mulheres mukuankalas, que por meios artificiais conseguem o alongamento tanto dos lábios vaginais, quanto do clitóris, que chega a ter de dez a quinze centímetros de comprimento, adaptando assim o aparelho genital feminino, ao “Pênis Rictus”, -- curto e pequeno – dos homens deste grupo.2) Tatuagens e cortes: Tatuagens por corte na carne são alguns dos métodos de embelezamento artificial; porém, a finalidade dessas marcas não é somente a modificação plástica e estética, mas representam também marcas tribais, sinais que distinguem indivíduos de diversas tribos.As cicatrizes em relevo têm também um papel erótico, pois aumentam a sensibilidade dos terminais nervosos.3) Embelezamento: Os adornos e embelezamento em geral, têm também uma finalidade prática, que é a de distinguir faixas etárias – infância, puberdade, e idade adulta, em ambos os sexos -- bem como castas e atividades, e até condição econômica.Entre as mulheres M’uílas, Mukubais e Kwaniamas, aros metálicos no pescoço, tornozelos e pulsos, indicam número de cabeças de gado do clã.4) Vestuário: Nas regiões de clima mais quente, e apesar as influência contrária das religiões importadas e dos costumes dos colonizadores, predomina a quase total nudez.Para a confecção de roupas, são usadas as peles de animais, tecidos de algodão e outras fibras vegetais, como do coqueiro, e do sisal. As estamparias apresentam motivos étnicos e tribais.5) Adornos: Os adornos têm várias finalidades bem definidas; uma é atrair a atenção do sexo oposto, outra é a proteção do corpo e do espírito, no caso de amuletos feiticistas que protegem de males diversos. Unhas e dentes de animais, são usados como troféu, ostentando a coragem e destreza que foram necessárias para abater o animal em questão e obter as peças. Anéis metálicos são usados como indicativo de condição econômica; pinturas são específicas para guerra, caça e rituais diversos – fertilidade, puberdade etc...—não existe o adorno como objeto de vaidade pura e simples.II – SEXUALIDADE INFANTIL, CIRCUNCISÃO E EXCISÃO CLITORIANA E DE PEQUENOS LÁBIOS.1) Infância e primeira adolescência: Na cultura africana a sexualidade não é um tabu, nem tem nada de pecaminoso. Um casal que se disponha a manter relações sexuais, procura um lugar recatado, não por entender que deve esconder-se para praticar o ato, mas porque o ato em si exige recato e concentração, difíceis de conseguir em lugares movimentados.Se surpreendidos em tal atividade, continuam agindo de forma natural, bem como age de forma natural a pessoa que eventualmente surpreenda o casal em semelhante função.As cubatas – casas – não têm portas, e os filhos desde cedo se acostumam a presenciar a atividade sexual dos pais e dos vizinhos. Assim, as manifestações sexuais da infância e primeira adolescência, se dão de forma normal. Obedecendo ao instinto.O exercío sexual entre os jovens é considerado como parte fundamental do treinamento para a vida adulta, e assim, brincadeiras de “marido e mulher” em que acontece o intercurso sexual, são freqüentes na juventude e até na infância.A masturbação entre os rapazes tem também como motivo a vontade de retrair a pele que cobre o prepúcio, de modo que os faça parecer adultos circuncisos.A virgindade feminina não é minimamente considerada, já que a manipulação para alongamento dos lábios vaginais e do clitóris, e do alargamento das paredes vaginais – em que são usados até chifres de animais – tende a ser rompida bem cedo de forma acidental.Outro motivo para a não repressão à sexualidade dos jovens, é que os rapazes não circuncidados são considerados inférteis, e inofensivos no que concerne à procriação. O mesmo em relação às moças pré-púberes; e o conceito de pré-puberdade, tanto em rapazes como em moças, é elástico, uma vez que os rituais se dão em épocas específicas, juntando na altura os jovens que estão mais ou menos na idade considerada certa, e que pode levar ao ritual de passagem da puberdade à vida adulta, tanto impúberes, como púberes já com certo tempo.A liberdade sexual é assim ampliada; anuladas quaisquer restrições ao intercurso sexual, em qualquer idade.2) Menstruação: A menstruação é um marco fundamental na vida da mulher. Entre algumas tribos da linha Bantu, ocorrendo a primeira menstruação, a moça é confinada junto com as outras na mesma situação, onde é iniciada a escola preparatória para a vida adulta.Nessa escola preparatória, de tempo de duração variável, é ensinado às moças tudo o que é considerado importante, desde a maneira de proceder em relação aos homens, ao que os maridos podem esperar delas como esposas, e até métodos contraceptivos “coitus interruptus”, abortivos de ervas etc...O fluido menstrual é considerado impuro, e crêem ate, que um homem que tenha relações com uma mulher nessas situação, corre o risco de perder a virilidade.Enquanto estiverem menstruadas, às mulheres é vetado o convívio comunitário, cozinhar para os homens, e em algumas tribos existe até uma cubata isolada, onde se reúnem as mulheres nesse período.As mulheres só na terceira idade, após a menopausa, deixam de ser consideradas perigosas e passam então a ter direito a voto nos conselhos tribais.3) Circuncisão: A circuncisão é para a cultura africana, mais do que a mera intervenção cirúrgica em que é amputada a pele que cobre o prepúcio do pênis. Representa a passagem da adolescência para a idade adulta, e é, tal como na menstruação feminina, acompanhada de um período de duração variável, em que são ministrados os conhecimentos fundamentais ao homem, bem como treinamento no uso de armas para a caça e guerra, luta corporal, etc...Dadas as condições de sepcia em que a intervenção cirúrgica é efetuada e o primitivismo dos métodos cicatrizantes, são freqüentes os casos de infecção, com maior ou menor gravidade, em que não é incomum um rapaz vir a morrer, vítima de septicemia.A circuncisão – ritual – serva assim também de uma espécie de método seletivo, em que sobrevivem os mais resistentes e fortes.O circuncidador é sempre escolhido entre os mais conceituados anciãos da tribo que, além da técnica operatória, tenha também conhecimento sobre ervas e misturas – cinza e barro – cicatrizantes.4) Excisão clitoriana: A extirpação do clitóris tem origem indeterminada, e parece ter como objetivo retirar parte do prazer e desejo sexuais à mulher, limitando-lhes assim a atividade sexual à procriação.O ritual tem lugar a cada dois ou três anos, depois de se ter reunido o número suficiente de candidatas, sendo o sinal indicativo da época própria, o aparecimento dos pelos pubianos, e sempre posterior à primeira menstruação. Basicamente usam três tipos de intervenção: - Amputação total do clitóris.- Cauterização com um ferro em brasa- Corte do nervo clitoriano.A operação é efetuada por uma velha da tribo, com óbvios conhecimentos anatômicos sobre o assunto, ainda que empíricos.5) Iniciação púbere feminina: A iniciação púbere das moças é uma escola em que são transmitidos todos os conhecimentos abrangendo os aspectos da vida adulta, e é apenas uma prévia da escola da vida, na época da primeira menstruação.São focados assuntos como postura e deveres femininos no contexto tribal, sexo, métodos conceptivos e abortivos, maternidade, lactação, cuidados com as crianças desde o nascimento, técnicas de fiação de fibras, tecelagem, olaria, etc...Os abortos, raros, dão-se unicamente por indicação dos feiticeiros, quando por qualquer motivo se presuma que o feto em gestação pode vir deformado ou com algum tipo de anomalia.III – SEXUALIDADE DOS ADULTOS1) Conceitos Gerais: Pelo anteriormente descrito, ficou claro que rapazes e moças, nas diversas etapas da vida, até serem adultos, têm todas as condições de satisfazerem os seus impulsos sexuais, sem qualquer limitação.Os estímulos sexuais vêm normalmente de forma espontânea, ou através da expressão corporal na dança; nas culturas africanas não se usa o beijo, e raramente o estímulo dos órgãos genitais do parceiro. A posição de cópula mais usada é de lado.2) Matrimônio: Entre as civilizações africanas não ocidentalizadas, não se conhece casos de monogamia. O desequilíbrio quantitativo entre homens e mulheres é solucionado pela poligamia ou pela poliandria – comum em Angola entre os Luenas.A poligamia responde melhor a determinadas facetas éticas, de costumes, sociais e econômicas.Aos homens é vedado o intercurso sexual com mulheres no período menstrual, durante a gestação, e no período de resguardo pós-parto, que dura meses. Assim, a poligamia atenua a contenção e abstinência sexual masculina, a que estes princípios levariam num sistema monogâmico.Do ponto de vista econômico, como tanto a agricultura como o pastoreio são atividades eminentemente femininas, diversas mulheres contribuem de maneira mais significativa para a consolidação do patrimônio do clã.No aspecto meramente social da comunidade, e como em geral o número de mulheres é superior ao de homens, a monogamia impediria muitas mulheres de ter uma casa, uma família, um homem.Entretanto são observadas regras básicas para evitar conflitos nesse tipo de relacionamento.O homem pode ter várias mulheres, mas nunca duas na mesma casa; cada mulher tem a sua casa e a sua área de terra para cultivo, para prover a própria subsistência e a dos filhos, muito embora as terras sejam comunitárias; e o homem jamais deve mostrar favoritismos.A escolha de uma esposa obedece também a critérios completamente diferentes dos ocidentais; os predicados mais valorizados são a capacidade reprodutora – fertilidade -- e a capacidade de trabalho da mulher. A beleza é um fator de completa irrelevância.Após a escolha, o pretendente revela à família da escolhida as suas intenções.Começa aí um ritual de valorização da mulher, que dificilmente é compreendido por outros povos de outras culturas.A família se mostra contrariada com a possibilidade de perder a moça, e o pretendente faz então uma oferta de bens materiais – gado, sal, milho, farinha, panos, etc.. – que não tem como objetivo atribuir um preço à futura mulher, mas sim mostrar o quanto ele a quer; um querer forte o suficiente para se sacrificar a ponto de se desfazer ou conseguir a relação de ofertas. É o LEMBAMENTO.Acertado o Lembamento, é marcado o casamento, e no dia acordado, o noivo vai buscar a futura esposa que, numa pantomima e gestos de recusa, deve mostrar-se contrariada pela mudança de situação, e abandono da família.Pede ajuda às pessoas da família – enquanto o homem a puxa pelo braço – que se finge de surda, e rompe-se assim o elo familiar anterior.Nos casamentos da cultura africana, se desconhece completamente o ciúme, como sentimento de posse.Na hospitalidade intrínseca aos povos da linhagem Bantu, freqüentemente é incluída a hospitalidade sexual, em que o visitante pode ser convidado a pernoitar na casa de uma mulher casada – até pelo próprio marido – desde que ela esteja de acordo.Não existe, como já foi dito, o ciúme, e a relação extra matrimonial pode, tal como a matrimonial, originar uma gravidez. O chefe da família considera qualquer filho gerado por uma de suas mulheres, como seu. Mas, para não quebrar a consangüinidade, a descendência é em linha uterina. O descendente é o sobrinho filho da irmã. Ele e irmã vêm do mesmo útero, logo a consangüinidade do sobrinho é inquestionável, enquanto o filho pode ou não ter o sangue dele.Do mesmo jeito que a fertilidade é importante, a esterilidade é execrada a ponto de poder originar a devolução da mulher à família – cúmulo da degradação.A mulher que depois de um determinado tempo não engravida, está sujeita a que o marido a devolva, pedindo de volta tudo o que haja oferecido no lembamento.3) A prostituição: Com tantas facilidades à satisfação dos impulsos sexuais, a prostituição segundo os conceitos ocidentais, não existe. Mas existem as prostitutas rituais ou de orientação sexual dos jovens, normalmente escolhidas entre as viúvas da tribo.4) Doenças Venéreas: As doenças venéreas são comuns, e tratadas pelos Kimbandas – curandeiros – como todas as outras doenças, e quando recalcitrantes na regressão, o feiticeiro pode atribuir a causa a conjunções espirituais.O contato sexual com pessoas doentes é evitado na medida do possível, conceito tão abrangente este de na medida do possível, que em algumas tribos a transmissão e alastramento das doenças sexualmente transmissíveis, chega a tornar-se uma verdadeira epidemia.CIRCUNCISÃO ENTRE OS GANGUELASO ritual tem lugar numa clareira natural – Bamba – usada para o mesmo fim por gerações. De um lado ficam as cubatas que vão servir de moradia aos Kimbandas – o feiticeiro chefe do ritual, o operador, o intérprete dos espíritos e os ajudantes. Depois vêm diversos semi-cercados, sem qualquer espécie de proteção e que servirão de habitação aos iniciados durante o tempo que durar o ritual e Escola da Vida – Mukanda Kandongo.Na véspera do dia marcado para a cerimônia, realiza-se no Sobado um batuque de comemoração pelo início do ritual, em que os rapazes que vão participar, mais do que ninguém, dançam até à exaustão.O esgotamento físico por esta noite, junto com os efeitos do Marufo – fermentado de seiva de palmeira – são os únicos anestésicos para o dia posterior.Quando rompe a madrugada, o Kimbanda chefe põe fim ao batuque e declara aberta a Mukanda Kandongo.Os jovens participantes são então pintados de branco, perdem os nomes de criança e recebem todos eles o nome de Fungandas.Os Fungandas dão a seguir entrada na clareira sagrada, onde permanecem sentados, lado a lado, tendo cada um junto de si um ajudante de Kimbanda.O Kimbanda dirigente evoca então os espíritos auxiliado pelo pelo rufar dos batuques, e após, o Kimbanda operador, munido de todos os instrumentos e amuletos, dá início às operações de corte dos prepúcios.O ajudante segura fortemente o Funganda, enquanto tenta incutir-lhe no espírito o orgulho de homem, para ajuda-lo a suportar as dores.Após o corte, o sangue é estancado e a ferida envolvida por uma mistura de ervas e outras substâncias cicatrizantes, cinzas inclusive, em algumas tribos é usado também o estrume vacum, e o pênis envolvido por folhas que o isolem do contato com as pernas.Terminada esta parte, o Kimbanda intérprete dos espíritos declara o funganda operado “homem”, e deixa-o ir para a Mwela – cercado – que lhe é destinada, onde se completará a cicatrização.Na mwela sofrerá durante o período de cicatrização, as intempéries, pois este sofrimento vai ajuda-lo a preparar-se para os maus momentos da vida.Durante o período de cicatrização, ficam imobilizados em posição quase letárgica, e assim, são alimetados pelos ajudantes do Kimbanda, que também os ajudam a satisfazer as suas necessidades fisiológicas.A segunda parte da Mukanda começa a partir da completa cicatrização.Os fungandas que resistirem a esta primeira fase – muitos morrem de septicemia – podem então levantar-se, limpar as Mwelas e entram então já homens na fase de aprendizado da vida.Exercitam o corpo em provas de corrida, aprendem a usar a lança e a zagaia, é-lhes ensinada a técnica da espera e avanço para o bom êxito da caçada, a paciência para a pesca, e as tradições tribais, que jamais devem ser menosprezadas.Durante esta segunda fase, são freqüentemente postos à prova, em situações em que tenham que demonstrar coragem e tenacidade, e têm se subsistir por eles próprios, pela caça e pesca.O sentimento que mais lhes é incutido, é o de camaradagem pelos companheiros da mesma Mukanda; o ritual os irá irmanar pelo resto da vida.Chegados ao fim da segunda parte da Mukanda, os Fungandas escolhem o nome de adultos, normalmente de um animal que tenham abatido e que lhes tenha causado particular orgulho.Começa aí a terceira fase.Na terceira e última fase, têm especial destaque os Kimbandas intervenientes dos espíritos, pois estes são os verdadeiros mestres das coisas da vida. Cada Kimbanda tem nessa terceira fase, um aspecto da vida a ensinar; desde o Kimbanda que ensina os segredos e mistérios do amor, incluindo as artimanhas femininas, até noções de justiça e vícios a evitar.Com o fim dos ensinamentos, é chegado o fim do ritual – que chega a durar meses -- e os novos homens saem para o banho sagrado de purificação e preparam-se para os rituais de despedida.Na última noite são entoados cânticos alegres, feitas juras de segredo pelo que ali aconteceu, e recebidos os últimos conselhos para a vida.No dia seguinte, logo ao raiar do sol, tem lugar a cerimônia mais comovente de toda a Mukanda, que é o enterro dos Fungandas que não resistiram às provas.Os cadáveres são descidos dos ramos de árvores onde hajam sido colocados, e desenrolados das folhagens que lhes serviam de mortalha, para que os novos homens, antes de entrarem na vida, tomem mais uma vez contato com a morte.Em seguida são novamente amortalhados e, ao som de um batuque fúnebre, enterrados perto das Mwelas que lhes pertenciam.Quando esta cerimônia chega ao fim, já todas as sanzalas – aldeias – receberam a notícia do fim da Mukanda. Vão então homens e mulheres, em sinal de júbilo, esperar os ex-Fungandas. À chegada à sanzala, segue-se um batuque de comemoração; é uma noite alegre, onde só se vê tristeza, nas mães que perderam os filhos durante o ritual.OKU-HITA ESUKO DIMBA -- PUBERDADE DAS MOÇAS DIMBAAs moças Dimba, normalmente são submetidas ao ritual da puberdade, antes da puberdade fisiológica. Esta antecipação em relação às outras tribos deve-se ao fato de que é encarada com bastante contrariedade e até hostilidade, qualquer gravidez que se antecipe ao ritual.A cerimônia é efetuada para cada garota em particular, podendo a título excepcional, juntar-se duas primas ou duas irmãs.As coisas acontecem então assim:No dia em que se decide que a moça deve começar o seu tempo de aprendizagem, deixam-na passear enfeitada e despreocupadamente, como se ignorasse o que se irá passar.De repente, uma das acompanhantes grita alertando-a ao aparecimento de um grupo de rapazes que, saindo em sua perseguição a agarram e levam para a Onganga – casa – do pai; deitam-na então no chão, e com a cara virada para a terra.Enquanto isso, ela, a mãe e as acompanhantes choram em desespero, esfregando a testa da moça com carvão, como se se tratasse de uma cerimônia fúnebre, de um óbito.É nomeada então uma mulher, da linha uterina do pai, para mestra de cerimônias – é ela que durante os dias que se seguem irá ministrar todos os conhecimentos e ensinamentos úteis e importantes para a vida da futura mulher.Durante tosa a noite desse dia, as mulheres entoam cânticos alusivos, e na manhã seguinte, a mãe ou a tia materna, a levam às costas para a sombra de uma Mulemba – figueira de grande porte.Aí são quebradas as pulseiras de madeira que lhe ornam os braços e tornozelos, e que são indicativos de condição pré-púbere.Homens e mulheres se entregam a esse número divertido, enquanto ela, simulando contrariedade, se defende com uma chibata, em violentas vergastadas. Por fim, vencida, oferece a última argola a uma dama de honra.Depois disso, a primeira mulher do pai, pinta o corpo da debutante, em riscas alternadas de cinza e carvão. Acabado este enfeite simbólico, a moça dirige-se para casa, amparada a um cajado, e curvada, como se lhe pesassem os anos de meninice; atrás dela seguem as acompanhantes, com ditos espirituosos e de incentivo.À porta do curral, encontram um grupo de rapazes dispostos a lhes impedir a passagem; a moça bate então com o cajado no chão, e se eles não se afastarem a este aviso, ela bate-lhes, e aos rapazes não é permitido revidar.No último dia, é morto por apnéia, para que possa aproveitar-se o sangue, um boi de cor preta, e que ela deve chorar, pois este animal é sacrificado em sua homenagem.Faz-se então uma festa, em que ela come o fígado do boi, e oferece pedaços da carne aos presentes.No final da refeição, a debutante levanta-se e diante de todos, pede autorização à mestra para dizer obscenidades; a autorização é concedida, e ela diz e simula todo o tipo de obscenidades, pretendendo com isso mostrar desinibição.Nessa noite também, pede à mestra que exemplifique todos os movimentos eróticos do ato sexual, ao que esta também acede.De manhã, na companhia de amigas, vai ao rio lavar-se das pinturas anteriormente feitas e recolhe-se logo à cubata.No dia seguinte logo de manhã, senta-se na pele do boi sacrificado em sua homenagem, aguardando a chegada da mestra para untar-lhe o corpo com gordura e armar-lhe o penteado próprio desta fase da vida.Depois disto, a mestra cinge-lhe os rins com fibras vegetais, e pendura-lhe à cintura uma parte do couro do boi preto.Aí tem início uma série de visitas a fazer a parentes e amigos, para que a moça se apresente já na sua nova condição.PUBERDADE M’UÍLAAs moças M’uílas usam até à época da festa da puberdade, um penteado de tranças enfeitadas com contas coloridas e que lhes chega quase aos ombros.Quando aparecem os primeiros vestígios de menstruação, a moça é afastada da aldeia e começam os preparativos para a cerimônia.No dia marcado é levada de volta pelos parentes à sanzala, para que, na presença de todos, seja desmanchado o penteado de menina, e armado o de moça disponível para o casamento.A debutante finge surpresa a esta revelação, e foge a refugiar-se no mato. Logo uma comitiva de rapazes sai em perseguição dela, e trazem-na de volta, onde em frente à casa da mestra a deitam no chão e cobrem com peles de antílopes.A mestra explica-lhe então as mudanças que a sua vida vai sofrer, pois a partir da cerimônia passará a ser considerada mulher.É então levada ao rio para se lavar, e volta à aldeia onde é desmanchado o penteado infantil e armado o da nova condição; em crista, ao alto da cabeça, e sedimentado por uma mistura de gordura animal e argila vermelha.Começa depois disto a fase de aprendizado, após a qual tem lugar uma festa e apresentação aos membros da tribo, na sua nova condição. Está então preparada para o casamento.PUBERDADE ENTRE OS CABINDASA puberdade entre as moças Cabindas, dá-se quando pela primeira vez lhes aparece o fluxo menstrual, acontecimento para o qual já estão completamente preparadas, em conversas de iniciação com as outras mulheres, e por ensinamentos maternos.Quando vem a primeira menstruação, a moça comunica o fato aos pais que, em sinal de regozijo, penduram como uma bandeira o pano que lhe cobria o sexo.A família prepara então uma massa de Takula – substância vermelha – com a qual a debutante é pintada.Para esta parte da cerimônia é feita uma encenação, em que a moça é mandada a uma sanzala vizinha, junto com uma amiga, enquanto no seu próprio kimbo são feitos os preparativos da cerimônia.Ao chegar, fingindo surpresa pelo que está acontecendo, simula fugir, é perseguida, agarrada e então pintada.Depois disso tem lugar uma festa que dura toda a noite, e ao amanhecer ela é declarada apta a entrar na “Casa da Tinta”.Nesta casa, escola da vida para as moças, ela aprende tudo o que é importante para a vida adulta.Quando saem desta casa, as moças estão prontas para o casamento. Caso este não ocorra logo de imediato, as moças são declaradas livres para ganharem a própria vida como melhor entenderem.Obs – As mulheres Cabindas têm feições e tipo físico muito bonito, e dessa conjunção de fatores, muito se aproveitaram tanto colonizadores como povos de outras tribos, para as levarem à prostituição; o que não é impeditivo a que venham a casar.PUBERDADE DAS CHAVÍKUASEntre os Chavíkuas, a diferença mais marcante dos rituais da puberdade, é o tempo, de quase total confinamento – em torno dos seis meses -- a que as moças são submetidas durante a fase de aprendizado.Ficam reclusas durante esse tempo, numa cubata afastada do kimbo, onde só recebem a visita das mestras e de moças que lhes levam comida, e de onde só saem esporadicamente à noite, com a cabeça coberta, para visitar a mãe.Passado este período, a mestra principal acompanha-as à sanzala, e dá, com cada uma das moças às costas, uma volta completa ao Arimo –terreiro – anunciando mais uma moça pronta a casar.Este passeio provoca o ajuntamento de rapazes, para quem a moça canta e executa as danças aprendidas no período de reclusão.A partir desta altura começam a aparecer os pretendentes, e com todos eles a moça pode dormir, a título de experiência; quando um deles realmente se distinguir dos demais, pelo valor da oferta à família, o casamento é marcado.O casamento é por sua vez, uma cerimônia bastante simples; limitam-se os noivos a uma testemunha e a beber um fermentado de milho de uma mesma cabaça, derramando em seguida o resto no chão. Seria mau presságio alguém mais beber da mesma bebida. PUBERDADE DE RAPAZES CHIMBAS E KUVALESPara os rapazes Chimbas e Kuvales – ambos sub-clãs dos Chavíkuas – a puberdade não se limita à circuncisão.Após o ritual da circuncisão eles continuam ostentando a única trança que caracteriza a infância.Esta trança só é desmanchada por uma das tias, junto ao altar da família – Oku Luo – fazendo em seguida as duas tranças do penteado adulto.Acabado o aranjo do penteado, o pai vem para junto do filho, unta-lhe o cabelo com uma pasta de gordura animal, excrementos de gado bovino e takula, pronunciando de forma articulada e distintamente uma única frase:- Meu filho já é homem, já pode ter mulher!Só a partir deste pequeno ritual familiar, é que o rapaz passa a ser considerado homem.O LEMBAMENTO ENTRE OS BANTUSO Lembamento, ao contrário do que as pessoas de cultura ocidental pensam, quando tomam conhecimento desse costume, não é uma compra que o futuro genro faz ao sogro, mas sim uma oferta valiosa, como prova da estima que o rapaz tem pela moça com quem pretende se casar.Uns quatro séculos recuados no tempo encontra-se um costume um pouco alterado; os Bantus, tinham então como costume, só casar uma moça com um rapaz que tivesse uma irmã, para casar com o irmão da moça; este costuma, aparentemente estranho, tinha como objetivo evitar que uma moça, entrando numa nova família, fosse por ela maltratada ou menosprezada. Qualquer coisa como “não faça à minha filha o que não gostaria que eu fizesse à sua”.Diz a lenda que um grande Soba – chefe – não teve filhas, e sim três filhos varões. Quando o mais velho dos três – M’Baxi N’Gonga – chegou à idade de casar, não conseguiu arranjar noiva, pois todos os possíveis sogros o recusavam alegando não ter ele uma irmã para dar em troca.O rapaz, desgostoso, falou do problema ao pai e ao conselho de secúlos – velhos -- que reuniram para descobrir uma solução para tão complexo problema.Ao fim de uma série de deliberações, decidiu-se pelo fim desse costume, mas ficou decidido também que, qualquer indivíduo que quisesse casar, teria que dar ao pai da futura esposa uma prova concreta do quanto estimava a moça, e até que ponto estava resolvido a sacrificar-se por ela.Por isso, todos os rapazes passaram a oferecer aos pais da pretendida algo do que melhor tivessem e estimassem; inclusive trabalho.Esta é a verdadeira razão do lembamento, não uma simples permuta comercial.O HUNDE ENTRE OS BANTUOutro costume curioso entre os povos de origem Bantu, é o Hunde; consiste em casar-se um indivíduo com a viúva do irmão, caso não haja filhos dela do primeiro matrimônioO primeiro filho deste segundo matrimônio recebe o nome do tio que morreu, dando assim continuidade à existência.OLUJI VÁTWA OU CERIMONIAL PRÉ-NUBENTE DE VIÚVOSAo contrário do que acontece entre muitas outras tribos, entre os Vátwas, qualquer viúvo ou viúva pode voltar a contrair matrimônio, desde que se submete ao ritual OLUJI.Manda a etiqueta que os viúvos só demonstrem vontade de voltar a casar, passado um período de luto protocolar.Findo este prazo, os candidatos a nubentes vão apresentar-se ao feiticeiro, revelando suas intenções. O feiticeiro acede então a fazer, mediante pagamento, ao viúvo ou viúva, o Oluji, pois acreditam que a omissão deste estranho ritual, tem como conseqüência nova viuvez em pouco tempo.O ritual em si comporta duas partes distintas:A primeira parte consiste numa lavagem que o feiticeiro faz ao viúvo ou viúva. Esta lavagem, que é feita num ponto específico do rio, tem como objetivo principal remover as cinzas de luto da cabeça do conjugue sobrevivente, e no caso de ser uma mulher, modificar-lhe o penteado, de acordo com a sua nova disponibilidade.A segunda parte, ou o Oluji propriamente dito, consiste na realização de um ato sexual, em que o sexo oposto é moldado em argila.Esta segunda parte tem lugar num canto escondido da mata, e sob a orientação do feiticeiro que, mal termina o ato, molda com a argila usada, uma bola, que vai enterrar num buraco por ele cavado, em lugar que mais ninguém conheça.Se por acidente algum estranho encontrar a bola de argila, quebra todo o efeito do ritual, que terá que ser repetido.Cumpridas estas formalidades, o matrimônio processa-se como qualquer outro, dentro das normas estabelecidas.GENERALIDADES SOBRE AS RELIGIÕES DOS POVOS DE ANGOLAPodemos definir como religião as práticas de fé, pelas quais o ser humano reconhece a existência de poderes extra terrenos, aos quais está ligada a sua vida, o seu ser, tanto na vida terrena como para além dela.Os povos da linha étnica KöiSan, essencialmente animistas, cultuam as forças da natureza e os elementos naturais como dádivas e partes dos seres desencarnados. Na sua vida nômade não têm muitas condições para construções de altares, ou escolha especial de lugares para cultos religiosos.São pragmáticos quanto às forças que cultuam; se o tempo está bom e lhes torna a vida fácil, está tudo bem. Se tempestades ou qualquer outra força da natureza lhes dificulta a vida, é porque as entidades estão descontentes, e é hora de serem cultuadas, agradadas.Temem as trovoadas, raios e ventos violentos que causem tempestades de areia, que consideram como entidades repressoras.Agradecem de forma mística à vida, aos animais e plantas de que se alimentam, à chuva, aos cursos de rio, ao bom tempo e cultuam constantemente o fogo.Sentem-se irmanados com todos os seres vivos, e respeitam a vida ao ponto de se desculparem com os animais que matam para alimentação.Os povos de origem Bantu cultuam os espíritos, são politeístas, animistas e feiticistas. Profundamente místicos e presos a temores mais supersticiosos do que religiosos, acham que os espíritos têm intervenção direta na vida dos homens, tanto para o bem quanto para o mal. A luta dos espíritos é constante. A luta dos espíritos é constante, para qualquer das fileiras, na tentativa de um resultado final favorável.Povos de origem Nilótica que são, talvez haja ainda um indelével resquício da influência Romana na região, e sua mitologia, em que os deuses no Olimpo manipulavam a vida dos homens de acordo com as suas preferências e simpatias.Os óbitos e velórios são acompanhados de cantos e danças, que têm como finalidade deixar a alma do defunto satisfeita, afastando dela a depressão pelo fato de ter desencarnado, e com isso ter mais sossego para encontrar os novos caminhos que vai ter que trilhar.Acreditam que os espíritos, percebendo que as pessoas estão tristes com pela sua partida, terão dificuldade de afastar-se da vida material, ficando assim numa situação indefinida e neutra, vivendo ao nível dos mortais, sendo espíritos, o que os tornará revoltados e os fará interferir de forma negativa na vida das pessoas; são os chamados Kazumbis.A tristeza pela morte de alguém, no entanto existe, e é visível nas lágrimas que escorrem pelos rostos em cantoria.O canto tem também a finalidade de agradar os espíritos em volta, para que se acalmem e afastem, sem levar mais ninguém.Os óbitos festejados, sempre foram motivo de incompreensão por parte dos colonizadores, raramente preocupados em entender a razão do ritual.KIMBUNDOS – RELIGIÃOOs Kimbundos, politeístas como a maioria das tribos africanas, têm duas entidades soberanas, várias entidades intermediárias ou semideuses e algumas entidades ajudantes ou de terceira categoria.I – ENTIDADES SOBERANAS:I.1 – N’ZAMBI. É o criador, representa o bem, e não interfere diretamente nos destinos dos humanos. Paira em todos os lugares e só é evocado em última instância. Também é conhecido por Kalunga.I.2 – KANLUNGANGOMBE. É o ente das profundezas, da escuridão, que tira a vida, julga e pune os espíritos dos mortos.II – ENTIDADES INTERMEDIÁRIAS: II. 1 – MIONDONAS. São espíritos tutelares e nascem com as pessoas, transmitidos por via paterna; é o equivalente aos anjos da guarda da religião Cristã. Defendem as pessoas do mal, lutando até com outros espíritos movidos pelo feitiço.Quando a pessoa tem uma vontade irresistível de comer alguma coisa, é o Miondona que está com vontade, por ter sido aliciado por outros espíritos, com iguarias. Por isso, as vontades devem ser satisfeitas, para que o Miondona não se distraia na sua missão de defesa da pessoa.II. 2 – KALUNDUS. São espíritos evoluídos, de alta posição hierárquica> São espíritos de pessoas que já viveram, e têm por isso uma mais lúcida compreensão dos problemas e carências terrenas. Podem ser protetores, justiceiros ou curandeiros; são tolerantes, e também nascem com as pessoas, por herança materna.II. 3 – KAZUMBIS. São espíritos de pessoas de vida terrena recente, mas não são evoluídos. São intolerantes, maus, vingativos e interferem na vida das pessoas de forma negativa, para prejudicar.II. 4 – MALUNGAS. São espíritos afáveis de origem branca, tanto masculinos como femininos. Não se revelam facilmente, apenas incorporam médiuns e somente em santuário – DILOMBE.II. 5 – KITUTAS. São seres espirituais terrenos, vivem nas matas, rios e rochas. São oriundos de pessoas com anormalidades físicas. São maus, vingativos, e terríveis nas suas maquinações para prejudicar. Carentes, exigem atenção e cultos constantes.II. 6 – KIANDAS. São os espíritos das águas, tanto do mar como dos rios, lagos ou qualquer outro lugar onde haja um pouco de água. São de todas as raças e tanto masculinos como femininos. Espíritos brincalhões aparecem às pessoas em forma humana e sedutora. Levando avante suas brincadeira, muitas vezes acabam prejudicando, mas essencialmente não têm esse intuito.III – ENTIDADES DE TERCEIRA CATEGORIA:III. 1 – ZUMBI ou N’DELE. Espíritos de pessoas falecidas ainda há pouco tempo, e, portanto confusos na nova condição.III. 2 – KILULO. São as almas penadas, que vagueiam por muito tempo, para expiação das culpas terrenas.III. 3 – MUCULO. Espíritos recém desencarnados, de natureza brincalhona. Manifestam-se espontaneamente incorporando médiuns sem serem convocados, e nas situações menos propícias, confundindo assim as pessoas.III.4 – XI-NI-MAYO. Assim são designados de uma forma geral os espíritos das profundezas. Para que determinados rituais possam surtir efeito, deve-se derramar no chão pequenas quantidades de bebida, para lhes agradar. SACERDOTESI) KIMBANDA. Adivinho, curandeiro, é também o exorcista. Trata as doenças diagnosticando-as por adivinhação, debela azares e maus fluidos, harmoniza ou não casais, é conhecedor de ervas e misturas medicinais e poções amorosas, e pode até matar, nas cerimônias que preside.Tornam-se Kimbandas por inspiração dos espíritos tutelares. Enquanto aprendizes são designados pelo nome KABANDA, e acompanham o seu mestre em todos os seus passos, até que este os considere preparados.A dedicação dos Kimbandas ao sacerdócio é total, impedindo-os até de terem família, mas não são obrigados à castidade. De uma maneira geral, são venais e vingativos.II) KILAMBA. É o sacerdote que preside os ritos dos espíritos da água. Os Kilambas já nasceram com o dom de se comunicar com esses espíritos.Cuidam de casos como tempestades no mar, acalmando-o, inundações, estiagens e pedindo chuva, quando necessário.Dominam também alguns tipos de animais e pragas, podendo afasta-los quando essa presença é prejudicial.A predestinação dos Kilambas é caracterizada por algum tipo de deficiência física. Nos rituais os Kilambas fazem oferendas de comida e bebida às entidades, numa pedra, sobre um pano limpo, perto do local onde a entidade a ser agradada vive.III) MULÔSI. É o sacerdote que só se dedica a praticar o mal; o feiticeiro, o bruxo.A sua prática se designa como UANGA. Adquire-se o dom por espontânea vontade, e a iniciação dá-se por enfeitiçamento de um parente íntimo – pai, mãe, irmão, irmã, filho ou filha.Na fase de aprendizado têm o nome de MAKASSO. O poder do mal do feiticeiro, reside no pensamento, na força mental dirigida para o mal; ele permanece fechado na sua cubata, agitando uma vareta, ao som de cujo zumbido vai desejando e evocando o mal. O mal vai com o vento, pelos ares, e chama-se BUNGULAMENTO.IV) MÙKUA – BAMBA. Múkua – bamba é o homem do chicote, é o fiscal dos feiticeiros, que os preside, fiscaliza e pune. ´logicamente mais poderoso que os outros feiticeiros.O poder lhes é conferido pelo Kimbanda, após lhe ter sido revelado em sonho. Caça feiticeiros, usando um bastão na mão direita e duas pedras esféricas, uma na mão direita e outra embaixo da língua.Quando as vibrações das duas pedras lhe indicam estar na presença de um feiticeiro – camuflado, não oficial – toca-o com o bastão, imobilizando-o em pedra. Depois disso denuncia a pessoa à tribo.São normalmente venais, podendo ser subornados com bens materiais –gado—para não denunciarem uma determinada pessoa.Na presença de qualquer catástrofe ou acontecimento prejudicial para a tribo, de qualquer evento cuja culpa possa ser atribuída a um feiticeiro não oficial, não se coíbe de ameaçar de denúncia os elementos de maiores posses da tribo. ELEMENTOS GERAIS RELATIVOS À RELIGIÃO1) O ritual de evocação dos espíritos chama-se DISSEKUELA.2) O terreiro onde se efetuam os rituais religiosos, chama-se DIKANGA-dos-KALUNDUS.3) O médium é chamado de XINGUILADOR ou DUMBE.4) A incorporação de um espírito, é chamada de PELO.5) O lugar onde os sacerdotes se reúnem, é o DILOMBE.6) Para que um rito decorra sem perturbações sobrenaturais, inicia-se com sinalizações no solo do lugar. São usadas para isso, quatro substâncias:a) PEMBA. Calcário tipo Gesso ou Caulim; atrai a graça dos espíritos. Com a PEMBA é traçada uma linha vertical. A PEMBA é o purificador, e afasta os maus espíritos, soprando-se um pouco para o ar, ou na direção de alguém.b) UCUSSO. Ocre vermelho que também atrai as boas graças dos espíritos, e com ele são traçadas linhas horizontais.c) UNDO. Ocre escuro, também do agrado dos espíritos.d) ULOMBO. É um pó preto, que tem o mesmo efeito sobre os espíritos. 7) Para a segurança dos rituais, usam-se dois símbolos místicos a que dão o nome de XICOS. O primeiro à entrada do terreiro, é feito com Pemba e Ucusso, onde se derramam nove doses de Kioto ou Marufo – bebidas fermentadas, com razoável graduação alcoólica –simultaneamente à evocação dos espíritos bons; o segundo, de desenho igual, também com Pemba e Ucusso, é feito no centro do terreiro e no meio dele, é quebrado um ovo.ADIVINHAÇÃOExistem inúmeros sistemas ou métodos usados para a adivinhação, bem como inúmeros são os acessórios de que se valem os feiticeiros no exercício da sua atividade.Comumente, o destino dos suspeitos de culpa de um determinado acontecimento – que pode ser inclusive um fenômeno natural, como falta de ou excesso de chuva – é selado de acordo com a atitude de determinados objetos, perante certas circunstâncias; por exemplo, uma pena de ave à qual se chegue uma chama, e que queima ou simplesmente retorce pelo calor. De acordo com o que acontecer com a pena, é declarada a culpa ou inocência do acusado.É aqui que entra a corrupção dos feiticeiros.Primeiro, declarando culpado, um desafeto, por pura vingança, ou um homem de vastos bens; segundo, regulando a aproximação da pena à chama, de acordo com o que quer que a ela aconteça.O acusado que tem bens, tão logo saiba da sua condição de suspeito, começa a enviar pessoas da família e amigos, para falar com o feiticeiro e entabular negociações.Quando as oferendas atingem o valor esperado, é marcada a prova da pena que irá dirimir qualquer dúvida.O dado curioso é quando após a prova definitiva, o resultado é contrário ao anteriormente combinado com o feiticeiro – e pelo qual o feiticeiro haja recebido pagamento; é colocada uma ação no tribunal tribal, onde a história é contada em todos os pormenores, indenizações são pedidas e as partes são ouvidas, mas, seja qual for o resultado da contenda, o feiticeiro não perde credibilidade nem prestígio, nem tem jamais os seus poderes contestados.Quando o assunto é mais sério, e o ritual exige mais efeitos plásticos e coreográficos, a adivinhação é feita pelos objetos da CABAÇA.Todos os feiticeiros e adivinhos têm uma Cabaça, relativamente pequena, cheia de pequenos objetos: dentes de animais, pequenos ossos, pedaços de madeira, pequenas esculturas em madeira também, pedras coloridas, sementes e ervas, da qual se servem no trabalho de adivinhação.O feiticeiro manda reunir o povo da sanzala, homens de um lado de terreiro e mulheres e crianças do outro, e ao som dos N’gomas – pequenos tamboretes –Fazem a entrada espetacular após um tempo de espera que aumente a apreensão de todos.Ao tórrido sol africano, a imobilização e desconforto acabam amolecendo os corpos, e conseqüentemente os espíritos.Mas o feiticeiro entra de forma espetacular, paramentado com todos os assustadores atavios da sua indumentária, e faz calar o batuque.No centro do terreiro, gesticula e executa uma dança vibrante, estende a pele de um animal – geralmente antílope de pequeno porte – e evoca os espíritos; em seguida sacode a cabaça, evoca mais uma vez a ajuda espiritual e espalha os objetos na pele estendida.Ajoelha-se então junto da pele, estuda e interpreta a mensagem dos objetos, levanta-se, fita um a um os presentes de forma alarmante, e, quando sente que a tenção e o medo atingiram o ponto culminante, teatralmente aponta e declina o nome do culpado.Se a acusação não for aceite em primeira instância, se contestada, marca-se então a prova do MUAJE, que irá em definitivo corroborar ou não a acusação.O MUAJE é uma prova em que o acusado ingere, na presença de toda a tribo, um veneno preparado pelo feiticeiro. Dá-se de novo o ciclo de negociações e subornos.Se o acusado ao tomar o veneno morrer, fica claro que a acusação procedia; se o organismo rejeitar o veneno pelo vômito, fica evidenciada a inocência. Feiticeiro, hábil alquimista no preparo de poções e venenos, ministrará – consoante a sua vontade e as oferendas recebidas no período que antecede a prova – o veneno em quantidade suficiente para ser letal, ou em grande quantidade, de maneira a haver rejeição orgânica, o acusado o vomite e sobreviva, provando a sua inocência. MANHINGA HAPI – SANGUE MAU - BALUBAOs Balubas usam muito as sangrias nos métodos de cura. Para dores reumáticas, dores indefinidas, inchaços e cansaços em geral.O ritual é efetuado por um Kimbanda que, após uma infinidade de pequenas incisões no corpo do paciente, executa uma dança evocando os espíritos, completando com isso o tratamento.A explicação para esses males curados por sangrias é a de que o paciente, inadvertidamente haja pisado um túmulo, cujo ocupante, irritado pelo desrespeito, em vingança, envenene o sangue da pessoa.Os cortes permitirão a saída do sangue, e a evocação dos espíritos pela dança, fará com que só saia o sangue envenenado. UANGA – FEITIÇO -- TCHOKWÉA TRIBO Tchokwé ou Kiôko é das que mais se utiliza de ícones nas suas superstições religiosas. Não há acontecimento de sorte que não dê origem a uma estatueta a acrescentar à coleção.É comum ver-se gestantes portando em volta do ventre um cordão do qual pende uma porção de objetos e imagens, cada qual com a sua função: para definir o sexo do feto, uma figura de pássaro para que venha a ter a agilidade e leveza das aves, uma de cachorro, para que a fidelidade e dedicação à família sejam caninas, e de um leão para a coragem e por aí vai.A imagem mais impressionante, entre as veneradas por essa tribo do nordeste de Angola, a KUBA-WAVULA. É o feitiço das mortes e incêndios, e que só acontece nas noites de chuva – Wavula – no momento do relâmpago – KUBA.É representado por um boneco disforme, com lascas de madeira aguçadas ouriçando o corpo, e com uma boca delineada por dentes humanos.Às portas dos mussôcos, vêem-se também ícones em forma de animais, que representam a MAHAMBA, espíritos encarregados por N’Zambi de se ocuparem dos assuntos terrenos, e a quem periodicamente vão prestar contas do que se passa na terra.Os povos de cultura negra levam a crença nas suas entidades, ao ponto de dificilmente contestarem uma acusação, por grave que seja, por parte do feiticeiro.Se em consciência nada fizeram para merecer a acusação, então a culpa só pode ser do seu espírito – Kazumbi – e deve submeter-se às sanções, para que o povo se veja livre dos malefícios que, embora involuntariamente, está trazendo.Submetem-se às decisões do feiticeiro com toda a resignação e estoicismo, e raramente lhes passa pela cabeça a contestação.Há registros diversos por parte das autoridades do tempo colonial, de tentativa de interferência inócua por parte destas, nos assuntos religiosos tribais.Uma delas foi registrada por um Chefe de Posto da CAMEIA, que tendo conhecimento de que duas mulheres eram acusadas de serem feiticeiras, procurou-as e encontrou-as caminhando voluntariamente para o Kimbo, onde muito provavelmente seriam executadas.Tentou convence-las a não irem, no que não foi bem sucedido; elas confirmaram que tinham sabido da acusação, e estavam indo de livre e espontânea vontade para se submeter ao julgamento pelo feiticeiro e, se fosse o caso, ao castigo.Ante tal decisão, o chefe do posto prendeu-as, para as livrar da provável morte, mas não adiantou, as duas fugiram e foram para a Sanzala. Tempos depois, o chefe do posto soube que as duas haviam sido executadas. GENERALIDADES SOBRE A JUSTIÇA ENTRE OS POVOS DE ANGOLAOs Juízes de qualquer querela, são sempre os chefes e o conselho de secúlos -- Anciãos – da tribo, e os julgamentos se dão embaixo de uma MULEMBA – Fícus Psilopoga – considerada uma árvore sagrada, de vasta copa e ampla sombra. Sempre se encontra esse tipo de árvore perto da casa de um Soba.Os povos de Angola da linha étnica Bantu, têm um apurado senso de justiça, e as causas chegam a durar gerações para se resolver – quando complicadas -- pois todas as partes são acuradamente escutadas, todas as testemunhas prestam seus depoimentos, e todos os elementos da tribo podem ir declarar o que quiseram acerca de qualquer das partes, mesmo que nada tenha a ver com o caso em questão – por exemplo se consideram que o acusado ou o autor são pessoas boas ou más, e porquê – desde que considerem relevante para o desenrolar do julgamento.A justiça é consuetudinária, de costumes, e ninguém se defende alegando desconhecimento.Questões que podem ser colocadas em julgamento?Perfídia – crime gravíssimo – divergência entre casais, dívidas negadas – que podem vir de gerações – estupro, injúrias, violências, ferimentos provocados – ainda que involuntariamente – e de uma maneira geral, o mal sem justificativa; maltratar um animal sem razão, tirar um fruto verde de uma árvore que não é comido por estar verde.Para se formar um tribunal e julgar uma causa, o queixoso apresenta-se ao Soba, dizendo das razões que o levam a clamar por justiça, e leva uns presentinhos, uns agrados.O Soba manda em seguida avisar a outra parte da acusação que lhe é feita.Reunidas as primeiras testemunhas – enquanto durar o julgamento podem aparecer outras – e quando o Soba decidir, tem início o julgamento.Na audiência as partes sentam-se em semi-círculo dos lados da comissão julgadora, e frente a frente. O chefe dá então a palavra ao queixoso e às testemunhas deste.A seguir fala o acusado apresentando as suas razões e defesa, e as testemunhas corroborando o seu ponto de vista.Depois de todos os participantes dos dois lados serem ouvidos, o conselho dos anciãos delibera e dá o parecer e o Soba dá a sentença.A seqüência não é rígida, porque, como já foi dito atrás, a qualquer tempo e em qualquer altura, pode aparecer alguém para prestar um depoimento que considere relevante para o caso. Por exemplo dizer que o acusado é uma excelente pessoa porque em determinada circunstância agiu de forma correta, ou corajosa, ou o ajudou. Este testemunho ´pe atentamente escutado e levado em consideração.Dada a sentença, o lado que vencer faz uma verdadeira festa, com cortejo de adeptos até à casa do derrotado, enquanto dançam, cantam e representam verdadeiras obscenidades e injúrias dirigidas à parte perdedora, numa euforia que pode durar dias.Os casos mais complicados e que saem desse âmbito, são entregues aos feiticeiros.Um exemplo de ENDAKA -- querela – relativamente freqüente, é quando uma mulher casada tem um filho que é comprovadamente de outro homem.Os povos africanos em geral – no seu estado de pureza cultural – não têm a noção ocidental de tempo e de distância; assim, o habitante de uma sanzala pode sair em digressão pelo mato, e demorar meses, anos até. Nesse espaço de tempo, as mulheres têm relações sexuais com outros homens, como por exemplo um visitante de uma outra aldeia que por ali se demore algum tempo; desse relacionamento pode advir uma gravidez!O marido entretanto chega e encontra a mulher grávida ou com um recém nascido nos braços, e aí surge a questão.Ele chega para assumir o seu lugar e tomar posse de tudo o que lhe pertence, o que por ninguém é contestado, seja qual for o tempo da ausência, mas, eventualmente, o homem que gerou o filho na mulher dele, pode ter a pretensão de reclamar a criança.É formado o tribunal com todas as argumentações de ambas as partes, mas invariavelmente a sentença é favorável ao marido, dentro da lógica de que, o outro plantou na terra alheia, e o fruto é por direito do dono da terra.Se por acaso um viajante se ausentar por um tempo tal, que leve as pessoas a acreditar que tenha morrido, e as mulheres voltarem a casar e ter filhos com o novo marido, ele retornando, toma posse e lhe é reconhecido esse direito; das mulheres, filhos e demais bens que haja deixado.São casos raros, mas quando acontecem, costumam dar origem a novas querelas, em relação à devolução dos bens dados pelo segundo marido como lembamento; uma das questões que podem levar gerações para solucionar, e para cujo ressarcimento, até o primeiro marido, o viajante e ausente, pode ser convocado.A morte de um queixoso ou de um reclamado, não dão fim à querela, esta continua, e as famílias respondem pelo morto.Casos interessantes são também os de devolução de uma esposa, por incapacidade de gerar filhos por exemplo.Um exemplo de uma pérola de jurisprudência, é a história de um súdito que foi à presença do Soba N’Ganga Kelly, que reinava na região de Kabatukila, explicar que a mulher por quem havia dado caro Lembamento, o havia abandonado e voltado para casa do pai, sem qualquer motivo. Pretendia assim que lhe fossem devolvidos os bens que dera, em sinal de apreço pela noiva.O pai da noiva defendeu-se confirmando que recebera os bens citados e os aceitara, pois até se juntar com o marido, a moça era digna do apreço demonstrado pelo noivo; depois de casada, se o marido não conseguia controlar a esposa, como poderia ele, que era apenas o pai, controla-la?N’Ganga Kelly, pensou um pouco e decidiu:Ele, como pai e vivendo tanto tempo com a filha, tinha por obrigação conhece-la, e assim saber que ela seria capaz de tal atitude; e nessas circunstâncias, nunca deveria ter exigido um Lembamento tão vultoso.Por ter procedido de má fé, obrigava-o a devolver ao marido, duas terças partes dos bens recebidos.Caso a filha voltasse ater um pretendente para casar, ele deveria pedir como Lembamento, bens equivalentes a uma terça parte do anteriormente pedido, já que a filha não valia mais do que isso, e esse segundo Lembamento deveria ser integralmente entregue ao primeiro marido. SÍMBOLOS DE PODER MANDO E FORÇASão variados os objetos e adornos que simbolizam poder, mando, força, casta, condição sócio econômica, tribo, etc...Abaixo relaciono os principais, com seus respectivos significados e explicações.PLUMAGENS: Penas de Faisão KOLONUY, de cor verde metálico, são exclusivas dos chefes, indicam além da casta elevada, poder e mando. Outros tipos de plumagens são funcionam como uma espécie de auto propaganda, indicando qualidades a que o usuário entende fazer jus.Penas de Gavião, Águia e aves de rapina em geral, indicam força e destreza. Penas de Galinha d’Angola – Capota – significam leveza e agilidade. De Panda indicam paciência e de Onduba – ave pequena – inocência.COCARES: Os cocares, com associação de penas de significado diverso e trabalhos de miçangas com desenhos característicos, são exclusivos dos chefes e seus parentes ou delegados.ADORNOS PEITORAIS E COLARES: Os povos de origem Bantu consideram o peito a parte nobre do corpo. Aí usam os símbolos de estirpe e sangue – linha matrilinear.Um dos adornos mais considerados é o ZIMBO, pequena concha univalve de molusco, cinza ou branca, de tal maneira apreciada, que já serviu de moeda de troca em transações comerciais. Em algumas tribos do nordeste de Angola, o ZIMBO ou CONUS, é emblema restrito aos chefes por linhagem de sangue.O valor do Zimbo como moeda era elevado. Um Zimbo valia, por exemplo, um escravo ou uma preza de elefante, e chegou a ser falsificado com barro cozido.A Lenda dos Zimbos, diz que um homem, de nome Katanda, conseguiu atingir a Lua subindo por andaimes de Bambu, e resolveu trazer a metade dela para a terra, mas no caminho de volta, a Lua foi-se multiplicando e encolhendo até virar uma porção – finita – de Zimbos.Para simbolizar força e coragem, são usados colares de dentes caninos e de prezas e unhas de felinos.PULSEIRAS: Entre as pulseiras, os LUKANOS, são o mais elevado símbolo de poder, passados para o descendente num aperto de mão; nunca ficam soltos, sem estar num braço. São pulseiras volumosas, pois têm grande quantidade de materiais na sua composição: - Tendões do pulso de chefes defuntos,- Tendões de animais, principalmente felinos – força e coragem,- Fibras ressequidas do órgão sexual masculino – virilidade, Com acúmulo e sobreposição de chefe para chefe.Os Lukanos congregam as condições de insígnia, de poder e de mando, além de diversas outras forças sobrenaturais.Os Lukanos são usados no pulso correspondente à linha ascendente a que pertencem:- No pulso esquerdo – KOKU DIÁ IMAMA – o braço da mãe, se são herdados do tio irmão da mãe, que é o mais comum.- No pulso direito – KOKU DIÁ UTATA – o braço do pai, se são herdados do pai.PELES E PANOS: As peles de animais usados no vestuário, cama, cadeira e TCHIOTA – cabana sem paredes, que é o lugar dos homens – têm sempre um significado que é ligado às qualidades do animal ; força, agilidade, coragem etc...Os panos de confecção nativa trazem invariavelmente os símbolos da tribo.CABO DE CAUDAS DE ANIMAL: Um cabo largo, feito com uma parte de um chifre de antílope, cheio de pequenos ossos, unhas e outros objetos considerados mágicos, revestido de contas e miçangas, com um feixe pelos de cauda de antílope numa das pontas.É uma insígnia de autoridade digna dos chefes, com poderes mágicos que afastam temporais e limpam o ambiente de espíritos malignos.Só o chefe pode maneja-lo de forma eficiente; com qualquer outra pessoa pode ter o efeito contrário.Tem também o poder de atrair a sorte, pessoas e até objetos; pela vasta gama de poderes que tem, serve também de amuleto.BASTÕES E ESPADAS: Os Bastões dos Sobas, usados como símbolo de mando, são normalmente trabalhados com figuras alusivas à história da dinastia ou linha uterina. Não têm qualquer outro significado especial.As Espadas são de uso exclusivo dos chefes e simbolizam o direito de justiça, de vida e morte.Uma espada só deve ser desembainhada em caso extremo, porque não pode ser guardada de novo sem executar alguém ou sem que a ponta toque a terra.Quando desembainhada, as pessoas esperam que o Soba reflita um pouco e toque com a ponta dela o solo, para que possa ser guardada sem que tenha que haver mortes.É usada em casos de justiça imediata, ou por puro despotismo.JAVITE OU MACHADA : É uma machada trabalhada, e embora tenha uma parte perfurante e outra cortante, é um objeto meramente heráldico e que apenas simboliza comando. É portado à altura do peito.ESCUDO E LANÇA: O único lugar em Angola onde o escudo é usado junto com a lança é no Leste, entre os LUENAS, e mesmo assim por influência externa.A origem vem do tempo da guerra que os ZULUS – que usam esse equipamento – fizeram contra os BABEMBA, no nordeste do Zimbábwé. Os Zulus venceram essa guerra e deixaram uma fama de audácia e gênio militar tão grande, que impressionou tanto as populações, que passaram a adota-lo como símbolo de prestígio guerreiro.TAMBORES: Há tambores que servem unicamente para anunciar a chegada de chefes ou sacerdotes. O som que sai deles, simboliza poder.PLANTAS: As Mulembas – Fícus psilopoga – são árvores de realeza. Perto da casa de cada chefe se pode encontrar uma, e à sombra das suas folhas se reúnem as pessoas para meditar, julgar, deliberar ou simplesmente conversar. MÁSCARAS.Em todas as tribos de Angola, se encontra o uso de máscaras, embora se note maior freqüência entre os Tchokwé, Lundas, M’Bundos, Luxase, Luenas, Luimbes, Bângalas, Minungos, Xinges, Yacas, Jagas, Kicongos, Kimbundos, Ganguelas; na região do Kubango, Kunene, Kuamatwis e Mukubais.Com relação a materiais empregados e processos de manufatura, podemos dividir as máscaras em três gêneros:1) MÁSCARAS DE FIBRA ENCORDOADA. São máscaras mais rígidas, fabricadas de entrançados ou encordoados de fibras vegetais, pouco detalhadas e de confecção de negligente acabamento.2) MÁSCARAS DE ENTRECASCAS DE MADEIRA E RESINAS. São máscaras em que a resina é aplicada e moldada a ferro quente, sobre as entrecascas, representando um trabalho mais elaborado que as anteriores, mas de acabamento ainda bastante rústico.3) MÁSCARAS DE MADEIRA ENTALHADA. São verdadeiras esculturas, em alguns casos atingindo um aprimoramento de detalhes e acabamento, muito bom.SIGNIFICADOS: São usadas apenas por homens que já tenham passado pelo ritual da circuncisão, adultos; para as mulheres e rapazes pré-circuncidados, as máscaras são seres de origem sobrenatural. O segredo só é revelado aos rapazes, durante a Mukanda.Os significados das máscaras – em parte ou em conjunto com o resto da indumentária do mascarado – pela sua expressão facial, admoestam, denunciam, ironizam, exorcizam, curam, castigam, afastam pragas e tempestades, provocam chuvas, fertilizam terras e seres vivos, desviam influências negativas de forças ocultas, espíritos e feitiços.Encontram-se máscaras representando espíritos de guia de chefes já falecidos, que significam como que renascimento e continuidade da vida terrena para essas pessoas.Em todos os rituais de imolação é indispensável o uso das máscaras.CRENÇAS E SUPERSTIÇÕES: A principal crença e superstição em relação às máscaras, é que o espírito do dançarino não larga a máscara após a morte deste.Assim, ninguém usa a máscara de terceiros, para que o espírito que nela vive não se apodere do corpo da pessoa que a usou.FUNÇÃO SOCIAL: A função social da máscara é de grande amplitude; as máscaras acompanham a estrutura da organização social do povo e têm papel importante na vigilância dos costumes e praxes sociais.São usadas como folclore, na religião, na magia, na justiça, fertilidade, vida ou morte.ORIGEM: A origem das máscaras, que na verdade representam sempre distorções da face humana, com o objetivo de assustar, criticar ou fazer rir, deve ter sido a própria face humana pintada.O passo seguinte na evolução imagina-se que tenha sido o uso de peles de animais com perfurações para os olhos e boca, mas também pintadas, passando às fibras vegetais, entrecasca de árvores com resinas, para finalmente chegar à madeira entalhada.DA CORALINA AO ANGOLAR, OBJETOS E PRODUTOS QUE SERVIRAM DE MOEDA DE TROCA EM ANGOLA.Antes de circular moeda em Angola, o sistema pelo qual os povos comercializavam os seus produtos, era o de permuta por outros produtos. Com o tempo, foram observando que sobre determinados produtos e objetos, convergia a preferência dos mercadores, e assim, esses objetos e produtos começaram a ser utilizados como base de permuta, tal como hoje se utiliza a moeda, com um valor pré determinado.A ordem de preferência, era inicialmente para os produtos que pudessem servir de adorno, seguindo-se os produtos de necessidade, e por fim os produtos úteis.A despeito de todos os esforços de Salvador Correia, a moeda cunhada só apareceu em Angola por volta do ano de 1864, pois até essa altura, o Governo de Portugal, considerava que a circulação de moeda era um sinal de soberania, o que nas colônias era completamente inadmissível.O primeiro objeto que se supõe tenha sido utilizado como moeda em permutas comerciais, foi a CORALINA, pedra semipreciosa, de cor castanho avermelhado, clara, e que valia consoante o tamanho.Em seguida terão aparecido os ZIMBOS e CAURIS, conchas de moluscos – búzios – que foram muito apreciados como adorno.De tal maneira apreciados, que em algumas regiões do interior viraram símbolos de nobreza, e o seu uso só era permitido aos chefes e respectivas famílias; e um CAURI, valia um boi.OS ZIMBOS: São pequenos, aproximadamente um centímetro de comprimento, e conhecem-se três tipos. Branco acinzentado, com listas e com pintas. Dois Zimbos valiam um escravo ou uma preza de elefante.OS CAURIS: De formato idêntico ao dos Zimbos, porém maiores, com cerca de três centímetros de comprimento; o uso dos Cauris generalizou-se por volta do século XVI, tento tido origem na ilha de Luanda, onde os pescadores os apanhavam na maré baixa das noites de Lua Cheia. São de um branco polido, envernizado natural, e algumas tribos africanas atribuem-lhes poderes mágicos.Outro produto que na mesma época teve grande importância nas permutas foi o SAL.Provinha essencialmente das minas de N’Goma, na Kissama, de onde era extraído a escopro e facão, e moldado em barras de um palmo por uma mão de largura, de onde eram então transportados às costas até ao Rio Kuanza, por onde iam para o interior.OS OBJETOS DE COBRE: De adorno, de defesa ou de utilidade agrícola, tiveram também a sua época de preponderância, mas o objeto que mais se destacou, foi sem dúvida nenhuma a CRUZETA; era uma peça em forma de X, com cerca de trinta centímetros de largura, feita em cobre puro martelado, e com uma nervura em uma das faces, o que lhe dava autenticidade.Supõe-se que a peça tenha aparecido por volta do século XVII na região da LUNDA.Os Tchokwé são exímios na arte siderúrgica -- usam uns fornos que simulam a mulher no momento do parto -- e no vizinho Zaire, tem o mundo o maior produtor deste metal.Como curiosidade, os Tchokwé, além de darem ao forno a forma de uma mulher na hora do parto, chamam o metal fundido de NANA, criança, e o carvão de Zingwé, placenta.Uma Cruzeta tinha o valor de dois porcos ou um boi.Em Kassange, Tchokwé, Lundas e Lubas, trocavam Cruzetas por miçangas e coral vermelho.No século XIX começaram a desaparecer as Cruzetas, pois os indígenas preferiam deixar de as fundir, a revelar o lugar de onde extraíam o metal.OS PANOS: Fabricados à base de fibra de palmeiras, em forma de quadrado, com cerca de setenta centímetros de lado, tiveram também bastante procura. Vinham principalmente do Congo e do Lubango.AS MIÇANGAS: Como objetos de adorno que eram, tiveram também muita aceitação. As preferidas eram as TUKETES, pequenos cilindros de madeira, pintados de vermelho, branco e preto. Apareceram depois as mais variadas miçangas, dos mais variados tipos, cores e materiais; o valor delas variava também.Na foz do Rio Cuvo, por exemplo, uma vaca era trocada por quinze contas grandes; seis ovos valiam trinta contas Olho de Rola, uma galinha valia doze contas Apipadas, etc...OS ESCRAVOS: Que desde sempre existiram, só começaram a servir de moeda com o aparecimento dos navegadores Portugueses. No século XVI, um negro normal, de cerca de trinta anos, valia aproximadamente 22$000 ( Vinte e Dois Mil Reis ); no século XVII, os que iam para as minas e seringais do Brasil, valiam cerca de 360$000 ( Trezentos e Sessenta Mil Reis ). A escravatura chegou a ser a maior fonte de renda do estado.O MARFIM: Foi numa certa época, a principal fonte de receita para o exterior, e tinha o seu centro de comércio na cidade de São Philipe de Benguela. Em 1790, o marfim valia entre 100 e 200 Reis por Libra. Uma preza que pesasse noventa Libras, podia ser trocada por quarenta e cinco escravos ou 5.000 búzios.A caça ao elefante tomou tais proporções, que Capelo e Ivans, em 1886, vaticinaram a sua extinção.OS LIBONGOS: Eram outra espécie de pano, de tal maneira aceite como moeda corrente, que por fins da ocupação Holandesa, cerca de 1649, não se sentia a necessidade da introdução de moeda cunhada.Em 1694, D Pedro II e D.João V, mandaram para Angola moedas de 5, 10 e 20 Reis; D. João I acrescentou a estas, a moeda de 40 Reis.Dez anos depois, D.José mandou cunhar em prata e cobre, a primeira moeda de Angola, a MACUTA.Em 1910, depois de implantada a República em Portugal, a unidade monetária Real perdeu grande parte do valor; mudou-se então o sistema monetário, e foi cunhado o Escudo.Em Outubro de 1911, tornou-se extensivo às colônias.Em 1º de Junho de 1928, é posto em circulação em Angola, o ANGOLAR, cujo valor intrínseco era o do Escudo, mas de uso exclusivo em Angola.Anos mais tarde é abolido o Angolar e cunhada nova moeda, o Escudo, mas também de uso exclusivo em Angola.Faltou mencionar, por uso menos expressivo, muitos outros produtos que serviram como base de permutas, tais como as peles de animais, o mel, a cera, conchas de todos os tipos, pedras coloridas.E faltou também falar sobre MEDIDAS. Os funantes ao iniciarem em Angola o comércio de fazendas, introduziram diversos tipos de medida: a GARRADA, conteúdo de líquido equivalente a dois litros e meio, o PANO, de setenta por setenta centímetros, o CORTADO, número de panos suficiente para vestir um indivíduo, a PEÇA, porção de tecido que o tear produzia de uma vez, e a ESPINGARDA, arma de fogo rudimentar para caça. SISTEMAS DE CAÇABasicamente, os povos de Angola usam dois tipos de sistemas para caçar: por armadilhas e com armas.Há inúmeras armadilhas, adaptadas e específicas para cada tipo de caça que se pretende capturar. Gaiolas de gravetos ou caniços, ou diversos tipos de visgo -- cola com base em resinas -- para as aves. Redes suspensas para animais pequenos, que são perseguidos por cães e homens em direção às armadilhas, laços armados em troncos flexíveis e resistentes, fazendo mola, para os animais de porte médio. Fossos, eventualmente com espetos no fundo, para felinos, búfalos e antílopes de grande porte. Esses fossos são camuflados por folhas e ramagens colocadas na trilha ou perto de uma isca viva -- no caso dos felinos -- cabrito, ou qualquer outro animal de criação que atraia o felino.No caso do uso de armas -- arco e flecha, zagaias, lanças e armas de fogo -- a caça pode ser individual ou em grupo.Na individual, o caçador, ciente de toda a técnica de rastreamento, posicionamento sempre contra o vento, camuflagem e mimetismo, persegue ou espera a caça em lugares estratégicos, como os bebedouros, onde os rastros e marcas no solo são um verdadeiro jornal de informação para o homem; escolhida a preza, caso não consiga abate-la na hora, tem início a perseguição.Caçar um animal de grande porte representa sempre prestígio, que será tão maior, quanto maior for a ferocidade do animal caçado.Alguns rapazes, após a circuncisão, desafiam frontalmente felinos -- leões e onças -- num combate corpo a corpo, para o qual é necessário além de grande destreza, uma imensa doze de coragem.Acontecem esses desafios, invariavelmente em bebedouros, em noites de Lua Nova; a total escuridão evita que o caçador seja visto antes do tempo.O caçador escolhe uma árvore, que esteja contra o vento e perto da água, de onde assiste, nas horas que antecedem o raiar do dia, às diversas manadas que vêm dessedentar-se, e espera a chegada de um leão solitário, ou de uma onça.A chegada do Leão ou da Onça, lhe é anunciada pelo tropel convulsivo dos animais no pânico da fuga, até que o gemido de um antílope retardatário ou distraído, e a agitação da luta vislumbrada aos primeiros e difusos raios do clarear, lhe indiquem estar na hora.Pula então da árvore, e lança em riste, se aproxima em desafio, da fera.A fera, frente a uma refeição suculenta e já assegurada, faz ainda uma tentativa de intimidação, para afastar o intruso, rosnando ameaçadora, para em seguida correr e pular sobre o homem.Este espera, lança apoiada no chão, que tenta apontar certeira ao coração do animal. É difícil o caçador sair incólume dessa aventura, mesmo quando a lança rasga o coração do bicho de primeira, este, no estertor da morte, sempre deixa o caçador com ferimentos, cujas cicatrizes serão exibidas como troféu, por toda a vida.O rapaz retorna à sanzala, com a pele e o coração -- que comerá -- tendões com que confeccionará adornos, e é recebido com honras de herói.A caça em grupo utiliza-se normalmente de uma equipe de batedores que, fazendo tanto barulho quanto possível, afugentem a caça direto para o grupo de caçadores; ou fazem a queimada de uma árvore em U, em cuja abertura contra o vento, esperam os animais em fuga desordenada pelo desespero e pavor.Após as caçadas em grupo, fazem-se sempre grandes festas, com batuque, em que a tradição oral fixa as aventuras dessa caçada, e relembra as de outras.Um outro tipo de caça em grupo, que exige imensa coragem, é a que fazem os pigmeus do Mayombe ao elefante.Cercam o animal, e depois vão atirando as suas lanças, que se espetam na pele dura a pouca profundidade, mas que lhe causam ferimentos que vão sangrando e minando-lhe as forças. O animal, enlouquecido pela dor, que vem de todas as direções, agita-se também em desespero, o que contribui para um mais rápido esgotamento físico. Nessa briga, não raro, vai pegando com a tromba um ou outro caçador, que lança esmagando contra o solo.Mas os caçadores não se atemorizam nem desistem, e quando o imenso bicho, por fim, esgotado cai, então é espetado como um agulheiro até à morte.Deve dizer-se que, apesar da crueldade da morte, nada é desperdiçado, o aproveitamento é total, da carne, que é posta a secar e que dura meses, aos ossos aproveitados para os mais diversos fins, pele, tudo terá a sua utilidade. E que também não é predatória, matam estritamente o necessário, escolhendo sempre que podem, até por razões óbvias, um animal já ferido por luta entre machos, na disputa de fêmeas ou de liderança.COSTUMES DIVERSOSKÖISAN OU MUKUANKALAS OU BOSQUÍMANOS – HOTENTOTES:Acredita-se que os povos desta linha étnica tenham uma remota origem caucasiana. Até cerca de cinco mil anos atrás, ocuparam todo o hemisfério sul do Continente Africano.Com a formação dos desertos do Norte de África, os Bantus, povos pastores oriundos das margens do Mar Vermelho, iniciaram movimentos migratórios para o sul, em busca de terras e pastagens.Melhor armados, mais belicosos e em maior número, foram combatendo e afugentando os Mukuankalas para as regiões pobres e desérticas do sul da África – Kalahári e Namíbia – onde se adaptaram e vivem até hoje.Têm características físicas e antropológicas que os diferem de todas as outras raças do mundo: Cor terrosa clara, olhos rasgados e oblíquos de oriental – que os protege da forte luminosidade do deserto – uma lordose lombar que dá origem a nádegas proeminentes – verdadeiros reservatórios de energia – as mulheres acumulam gordura nas nádegas e coxas, sendo, no entanto delgadas no resto do corpo.As pernas são desproporcionalmente compridas em relação ao tronco, pés bem largos e de dedos curtos, numa adaptação para as caminhadas pelas areias do deserto.A característica mais marcante ou curiosa é o “Pênis Rictus”, o pênis em constante semi-ereção, e de proporções consideradas pequenas, em comparação com a média dos homens de outras raças, que têm o “Pênis Pêndulos”.São povos nômades, de grupos familiares pequenos, nunca mais do que quarenta pessoas; uma família em que o chefe é sempre o mais velho dos homens.Não se conhece qualquer cerimônia para iniciação sexual ou casamento; o rapaz, após caçar o seu primeiro animal, oferece a pele à moça pretendida – que já tenha menstruado; se ela aceitar, está realizado o casamento.Caçam usando principalmente o arco e flecha, eventualmente a lança, e muito raramente armadilhas.Usam venenos paralisantes nas pontas das flechas e das lanças, arte que dominam, de que são grandes conhecedores, servindo-se de venenos de cobras, secreções de insetos e seivas vegetais.São exímios caçadores, talvez os melhores rastreadores do mundo, e com capacidade de mimetismo inacreditável; chegando a enterrar-se no solo, disfarçando o rosto com cascas vegetais, de tal maneira que se possa passar ao lado deles, sem que se perceba.Os homens se ocupam do fabrico de armas, caça e procura de água; as mulheres tecem cestos e tapetes rudimentares e fazem panelas e vasilhas de madeira, além da procura de tubérculos, répteis e larvas que são uma base alimentar.São conhecedores dos mistérios do deserto como nenhum outro povo. Sabem distinguir os indícios mínimos que indicam onde poderão, cavando, achar água minando, as plantas que mantêm reservatórios nas raízes em tubérculo, e, em última análise, se não conseguem achar água na região em que se encontram, capturam um babuíno pequeno, novo. É todo um processo interessantíssimo. Os babuínos são os únicos animais do deserto que detêm o conhecimento dos rios subterrâneos, e dos locais e épocas em que eles afloram, normalmente entre pedrais, segredo que guardam ciosamente de todos os outros animais. Os Mukuankalas então, sabendo-se observados por babuínos, escondem entre alguma fenda de pedras ou de árvores, alguns grãos ou planta comestível, e afastam-se, sem dar a parecer que se sabem observados. O babuíno novo – macaco velho não mete a mão em cumbuca, é um ditado verdadeiro -- quando sente que os homens estão distantes, vai lá, enfia a mão espalmada, segura os grãos, e não larga mais, deixando-se capturar. Os Mukuankalas prendem-no então a uma pedra, em lugar sem sombra, e alimentam-no de carne por um dia e uma noite, sem lhe dar água. No dia seguinte, libertam-no, e o símio, enlouquecido de sede, esquece toda a cautela e sigilo e vai direto para o afloramento de água, sem sequer se dar conta de que está sendo seguido pelos captores.Usam muito os ovos de avestruz, que além de lhes servir de alimento rico em proteínas, lhes servem também de reservatórios de água, que transportam ou enterram em lugares estratégicos de sua passagem na vida nômade, e dos quais nunca se esquecem. É incompreensível, como num lugar de configuração homogênea, de referências mutantes, como as dunas, conseguem lembrar-se anos depois, do lugar exato onde mantêm os ovos com água enterrados.As cascas dos ovos de avestruz que se quebram, são também aproveitadas, transformadas em contas que lhes servem de adorno.O alimento é sempre compartilhado por todo o grupo, mas o homem que mata a preza, é que destina para quem vai o couro.Cultuam as forças da natureza, e mostram grande consideração pela vida, por todos os seres vivos.Como manifestações artísticas, têm as pinturas rupestres, a dança e a mímica, que se manifesta principalmente em representações de cenas de caça.Estes povos sobrevivem ainda hoje fiéis à cultura primitiva, apesar da influência dos Bantus e dos brancos.A linguagem dos Mukuankalas se caracteriza pelos estalidos de língua, intermeando e acentuando as palavras, e por sons guturais.O termo Bosquímano vem da palavra bushman – homem dos bosques – nome dado pelos Boers da África do Sul; os Bantus deram a estes povos o nome de Mukuankalas, som que mais se parecia com o que eles fazem para se designar.Alguns grupos ou famílias findem e moldam ferro, e apresentam uma tendência sedentária, sendo obrigados ao nomadismo pela necessidade de novas pastagens, na região desértica em que vivem.É um povo afável e tímido. Por serem nômades, não têm muitas condições de se apegarem a sentimentalismos pouco práticos, e assim, quando algum elemento da família, por doença ou idade já não consegue acompanhar o ritmo de caminhada do resto do grupo, é deixado para trás, junto a um pedral ou. Arbusto que dê um pouco de sombra, com uma pequena reserva de água e comida, aguardando algum predador.Não enterram os mortos, não só por acreditarem que esse costume dificulta a saída do espírito, mas também porque, sendo nômades, não vêem necessidade nem há a capacidade prática, de sinalizar os lugares onde os mortos são sepultados para posteriores homenagens. Como se disse atrás, cultuam as forças da natureza e espíritos indefinidos, como o espírito da doença e do fogo. O espírito do fogo é o mais cultuado; onde quer que parem, acendem de imediato uma fogueira -- que mantêm alimentada pelo tempo que no lugar permanecerem. Para fazer fogo, usam ainda o método da fricção de duas madeiras de consistência diferentes, ou as pedras de sílex com folhagens e capim seco.O fogo representa para eles, além de uma eficaz defesa contra as feras, o único agente de calor nas noites frias do deserto.São muito perseguidos pelas outras tribos, e eventualmente capturados como escravos; se não são escravizados, têm pelo menos que pagar pesados tributos -- prezas de elefante, peles de animais etc... -- aos povos por cujas terras transitam no seu nomadismo. KUISSIS OU KUISIS:Vivem na faixa litorânea do norte de Moçâmedes, entre o mar e o deserto. São descendentes mestiços dos Mukuankalas e estão no mesmo estágio de evolução que eles; vivem da caça e coleta de frutos, raízes, mel e répteis.Para se alimentarem, não se coíbem de usar os restos dos festins de animais carnívoros.Quando dois animais machos lutam, disputando uma liderança ou uma fêmea, eles perseguem o derrotado -- enfraquecido por ferimentos e perda de sangue -- e quando o alcançam comem-no ali mesmo, e permanecem no lugar enquanto houver o que comer, ou enquanto não forem afastados por hienas, mabecos -- espécie de cachorro selvagem -- ou por abutres.MUKUÍSSES:Descendentes também dos Mukuankalas -- linha étnica Hotentote -- eram inicialmente sedentários, ocupando a área da Jamba até Moçâmedes, restringindo-se hoje às cercanias do Morro Maluco, perto da Huíla.Não belicosos, sempre foram perseguidos pelos outros povos, para serem utilizados como escravos; tornaram-se em conseqüência dessa perseguição, hábeis na fuga e na camuflagem.Como os seus perseguidores os tentam pegar normalmente à mão, para não os danificarem para o trabalho escravo, os Mukuísses untam o corpo com uma mistura à base de gordura animal, que os deixa escorregadios e lhes facilita se livrarem dos captores quando agarrados.KUROKAS:Os Ova-Kwanyoka são um povo pré-Bantu, e descendem também dos Mukuankalas, com características físicas e antropológicas similares, bem como a linguagem -- por estalidos de língua e sons guturais -- se bem que, em vez da cor terrosa, são negros.Habitam as margens do Rio Kuruka, perto da Baía dos Tigres -- assim chamada pela grande quantidade de tubarões Tigre que podem ser vistos nas suas águas -- e alimentam-se da caça, da pesca e dos frutos, legumes e tubérculos espontâneos.Padre Carlos Estermann, em “Etnografia do Sudoeste de Angola”, cita Duarte Pacheco e Pilarte da Silva, que concluem que os Kurokas são originários de uma mestiçagem de Mukuankalas com os Ova-Kuissis ou Kuissis.Kurokas, Kuissis e Mukuísses, são designados pelos povos de linhagem étnica Bantu, por Wá-Twa -- errantes -- os escravos os designam por -- Ova-Zolotwa -- errantes negros -- para os distinguir dos Mukuankalas.KAMUSSEKELES, OU MUSSEKELES/MUSSEKERES:São povos que vivem entre o Kubango e o Kuango -- rios do sul de Angola -- nas florestas que ficam perto das margens dos rios.São altos e fortes, com características físicas bem diferentes das dos Hotentotes, embora com os olhos em fenda e a cor terrosa. Atribui-se por isso a sua ascendência étnica, aos hotentotes.Alimentam-se da caça, raízes e mel . São lutadores e guerreiros tenazes e corajosos, se bem que desorganizados. São ótimos caçadores e perseguidores implacáveis da caça.LUXAZES:Os Luxazes habitam as margens do Rio Kuito, e podem ser considerados comerciantes, por excelência e vocação.Cultivam pouco, e vivem praticamente do comércio e permutas -- cera por sal e peixe seco com os Kimbundos; pederneira e ferro com os Tchokwé, que trabalham em machados, lanças, pontas de flecha, enxadas e facas, que permutam por cera, cânhamo e tabaco com os Bailundos.Foram os primeiros, entre os povos de Angola, a controlar o fogo. Usam isqueiros de pederneira e fuzil -- ferro forjado e temperado em água fria – com uma mecha de algodão embebida em óleo vegetal ou gordura animal.As mulheres, ao contrário da grande maioria das mulheres africanas, não transportam os filhos às costas, transportam-nos do lado, na ilharga; às costas transportam cestos com diversas coisas, presos por tiras de couro à testa.É um povo bonito e forte, com mulheres muito elegantes na postura de costas retas, vestes de cores alegres e homens de porte atlético.AMBWELAS:Os Ambuelas são um povo pacífico por índole, embora fortes e hábeis com armas; são bons e corajosos caçadores, mas não guerreiros.São povos que vivem em aglomerados numerosos, mas são muito fechados nos relacionamentos, evitando contato até com outras tribos da mesma linha étnica, o grupo dos Ganguelas.Habitam o sudoeste de Angola, na região denominada por “Terras do Fim do Mundo”, e o norte do Botzwanna, perto dos rios Kuango e Kubango.Pacifistas ao ponto de preferirem pagar vassalagem a tribos menos numerosas e que eles facilmente derrotariam em guerra, do que brigar pela hegemonia e independência. Ao contrário da maioria dos povos africanos, que apreciam e estimam o cachorro como companhia, os Ambwelas apreciam-no como alimento. A carne de cachorro é seguramente das que mais apreciam.São hábeis oleiros e tecelões de esteiras e fios de algodão -- fiam e tecem -- além de amplamente conhecidos também pela perfeição com que trabalham o ferro.MULONDOS:Dos Mulondos, cito dois costumes feiticistas, raramente encontrados em outros povos, até da mesma linha ou grupo étnico.São os OMUTEKELY e os MUNA-MANYA.Os Omutekely são feiticeiros especiais, que têm praticamente como única atividade encomendar – no sentido de pedir -- aos espíritos, a morte de alguém.É um ciclo vicioso de vingança e morte, que tem início quando morre uma pessoa inesperadamente e sem causa conhecida; a morte é então atribuída ao feitiço.Os parentes recorrem ao Omutekele, a quem pedem que descubra e revele o culpado.Após esta primeira etapa, e revelado o culpado, recorrem de novo, pedindo desta vez que esse culpado morra, vingando a morte anterior. Para o ritual, o feiticeiro mistura num chifre de antílope, a terra pisada pelo acusado, excrementos de vários animais e diversos tipos de objetos místicos, e coloca no topo, uma brasa incandescente.Em seguida inicia uma dança e canto espirituais, ao fim da qual indica a época em que a vingança se consumará. A entropia feiticista pode durar “Ad Infinitum”.Por Muna-Manya -- dono da pedra -- é conhecido entre os Mulondos, o dono da pedra de fazer chover. Qualquer indivíduo pode ter a faculdade de fazer precipitar a chuva, quando esta se faz necessária e tarda, desde que possua uma determinada pedra, com características muito especiais, e conheça os preceitos do ritual.Quando a chuva tarda e as culturas começam a ficar ameaçadas, o Soba chama um dos Muna-Manya -- é raro haver mais do que dois, em cada Sobado -- a fim de apressarem a precipitação pluviométrica.Para tanto, enquanto o Muna-Manya oferece libações, em postura humilde diante da pedra, o Soba, na companhia de uma moça pré-púbere, sopra com pequenos canudos uma cuia ritual cheia de água.Este poder, apesar de não ser restrito a qualquer classe hierárquica, é dos mais pretendidos e estimados, porque embora não confira autoridade, dá grande prestígio a quem o possui.GRUPO NHANEKA-HUMBE:Tanto entre os povos Nhaneka, quanto entre os Humbe, é levado a efeito sazonalmente a “Festa do Boi Sagrado”.É um ritual de premonição, em relação aos resultados da colheita vindoura.Um boi, malhado de preto e branco, é entregue pelo Soba aos cuidados de um Mene-Humbe -- grande pastor -- para que dele cuide até à época do ritual.Na época própria, o Mene-Humbe, seguido por um cortejo de que fazem parte praticamente todos os habitantes da sanzala onde mora o Soba, dirige-se com o boi à casa deste chefe, que dá ao boi, na palma da mão, um pó branco preparado com cascas de árvore -- Omu-Abugulu.Caso o boi não lamba o pó da mão do Soba, o presságio é negativo, o pastor responsabilizado e, dependendo do humor do Soba, pode até ser executado.No caso de lamber o pó, o presságio é positivo, anuncia boas colheitas, o que é amplamente aplaudido pela população de seguidores.Aí acontece uma festa apoteótica, em que a ordem de alegria geral é de tal maneira rigorosa que, enquanto a festa dure, estão vetados os cultos tristes.A festa termina com o início do cortejo “ONDYELY”, em que o boi percorre todas as terras do Sobado, para que agora, já considerado sagrado, possa ser saudado por todos.Outro costume curioso entre os Humbes, é quando uma moça pré-púbere engravida.Os contatos sexuais, como na maioria dos povos em Angola, são encarados de forma natural, e jamais coibidos.Qualquer garota, de qualquer idade, pode dormir com rapazes; o que não pode é engravidar.Na tentativa de evitar que isso aconteça, as mães instruem as filhas a amarrar bem o pano da tanga entre as pernas, ou a praticar o coito interrompido; desvelos maternos bem intencionados, mas pouco práticos e nem sempre eficazes.Quando acontece a gravidez indesejada a uma moça que ainda não tenha passado pelo ritual da puberdade, torna-se necessário que o feiticeiro a leve até à margem do Rio Kunene para um banho purificador, já que ela está conspurcada.Na margem do rio, a moça sobe num galho de árvore que esteja bem sobre a correnteza, e que é cortado pelo feiticeiro, precipitando a moça no caudal violento; normalmente os jacarés do Kunene são mais rápidos para chegar à moça, do que ela nadar até à margem.Uma das medidas práticas para evitar a gravidez das moças antes do ritual da puberdade é faze-las passar pelo ritual antes da puberdade fisiológica; o que por sua vez origina verem-se garotas com responsabilidades matrimoniais, em idade em que nas outras tribos apenas se ocupam com cantorias e brincadeiras infantis.Entretanto, após a puberdade ritual, os nascimentos são amplamente festejados, a menos que sejam gêmeos.O nascimento de gêmeos entre os Humbes, é sempre sinal de mau presságio, que só pode ser combatido por meio de uma série de rituais de contra efeito.Mal nascem os gêmeos, é chamado um Kimbanda para fazer a OKUTUNTHA, que consiste na lavagem da testa, nuca, cotovelos, joelhos e planta dos pés de toda a família.Em seguida constrói-se fora da sanzala uma cubata para onde mãe e filhos são levados, e onde ficarão de quarentena por um largo período, determinado pelo feiticeiro; durante esse tempo, a mãe tem o encargo de, além de cuidar dos filhos, tecer dois pequenos cestos, que mais tarde lhes servirão de pratos.No dia em que o feiticeiro der por findo o prazo de isolamento, vai logo de manhã avisar a mãe, e quando o sol estiver na vertical, o feiticeiro leva toda a família, pai, mãe e outros filhos além dos gêmeos, para uma clareira no meio do mato, onde o pai haja erguido um estrado.Lá chegados, o pai, a mãe e os gêmeos, sentam-se nus no estrado, para que possam ser lavados com um preparado especial. A lavagem segue uma determinada ordem: Primeiro a mãe, depois o gêmeo que primeiro tenha nascido, depois o pai, e por último o gêmeo que nasceu em segundo lugar.Só depois deste ritual é que as placentas podem ser enterradas, e a viad tomar um curso normal para a família.É de notar que, apesar de toda a necessidade de purificação que causa o nascimento de gêmeos, se forem trigêmeos não acontece nada, absolutamente nada, procede-se como se houvesse nascido um só bêbê. KWANKWAS:Os Kwankwas, tribo da linha étnica Humbe, acreditam que a prática da caça não pode ser exercida, sem que o caçador receba um espírito favorável.O ritual de iniciação de um caçador tem como único objetivo, facilitar ao espírito a entrada no corpo do candidato.O feiticeiro começa por fazer no corpo do futuro caçador, um desenho tracejado, usando para isso Takula ou Cinza; em seguida é sacrificado um animal com cujo sangue o feiticeiro complementa o desenho no corpo.Tudo isto acontece ao entardecer de um dia, marcado pelo feiticeiro, após o pretendente ter manifestado o desejo de se tornar desse modo, útil à tribo.Na noite que se segue ao entardecer da iniciação, faz-se a dança da caça, de que só tomam parte caçadores consagrados, e em que o iniciado se mantém todo o tempo sentado, com as armas sobre as pernas. Quando começa o amanhecer, pára a dança e começam os preparativos para a primeira caçada do iniciado.Limpam-no das cinzas e do sangue, e tendo como única indumentária um pano enrolado a tiracolo, o novato parte para a aventura.Caso seja bem sucedido, o primeiro pedaço de carne da peça abatida, é-lhe servido, e festeja-se a adesão do novo membro à classe; caso não tenha êxito, é porque os espíritos não estavam favoráveis, e o ritual terá que ser repetido passado um tempo.É um costume dos caçadores Kwankwas, construir um estrado perto da cubata em que mora, e onde serão colocadas para exibição, todas as cabeças dos animais que abate ao longo da vida ativa. GRUPO DOS AMBÓS:A origem do termo Ambó perde-se no tempo, mas, assim foram designados os povos localizados a norte da Namíbia, englobando as gentes do Grupo Étnico Donga, os “Ova-Donga”. A forma gráfica correta do termo é “Ova-M’bo”, que foi sofrendo alterações até chegar a Ambó.A família Ambó inclui do lado da Namíbia – antigo Sudoeste Africano – os Onga, Kwambi, Gandgela, Kwaluty, Lolocktsy Gunda; do lado Angolano os Dombolas, Kwamatwy, Kwanyama, Evale e Kafima.Entre os Ambos do lado Angolano, as duas tribos que mais se distinguiram pelo valor como guerreiros e pelo poderios econômico que alcançaram, foram os Kwanyama e os Kwamatuy.A lenda do aparecimento dos Kwanyama, diz que uma parcela da tribo dos Donga, errando pelo deserto do Kalaháry -- tratava-se provavelmente de um grupo Wa-Twa, comedores de raízes -- atingiu uma região rica em vegetação e caça, onde se fixaram. Passaram a comer carne -- Nyama -- passando depois disso a ser designados ou a se auto designarem como os Wa-Twa-Nyama, ou os Wa-Twa da carne, que acabou degenerando para Kwanyama, e que os Portugueses simplificaram a pronúncia para Cuanhama.Na realidade, sendo Wa-Twa, e portanto nômades, devem ter chegado à região que vai quase até à Huíla, por puro nomadismo, e não por estarem perdidos no Kalaháry.A região, rica em boa alimentação e pastos, fez deles um povo forte, de compleição física avantajada, próspero e que se tornou temido na guerra. Têm como base de alimentação, o leite, o mel, carne, frutas e milho.As crianças são amamentadas até tarde, e quando a lactação materna termina, passam a dar à criança, uma coalhada de leite adoçada com mel.O nascimento de uma criança é motivo de alegria para a família e todo o clã.A parturiente dá à luz sem qualquer ajuda, numa cubata rodeada por velhas -- Ovalikadi; a placenta é enterrada no local do nascimento, o cordão umbilical cortado com os dentes e untado com uma pasta de ervas cicatrizantes, misturadas a cinzas.O corpo do recém nascido é untado com uma pasta à base de manteiga e LUKULA, extraído da árvore Chora-Sangue -- Omulio-Sonde -- por acreditarem que essa substância tem propriedades que impedem a aproximação de espíritos maus.Após o nascimento a mãe grita para fora da cubata:- Temos “Omutwa Ohukwa”, pisadora de milho, se for menina, ou “Omukwaty Womafuma”, caçador, se for um menino.Em ambos os casos, se escutam as exclamações de alegria entoadas por toda a tribo:- Diririririririririririririririririririririri........A escolha do nome é decidida por toda a família, mais ou menos uma semana após o parto, e obedece a orientações conhecidas.Os nomes são precedidos da expressão Manu para os rapazes, e Namu para as meninas; por exemplo: Namutenya ou Manutenya. Se nascidos de noite – Dufiko -- Manufiko Namufiko, se de manhã -- Ongula -- inspira nomes como Namugula ou Manugula.Até aos sete anos aproximadamente, quando cai a primeira dentição, a criança é cuidada exclusivamente pela mãe; a partir dessa idade as meninas começam a acompanhar as mulheres e os meninos os homens.Começam a adestrar-se no manejo das armas de caça, o arco e flecha --Ondabi -- com ponta de madeira, usado para aves de pequeno porte.Já um pouco mais velhos, começam a usar as flechas com ponta de ferro, e trazem à cintura, uma faca de dois gumes -- Omakonda -- retida à cintura por bainha de madeira, chifre de boi ou couro de animal.Já o nascimento de gêmeos, como foi dito atrás, é encarado com apreensão por toda a família Ambó, e, portanto também pelos Kwanyamas.Acreditam que o homem, com uma ejaculação só tem capacidade para gerar um filho; e se vem mais de um, é entendido como intervenção dos espíritos, capas de trazer má sorte à família e à tribo.Diferentemente dos Nhaneka Humbe, que só têm preconceitos quanto a dois filhos numa mesma gestação, os Ambos têm-no em relação a mais de um filho por gestação.Para neutralizar esse mal, tem que se proceder a um ritual de purificação dos recém nascidos e da mãe, cerimônia presidida por um Ondudo -- curandeiro adivinho -- que asperge a todos e ao lugar, inclusive aos visitantes, com um banho de ervas, durante a primeira Lua.Combatidos os efeitos negativos, tudo o mais decorre normalmente.Outra tribo que procedia com verdadeiro barbarismo ao nascimento de gêmeos, ou de crianças com qualquer tipo de deficiência física, eram os MUKUBAIS. Os recém nascidos nessas condições, entre os Mukubais, eram abandonados em covas, no mato, onde eram devorados por predadores ou formigas, antes de ocorrer a morte por inanição.A influência cultural ocidental trazida pelos colonizadores, bem como a ação dos missionários, extinguiu, ou pelo menos atenuou muito esse tipo de vandalismo. KWANYAMAS:É um povo extremamente orgulhoso, de um porte físico imponente e majestoso, e que se considera superior a todas os outro povos.Foi uma das tribos que maior resistência fez à ocupação colonial, nunca se deixando subjugar por completo, e até hoje, alguém que queira entrar em território Kwanyama, só poderá faze-lo com expressa autorização do Soba.É conhecida a história do Soba Manugula-Homandumbe que, vendo-se em luta desesperada com militares brancos, quando só ele e uns poucos guerreiros restavam, lhes perguntou se preferiam morrer ou ser escravos dos brancos e, sem esperar resposta os matou, suicidando-se em seguida.Povo de qualidades guerreiras extraordinárias, aliadas ao fato de se encontrarem sempre militarmente organizados, fizeram-se impor, não só aos povos vizinhos, mas também ao invasor branco.De uma audácia fantástica, chegaram por vezes a tentar negociações de paz, apenas como mera estratégia, pois tão logo se sentiam capazes de voltar à luta, com boas chances de vitória, esqueciam imediatamente os tratados anteriores, para voltar a marcar a sua posição.A educação deste povo tem aspectos em comum com a antiga civilização Grega de Esparta: praticam o laconismo, e o roubo é permitido -- a terceiros, jamais entre eles -- desde que não se deixem apanhar. O ladrão que é descoberto é impiedosamente castigado pela chibata diante de toda a tribo; não pelo roubo propriamente dito, mas por não ter tido a argúcia suficiente para não ser descoberto. Do sofrimento físico, nada deixam transparecer, mas a humilhação pública, leva-os na maioria dos casos ao abandono e convívio da tribo.O indivíduo que mais gado consiga furtar às tribos vizinhas, ou que em condições mais precárias consiga matar um leão, rapidamente sobe no conceito da tribo. Ao contrário, qualquer indivíduo que dê mostras de medo ou covardia, seja em que situação for, torna-se alvo das chacotas da tribo, é-lhe interditada a caça, e passa a ser ajudante das mulheres nas tarefas de tomar conta do gado e da lavoura.As mulheres também, à semelhança de Esparta, têm que ser fortes e saudáveis, pois disso depende a saúde dos filhos que forem gerados.Os homens são adestrados desde cedo nos exercício da guerra, corrida, luta, manejo de armas, sendo o único povo cavaleiro em todo o território Angolano.As mulheres desde cedo são preparadas para o casamento, incluindo essa preparação, exercício físicos que as tornem fortes e resistentes às doenças, fatores que consideram indispensáveis à fertilidade.A mulher que não corresponder à expectativa do marido, e for devolvida, dificilmente conseguirá casar com outro guerreiro, restando-lhe juntar-se a algum membro da tribo rotulado de covarde.Como modo de vida, os Kwanyamas são essencialmente criadores de gado e pequenos agricultores.Para o homem, só é apropriado o ofício de caçador guerreiro, ficando para as mulheres a agricultura e criação de gado, da qual periodicamente têm que prestar conta ao seu homem.Os homens, quando afastados da caça, tornam-se indolentes e permanecem dias seguidos na sanzala, fazendo simplesmente nada.O sistema político é o feudalismo, tendo os Sobas poderes absolutos, mas estando subjugados a um Rei. A este Rei, e só a ele, é conferido o direito de vida ou de morte sobre os Kwanyamas; e é indiscutivelmente obedecido, seja qual for o seu capricho, inclusive pelos Sobas.Como indumentária os homens usam apenas uma tanga; as mulheres, como adornos, imensos colares de contas coloridas e pulseiras de cobre trabalhadas, que junto com os penteados, indicam o seu estado civil e condição econômica.Ilustrando o orgulho e tenacidade deste povo, lembro de uma história verídica passada com o pai de amigos meus, que tinha uma indústria pesqueira perto de Moçâmedes.Certo dia apareceu na indústria um Kwanyama ainda jovem,vindo diretamente do Kimbo, pedindo emprego; caso raríssimo, motivos mais relevantes o deviam motivar, acima da compensação monetária. O dono da indústria -- através de intérprete -- disse que sim, que havia, mas só nas traineiras de pesca, e era fundamental saber nadar. Perguntou-lhe se sabia nadar.O Kwanyama disse que sim, sabia.O industrial então, indicando um pequeno bote aportado relativamente próximo ao quebra-mar, pediu-lhe que nadasse até lá.O rapaz hesitou apenas uma fração de segundo e entrou no mar ... de onde precisou ser retirado, pois quase morreu afogado.Preferia morrer a voltar atrás com a palavra, ou ser pego na mentira. Ou ainda porque, jamais lhe ocorreu que não soubesse; se outros sabiam, como um Kwanyama não iria saber? OS MUKUBAIS:Também da linha Ambó, habitam a região da Serra da Schela, num semi nomadismo de acordo com as necessidades de pastagens para o gado, em função do qual vivem.É um povo essencialmente pastor; a única coisa que cultivam é a “massambala”, cereal de grãos pequenos, quando, encontrando uma área de pastagens vasta, pretendem demorar-se no local.A base de alimentação deste povo é leite e derivados, e a massambala, da qual fazem uma farinha para pirão. Carne, só comem quando caçam ou quando um boi morre de morte natural.Como se disse acima, vivem em função do gado, pelo qual têm tanto apreço que até o roubam de outros povos; o deles, defendem-no a qualquer preço, muito embora no geral, não sejam belicosos.É um povo forte e saudável, de porte altivo e que, à semelhança dos Kwanyamas, também se considera superior a todos os outros, a ponto de preservar a pureza da sua estirpe; não admitem qualquer ligação com os povos de outras tribos, e se uma mulher Mukubal tiver relações com um homem que não seja da tribo, será severamente castigada, ainda que tenha sido forçada. Os filhos desta ligação, se os houver, serão mortos.Embora pratiquem o roubo de gado, consideram vergonhoso roubar qualquer outra espécie de mantimentos ou o que seja, e seja de quem for.Embora fortes, corajosos e orgulhosos, se atacados, preferem retirar para evitar o confronto, que só acontece se for inevitável ou porque tenham que defender o gado; nesses casos, tornam-se combatentes temíveis.A mulher Mukubal considera um estigma de fraqueza ter poucos filhos, e têm portanto, tantos quantos o seu organismo lhes permitir. Preservam desta forma a espécie, e o curioso é que se conservam esbeltas apesar disso, até idades avançadas.A nota destoante da plástica das Mukubais -- pelos padrões de beleza ocidentais -- é que desde cedo forçam o achatamento do peito, com tiras de couro amarradas ao tronco. Para os padrões ocidentais, é uma verdadeira quebra da graciosidade e harmonia das formas femininas.O ritual mais importante deste povo, é a festa do Boi Sagrado, por encarnar espíritos antepassados. Periodicamente dá uma volta por todas as sanzalas de Mokubais, para que lhe formulem desejos.OS MAYACAS:É outro ramo do Grupo Ambó. Vivem nas margens do Rio Kwango, e são regidos, dominados e tiranizados por um grupo de feiticeiros, conhecedores dos segredos do sobrenatural. O grupo de feiticeiros é dividido em três classes: a primeira é a dos Otchimbos, que têm parentesco próximo com os espíritos e são adivinhos; a segunda é a dos Kangas, os únicos capazes de livrar um indivíduo de qualquer feitiço ou maldição; por último, mas não menos importantes, vêm os Kimbandas, que são os curandeiros.Quando um feiticeiro consegue acumular todos estes poderes, torna-se o chefe dos chefes. Os Otchimbos e os Kangas, vestem-se de pele de onça, cobrindo a cabeça com a pele da cabeça de um leão; os Kimbandas usam roupas de fibras vegetais desfiadas e coloridas, e tapam a cara com máscaras de madeira entalhada.Periodicamente os Otchimbos comunicam-se com os espíritos, a fim de, por eles aconselhados, melhor decidirem a vida das tribos. Acontece assim: ao entardecer de um dia escolhido por todos os feiticeiros, reúnem-se Otchimbos, Kangas e Kimbandas num local afastado e tido como sagrado.O Otchimbo principal, nesse local e em transe, vai espalhando os objetos místicos em cuja disposição está encerrada a mensagem, que será por ele interpretada, após sair do transe.As mensagens, invariavelmente exigem sacrifícios animais e oferendas por parte do povo.Nos assuntos de maior vulto -- ameaça de seca, falta de caça, epidemias -- é praticado o ritual do veneno ou “Obilunga”, que consiste em descobrir o culpado da catástrofe, entre vários suspeitos.Os suspeitos são reunidos na clareira e interrogados, não havendo confissão por parte de nenhum deles -- isto é, se nenhum deles tem consciência de que pode estar causando o mal -- o Kimbanda prepara uma bebida para cada um deles, colocando em apenas uma das bebidas uma dose de veneno fatal. Os suspeitos escolhem as bebidas e tomam, ficando deste modo identificado e castigado o culpado.Deste povo, fala-se também de um ritual, Kindóki, que era um sacrifício humano -- de um dos elementos da tribo -- cujas vísceras eram maceradas com ervas mágicas, e a pasta resultante, esfregado nas juntas de um parente doente, para o livrar da doença.É um povo hostil a visitas e visitantes! OS BIENOS:A data de fundação da tribo Bieno remonta ao Séc.VII. É um povo criador de gado e não belicoso.Foi fundada por Mwata Bié, um Humbe dissidente que levou o séqüito e grande quantidade de gado, para a região hoje conhecida como Bié. Teve como esposa principal, uma mulher de nome Cahanda, oriunda da terra de Soungo, e cujo povo habitava na época a região de N’Jundo.Bié e Cahanda tiveram grande prole que se espalhou pela região, dando origem às tribos Kimbangala, Nheme e Kukema. Bié reinou por cerca de dez anos, ao fim dos quais foi assassinado por um sobrinho -- N’Gongo Hamulanda -- que em seguida assumiu o trono. N’Gongo Hamulanda casou-se então com Cahenda, que lhe deu dois filhos: Ulunda e Kibaba.O sucessor de N’Gongo foi Ulunda, que ampliou os domínios dos Bienos expulsando os Ganguela-Nhemba para a região entre a Kukema e o Kuanza. Nessa expanção foram absorvendo outras tribos Ganguela de menor expressão.Ulunda foi um chefe de grande prestígio, mas teve morte prematura, assassinado pelo irmão Kibaba, que assumiu o trono Bieno.Kibaba reinou com tanta crueldade e devassidão, que foi deposto e executado pelo povo.O povo escolheu entã para suceder Kibaba, o primeiro filho de Ulundo, N’Dalo.N’Dalo era muito novo quando assumiu o trono e tinha por isso um tutor da mesma linha uterina, e de nome Anhambué.O primogênito de Enhambué, ganancioso, envenenou o pai e o jovam N”Dalo, mas o povo Bieno, mais uma vez mostrando não compactuar com a crueldade, executou-o, e como castigo não deixou nenhum dos seus descendentes assumir o poder; quem subiu ao trono governante foi N’Guilla-Mull, irmão de Enhambué.N’Guila Hull, o oitavo soba do povo Bieno, era igualmente cruel, tendo como principal produto de comércio, crianças da própria tribo; Silva Porto, no seu diário de viagens a África, cita-o como grande apreciador de festivais de canibalismo.Foi no entanto um bom administrador, político e comandante militar. Fez alianças políticas com outras tribos Ganguelas, para alargar mais as influências do seu Império, desenvolveu, armou e organizou militarmente as forças guerreiras sob o seu domínio, mandou construir o Forte da Kibaka.Reinou como um verdadeiro senhor feudal, a quem os súditos das tribos limítrofes eram obrigados a pagar pesados tributos de vassalagem. Com isto, fortaleceu enormemente a economia do reino.Morreu bem avançado na idade, no auge político, econômico e militar do reino Bieno.Depois dele, com os sucessores N’Kakwen e N’assojaba, os Bienos entraram numa fase de decadência total, até que, por volta de 1830 estavam reduzidos ao sobado, comandado pelo soba M’Bandwa, que se submeteu sem oposição ne luta, ao colonizador Português. OS BAILUNDOS:A Lenda da formação do povo Bailundo, confunde-se um pouco com a de Adão e Eva, acreditando-se portanto que sem dúvida foi influenciada pelo clero.Diz que o primeiro casal, Féty – o Princípio – e Tamoya – a Perfeição – depois de muito vagarem pelo mundo, escolheram para viver, a confluência dos rios Kunene e Kunungânua, na área do Kuima.Tiveram três filhos: Kalangue, Sambo e Bailundo, que deram origem aos povos do Huambo, e duas filhas, Bié e Kuima, das quais se originaram os povos das regiões do mesmo nome.Os fatos históricos, se bem que confusos e apresentados de maneira diferente por diversos Historiadores e Etnólogos, são um pouco menos poéticos, porém mais precisos.Cerca do ano de 160, depois da epopéia do Massangano, um grande grupo de Jagas, receando represálias dos colonizadores Portugueses por terem enfileirado ao lado da Rainha N’Zinga M’Bandi e dos Holandeses, contra a presença de Portugal em Angola, migrou para o Sul.A numerosa caravana era chefiada por quatro valorosos guerreiros, autênticos potentados: Huambo, Chibamba, Sambo e Katiavala.Após meses de viagem, se instalaram da seguinte maneira: Katiavala no Bongo, e os restantes na área do Katepe, onde Huambo se fez proclamar Soba e senhor absoluto do povo.Mais tarde katiavala entrou em guerra com Huambo, por inveja do prestígio deste junto do seu povo, escorraçou-os e tomou a sucessão de Huambo, tomando desde então o nome de Bailundo Tatuado.Huambo fugiu para a Kaála, onde definitivamente se fixou, Chibamba foi para o Kingenge, ali fundando o sobado da Tchiaka e adotou o nome de Tchilulo, e Sambo foi para o Kamdumbo, onde passou a ocupar a terra a que deu o nome. São guerreiros por índole, e segundo eles crêem, por predestinação.Apesar de todo o atavismo belicoso, é um povo que se deixa explorar pelos sobas, que os subjugam com impostos extorsivos, os Otchivanda ou Ulambo.Até relativamente pouco tempo atrás, entre os Bailundos, a doença terminal de um soba, era uma sucessão de acontecimentos bizarros.Quando o Soba adoecia, reuniam-se os mais hábeis feiticeiros e Kimbandas de maior fama, para diagnosticar e combater a doença do chefe.Como medida paliativa inicial, eram afastadas todas as mulheres do convívio com o doente porque, elas são tentadoras e afrodisíacas, itens dispensáveis a um homem debilitado por doença.Depois de feitas todas as diligências curativas, se o Soba continuasse a não dar mostras de melhoras, eram afastados todos os Kimbandas e feiticeiros, com exceção do Kimbanda assistente do Soba, e de três secúlos -- Velhos.Estes esperavam ainda um tempo, ao fim do qual, se o estado de prostração permanecesse, não o deixavam morrer de morte natural, pois para os Bailundos, a morte natural não é digna.Enforcavam-no no teto da cubata, no maior segredo, conservando sempre uma pele de antílope na fechando a porta, e iam preparando o povo para o pior.Continuavam visitando a cubata do chefe durante um tempo, simulando assim que ele ainda estava vivo, muito embora, a cada visita a perspectiva fosse mais negativa.Quando finalmente a cabeça se separasse do corpo, pela deterioração dos tecidos, o Soba era dado como morto. Essa massa decomposta, era então embrulhada e amarrada em tecidos de fibras vegetais e ervas diversas. Depois das cerimônias de despedida e encomenda da alma, tinha lugar o óbito, e depois, junto à sepultura, uma sessão espírita que tinha como intuito descobrir o causador da morte.Esse ritual acontecia com o corpo do soba suspenso de um galho de árvore, e dois guerreiros balançando-o ritmicamente, enquanto perguntavam ao espírito quem era o culpado pela morte do corpo; iam neste entretanto, mensionando o nome de todos os componentes da tribo, primeiro dos parentes, e depois das outras pessoas. Quando, à menção de um nome, o corpo balançasse de maneira diferente, ou mais acentuada, estava descoberto o culpado.O culpado teria que contribuir com uma série de animais que eram sacrificados, e cujo sangue era derramado no chão, para ser absorvido pela terra e assim servir de alimento aos espíritos.A cabeça separada do corpo, era enterrada pela família, em lugar escolhido e de difícil acesso, para que jamais pudesse servir de troféu para ninguém; acontecer isso, seria a desgraça para toda a tribo.O novo soba era escolhido pelos secúlos, respeitando os laços uterinos, e depois disso ia pessoalmente apagar todas as fogueiras existentes, e acender uma nova na Embala.Esta fogueira devia ser bastante viva e crepitante, pois o seu tempo de duração era prelúdio do tempo de duração do governo do novo chefe.Só depois disso vinham os rituais de proteção ao soba recém empossado, bem como os festejos concernentes -- batuques, caçadas e eventualmente uma incursão guerreira.Até às décadas de quarenta e cinqüenta, um soba só era considerado realmente chefe, na verdadeira acepção da palavra, após promover uma guerra. POVO HUMBUNDO:Entre os costumes Humbundo, um dos mais complexos e detalhados, é o ritual da morte e a despedida e encomenda do espírito.Manda a ética que, quando morre algum membro da tribo, se é encontrado por alguém que não seja parente próximo, a notícia seja dada ao mais próximo dos parentes, à hora de melhor disposição, que é a da refeição.Segue-se à notícia uma cena alucinante, pois mandam os mesmos preceitos éticos que o notificado, em demonstração de dor pública, exagere nas demonstrações de inconformismo.Um mensageiro vai depois avisar todos os parentes, para que se reúnam na cubata do defunto tão cedo quanto possível, para dar início às cerimônias rituais de despedida do espírito.Nesse meio tempo, as mulheres vão preparando a Kissângwa - bebida obtida com um fermentado de milho ou massambala – que animará os vivos na vigília ao morto.Depois da chegada do último parente, reúnem-se em duas cubatas, homens numa e mulheres na outra, ficando na cubata em que está o morto, os do mesmo sexo.Durante a noite inteira são entoados cânticos de despedida, que acompanham e alegram a subida do espírito, entremeados por histórias vividas pelo defunto, contadas pelos membros da tribo, à medida que delas se forem lembrando. Os animais que caçou, os bichos que teve, as viagens que efetuou, atitudes em que tenha se destacado.De madrugada tem início o óbito propriamente dito. O Onganga entoa um cântico fúnebre acompanhado pelo som dos batuques em tom contínuo e baixo, e pelo coro dos presentes, num gemido muito baixo, como que longínquo. Após as rezas de encomenda, o corpo enrolado em esteiras, em cortejo, é levado ao local de sepultamento.No dia seguinte, todos os parentes em luto fechado, vão visitar de novo a campa, levando cada um, um objeto de uso pessoal do morto, para que, caso este, em espírito, sinta necessidade de voltar a usar um dos objetos, não necessite voltar à sanzala. Os objetos estarão em volta e sobre a campa.O ritual torna-se por vezes bastante demorado, pois alguns parentes podem morar em Kimbos bastante afastados, acontecendo nesses casos e vigília, com o corpo em adiantado estado de decomposição.Nem estado deteriorado do corpo, nem o mau cheiro inerente, alteram a urgência do ritual; o importante é estarem todos os parentes reunidos, a fim de melhor evidenciar o vácuo que o morto deixa com o seu desaparecimento.Entre os Hanhas, povo da família Umbundo, ao nascimento de uma criança, segue-se um ritual pouco comum.A parturiente fica de joelhos, sentada sobre os calcanhares, e com a coxas bem separadas, mantidas nessa posição por uma mulher que a assiste, até que a criança nasça por si só, caindo num ninho forrado com capim e folhas macias.Em seguida a criança é lavada, e vem então uma velha, para purificar mãe e filho.Essa velha, com uma faca bem afiada, faz em torno do sexo da mãe, uma série de pequenos golpes, com cujo sangue fricciona a testa, pescoço e umbigo de mãe e filho.Só após a purificação é permitida a entrada do pai na cubata, para ver a criança. No dia seguinte, o pai pega numa panela de barro onde tenha sido colocada a placenta e vai enterra-la no mato, perto de uma grande árvore, pois acredita que assim o filho poderá adquirir as qualidades da árvore: robustez , imponência e longevidade.Quando o parto é difìcil, uma velha prepara uma beberragem de ervas, com a qual lava o sexo do pai, dando em seguida o líquido a beber à mãe ; é uma poção que provoca o vômito, cujas contrações acabam ajudando a expulsão do bêbê.KIMBUNDOS:Um dos aspectos extremamente interessantes e louváveis entre os Kimbundos, é a solidez da estrutura familiar. Não há qualquer espírito de oposição de idéias no seio de uma família, que possa abalar essa estrutura.A educação, proteção e cuidados diversos, ficam ao encargo do pai; alimentação aos cuidados da mãe.Os sogros são, no entender dos Kimbundos, os maiores responsáveis pelos atritos domésticos, de maneira que, resolvem o problema cortando por completo o relacionamento logo após o casamento.Se por um acaso se encontrarem, afastam-se sem sequer se comprimentarem ou olharem; os cunhados de sexo diferente podem ver-se, mas devem evitar conversar.Não é no entanto interditado a um pai ou uma mãe, falar com o filho ou filha casados, mas devem avisar com antecedência, para que genro ou nora possam afastar-se durante a visita.Tal costume não significa que haja ódios de parte a parte, ao contrário; se acontecer um genro ou uma nora terem que falar com sogro ou sogra, ou vice versa, fazem-no com respeito e mostrando respeito e amizade; simplesmente evitam de forma radical o contato gratuito.O adultério no homem é comum; consideram que a grande capacidade que o homem tem para gerar filhos, em contraposição à mulher, que apenas pode ter um filho por ano, ou duas gestações a cada três anos, o determina a ter quantas mulheres puder.A infidelidade feminina, se bem que não restringida de forma rígida, não é bem encarada; o que quer dizer que, acontecendo, não vai causar grandes alterações na paz familiar.A esterilidade ou qualquer outro tipo de descontentamento de um dos cônjuges, pode levar à separação, que é simples e amigável.No caso da separação ser pretendida pela mulher, a única cláusula inapelável, é a restituição dos bens oferecidos pelo marido, no lembamento. Sempre em harmonia e sem qualquer animosidade.Só há uma altura da vida, em que mulher nenhuma pensa em ser infiel, que pe durante a gravidez, por acreditarem que a prevaricação pode resultar em morte no parto.Outro sentimento elevado neste povo, é a amizade. Todo o homem escolhe em certa altura da puberdade, um dileto amigo, e a dedicação mútua a esta amizade é inabalável, e para toda a vida. Pode um Kimbundo separar-se da mulher ou até renegar os filhos, mas nunca, em circunstância alguma o faria com um amigo. OS GINGAS:Os Gingas, tendo sido a tribo base dos N’Gola, foram um povo rebelde e guerreiro até meados do século XVI.Chefiados por N’Zinga M’Bandi – a Rainha Ginga - enfrentaram o colonizador Português em várias batalhas famosas e sangrentas, culminando com a Epopéia do Massangano, em que se aliaram aos Holandeses, contra a ocupação de Portugal em Angola.Povo de compleição atlética, guerreiros convictos, nem mesmo depois de derrotados deixaram de praticar os exercícios de guerra e adestramento com armas, na esperança de voltar a ter um chefe da índole da Rainha Ginga, que os levasse de novo a ser o potentado de outrora.Para isso precisavam de homens que viessem a ser combatentes, e não de mulheres.Instituíram então uma Lei, que expulsava da tribo como imprestável, qualquer mulher que tivesse mais de duas filhas seguidas.A única autoridade por eles reconhecida, política e judicialmente, era o Soba.Quando um Soba morria, e até que um outro assumisse o poder e o destino do povo, praticavam-se no interregno os maiores crimes e roubos, na certeza da impunidade.A partir de 1680, os remanescentes, tornaram-se agricultores e comerciantes; iam a Malange trocar e vender o produto das suas lavras.Uma parte deles, os mais inconformados com o fim do potentado, acabaram migrando para outras regiões, onde acabaram fundando novos potentados.OS LUNDAS:Entre os Lundas, ao contrário da maioria dos povos de Angola, o nascimento de gêmeos é altamente festejado, pois considera-se tal acontecimento, indício de bom presságio.É fundamental a mais completa imparcialidade, da parte dos familiares, no tratamento para com irmão monozigotos.Se acontece um deles ter de ser castigado, o outro também é; o que se oferece a um se oferece ao outro, a comida é repartida igual para os dois gêmeos – Anapaza – e até, se por acaso um deles estiver fora do Mussôco, nem por isso deixa de ter o seu lugar à refeição dos pais e irmãos, e de lhe ser servida a sua porção de alimento.O que estiver viajando, também se servirá em porção dupla.Mas só nos apercebemos do conceito real em que a maioria tem os gêmeos, quando um deles morre. A morte de um gêmeo é, no ponto de vista de um Lunda, um mal irreparável, acontecimento trágico chorado como nenhum outro, dor que nunca chega a ter resignação.Depois de inúmeras cerimônias fúnebres e rituais feiticistas, a mãe do morto encomenda ao entalhador – Songui – o retrato – Capéria – ou sombra – Tchitchukié – do filho. Essa sombra, a mãe transportará para sempre, debaixo do braço esquerdo, até o gêmeo sobrevivente ser considerado homem.Depois dele terminar o ritual da circuncisão, a responsabilidade pela figura do morto, passa a ser por conta do irmão.Ele tem o dever de se fazer acompanhar sempre por esta recordação e trata-la com o maior zelo, contar-lhe das experiências da vida e venera-lo como espírito; nunca acreditam completamente na morte de um ente tão querido.Um gêmeo a quem tenha morrido o irmão, deverá sempre seguir os pressentimentos que lhe ocorram, pois são tomados como avisos do irmão que, no Éden, goza da companhia de seres omniscientes.POVO GANGUELA:No Alto Zambeze vivem os Luenas, tribo que pertence ao grupo lingüístico dos Ganguelas. O nome vem do Rio Luena, afluente do Zambeze, e a região por eles ocupada é de grande abundância alimentar.No solo, fertilizado pelas cheias periódicas do Zambeze, aparecem espontaneamente variadas árvores frutíferas e magníficas pastagens, a que imensas manadas dos mais variados antílopes não resistem; aparece também uma erva rica em látex.É também neste solo, que aparecem os peixes-que-nascem-como-o-arroz; determinada espécie de peixes – Mukussos – que desovam na cheia do rio, e cujos ovos se mantêm debaixo da terra até à cheia seguinte.Esses pequenos peixes, depois de secos, são muito apreciados não só pelos Luenas, mas também pelos povos vizinhos, e assim, representam uma das fontes de comércio Luena; principalmente com os Tchokué.O Rio lhes oferece uma grande variedade de peixes, além das lontras, de que aproveitam a carne e o couro.Com o privilégio de terem a caça, a pesca e a agricultura ao máximo facilitados, vivem despreocupadamente. É um povo alegre e cordato, não belicoso.Dividem o tempo livre, que é muito, entre cantos, danças, sexo, e o consumo de “Liamba” – Maconha/Cannabis – a que eles dão o nome de capim de N’Zambi.As cubatas são amplas, de forma quadrangular, brancas e decoradas por fora com pinturas que representam de uma maneira geram, cenas amorosas.Vivem muito para o amor e prazeres carnais, de tal maneira que os Tchokué chamam as doenças venéreas de “Mal Luena”. É a única tribo em Angola onde se pratica a poliandria.Outra característica bem marcantes deste povo, é a maneira franca com que recebem um visitante; ou melhor a naturalidade com que encaram a hospitalidade um dever.Mal o viajante chega à aldeia, dirige-se para a Tchiota – cabana sem paredes onde se reúnem os homens.Caso ele chegue à Tchiota à hora da refeição, serve-se e come sem que ninguém precise de o convidar, e sem que ele precise de agradecer. Após a refeição, e pelos dias que se seguirem, ele vai dizer quem é, de onde vem, para onde vai, quem encontrou no caminho, essas pessoas de onde vinham e para onde iam, e quem encontraram, etc...depois do relatório é a vez dos habitantes da aldeia lhe contarem quem passou por lá, de onde vinha e para onde...Com isso, mantêm um sistema de informação bem atualizado.O visitante pode dormir do lado da fogueira, na Tchiota, ou numa cabana ocupada por uma mulher, casada ou não, que esteja livre no momento.Quando vai embora, limita-se a despedir-se do Soba, sem que deva agradecimentos a ninguém.Perto de Mukonda – antiga Nova Chaves – vive o povo Muxico, também do grupo Ganguela.O foco central deste povo é o Soba, em volta do qual giram todos os poderes, do político ao espiritual. Os Sobas, depois de mortos eram enterrados em locais acessíveis, para que não houvesse dificuldade para venere-los, como em vida. Os túmulos eram em forma de túnel, e o Soba sepultado era colocado sentado, na mesma posição em que usava ficar em vida.Era costume, até há poucas décadas atrás, sepultar os Sobas com duas mulheres, ou duas crianças; uma para lhe tratar dos cachimbos e a outra para lhos acender.Junto do túmulo era construída uma cubata, que o espírito poderia ocupar sempre que sentisse saudades da vida terrena.Os Muxicos sempre tiveram especial consideração pelos artistas, músicos, escultores. São um povo de habilidades e aptidão reconhecidas no manejo dos instrumentos musicais, em especial no manejo do Kanguxi, espécie de violino de três cordas, tangido por um arco tratado a resina. Os sons do Kanguxi, acompanham de forma melodiosa todos os cerimoniais, com exceção do início de uma guerra.Os preparativos de uma guerra, são acompanhados pelo som nervoso da Mukupiela, tambor curto e revestido de couro dos dois lados.Os escultores, acreditava-se que tivessem recebido os seus dons diretamente de N’Zambi. Perfeitos nos trabalhos de madeira, eram prolixos na produção de estátuas, estatuetas, máscaras entalhadas, bastões, cadeiras de Soba etc...Embora fosse distinguida a classe dos artistas, todo o povo Muxico, em maior ou menor grau, tem a vocação artística; todos tiram os seus acordes dos instrumentos musicais, ou de uma forma ou de outra trabalham e esculpem a madeira, ainda que apenas nas partes internas em madeira, das habitações. As cubatas do povo Muxico, são todas elas verdadeiras galerias de arte, com entalhados dignos de um museu.Entre os Luy, outro ramo do grupo ganguela, era bárbaro o funeral de um Soba.O Soba, ddepois de morto e de ter passado todos os rituais fúnebres, era colocado na cova em que seria sepultado, junto com todas as pessoas que lhe tivessem sido chegadas em vida.O sucessor, era investido imediatamente após a morte do chefe, por um dos secúlos do conselho de velhos, que o ungia com a ponta de uma lança, numa investidura muito semelhante à dos cavaleiros na Europa medieval.Terminada a cerimônia do sepultamento do Soba e respectivos acompanhantes, o novo chefe retirava com todo o povo para um novo local escolhido para Kimbo, ficando o antigo local para veneração, onde os velhos em determinadas épocas iam em peregrinação.OS KIKONGO:Para o povo Muxito, da família Kikongo, a morte de um Soba era acompanhada de uma série de outras mortes, voluntárias , ou pelo menos encaradas com resignação estóica, de pessoas que deveriam acompanha-lo, para que no além túmulo ele pudesse continuar a gozar de determinados privilégios.Pela tradição morriam também a mulher mais nova, o conselheiro mais velho e o mais diligente dos serviçais.Caso o Soba, na agonia da morte, determinasse que queria outros acompanhantes além destes três, a sua vontade seria cumprida sem qualquer contestação.Este costume tradicional, foi dos que as autoridades coloniais mais tiveram dificuldade em combater, pois apesar da vigilância exercida, durante muitos anos a morte do Soba continuou mantendo todos os preceitos tradicionais. Escondiam-se nos lugares mais inacessíveis, para levar o ritual a efeito.Dos últimos casos em que se teve conhecimento oficial dessa prática, foi no ano de 1926, quando da morte do Soba Mazeze.Nesse ano, marcharam o Soba Mazeze e respetiva comitiva, para o Posto do Lucano, em visita cordial.Nesse entretanto, deslocou-se ao Sobado, um sobrinho de Mazeze, Sobeta em território Congolês, que por sua vez ia visitar o tio. Como não o encontrasse, resolveu ir ele também ao Lucano, para lá cumprimentar o Patriarca.As duas comitivas encontraram-se no caminho, estando já Mazeze de volta, e todos pararam para celebrar. A celebração demorou vários dias, em que foram consumidas expressivas quantidades de cabaças de Marufo ( fermentado de seiva de palmeira ), tanto pelos chefes, como pelos acompanhantes.Dada por finda a celebração, voltaram as diuas comitivas ao Sobado, onde Mazeze chegou já bastante doente.A despeito de todas as tentativas de cura por parte dos Tchimbandas, poucos dias depois o chefe morreu.A autoridade colonial do Lucano, tendo tido conhecimento dessa morte, e sabedora dos costumes tribais, logo rumou para o Sobado, junto com um pequeno destacamento de Cipaios e Capitas ( forças militarizadas constituídas por homens de outras tribos, de apoio às administrações coloniais portuguesas ), numa tentativa de evitar o morticínio.Mas o destacamento chegou tarde, várias pessoas já haviam morrido em conseqüência do ritual. Mas as autoridades não conseguiram apurar nada de concreto, pois o povo interrogado, limitava-se a responder que os personagens extras, tinham morrido por haverem tomado o mesmo líquido que o Soba, e não por qualquer outra razão.Como se disse acima, este costume foi dos mais difíceis de combater pelos colonizadores, e nada garante que esteja completamente erradicado, que ainda hoje não se pratique nos mais recondidos e inacessíveis lugares do mato, com a anuência de todos.0S CABINDAS:É o nome dado aos povos que habitam a região do Enclave de Cabinda, no Norte de Angola, e que abrange as tribos Bakongo, Bavoio, Bassundi, Balinke, Bavili, Ahoki e Mayombe, os antigos reinos do N’Goio, Kakongo e Loango.O primeiro Soba foi chamado de Ma-Yombe; Ma significa terra, e Yombe significa longe, numa alusão a terem vindo de terras distantes, em movimento migratório.A religião dos povos do Enclave de Cabinda, difere em vários pontos da religião de outros povos de origem Bantu, com figuras mitológicas de funções específicas. Os últimos KöiSanPoucos anos atrás, o Mundo maravilhou-se com um filme alegre, movimentado e hilariante, que fugia ao padrão pasteurizado das comédias Hollyhoodianas.Estou falando de Os Deuses devem estar loucos, em que a figura de maior destaque do filme, passado no Deserto do Kalaári/Namíbia( nome Hotentote para terra sem gente), era um Bosquímano.Para a grande maioria do público que assistiu ao filme, foi certamente a primeira vez que tomou contato com essa etnia Africana, com características antropológicas próprias, adaptadas à vida no deserto, porém descendentes remotos de caucasianos.É um povo nômade, que vive da caça e colheita, como viviam os seres humanos do período paleolítico da HistóriaEm início do Séc.XXI, e apesar dos contatos que têm com as tribos negras de agricultores e artesãos, mantêm um sistema de vida tribal idêntico à época Neandertal – 130.000 a 40.000 anos atrás -- com todo o respeito ao meio ambiente que os cerca.Ignoram o sentido de propriedade privada, tudo o que caçam e colhem pertence ao grupo familiar, que também não descrimina sexos, nem tem um chefe ou líder rígido. As decisões são tomadas pelo grupo e é seguida a vontade da maioria; o patriarca tem apenas o voto de Minerva, em casos de empate ou grandes indecisões.Como características antropológicas de adaptação à vida no deserto, têm os olhos amendoados, oblongados, como das pessoas orientais, em proteção à luminosidade, têm pernas desproporcionalmente longas em relação ao tronco, o que os ajuda nas caminhadas nômades. Os pés são também desproporcionais, grandes e largos, evitando que afundem nas areias mais soltas, e têm, principalmente as mulheres, uma lordose lombar, devido às nádegas grandes, verdadeiros depósitos de gordura, uma reserva natural para épocas difíceis.Uma outra característica curiosa deste povo, é o dialeto, com um linguajar ponteado de estalidos – cliques – de língua.Espremidos no deserto, pelos Bantus ao Norte e pelos Boers ao Sul, aprenderam a sobreviver à carência de água, extraindo-a de tubérculos que só eles sabem como e onde encontrar, e colhendo gotas de orvalho das folhas e em reentrâncias das pedras.A água que captam e não consomem, guardam-na em ovos de avestruz, enterrados no deserto, sem qualquer referência, mas que eles encontram na primeira tentativa, mesmo depois de meses ou anos sem passar pelo local.Têm métodos curiosos e inteligentes, para resolver as suas necessidades; por exemplo se por um acaso não conseguem água pelos meios comuns e tradicionais, capturam um macaco novo ( macaco velho não mete mão em cumbuca), colocando alguns grãos num buraco onde só caiba a mão do símio alongada, e tendo a certeza de que estão sendo observados. Capturado, alimentam-no à vontade com comida salgada durante um dia e uma noite, após o que o soltam, e vão atrás. Os macacos são os únicos animais do deserto que conhecem as reservas e poços subterrâneos escondidos entre as pedras, depois é só soltar o macaco e segui-lo.Vivem em grupos familiares pequenos, entre dez e quinze pessoas, incluindo as crianças, mas são amistosos, e os grupos visitam-se e frequentam-se.RELIGIÃO E DEUSES1 – Kuiti-Kuiti: Filho de um deus, já nasceu velho e com os poderes do pai, em M’Boma Uala Lisongo. Tem quatro irmãos: N’Kunda, M’Baki, N’Randa e M’Boze. Casou com M’Boze, de quem teve um casal de filhos, M’Zore e N’Kanga. M’Boze cometeu incesto com N’Kanga, que concebeu e nasceram gêmeos.2 – M’Boze: Irmã e mulher de Kuiti-Kuiti, que foi abandonada por ele após ter parido gêmeos, fruto da ligação incestuosa como filho N’Kanga, tornou-se uma figura amarga, e é a entidade das pragas e maldições.3 – Lusunzi: Filha de Né-Binda Né-M’Boma e de M’boze. Casou com o irmão N’Kanga. É a entidade que regula os atos da vida social e moral; proíbe relações com uma moça que não tenha passado pela Kualama – iniciação - proíbe à mulher ter relações e cozinhar para o marido enquanto menstruada, proíbe relações e casamentos entre consangüíneos.4 – N’Kanga: Filho de Kuity-Kuitu e de M’Boze, casado com Luzunzi, preside todas as ceromônias e governa espiritualmente as terras de Kingagaca, N’Goio e Kankatu.5 – M’Vemba: Filha de Né M’Binda Né M’Boma e de M’Boze, é a entidade invocada nas grandes calamidades. Tem poder de sustar as grandes forças da natureza quando em ação, o de fazer reverter os resultados dessa ação violenta.6 – Lunga: Também filha de Né M’Binda Né M’Boma e de M’Boze, habita as florestas das margens e da foz dos rios. É a deusa ecológica e invocada para a salvação dos rios e florestas.7 – M’Bunzi ou M’Bungi: Filha de N’Kanga e N’Boze, é e deusa ou entidade da desarmonia, desentendimento, intriga e traição. É uma deusa invocada especialmente nas terras de M’Puto Kinzaze e da Matamba.8 – M’Pangi: Filha de Luzunzi, habita a Baía de Cabinda, numa pedra encostada no morro do Porto Rico. É um espírito mau, vingativo, evocado para as vinganças e para fazer o mal.9 – N’Kunda M’Baki N’Randa: Irmão de Kuity-Kuity, é casado com N’Sanda Kunda. É o deus da chuva e das tempestades. É um deus com cauda, e quando evocado aponta a cauda para o céu, e a chuva passa a cair na quantidade e pelo tempo que ele quizer; caso seja excessiva, basta que aponte a cauda para o chão, para a chuva parar de cair.10 – Makunku: Filho de Luzunzi, é o deus das preocupações. O seu principal poder é sobre os movimentos do sol. Qualquer trabalho iniciado por ele tem que terminar antes do pôr do sol; se tiver que demorar um pouco mais, ele manda o sol parar, ou até recuar um pouco, até que o trabalho esteja terminado. É um deus que viaja muito, pois consegue em instantes ir de um lugar para outro, para assistir e aliviar todas as preocupações do povo. DEUSES MENORES OU DE SEGUNDA ORDEMSão todos filhos adotivos de Lusunzi.1 – Wela-ke-Luzunzi: É a entidade que protege os pobres e os tristes2 – Kinkinda e Kilili: São as entidades protetoras dos grãos de milho, da mandioca e das farinhas que deles resultam.3 – Kimpunkulo e Kinzunda: São as entidades protetoras da agricultura.4 – M’Baki, Lukola-Limpangi, Mundala-Mipangi e Luki-a-Limpangi: São as entidades que protegem os riachos, onde habitam, junto com toda a fauna e flora desses lugares.MITOLOGIA DO CLÃ BAKONGO1 – N’Zambi: É o ente supremo e bom, que tem o poder criador. Chamam-lhe também de Tata ou Tata-Itu – Pai ou Pai Nosso.2 – Bakisi ou N’Kisi: São seres sobrehumanos que protegem o homem. Bakasi Basi são os espíritos da terra; N’Kisi N’Si são os espíritos do poder. Usam outros espíritos nas suas tarefas, e são de uma maneira geral bons, mas se for necessário, podem também fazer o mal.3 – Zindundu: São espíritos de albinos, monstruosos e incapazes de procriar. São temidos por todos os espíritos do mal, muito embora não esteja muito bem definido que tipo de poder eles têm, nem como o exercem. Os albinos, em vida também são temidos a ponto de, nos mercados os deixarem pegar o que quiserem, sem terrem que pagar por nada.4 – Basima: São os espíritos dos gêmeos; são bons e respeitados. Em vida os gêmeos também são respeitados como seres especiais; deles sempre se espera atitudes boas e generosas, e se por um acaso tomam uma atitude que não o seja, considera-se que houve forte razão para isso, ou que a atitude não foi bem interpretada.5 – Kilombos: São os espíritos que entram nos cérebros, os intrepretam e influenciam.6 – Vimbu: São espíritos maus, de pessoas que morreram inchadas, com chagas, doenças de pele e irritações. Os Cabindas são um povo sadio, forte e amigável. A situação geográfica de Cabinda, tendo de um lado o mar rico em peixe, e do outro a hostil e quase impenetrável Floresta do Mayombe, contribuiu para que os homens deste povo se dediquem quase exclusivamente ao mar; o povo Cabinda é um povo de pescadores. Na pesca, utilizam para enfrentar o mar, estreitas pirogas, por eles construídas, de modo a serem resistentes à batida das ondas e melhor cortarem as águas.A pesca é um trabalho árduo e perigoso, que é da exclusiva responsabilidade dos homens; às mulheres cabem as tarefas ligadas à agricultura e os trabalhos domésticos.O homem Cabinda, sendo alegre e despreocupado, quando regressa das incursões piscatórias entrega-se a dias de ociosidade, ficando em terra até que se tenha consumido o produto de tão arriscada tarefa.Em Cabinda, tal como é freqüente nos povos de angola, o número de mulheres supera o dos homens, o que lá se torna um fenômeno de conseqüências adversas. Deve-se essa adversidade, ao fato de ser em cabinda, bastante irregular a poligamia, fica difícil para as mulheres arranjar um marido.Começa deste modo, uma série de costumes e acontecimentos exclusivos deste povo.Os homens, sabendo-se em menor número, e com uma noção acurada das leis de oferta e demanda do mercado, e em conseqüência alvos de cobiça, não vêem razão para fazer gastos com Lembamento. Mas como a ceromônia só pode realizar-se dentro desta base, são as próprias mulheres que fazem as economia necessárias, para isso se prostituindo inclusive, e sem que isso as desprestigie, ou que por isso venham a ser menosprezadas pelo futuro esposo.As moças, após saírem da “Casa da Tinta” , escola onde na época da puberdade e primeira menstruação, se aperfeiçoam nos conhecimentos de agricultura, maternos, concubinas etc...são apresentadas pelos familiares, embelezadas por um pó – Talulo – que lhes dá um tom avermelhado, ao mesmo tempo em que a família anuncia ter uma moça pronta para casar.Não aparecendo nenhum candidato disposto a dar o lembamento estipulado, a moça é liberada para ir trabalhar; com economias fica mais fácil casar-se.As questões de separação são complicadas, pois a mulher não aceita facilmente o divórcio; tornam-se em geral quezilas de tribunal, resolvidas pelo Soba e Conselho dos Velhos – cuja decisão é irrecorrível – à sombra de uma Mulemba – Muanza Kilua – que quer dizer “Sombra da Verdade”.As sessões Jurídicas têm início quando o Soba manda soar o Mussaco, tambor só usado nessa ceromônia.Entre os Cabindas há também dois costumes que são exclusivos desse povo, que são o Licoêze e o Moela.O Licoêze consiste na restituição dos bens oferecidos como lembamento, à família da mulher, caso ela morra. Apesar de, entre os Cabindas serem as mulheres a economizar para o Lembamento, se a mulher morre, a família dela se obriga a devolver os bens recebidos.Quando é o homem a morrer, a família dele presta a ela a homenagem da Moela, que consiste na libertação imediata dela, para refazer a vida, caso não tenham filhos menores e a oportunidade surja.Caso tenha filhos menores, deve observar um período de luto, ao fim do qual, caso queira casar de novo, deve abdicar dos filhos em favor da família do marido. O curioso é que, apesar deste puritanismo aparente, a jovem viúva, para sustentar os filhos, pode enveredar pela prostituição, sem que isso a desmereça aos olhos seja de quem for. Devo acrescentar que, a prostituição no contexto em que é apresentado neste apontamento, é um costume relativamente recente, bem posterior ao advento da colonização.Entre o povo Cabinda, o tira-teima dos feiticeiros e adivinhos, quando alguém é apontado como culpado de alguma coisa e nega, toma uma característica ligeiramente diferente.Tem o nome de “Sanga”, e é o ritual da faca quente.Os suspeitos ficam em lugar de destaque na roda de povo em volta do feiticeiro que, após monopolizar a atenção e criar a atmosfera de temor e desconforto, inicia o ritual.Faz uma cova no chão, onde coloca e tapa uma pedra mágica, fazendo em cima uma fogueira, onde coloca esquentando, a faca justiceira.Após preces ora gritadas, ora murmuradas, desenha usando Pemba ou Cinza umedecidas, um círculo branco abaixo do joelho de cada um dos suspeitos. Nesses círculos, será encostada a faca quente, e a pele que intumescer denunciando queimadura, aponta o culpado. OS MAYOMBES:É um dos povos mais interessantes e curiosos de todo o território Angolano.Pigmeus fortes e atarracados, extremamente corajosos e arrojados na caça – enfrentam elefantes com lanças – não belicosos e amistosos, se bem que tímidos no convívio normal com estranhos.São semi nômades e fixam-se por espaços de tempo relativamente curtos nos lugares. Alimentam-se de caça, répteis, insetos, vegetais e frutas espontâneas.É um povo que, pelas características físicas, dificilmente acreditaríamos serem capazes de enfrentar tão majestosa e agressiva floresta.Corajosos como se disse acima, a ponto de enfrentarem o elefante com pequenas lanças – que vão espetando e fugindo, até que o animal, exaurido pela tortura e perda de sangue, acabe por desistir da luta pela vida – temem de forma apavorada apenas os Gorilas.Protegem-se das intempéries por cascas de árvores, que têm também a vantagem de os camuflar.Vivem em pequenas famílias, cujo chefe é o homem mais velho, e quando algum elemento do grupo morre, é enterrado com todos os pertences.O semi nomadismo é uma boa mabeira de viver, para uma gente tão bem adaptada psicológica e fisiologicamente à floresta; quando os Belgas tomaram conta do território, depois da Primeira Grande Guerra – antes o território fora da fronteira de Angola, era Alemão – decidiram por uma política protecionista em relação aos Bantuís – Pigmeus – da Floresta Ituri – continuação da Floresta do Mayombe.A intenção era boa, mas o protecionismo levou-os a fixarem-se num sedentarismo ao qual não se adaptaram, e que facilitou a ação de outras tribos, que os atacavam e escravisavam, além de lhes tomar as mulheres jovens, impossibilitando-os de se reproduzirem.Poucos grupos mantiveram a tradição nômade, e o número de pigmeus baixou de aproximadamente um milhão e meio há trezentos anos, para menos de dez mil atuais.TCHOKWÉS – HIERARQUIA RELIGIOSA N’Zambi (1) Samuang (2) Feminino Namuang (3) MasculinoTchirhongo(8) Kuba-Wavula(6) Kakuka (5)Tuhemba(massuko)(4) Katoto (9) Katwa(10) Mwana-Pwo (7)1 – N’Zambi: É o Criador do Mundo.2 e 3 – Primeiro casal da terra, representados por dois troncos secos e estreitos, com as esculturas de um casal nas extremidades, ficam erguidos perto das cubatas e isolados.4 – Divindade feminina que ajuda as sementeiras. Primeira filha de 2 e 3. É representada por um tronco estreito e seco, com uma figura feminina esculpida na ponta. Esse tronco fica espetado do lado de uma paliçada pequena, que tem em cima figuras representando a família e descendentes.5 – Filho de 1 e 2 , tem poderes de premonição. É representado por um boneco e uma tábua, na qual se esfrega o boneco, até este dar as respostas pretendidas.6 – Divindade má, mata, queima e destrói em dias de chuva – Wavula – no momento do raio – Kuba. É representado por um manipanço disforme, com dentes pontudos e irregulares simulando uma boca.7 – Totalmente feminina nos trejeitos e enfeites, é uma divindade protetora e alegre.8 – Personagem masculino, austero, representa força e mando.9 – Personagem grotesco, ridículo e cômico.10 – Figura amedrontadora, de feitiço muito poderoso, protege quem o agrada e prejudica os que o substimam.SACRIFÍCIOS HUMANOS E ANTROPOFAGIAEm quase todos os relatos de exploradores africanos, Etnógrafos e Etnólogos, que escrevem ou escreveram sobre os povos de Angola, se encontram referências e registros de rituais com sacrifícios humanos. Foram registrados acontecimentos desses entre os Lubas, Luenas, Kwanyamas e Huílas.De uma maneira geral, o sacrifício visava a adquirir a força, a virilidade ou a coragem – ou todas essas qualidades juntas – do sacrificado, e era feita em oferenda aos espíritos.Entre os Kwanyama, Kwamatuy e Mukubais, verificaram-se e foram registrados muitos sacrifícios de crianças, por nascerem com deformações físicas ou por serem fruto de uniões indesejadas e até em casos especiais de coroações de Sobas.Outro motivo que podia levar a sacrifícios de seres humanos, por indução de feiticeiros, era o ritual para livrar, exorcizar uma pessoa de uma obcessão causada por um espírito.Rituais que incluíssem além de sacrifício, canibalismo de partes do corpo do sacrificado, eram mais raros. Consoante os fins que se pretendia, os órgãos mais visados para a consumação destes festins, eram o coração e o pênis; eventualmente também o sangue – todos considerados fontes vitais.Entre os povos de Angola, não há registro de antropofagia simples e pura, sem conotação religiosa ou feiticista.De qualquer modo é muito e inexata a observação científica neste assunto particular, pois invariavelmente os participantes, temerosos de repressões das autoridades coloniais, tomavam todas as precauções e se escondiam para essas práticas, e as testemunhas silenciavam ou negavam peremptoriamente que houvessem ocorrido.At´pe 1974 apareciam registros de acontecimentos destes, por parte das autoridades coloniais. Em 1974 foi muito comentado um caso acontecido na região da Huíla, entre os M’Huíla, e que consta dos arquivos do tribunal da Huíla.ZINDUMBA – ZA – WÂNTU ( OS HOMENS LEÃO )Os Zindumba – Za – Wantu, cuja existência era comprovada até poucos anos atrás por oficiais do Kwango, eram uma seita que, vestidos com pele de leão e imitando o urro do felino, se aproveitavam do temor que o disfarce incutia nas populações, para poderem proceder a vinganças, prepotências, roubos.A cerimônia de iniciação dos “Bantu-Simba”, designação dada à seita por vários autores – Bantu como plural de N’Tu, que quer dizer Ser Humano, e Simba, que significa Leão – era qualquer coisa de terrificante e original.O grupo escolhia para a admissão de um novo membro, uma noite de Lua Nova; ia então à casa do candidato onde, executando uma exótica dança, lhe dava a entender que era chegada a hora de prestar provas para a admissão. Quando o novato, entre temeroso e ansioso assomava à porta, do grupo destacava-se o chefe que, sem proferir palavra, entregava ao futuro irmão Simba, uma Zagaia e três flexas envenenadas.Iam em seguida, com o novato no meio, floresta a dentro, à procura de um leão, que este teria que matar sem qualquer espécie de ajuda e usando apenas as armas que lhe houvessem dado.Se falhasse, o grupo tratava de matar a fera, e o candidato perdia no ato a esperança de vir a integrar a bizarra oligarquia.Caso conseguisse matar o animal, o feiticeiro retirava do cadáver o coração ainda quente, e com ele traçava na testa do novo membro o sinal Wântu, esfregava-o em seguida no peito, de modo a deixar bem marcada uma mancha de sangue.O novo aderente, finda esta parte do ritual, empunhava uma faca, retirava e vestia a pele ainda úmida do bicho morto, e gritava: Eu, Bantu-Simba, consegui vencer o Leão, o seu coração deixou sangue no meu peito, sou agora mais forte que ele.Ditas estas palavras, tentava imitar o furioso bramido do Rei dos Animais, e iniciava a dança nervosa dos seus novos companheiros.GENTE DA REGIÃO DAS NEVESAlguns autores assinalam que, perto da Humpata, viveu um povo da Região das Neves, nome dado à região pelo fato de ser muito fria e com certa frequência cair granizo.A curiosidade deste povo está em que, apesar de terem cor e traços negróides, são descendentes de Holandeses, Boers.De feições que têm muito de Europeu, e cabelos lisos e escorridos, com tonalidades claras. O dialeto em que se comunicavam, tinha muitos vocábulos que lembravam palavras Holandesas.As mulheres usavam vestidos compridos, de mangas até aos pulsos, e os homens, trajes parecidos aos europeus, e por eles mesmo confeccionados.Viviam do gado e do cultivo da terra, e só utilizavam as aldeias de brancos para as transações comerciais.Como transporte dos produtos que comercializavam, usavam os carros de boi, com duas ou três parelhas, e com um formato bem idêntico ao do Carro Bôer.Eram tímidos e não hospitaleiros, se bem que não beligerantes; mas pouco receptivos às pesquisas ao seu modo de vida. Pouco se sabe dos costumes deste povo.Acredita-se que nos últimos 70 anos, tenham sido absorvidos por outras tribos. Os Grandes Potentados da HistóriaReino do KongoFundado por volta do Séc.XIII, por Nimi-A-Lukeni, reuniu todas as triboa da língua Kikongo, e chegou a ter como limites, ao Sul o Rio Kuanza, e ao Norte o atual Gabão.De economia forte, baseada na agricultura, crição de gado, trabalhos em olaria, ferro e verga, caça e pesca, utilizavam o Zimbo (pequeno Búzio de cor cinza), como moeda de grande aceitação em todo o território.Quando Diogo Cão, em 1484 chegou ao Reino do Kongo, encarregado por carta régia de descobrir novos territórios para o Império Português, e implantou o Padrão símbolo na foz do Rio N’Zire(Zaire), o reino tinha como Soba ( Monarca ), Mwene Kongo ou Manikongo.O domínio de Manikongo ia do Luango até Ponta Negra no litoral, e do Macoco ao Zambeze, Norte Sul, e Manikongo reunia ao título de Rei do Kongo, o de Senhor dos Ambundos, da Mataba, da Kissama, de N’Gola ( que deu origem à palavra Angola ), do Kakongo, dos Sete Reinos do Konguere-Amulala, dos Banguelungos, dos Anzicos e Luangas. Temos assim uma idéia do poderio e domínio dos Monarcas do Reino do Kongo.Em 14 de Dezembro de 1490, saiu de Lisboa a 1ª expedição Portuguesa rumo às novas terras, chefiada por Rui de Souza, e que levavam além de colonos, missionários com o objetivo de iniciarem Mwene Kongo, na religião dos brancos. Foram recebidos sem hostilidade, mas Mwene Kongo, muito embora não impedisse a atividade dos missionários, ele próprio continuou fiel ao animismo.O sucessor de Mwene Kongo, foi seu sobrinho mais velho ( filho da irmã, a sucessão é matriarcal, uterina ), N’Gunga-O’Cuum, a quem os Portugueses auxiliaram numa expedição bélica contra os Anzicos, povo que dominava o Alto Zambeze. A expedição foi um sucesso, e os conselhos estratégicos dos Portugueses, fundamentais para anexar mais essa fatia de terra ao já extenso potentado.Com o prestígio recém adquirido na campanha militar, os Portugueses passaram a ser ouvidos não só nos assuntos concernentes à guerra, mas também nos assuntos econômicos, políticos e religiosos.Começaram assim a influenciar N’Gunga-O’Cuum, de uma maneira que fosse proveitosa ao Império Português, todas as decisões do Monarca.O Soba N’Jovi, sucessor de O’Cuum, já muito dependente das orientações dos colonizadores, foi o 1º monarca que prestou vassalagem ao Rei de Portugal.Entretanto, quando N’jovi viu quais as verdadeiras intenções dos conselheiros brancos, tirou-lhes as regalias, renegou a Fé Cristã, e voltou-se de novo para o animismo.Em 1509 N’Jovi foi sucedido por N’Pemba-Ká-N’Ginga, que voltou a criar alianças com a Igreja Católica e, influenciado por esta, voltou a aceitar conselheiros Portugueses, a quem devolveu todos os privilégios anteriormente cortados.A influência colonizadora de Portugal sobre este soberano foi tal que, durante uma expedição de guerra feita ao Sul, contra os Ambundos, além de levar estrategistas brancos como auxiliares e orientadores de falanges, deixou como seu sucessor durante a campanha, com todos os poderes, o Feitor do Rei de Portugal, Álvaro Lopes.Os colonizadores, fortemente imiscuídos e enraizados em todos os sistemas de poder do reino, trataram de destruir e fragilizar todos os elos familiares, assente nos quais estava todo o poder sucessório e de coesão do potentado.Nessa mesma época, a coesão do reino e aliados, foi também fortemente minada pelas guerras iniciadas pelos Gingas e Jagas, que vizavam o poder do Kongo para a tribo.Em 1658 morreu o monarca Mwene Solo Ya Kukuri – D. António – que, aconselhado pelos Portugueses, como 1ª medida mandou matar os irmãos e todos os outros príncipes de sangue real. Mas pouco tempo depois, arrependido, voltou a retirar todas as regalias e bens dos brancos, promulgou editais contra e religião Cristã e declarou-se inimigo dos Portugueses.Em 1662, o seu sucessor Mwene Vitukuri – D. Álvaro VII – declarou guerra contra os Portugueses, levando avante a promessa do Soba anterior.Voltou o Reino do Kongo a congregar todos os povos visinhos, que um simples sinal tinha a capacidade de levantar em armas. Exércitos fantásticos e coesos, marcharam contra os Portugueses, com forças conjuntas que, em 1663, totalizavam cercade 900 mil homens.Entretanto, na Guerra dos Dembos, os Portugueses conseguiram matar Vitukuri, e os exércitos, perdido o poder carismático do chefe, acabaram retirando.O Reino do Kongo ficou assim sem sucessores de linhagem real, e passou por uma fase de lutas sucessórias, que mais contribuíram para a fragmentação.Como os Portugueses ainda mantinham influência em boa parte das famílias de casta elevada, conseguiram por volta do ano de 1700, manipular a sucessão do rei. O novo Rei do Kongo, verdadeiro súdito de Portugal, determinava e decidia mais em favor do Império Português do que do Reino do Kongo, e com isso foi minado por completo o poderio do Império Negro.Reino de N’Gola ou N’DongoO Reino de N’Gola foi fundado por volta de do Séc.XIV, na Matamba, por N’Gola M’Bandi, e tinha como cidade principal, Kapassa.Tinha como fronteiras, ao Norte o Rio Dange e o Ambuíla, ao Sul o Planalto do Bié, a Leste o Kassange e a Sudeste a Kissama.A partir de 1575, os Portugueses passaram a instalar-se na região ao Sul do Rio Kuanza, onde, além da intenção de explorar prata, tinham uma inesgotável fonte de escravos, capturados pelos exércitos de N’Gola M’Bandi.Soberano de um potentado, e em posição extremamente sólida em relação às forças coloniais, o Soba do N’Dongo, antevendo o enfraquecimento das forças Portuguesas, com a saída do Governador João Correia de Souza, manda em 1623 como emissária, a Luanda, sua irmã N’Zinga M’Bandi, exigindo do novo governador Pedro de Souza Coelho, o desalojamento dos Jagas da Baixa de Kassange, região que queria sob o seu domínio.O Governador Português, em nome do Rei de Portugal, concordou com a imposição – que já havia sido anteriormente tratada em negociações de paz , com N’Gola M’Bandi, mas não cumpriu o acordo.N’Zinga M’Bandi, com quem o 2º acordo fora tratado,indignada pelo não cumprimento do combinado, força o irmão Soberano a declarar guerra aos colonizadores, mas, descontente com as estratégias de combate do irmão, razão a que atribuía a guerra ainda não estar vencida, e suspeitando que o irmão poderia de novo tentar negociar a paz, o que ela achava indigno, envenenou-o e se proclamou o novo Soberano do N’Dongo.Simultaneamente inicia uma guerra aberta contra os Jagas, com vitórias retumbantes, que anexaram toda a área do Kassange ao Reino dos Jingas.Em 1635, chega a Angola o novo Governador, Francisco de Vasconcelos da Cunha que, a troco do restabelecimento das rotas da escravatura, com os povos do sul da Matamba, consegue deter o avanço de N’Zinga M’Bandi em direção a Luanda.Òr esta altura, N’Zinga M’Bandi, também conhecida por Rainha Ginga, já era soberana também da Matamba.Nesse meio tempo, os Sobas do Libôlo em luta contra os Jagas, vão ao Massangano pedir a ajuda dos Portugueses. Os Portugueses, imaginando que esta aliança, além de pacificar e dominar os Jagas, poderia trazer a adesão de expressivas forças aliadas contra a Rainha Ginga, concordaram de imediato.N’Zinga M’Bandi, sabendo da movimentação das tropas Portuguesas indo intervir na guerra dos Jagas contra os Sobas do Libôlo, marcha contra eles , e apesar da superioridade do exército Luso, os Gingas infringem-lhes uma derrota esmagadora.A Rainha Ginga, magnânimamente poupa os sobreviventes brancos e perdoa os negros aliados do Libôlo.Quando em Luanda assume o Governador Sotomayor, decidido a recuperar prestígio perdido pelos Portugueses por causa das guerras contra os Gingas, resolve iniciar o mandato enviando uma expedição militar ao Massangano, para se confrontar e derrotar a Soberana.No Rio Zenza, o exército Português encontra um destacamento de Gingas e finge retirar evitando o confronto, porém atacam de noite e chacinam quase todos os guerreiros; os poucos que conseguem escapar da matança e avisar a Rainha Ginga do ocorrido, foram decapitados por não terem tido a dignidade e coragem de perecer em combate como os companheiros.A Rainha Ginga, irritada por este golpe que considerou covarde, alia-se aos Holandeses, que na época ocupavam Luanda e dominavam uma faixa litotânea, na luta contra o exército de ortugal.Em 1646, o exército Português reúne mais de 40 mil homens em armas, entre tropas européias e aliados das nações negras, e infringe uma derrota definitiva ao exército dos Gingas, às margens do Rio Dande.N’Zinga M’Bando, a Rainha Ginga, que me 1621 em manobra política havia aceitado o batismo católico – D. Ana de Souza – e que vivia com um harém de homens, que obrigava a vestirem-se de mulher e trata-la como homem, negocia novo tratado de paz com Portugal.Todos os chefes aliados dos Gingas foram decapitados, e os Holandeses derrotados e expulsos.Negociando escravos, N’Zinga M’Bandi conseguiu levantar de novo a economia do potentadp, mas militarmente nunca mais se reergueu.O Reino do N’Gola, no apogeu do reinado de N’Zinga M’Bandi, em expansão territorial, chegou e ter duas vezes e meia a área da França. Entre 1600 e 1880, foram negociados mais de 3 milhões de escravos.Reino da LundaO reino da Lunda, que no Séc.XVII chegou a ser um dos grandes potentados de Angola,foi fundado no início do Séc.XVI, no Leste de Angola, por Mwatiânvua e sua mulher Lukocheka.Embora fosse um reino só e coeso em todos os aspetos e sentidos, Mwatiâmvua governava a metade Norte e a Rainha Lukocheka reinava na metade Sul. Tinham poderes iguais, e as decisões que fossem concernentes ao Reino como um todo, eram baseadas no consenso dos dois, ajudados pelo conselho de séculos (velhos).Foi um Reino economicamente muito forte, com agricultura muito bem estruturada, com milho, massango e massambala, trabalharam o ferro, o cobre e os tecidos, foram fortes no comércio de escravos, marfim e tecidos.No Séc. XVIII, uma parte do povo decidiu migrar para a região do atual Moxico, dando origem ao povo Tchokwé ( Kiôco ). Foi o primeiro sinal de fragmentação do Reino Lunda, que talvez fruto do crescimento econômico, ou das facilidades de vida, dadas pela exuberância do solo, foram-se entregando mais aos prazeres da vida do que aos interesses do Reino.Os Tchokwé foram-se fortalecendo e alargando os domínios territoriais, tomando terra dos Lundas, que pacificamente iam cedendo.Em 1885, os Tchokwé, chefiados pelo Soba Mwatchisengue-Wa –Tembo, invadiram militarmente e ocuparam o território da Lunda.Ao contrário dos Lundas, que não eram belicosos, os Tchokwé foram guereiros bravíssimos, de espírito extraordinariamente beligerante, que só acabaram sendo vencidos pelas forças coloniais portuguesas, por volta de 1920.A ocupaçãp Belga em África, no ex-Congo Belga, atual Zaire, foi um golpe de misericórdia no Reino da Lunda. Perderam a expressão como potentado, embora os Lundas apesar de militarmente subjugados, e em fase economicamente decadente, continuassem a preservar os seus hábitos, costumes e tradições, resistindo à absorção de outros costumes tribais.Os Lundas da Nação Tchokwé, adquiriram alguns novos costumes, que passaram a integrar a sua cultura e tradição; após a invasão chfiadad por Mwatchisengue-Wa-Tembo, e a ocupaçãp militar do território da Lunda, tentaram forçar os Lundas aos novos hábitos adquiridos, no que não foram bem sucedidos.Culturalmente os Lundas não foram dominados.Reino BailundoO Reino Bailundo foi fundado no Séc.XVII, pelo Soba Katiawala, que chefiando expressivo número de guerreiros, migrou da Kibala.Foi um Reino que chegou a congregar todos os povos de língua M’Bundo ( Umbundo ) em estados Federados ao Chefe Bailundo, e que se estendia do Planalto Central, a Benguela e ao Bié.Foram economicamente fortes, explorando e comercializando o milho, o óleo de palma, a cera, o mel e o marfim; trabalharam o ferro, e comercializaram, com muito bons resultados para a economia do estado, os escravos.Entre os Bailundos, a propriedade da terra era coletiva. Militarmente muito fortes e bem organizados, lutaram de 1645 a 1776 contra a ocupação colonial Portuguesa, praticamente sem tréguas nem concessões.Os Portugueses conseguiam vitórias militares, mas não tinham força de ocupação e eram de novo rechaçados; o governo colonial iniciou então uma política Maquiavélica, que foi instigar as lutas entre os estados Bailundos.Essa política foi bem sucedida, os estados iniciaram uma série de lutas pela egemonia e poder, que só teve como conseqüência enfraquecer internamente o Reino. Essas lutas acirraram ódios tribais, que mais e mais as alimentavam.O Reino Bailundo fragmentou-se, perdeu a coesão e finalmente, em 1896, foi ocupado pelo exército Português.Seis anos mais tarde, o Chefe Bailundo Mutu-Ya-Kewela, conseguiu reunir guerreiros e revoltar-se noavamente contra o domínio colonial, mas um ano depois foi novamente subjugado.A partir de 1903, o Reini Bailundo perdeu completamente a expressão política de autonomia, pois as forças coloniais começaram, após o domínio militar, a manipular as sucessões dos monarcas, colocando em lugares de chefia, Sobas simpáticos à causa colonial.Simultaneamente, autoridades civis administrativas, ajudados por Cipaios – indígenas de força para militar armada, normalmente de ouras tribos rivais – controlavam e impediam o reagrupamento e reorganização dos povos subjugados.Reino Kwanyama ( Kuanhama )O Reino Kwanyama foi fundado no final do Séc.XVIII, por Kawongekwa, e teve como cidade principal, N’Jiva.Os Kwanyama foram a tribo que mais se destacou entre as tribos Ambó.Foi um Reino de economia e organização militar poderosa. A guerra dava-lhes escravos e gado.Os homens ocupavam-se da guerra, da criação de gado e da moldagem do ferro; as mulheres ocupavam-se da agricultura e da olaria, complementando a estrutura econômica. Na agricultura ocupavam-se principalmente do cultivo do milho, massango e massambala -- pequenos grãos de cereal.Mas a atividade que maior lucro lhes dava era mesmo a guerra, com os saques de gado e bens materiais, captura de escravos e expansão territorial.Enfrentaram de forma tenaz, as forças de ocupação colonial, nunca se deixando subjugar por completo, bem como se impuseram a todos os povos visinhos. Sempre se mantiveram militarmente organizados e preparados para os confrontos bélicos, não só por motivos expancionistas, mas principalmente para a preservarem a independência econômica. Políticos astutos, chegaram a negociar por diversas vezes a paz, mas como mera estratégia, para consegurem tempo para se reestruturarem; tão logo se sentiam de novo fortalecidos, voltavam ao combate.Povo de um orgulho inflexível, os chefes militares Kwanyamas, quando derrotados em alguma batalha, se a retirada estratégica não era possível, preferiam suicidar-se a ser feitos prisioneiros; preferiam a morte à vergonha da submissão.De educação Espartana, lacônicos e altivos, davam valor à coragem na mesma proporção que desprezavam a covardia. Qualquer guerreiro que eventualmente tomasse uma atitude de medo ou covardia, era sumariamente excluído do convívio dos homens, só lhe sendo permitidas as tarefas das mulheres.Em 1915, chefiados pelo Soba Mandumbe, enfrentaram e venceram as forças coloniais de ocupação. Mandumbe conseguiu manter essa vitória por pouco tempo; traído por comandantes militares em quem depositava total confiança, suicidou-se em 1917, e só então o Kwanyama foi conquistado.Reino do LobossiA formação do Reino do Lobossi, pode dizer-se que foi um dos episódios mais sanguinários da história dos povos africanos.No início do Séc.XIX, o grande chefe Tchaka – terrível – fundou o Império Zulu, constituído pela confederação dos povos Bantos do Leste, os Matabele, e ficava situado entre os Rios Orange e Zambeze, na Província de Natal, na África do Sul.Os povos visinhos, Bazutos e Bekwanas, temendo a proximidade de tão grande e poderoso reino, migraram em direção a Leste, em busca de maior segurança. O movimento migratório intensificou-se quando o Soba Mozilikatze, fugindo à tirania de Tchaka, assumiu o comando dos Matabele, marchou em direção ao Transvaal, e arrazou a ferro e fogo os povos da região.Por volta de 1824, chefiava a migração dos Bazutos, o Soba Tchibitano, que partindo do Orange conseguiu engrossar as suas forças, com guerreiros que capturava nas batalhas em que entrava, nas terras por onde passava.Atravessou o Kalaári e atingiu o território do Zambeze, sempre perseguido por Mozilikatze. As duas hordes acabaram sendo fundidas pelo gêno militar e político de Xi-Bytano, e passou assim este povo único a chamar-se Makololo.Como já nessa altura Xi-Bytano possuísse imenso rebanho bovino, procurando terras mais ricas em pastagens, atravessou o Zambeze pouco abaixo das Cataratas Vitória, e numa saga esmagadora e devastadora de povos pacíficos, mal armados e menos numerosos, acabou por fixar-se na região Kapwé, fundando aí o Reino Barotze-M’Bunda.Porém, os Matabeles conservavam-se inimigos tribais dos Mokololos, e foram atacar o novo reino que, perdendo o confronto armado, voltou a deslocar-se, indo para os domínios do povo Luy, que ia da margem esquerda do Zambeze, até ao Rio Kapombo, afluente deste.Xi-Bytavo, verdadeiro gênio militar e político, com relativa facilidade conquista o Reino Luy e o organiza. Mas os Luynos eram inteligentes, e apesar de militarmente subjugados, insinuando-se aos poucos, acabaram por substituir os Makololos no contrle político do reino.Os matabeles ainda tentaram nova incursão contra os Makololos, mas desta vez, Xi-Bytano, numa manobra militar de mestre, conseguiu sitia-los nas ilhas do Rio Zambeze, onde acabaram por render-se pela fome.Tem início depois disto, um longo período de paz e de prosperidade. Xi-Bytano morre e é substituído por sua filha Mamoxissane, que por sua vez casa e transmite o poder ao marido Tchikereto. Este Soba reinou pouco tempo, adoeceu e morreu em 1863, sendo substituído por seu irmão Omborolo.Os Luynos, descontentes com esta sucessão irregular, rebelaram-se em 1864, chefiados por Tchipopa, mataram Omborolo e massacraram quase todos os MokololosTchipopa mostrou-se um monarca ditador, sanguinário e cruel – divertia-se por vezes alimentando jacarés com crianças da tribo – e em pouco tempo foi assassinado por seu sobrinho Manuanino, de dezessete anos, que se proclama Soba, e que como primeira medida manda matar todos os chefes que o haviam apoiado no golpe.Entretanto, os poucos chefes que escaparam, juntaram-se e organizaram-se, provocando novo levantamento popular contra a tirania de Manuanino.Foi outro período sangrento de guerras e assassinatos tribais, pois Manunino, perspicaz apesar da pouca idade, havia previsto e se preparado para qualquer tipo de insurreição ao seu governo; mas os aliados de Manuanino, descontentes com prepotência do chefe, começaram a desertar, enfileirando ao lado dos rebeldes ao reino.Enfraquecido e praticamente sozinho, em 1878, Manuanino foge, acompanhado de uns poucos guerreiros fies a ele. Assume o poder o seu primo Lobossi, que fundou o reino a que deu o seu nome. Os Grandes ChefesLobossi do LuyLobossi, subiu ao trono do Luy – Lia-Luy – aos dezenove anos, em 1878. De extraordinária inteligência, herdeiro de um poderoso reino, com um vastíssimo rebanho de gado bovino, destacou-se como admonistrador e político, conduzindo o reino numa fase de prosperidade econômica crescente.Debilitado militarmente, apesar do poder econômico de que o seu reino desfrutava, preferiu as alianças políticas com as forças colonialistas, aos confrontos em armas. Com ele contatou Serpa Pinto, que partira em expedição de Bengula em finais de 1879, com a missão de negociar a abertura do livre comércio na África Oriental. Uma das cláusulas importantes, dos acordos e alianças entre Lobossi e Serpa Pinto, foi a proibição do tráfico de escravos nos domínios do reino.Lobossi não perdeu a oportunidade de dar a Serpa Pinto, uma demonstração do poder econômico de que dispunha; ofereceu à pequena comitiva do sertanejo Português, 30 bois, que segundo a tradição deveriam ser imediatamente sacrificados para um banquete acompanhado por dezenas de cabaças de kimbombo – bebida fermentada de milho – como prova de regozijo pela presença do visitante.De toda essa carne, seria oferecida uma perna ao Soba, e uma pequena porção aos conselheiros e homens de confiança, todo o resto era para a exígua comitiva de brancos.Ekukui II do BailundoQuando Ekuikui II assumiu o trono dos Bailundos, em 1876, já os Portugueses dominavam boa parte do Norte de Angola e se preparavam para dominar o Sul.O Monarca negro, com uma visão perspicaz, entendeu que os brancos invasores, eram um inimigo mais poderoso, e conseqüentemente o que primeiro precisava de ser combatido e aniquilado.Resolveu preparar o seu povo para a guerra contra os brancos; parou todas as pequenas guerras, que tanto desgaste e pouco proveito traziam à nação Bailundo, fortaleceu-se economicamente, através de produtos que comercializava – milho, cera, mel, marfim e escravos – fortaleceu e estruturou o exército, e estabeleceu diversas alianças políticas com outros povos, sendo a principal, com o Monarca N’Dunduma do Bié.As fprças coloniais de Portugal, percebendo a estratégia engendrada por Ekukui II, e sabendo que o Soba Bailundo estava iniciando conversações e alianças com outros povos do Planalto Central de Angola, decidiram atacar o Bailundo e o Bié simultaneamente, antes que as alianças políticas se consumassem, e as tribos do Planalto Central, com a sua adesão, mais fortalecessem os exércitos coligados aos Bailundos.A luta contra Portugal durou toda a sua regência, isto é, até ao ano de 1893, ano em que morreu.Mas seu sucessor, empossado sem grandes pompas, continuou a guerra.Mandumbe dos Kwanyamas e Matobe dos Kwamatuy ( Kuanhamas e Kuamatos )Mandumbe, sucessor dos Kwanyamas e Matobe, sucessor dos Kwamatuy, insatisfeitos pela forma como os reinos que respetivamente herdariam, estavam sendo governados, prepararam o estratagema que anteciparia a subida deles aos tronos dos dois territórios, e assumirem o poder; decidiram que Mandumbe mataria o Soba Kwamatuy e Matobe mataria assassinaria o Soba Kwanyama.Mortos os soberanos, os sucessores foram proclamados Sobas, Matobe com 18 anos e Mandumbe com 16 anos.. Mandumbe começou por governar na Embala Pequena – Pereira D’Eça, dos tempos coloniais – pois não tinha ainda idade para ir para a Embala Grande, N’Giva.Mandumbe mostrou-se desde o início do seu reinado, um monarca fantástico, carismático, inteligente, coerente, e um estrategista militar de primeira qualidade.Desde o princípio da sua regência, ditou leis que revolucionaram os costumes do povo; como medida de higiene, mandou que todos os homens, a partir dessa altura, começassem a andar com a cabeça e a cara raspadas, e para mostrar até que ponto fazia questão de que a sua determinação fosse cumprida, mandou chamar um velho feiticeiro que vivia afastado da tribo, e que por todos era temido, e em frente ao povo reunido, ele mesmo cortou os cabelos e a barba do eremita.Castigava de forma severa todo o adulto que tirasse um fruto verde de uma arvora, e o rejeitasse por estar verde, bem como quem danificasse plantas que fossem produtoras de alimento. Descobriu e explorou as Tchipakas – reservatórios de água – utilizando os furos artesianos, melhorou a agricultura, utilizando sistemas de irrigação.Mas principalmente, armou, reorganizou e começou a treinar o seu exército para a guerra.Repeliu uma invasão dos Ingleses ao território Kwanyama, e aproveitando-se da guerra entre Portugueses e Alemães na disputa pelo Sul de Angola, consegue adquirir armas dos Alemães, para combater o Português.No 1º confronto que teve contra o exército Português, ainda na Embala Pequena, em 1915, Mandumbe perde a batalha e retira estrategicamente. Percorre então todas as Nações Ambó, incitando-as a se unirem contra o invasor branco.Unidos, os Ambó enfrentaram e venceram as tropas do Comandante Pereira D’Eça, que foram por sua vez obrigados a fazer a sua retirada estratégica.Portugueses e Ingleses uniram-se contra Mandumbe em diversas batalhas que nada decidiam, até que conseguiram corromper alguns aliados dos Ambó e assi venceram as batalhas de Môngua e Mufilo.Desgostoso com a traição, e vendo-se irremediavelmente perdido, Mandumbe mata os últimos guerreiros que estavam com ele, e suicida-se em 1917.Sobrevieram depois questões entre os Portugueses e os Ingleses, porque os Ingleses, tendo-se apossado da cabeça de Mandumbe, alegavam ser eles os verdadeiros conquistadores dos Kwanyama, e reivindicavam por isso a revisão e o alargamento das fronteiras. Após uns quantos confrontos bélicos, a opinião Lusitana acabou por prevalecer.M’Bula Matady dos KonguesesM’Bula Matady, que significa quebra pedras, foi talvez o 1º grande chefe de uma Nação Africana, a opor resistência armada à ocupação colonial Portuguesa.Em 1570, o grande monarca chefiou uma revolta contra os Portugueses e foi repelido.Reuniu então todos os povos do reino, e iniciou uma resistência armada que durou anos, à ocupação do território do Kongo, pelos representantes do Reino de Portugal.Resistência que manteve até à sua morte, e que o seu sucessor, desgastado pela guerra, achou por bem terminar.N’Zinga M’Bandi ou Rainha GingaApós envenenar o seu irmão N’Gola M’Bandi, o Soba de N’Gola, sobe ao trono N’ Zinga M’Bandi, por volta de 1619 ou 1620. Viria a tornar-se uma das figuras mais carismáticas de toda a História de Angola e dos povos de Angola.Ainda durante o reinado do seu irmão N’Gola M’Bando, é enviada por ele a Luanda, para negociar com o Governador colonial, Pedro de Souza Coelho, a expulsão dos Jagas, povo ancestralmente inimigo dos Gingas, da região de Kassange e Pungo Andongo.Recebida em Luanda pela autoridade Colonial, vinca desde o início a sua personalidade; entrando N’Zinga M’Bandi no salão de recepção, repara a N’Zinga M’Bandi que havia apenas uma cadeira para o Governador, restando para ela e comitiva, almofadões e peles de leopardo espalhados em semi-círculo, pelo chão, em frente à cadeira.Recusando-se a falar em nível inferior ao do interlocutor, o que aconteceria se se sentasse nos almofadões, fez um sinal aos membros da comitiva, de onde se destacaram vários para, com os próprios corpos fazerem um trono improvisado, mais alto do que o do representante do Reino de Portugal, onde ela se manteve sentada até ao final da audiência.No início dessa audiência, o Governador Português tentou exigir da parte dos Gingas o compromisso do pagamento anual de um tributo de vassalagem. Mal escutou a proposta, a orgulhosa embaixatriz dos N’Gola, replicou vivamente, que tal condição só deveria ser imposta um povo conquistado, vencido, e jamais a um príncipe soberano, que voluntariamente buscava a amizade de um outro seu igual.N’Zinga M’Bandi aspirava sobretudo à unificaççao de todos os sobados N’Gola, mas a confusão era grande naquela altura; o Reino do Kongo pretendia anexar aos seus domínios os mais próximos sobados do Reino de N’Gola. Por sua vez, nem todos os Sobas N’Gola concordavam com as idéias de unificação da soberana. Os sobados entre N’Gola e Kongo, eram vassalos ora de um ora de outro, e por vezes, de ambos.Aumentando ainda mais esta confusão geral, havia a presença dos Portugueses, cujo domínio político não era efetivo; mas o poderio pelo Kongo, em virtude do auxílio dos colonizadores, levavam os sobados menos poderosos de N’Gola, a aproximarem-se também.É nesse caldo de indefenição política que a Rainha Ginga começa a ocupar militarmente e a tutelar diversos sobados menores, como os de Lukala, N’Dondo, Matamba, Kassange, Dembos e Kissama, alguns do Kongo, e alguns do Planalto Central.As tropas Portuguesas, não conseguindo bate-la na guerra, lhe aprisiona duas irmãs, que leval para Luanda.Mais tarde, alia-se aos Holandeses, que haviam ocupado Luanda, e deles se manteve aliada durante os sete anos que durou a ocupação.A sua ação durante este período de tempo, ajuda de forma eficiente os Holandeses, e foi realmente contra exércitos por ela comandados, que se passaram os episódios mais sangrentos das guerras do Massangano.Derrotados e explusos os Holandeses, a Rainha Ginga depõe as armas, e tenta uma cartada diplomática, negociando a paz.Com tanto sucesso negocia, que consegue além da paz, a libertação das suas duas irmãs, cativas desde 1628.Derrotada, não esqueceu os ideais de hegemonia e unificação do seu povo, e em 1671, aos setenta anos de idade, tenta mais uma vez, embora sem resultado, um movimentos de revolta.Em 1680, aos setenta e oito anos de idade, morre no Pungo Andongo N’Zinga M’Bando, ou Rainha Ginga, ou D.Ana de Souza -- nome Cristão com que fora batizada em Luanda, quando pela 1ª vez, e na qualidade de embaixatriz de seu irmão, o Soba N’Gola M’Bando, se confrontou com as autoridades coloniais Portuguesas.Morreu cercada por seu harém de homens, que fazia questão de manter vestidos de mulher, e que a tratavam como se fosse homem.Morreu a mulher, não o mito. ORGANIZAÇÕES POLÍTICO-RELIGIOSASWatch TowerO movimento religioso Watch Tower foi fundado na Pensilvânia, na cidade de Allegany, em 1872, por Charles Taze Russel que, baseado numa particular interpretação da Bíblia, dava como falsas todas as outras religiões ou divergências do Cristianismo.Os seu membros consideravam-se os únicos verdadeiros, e começaram por designar-se simplesmente CRISTÃOS, vindo posteriormente a adotar o nome de Watch Tower.Com propaganda eficiente nas classes mais receptivas, e tendo em cada novo membro um angariador convicto, o movimento se espraiou rápido pelo mundo.Em 1879 saiu o prmeiro jornal do movimento com tradução em várias línguas; em Português teve o título de “A SENTINELA”, e era editado no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.Em 1884, num processo de organização e garantia de continuidade, é fundada a sociedade chamada “THE WATCH TOWER BIBLE AND TRACT SOCIETY”.Com esse noma se manteve até 26 de Junho de 1931 quando, num congresso com representantes de todo o mundo, em Columbos, Ohio, optaram pelo nome de “JEHOVAH’S WITNESSES – TESTEMUNHAS DE JEOVÁ”.Segundo os seus adeoptos, só existe uma religião verdadeira, a que foi praticada por Adão e Eva, antes da expulsão do Paraíso, e cujos preceitos foram diretamente ditados por Deus.As outras religiões aparecem em função da desobediência do Anjo que Deus encarregou de vigiar Adão e Eva. Esse Anjo, querendo passar-se por Deus, mandou a serpente tentar Eva, para comer do fruto da árvore do bem e do mel. Frutificaram daí as outras religiões, mas Deus assegurou o triunfo final aos seguidores da verdadeira religião.Em Angola, o Watch Tower estabeleceu-se ao Sul de Benguela, área em que essencialmente exerceu a sua influência.Foi um dos pólos a minar a soberania portuguesa, pois do ponto de vista político e social, induz à rebelião permanente contra todos os valores constituídos, por considera-los forças do mal, ou pelo mal emanadas, já que não estão nos parâmetros da Watch Tower.Os adeoptos negros das testemunhas de Jeová, fortalecidos e encorajados na fé à religião adotada, começaram a ter a coragem de afrontar e renegar todos os valores políticos, sociais e religiosos dos colonizadores.KimbangismoO Kimbangismo foi a doutrina iniciada por Simão Kimbango, que lhe deu o nome.Simão Kimbango nasceu em 1881, na Missão Batista de N’Gombe Lutete, circunscrita a Thisville.O pai de Simão Kimbango era Kimbanda na tribo, e assim ele assistia desde cedo às cerimônias de cura, com as concernentes evocação dos espíritos, com médiuns em transe, convulsões e tremores nervosos, que mais tarde caracterizariam os seus cultos.Freqüentou a missão como estudante, mas só chegou a catequista -- ministrava o ensino do catecismo às crianças - pois sofria de um problema vocal o que o impedia de dominar a palavra oral.Numa viagem ao Kushase teve uma visão e um desmaio, em que lhe aparece um ser com uma Bíblia e lhe impõe pregar a palavra de Deus.Nas pregações impressionou pelos tremores e convulsões e começou a reunir adeptos e seguidores.Já com um grupo expressivo de seguidores, auto denominou-se com o epíteto de “Grande Profeta”, organizou uma hierarquia, e passou a chamar a aldeia de “Nova Jerusalém”.Em pouco tempo a religião foi degenerando em movimento político e revolucionário, e os Belgas, então colonizadores do Congo, quando se aperceberam da amplitude do movimento, ordenaram a prisão do líder religioso.Simão Kimbango foi preso, mas em pouco tempo conseguiu evadir-se, o que fez com que subisse extraordinariamente na consideração e conceito dos kimbangistas.Os adeptos de hierarquia mais elevada começaram então a anunciar que ele voltaria como libertador, e nessa condição lhes traria a paz, alegria e todas as riquezas.Volta entretanto a ser preso, e desta vez é julgado pelas autoridades coloniais como chefe de rebelião civil e política, e o condenam à morte, pena comutada pelo Rei Alberto da Bélgica, em prisão perpétua.Morreu exilado no Katanga, em 1951.Mas o Kimbangismo, que sobreviveu à sua morte tendo como líder Simão M’Padi, mistura elementos e dogmas das religiões tradicionais, e do Antigo e Novo Testamento, com estaque e ênfase para os aspectos proféticos.Kimbango, que era iconoclasta e moralista, proibira as imagens sacras, os feitiços, a poligamia e as danças com conteúdo e conotação erótica ou obscena, como as da fertilidade.Com a infiltração política, acrescenta mais três proibições ou orientações:- Proibição do pagamento do imposto colonial- Proibição de novas plantações de mandioca- Proibição da limpeza dos caminhos que levavam ao cemitérioEra a negação à condição de dominado, a negação à produção de alimento acima do necessário para o consumo das populações indígenas, e a negação ao servilismo pelos valores dos colonizadores.Após a morte de Simão Kimbango, com Simão M’Padi, manifesta-se também de maneira irrefutável, a tendência anti européia.TocoísmoSmão Toco, que deu nome e origem à “Seita Tocoísta”, nasceu em Sadi Kibongo, em Makela do Zombo, em 24 de Fevereiro de 1918.Em pequeno freqüentou a escola da Missão Batista de Kibokolo, com tal aproveitamento que em 1933 é enviado com bolsa da missão, para estudar em Luanda, no Liceu Salvador Correia.Depois de completar o Primeiro Ciclo, voltou à missão para lecionar. Orador persuasivo e catalisador das atenções. Foi bem sucedido a ponto de, dali ser enviado para lecionar na Missão do Bembe.Cinco anos depois, com encargos que não correspondiam ao salário, e sentindo-se injustiçado por não o valorizarem como sabia que merecia, emigrou para Leopoldville.Na missão batista da cidade congolesa, e com os antecedentes que tinha, arranjou emprego, passando também a reger um coro de jovens angolanos.A partir de 1940, deixa-se influenciar pelo movimento do Watch Tower – Torre de Vigilância – seita conhecida no Congo pela denominação de Kitawala, cujp poder de agregação muito o impressionou.Simultaneamente Toco entra em contato com membros do Kimbangismo, e o que mais o seduz é o fato de um negro ter tido a capacidade de fundar uma religião só para negros.Em 25 de Julho de 1949, Simão Toco assiste a um ritual em que acontece um fenômeno de catarse coletiva, o que definitivamente o motiva a fundar a sua própria religião. Desliga-se das missões batistas e começa a reunir-se com adeptos iniciais em sua própria casa.Em 22 de Novembro, ele e uma centena de seguidores, são presos pelas autoridades coloniais portuguesas, que lhe fixam residência no Bembe; mas o ditador Português Salazar, não se contentava em impedir o povo de pensar e escolher os seus destinos políticos. Com fortes ligações com o clero, na figura do Cardeal Cerejeira, roubava-lhe também a liberdade de optar por qualquer outra religião que não fosse a católica.Religiões eram fortemente reprimidas, e o Tocoísmo, com conotações políticas e raciais, mais do que todas as outras. Por espalhar a sua doutrina, Simão Toco foi assim sendo transferido para Luanda, Kasonda, Kalukembe, Kassinga, e por todos os lugares ia deixando a sua semente da doutrina Tocoísta.Os Tocoístas, vestidos de um branco imaculado, seguiam praticamente à risca os preceitos políticos e unirraciais do Kimbangismo, o que os levou a entrar em choque com os Universalistas do Watch Tower.Politicamente pregavam a necessidade de expulsão de todos os brancos e de uma independência negra. * * *Em países africanos, como por exemplo a Nigéria e o Kassay, no tempo em que eram colônias Inglesas, surgiram diversas associações secretas, de caráter meramente político, e que tinham como objetivo eliminar os brancos começando pelos religiosos das missões. No ex Congo Belga, os movimentos revolucionários armados pela independência, começaram precisamente nas missões religiosas, onde foram feitas verdadeiras chacinas.Na Nigéria, os Ingleses deram aos povos dessas associações o nome de “Silenciosos”, e no Kassay foram chamados de “Rostos Brancos”.O Secreto, deve-se unicamente ao fato de se terem formado as associações sem o conhecimento do colonizador, o que é óbvio, pois tinham como objetivo eliminar esse mesmo colonizador. * * *No ex Congo Belga, depois Zaire e atualmente República Popular do Congo, surgiram algumas sociedades secretas que tinham como principal objetivo preservar costumes e outros aspectos culturais da influência repressora do colonialismo; um dos costumes mais fortemente reprimidos era o canibalismo.Na região de Maniema, território de Shabunda, ao norte da Província de katanga e ao sul de Stanleyville, surgiram as sociedades secretas do Bwamé e dos Homens Leopardo, esta última responsável por milhares de mortes de homens, mulheres e crianças, na segunda metade do século XX.Aliás, Maniema significa textualmente “Comedores de Homens”.Em relação às tribos Maniema, Henry M. Stanley disse: - Esses selvagens só vêem um congresso missinário como matéria prima para um rosbife.Comunismo TribalEm várias tribos, das mais diversas etnias angolanas, se verifica a existência de alianças intertribais em que se encontra o sistema de bens comunitários.A riqueza comum é colocada à disposição da comunidade, e a administração desses bens é exercida em comum, ou por membros escolhidos por todos.E o Coletivismo, prática altamente vantajosa para a maioria, em que clãs aparentados -- leão com onça, mabeco com cachorro, elefante com rinoceronte -- se aliam em cooperativas de sistema coletivista, visando o interesse comunitário.No Sul, verifica-se muito este tipo de coletivismo entre as tribos Kilengues, Dombes, Kwanyamas, Kwamatuy; ao Norte entre Kikongos e Kimbundos; e a Leste entre os Ganguelas.Mas no Kwanza Sul, na foz do Rio N’Gunza, existe uma tribo onde se pratica o comunismo puro, no sentido filosófico.Todos trabalham em prol da comunidade, de acordo com as suas possibilidades, e a todos era distribuído o produto de acordo com as suas necessidades.Era o Kimbo do Ximbutica, Soba sábio e tolerante que soube fazer do seu pedaço de terra -- o delta da foz do rio -- um éden de prosperidade e boa vontade, sem cobiças nem ganâncias. A cultura e os costumes dos PigmeusPOVO FEIO E COMGRANDES BUNDAS: LENDASOs Pigmeu criaram formas culturais próprias, de acordo com as exigências do seu hábitat. Isso, ao lado dos obstáculos geográficos e naturais, foi um dos fatores que os levou a viver isolados. Mesmo os poucos intercâmbios comerciais de carne e mel selvagem sempre se deram através de intermediários.O longo isolamento na selva e a falta de contato com os demais povos africanos deu origem a lendas absurdas e racistas. Costumava-se descrevê-los como um povo muito feio, meio animal, chegando-se a fantasiar que possuíam grandes rabos.Tais lendas foram responsáveis por atitudes discriminatórias por parte dos Bantu africanos, como também dos árabes e europeus, que os consideravam animais, sem alma. Há umas dezenas de anos, por exemplo, a tribo africana dos Magbetu perseguiu e matou todos os Pigmeu de seus arredores, caçando-os como se fossem javalis.Fisicamente bem proporcionados, os Pigmeu são "baixinhos" se comparados aos nossos padrões: a altura média das mulheres é de 135 centímetros e a dos homens, de 145. Eles mesmos consideram sua baixa estatura uma vantagem, porque os faz ágeis em suas andanças pelas obscuras selvas africanas. E ainda fazem troça, chamando os altos e fortes Bantu de "elefantes desajeitados".A cor da pele, acobreada e com matizes avermelhados, distingue-os claramente dos Bantu, de pele negra ou café-escuro. Também se diferenciam por suas tradições, costumes e sistema de vida. Por isso, é comum ouvir um pigmeu dizer: "Biso na baindu..." - "Nós e os negros...".Em todos os grupos pigmeus, a unidade sócio-econômica é a aldeia, formada por uma dezena de cabanas e habitada por grupos de trinta a setenta pessoas. O mais velho, ou o caçador mais hábil, preside cada unidade.A cabana, semi-esférica e totalmente coberta de folhas, tem de 2 a 3 metros de diâmetro e uma altura que raramente supera os 150 centímetros. Antigamente, sua construção era tarefa exclusiva das mulheres.Os instrumentos de trabalho dos Pigmeu são poucos e feitos com madeira, ossos, chifres, fibras naturais e vegetais, dentes e sementes duras. Além de suas casas, são hábeis na construção de pontes de cipó sobre os rios. CAÇA: MOMENTO MÁGICODA COMUNIDADEA estrutura social dos Pigmeu é muito precisa, e há uma nítida divisão sexual do trabalho. As mulheres recolhem na selva tubérculos, fungos, larvas e cogumelos. A pesca, que só acontece na estação seca, é reservada, em alguns grupos, às mulheres e crianças.Já a caça é atividade exclusivamente masculina e se constitui num momento mágico na vida da comunidade pigméia. Os homens se preparam para sair à caça se abstendo das relações sexuais e evitando toda "ofensa" à comunidade. Antes de partirem, há cerimônias de purificação e propiciação.Nessas cerimônias, Mama Idei, a mulher mais velha do grupo, joga punhados de folhas sobre o fogo, fazendo a seguinte oração: "Abençoa, ó Deus, esses filhos teus. Olha para eles com atenção: estão famintos! Faz com que muitos animais caiam em suas mãos".Então, com a boca cheia d'água, benze os arcos, as flechas e as redes dos caçadores com pequenos borrifos. Em seguida, cada caçador enche a boca de água e borrifa sobre o fogo, pedindo o perdão de seus pecados: "Deus, se agi mal, perdoa-me. Que a caçada não fracasse por culpa minha".Certos grupos pigmeus são famosos pela caça do elefante, uma atividade valente e arriscada. Nela, alguns caçadores se aproximam o mais possível do animal e dificultam-lhe a marcha para que se distraia e caminhe devagar.Enquanto isso, um dos homens se arrasta por debaixo do ventre do animal e lhe corta os tendões de uma das patas traseiras. Dessa forma, o elefante, debilitado e ferido, cai ao chão, e todos os caçadores se reúnem para matá-lo. DIVERSÃO: DANÇAS COLETIVASE JOGOS MÍMICOSOs Pigmeu, por viverem na floresta tropical escura, quente e úmida, encontram na coleta e na caça suas formas de subsistência. Não acumulam alimentos nem bens naturais e vivem daquilo que a natureza lhes oferece. Mas nem sempre contam com o suficiente para atender às necessidades mínimas - às vezes, passam longos períodos de fome.Como os demais povos caçadores da África, nunca se interessaram nem pela agricultura nem pela criação de gado. O único animal doméstico que costumam ter é o cachorro.A mulher é muito respeitada na sociedade pigméia, e a monogamia é uma tradição tão firme que chega a ser difícil aos estudiosos explicá-la.O homem em idade de casar busca uma esposa em um grupo distinto do seu. É uma forma de intercâmbio: um grupo cede a outro uma mulher se este está em condições de dar-lhe outra no lugar, para que o vazio deixado por uma seja preenchido pela outra.Todas as noites, os Pigmeu costumam se reunir em danças coletivas e jogos mímicos, que são suas atividades preferidas nas horas de lazer.Não é fácil falar da religião dos Pigmeu, porque eles não costumam expressar suas crenças com ritos externos e, além disso, a religião dos diferentes grupos não é uniforme.Geralmente, crêem num Ser Supremo criador, que se personifica no deus da selva, do céu e do além. Crêem ainda que as almas dos bons se convertem em estrelas do firmamento, enquanto as almas dos maus são condenadas a vagar eternamente pela selva e dão origem às doenças dos humanos.Os Pigmeu acreditam também na vida além da morte, mas não se estendem muito sobre o assunto, logo se esquecendo das tumbas de seus antepassados.POVO BANTU:PATRÕES NEGROS DOS PIGMEUAs relações dos Pigmeu com a administração dos Estados em que vivem são complicadas e difíceis, como para qualquer povo semi-nômade. Os governos querem que se tornem sedentários para obrigá-los a seguir seus programas de desenvolvimento e integrá-los à economia nacional.Alguns países pretenderiam usar os Pigmeu como curiosidade turística e convertê-los em patrimônio nacional, como se se tratassem de animais raros de uma reserva. Esta é uma situação discriminatória que, nascida das diferenças entre os Pigmeu e os demais povos africanos, ainda perdura hoje.De natureza dócil e ingênua, os Pigmeu foram facilmente subjugados pelos Bantu. Em certas regiões, chegam a ser considerados parte do seu patrimônio familiar e, como tais, são transmitidos como herança de geração em geração.Nessas condições, é o patrão negro quem responde por eles diante da sociedade. Defendem-nos em tribunais, onde às vezes os Pigmeu nem sequer têm o direito de comparecer, e conservam seus eventuais documentos públicos, que usam sem maiores controles.Os Bantu desfrutam dos bens que os Pigmeu caçam e colhem e exigem que trabalhem em seus campos. Em troca, lhes dão retalhos velhos de tecido, alguns produtos de cultivo e até suas cabanas, quando estas já estão semidestruídas.VIDA E CULTURA AMEAÇADASPELO PROGRESSOQuando estão entre estranhos e distantes de seu hábitat, os Pigmeu parecem tristes, preguiçosos, introvertidos. Na selva, ao contrário, são alegres, muito ativos, comunicativos e acolhedores. Para eles, o sistema comunitário é essencial e determinante.Enquanto para o negro em geral a selva é uma madrasta perigosa, para os Pigmeu é uma mãe amorosa que os acolhe, nutre e protege. Dela eles recebem o material para construir suas cabanas, a madeira para seus arcos e flechas e o alimento cotidiano.Hoje, como no passado, a sorte dos Pigmeu está ligada à selva. Fora dela, sua cultura e sua vida se perdem. Mas ultimamente o seu meio ambiente está sendo cada vez modificado e destruído pela extração de madeira, extensas plantações de café, minas de ouro e diamantes e implantações industriais.Além disso, o uso de armas de fogo por parte de negros e brancos afasta sempre mais os animais selvagens, dificultando a caça, atividade essencial para a subsistência dos Pigmeu.Qual o futuro dos Pigmeu? Eles conseguirão se integrar numa sociedade moderna sem perder a sua identidade cultural?A discussão avança em terreno desconhecido. Qual o tipo de desenvolvimento adequado para uma população semi-nômade? Sabe-se muito pouco a respeito, e há o risco, sobretudo, de se querer responder a essa questão em nome dos próprios Pigmeu LUGARES HISTÓRICOS ( TURÍSTICOS E CURIOSIDADES ) PINTURAS RUPESTRES DE TCHITUNDO-HULOA cerca de quarenta quilômetros do Virei, em pleno Deserto de Moçâmedes – Namíbia – existem dois morros gêmeos, sendo um deles conhecido como Morro Sagrado.No teto de pequenas grutas deste morro, descobriu-se em passado recente – 1949/1950 – uma série de pinturas rupestres representando principalmente cenas de caça.Arqueólogos acorreram ao local após a divulgação da descoberta, e foram encontrando também pelo solo, instrumentos diversos de pedra lascada.Comoção no mundo da Arqueologia e da História, mas por pouco tempo, pois estudos acurados de Geólogos comprovam que, além das grutas estarem muito expostas, são de rocha granítica, de fácil desagregação, e que essa desagregação é contínua, de tal maneira que, se as pinturas tivessem o tempo que se imaginava quando da descoberta, há muito haviam desaparecido. Conclusão, as pinturas, bem como os instrumentos encontrados, são do final do Século XIX, início do Século XX, e quase de certeza feitos pelos Mukuankalas.A História do Tchitundo-Hulo é no entanto pitoresca.No alto do morro hoje denominado de Morro Sagrado, havia uma aldeia que, pela posição que ocupava, era denominada Tchitundo-Hulo – Aldeia do Céu.Um dia, uma família de leões decidiu instalar-se também no alto do morro, e após devorarem um ou dois aldeãos, o povoado foi abandonado, deixando no entanto vestígios da sua civilização.O Morro Sagrado goza da fama supersticiosa de que, quem ousar profanar as suas encostas, é castigado com morte súbita, pelos espíritos dos antigos habitantes.Aconteceu há alguns anos atrás, um fato que veio corroborar e contribuir para a perpetuação dessa crença; um eminente professor da Universidade de Coimbra, Dr. Carriço, foi para o deserto de Moçâmedes estudar a Welwitchia Mirabilis, planta que só existe no Deserto da Namíbia/ Kalahári, e aproveitando para estudar também a flora do deserto.Cardíaco desconhecedor dessa sua condição, morreu vítima de ataque fulminante no esforço da subida da encosta..Para os supersticiosos foi o cumprimento da professia da ira dos espíritos.Curioso também, é que são dois os morros, “gêmeos”, mas só a um a superstição do povo impôs o tabu. WELWITCHIA MIRABILISO Deserto Namíbia/Kalahári é o único lugar do mundo onde pode ser encontrada esta original planta.De folhas largas e espraiadas, com fibras extremamente duras, e uma raiz que vai buscar água a profundidades impressionantes. Muitos Botânicos consideram que se trata de uma planta marinha, adaptada a novas condições de vida após o reinado das águas, e de uma resistência admirável.O androceu da planta apresenta uma meia calote esférica convexa, com flores polinizadas; o geniceu apresenta a forma da grandes lábios vaginais como receptáculo para a polinização.Considerada também por muitos biólogos como a transação entre o reino vegetal e o mineral,a planta é na verdade, um elo entre as Gimnospérmicas e as Angiospérmicas. TCHIPAKA (MURALHA DE PEDRAS)DE KANGALONGUECerca de setenta quilômetros da cidade da Huíla. Em Kangalongue, encontra-se a muralha de pedras que tem uma forma singular, ( figura na página seguinte ).No lado esquerdo de quem entra nas muralhas, encontra-se uma lage de pedra queimada, que sugere um altar de sacrfícios.A cerca de seis quilômetros de Kangalongue, encontram-se os amuralhados de Jaú. De forma circular, também em pedra, mas com uma única entrada, também construída em pedra, e com vestígios de cabanas.Próximo uns cinco quilômetros, estão as grutas de Kondimba, onde se vêem ossos insepultos e restos de cerâmica.Tchipaca (Muralha de Pedra) de Cangalongo – Sul para Norte( no vão a Norte, a Lage Queimada) MENIRES DOS HOMENS DO NEVOEIRONo Deserto de Moçâmedes/Namíbia, perto do Morro Vermelho, encontran-se umas pedras grandes e estreitas, dispostas de tal maneira, que podem sugerir vestígios de um povo.A Oralitura – tradição oral – dos Kwepes, conta sobre um povo de baixa estatura, designado por “OWAKUAMBUNDO”, de “OWA” que indica plural, “KWA” que significa nevoeiro, e “M’BUNDO” que significa “ humano”, o que numa tradução livre, podem ser nomeados como “AO HOMENS DO NEVOEIRO”.Ainda segundo a tradição oral dos Kwepes, o povo Owakwmbundo, encontrava-se numa fase de evolução tão primitiva, que sequer conhecia o fogo, e teriam sido exterminados pelos próprios Kwepes, no que é hoje o Oásis de São João do Sul.Habitavam as cercanias do Morro Vermelho, num nomadismo restrito, não se sabe desde quando, embora haja notícias datadas do século XVII, que comprovam sua existência nessa época. MUXIMA – NOSSA SENHORA DA MUXIMAA Santa Padroeira – não oficial – dos povos do Norte de Angola, é a Nossa Senhora da Muxima, cuja igreja se encontra na Kissama, e a quem, há cerca de cem anos se vêm atribuindo milagres os mais diversos.Movidos pela fé aos seus poderes, para a Muxima se dirigem peregrinos, que a pé, chegam a percorrer mais de trezentos quilômetros.Os fiéis vêem com papéis onde trazem escrito os pedidos, reivindicações, agradecimentos, e até reprimendas e admoestações por pedidos não concedidos.A fé de uma boa parte dos povos de Angola não Cristianizados, se confunde muito com as crenças supersticiosas feiticistas, onde se barganha e negocia muito com as entidades, através dos sacerdotes.Para dar uma idéia dos pedidos que são feitos à Santa, e como são feitos, transcrevo um, tirado do Livro “Por Terras de Angola, de Lima Vidal, também transcrito por Henrique Galvão em “Outras Terras Outras Gentes”.Quote:“Pelo sinal da Santa Cruz livre-nos Deus Nosso Senhor, inimigo. Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo, Amém.Ilma, Exma Senhora Dona Maria Santíssima da Trindade da Muxima. Eu sua pregadora Beatriz de Souza Santos, que faço esta promessa, pedindo à D. Senhora a sua fineza desta enfermidade de lumbriga que eu tenho para eu ficar sadio o cirurgião quando me cura o remédio fica sem efeito para que quando me der saúde estarei pagar 400 Réis pela minha D.Senhora se não me dei são de então não pagarei nada como pediu a D.Senhora pois o meu pedido seram servido para eu estar pagar. Peço e mais peço me ajudar com essa minha enfermidade a minha Senhora.Sem mais dizerTomba 5 de Fevereiro de 1912Sua pregadoraBeatriz de Souza Santos”UnquoteÉ um pedido negociado, mas franco e aberto, nele não existe hipocrisia nem dissimulação.Em dúvida, também não se pode negar que esteja impregnado de fé, muito menos se pode negar fé, a quem viaja, se desloca por distâncias enormes, a pé, para se dirigir a uma entidade em seu próprio templo. O FORTE E AS PEDRAS DE KANDUMBOA cerca de vinte e cinco quilômetros da cidade do Huambo, em direção ao Bié, ergue-se uma monstruosa massa granítica, que foi cenário de titânicas lutas do Soba N’Dala, contra os colonizadores portugueses; essa massa é o soberbo forte natural das Pedras do Kandumbo!Os Huambos, anteriormente batidos na Embala do Huambo, perto do Soque, e depois nas Pedras da ganda e Kané, perto da Kaála, depositaram neste forte natural e no grande chefe N’Dala – víbora – e seus comandantes de guerra Kalley, Kassango, Tchipulowando e Tchinlundulo, todas as suas últimas esperanças.Decorria o ano de 1902, e os colonizadores brancos, ajudados por uma força Bôer, cercaram o Forte de Kandumbo; a batalha durou três dias e quatro noites, de tiroteio ininterrupto, no fim dos quais, em 20 de Setembro de 1902, o Capitão Teixeira Moutinho, do exército colonial, ordenou os últimos tiros de dois canhões de setenta milímetros, contra o povo Huambo.O Exército português, ajudado pelos Boers, pelos canhões e pela traição de um Soba, que mostrou ao sitiante a maneira de penetrar no Forte Natural, vencia a batalha do Kandumbo.N’Dala jazia morto perto da paliçada exterior.N’Dala teve como sucessores: Nondolo, Kachikwala,Xilundulo, Sambuanda e Samokoloco.Os crânios de N’Dala e sucessores, à exceção de de Sambuanda e Samokoloco, repousaram num relicário triangular, a que se dá o nome de Kalunda.Foram reconstruídas as cubatas de N’Dala e do Tchimbanda Samakaka, com o pequeno templo, Etambo, bem como algumas cubatas de guerreiros e mulheres deles.Segundo a crença dos huambos, o Soba N’Dala, bem como todos os guerreiros mortos na batalha de 16 a 20 de Setembro de 1902, não conformados com a derrota, ainda não deixaram as Pedras de kandumbo, sendo possível vê-los, encarnados nos pequenos Kanitas – roedores que vivem nas pedras – que se escondem e espreitam curiosos, à aproximação de qualquer estranho que venha como um intrometido devassar a monótona calma de memórias de antepassados.Alguns registros não confirmados, mencionam dois conselheiros pouco comuns entre os assessores de N’Dala: um Liberiano da Monróvia e um Hádgi da Costa do Marfim.Libéria é uma República fundada por Norte Americanos em 1821, na Costa Ocidental da África, para receber os escravos alforriados. A capital é Monróvia, em homenagem a James Monroe, Presidente dos EUA entre 1817 e 1825.Hadgi é o nome dado pelos Muçulmanos, aos fiéis que já tenham feito a peregrinação a Meca e Medina, em visita à Kaába, ou Pedra Negra, lugar santo da Religião Muçulmana.Os Hádgi são considerados santos hoemns, sábios, pelas suas constantes citações dos Surate – Capítulos do Coorão. PUNGO ANDONGOAs Pedras Negras do Pungo Andongo, gigantescos megalitos a cerca de cem quilômetros de Malange, situam-se entre o Lukala e o Kuanza, a Oeste de M’Baka.A configuração dessas pedras enormes, que chegam a atingir mais de cem metros de altura, é de uma magnificência rude, que chega a lembrar paisagens extra terrestres.Esse monólitos de configuração exótica, bojudos e lisos, erudidos por ventos milenares, são provavelmente o resultado de grandes convulções da Era dos Glaciares.A cpr predominante das rochas é o preto, apesar de serem constituídos de massas de gneisses, xistos vermelhos e calcários de colorações diversas.Impõem respeito, a imponência e o silêncio do Pungo Andongo.Foram a Fprtaleza Natural das hostes da célebre Rainha Ginga, ou N’Zinga M’Bandi quando, aspirando à unificação dos povos de todos os Sobados do Reino N’Gola, combatendo e submetendo Jagas, o Libôlo, a Matamba, o Kassange, se preparava para aumentar os seus domínios até à Kissama.O Pungo Andongo, como fortaleza inexpugnável que era, serviu de abrigo e lugar de reestruturação às tropas holandesas, a quem N’Zinga M’Bandi se aliou no combate aos portugueses.Dispostas como um labirinto assimétrico, guardadas em alguns poucos pontos estratégicos, tornavam-se um pesadelo para eventuais invasores.Mesmo na época atual, são poucas as pessoas da região que se aventuram nos seus meandros.Local de desaparecimento de muita gente, tornou-se também um tabu místico para os povos da região, que acreditam que o lugar é habitado pelos espíritos dos antigos guerreiros que, irritados com invasões indesejáveis, orientam os perdidos por caminhos errados, até que morram.Bem no alto de um dos maiores monolitos do Pungo Andongo, vê-se nítida, em baixo relevo na rocha, a marca de um pé enorme. Diz a lenda que é a marca da pegada de N’Zinga M’Bandi, que tinha esse lugar como ponto principal de observação à aproximação de tropas invasoras. Pedras Negras do Pungo Andongo e abaixo a marca do pé de N’Zinga M’Bandi QUEDAS DE ÁGUA DE KALANDULA DO RIO LUKALA MALANGEAs quedas de Água de Kalandula, que ficam no Rio Lukala, a cerca de noventa quilômetros ao Norte de Malange, são as maiores quedas de água de todo o território de Angola.Águas claras e brilhantes, despencam de aproximadamente cem metros de altura, em um semi círculo com cerca de duzentos metros de diâmetro, cercadas de exuberantes plantas tropicais.Caindo em pesadas massas, e de forma caprichosa, as águas chocam-se violentamente contra as paredes rochosas, com o ribombar de uma trovoada fortíssima, espalhando pela atmosfera uma poalha de água perceptível a grande distância, e constante.Após a magnífica queda, o Rio Lukala retoma a sua calma placidez, entre margens povoadas de palmeiras, até se reunir ao Rio Kuanza.Nessa área do território, são freqüentes as quedas de água. Numa área relativamente pequena, podem ser vistas também as quedas do Luando e as do Mussoledo, menores do que as do kalandula, mas também impressionantes.Quedas de água também dignas de anotação, são as do Rio Luena, no Moxico, e as do Rio Luando, no Bié. FORTE DE KABATULILAEntre Malange e Kafunfo, na Serra de Kabatukila, dominando a grandiosidade da Baixa de Kassange, encontra-se o forte a que a serra deu o nome, e que encerra séculos de história, mistérios e lendas.Construído inicialmente para repelir os ataques dos Bângalas, migrados do Nordeste de Angola, serviu depois mais tarde, como ponto de apoio aos portugueses, no combate à captura e comércio de escravos.Foi também usado como base nas frentes de trabalho e de pesquisa no combate à Mosca Tzé Tzé ou Mosca do Sono – Glossiania morsitans – díptero hematófago, pouco maior do que a mosca comum, cuja picada inocula um protozoário parasita do sangue, o Tripanossomo, que provoca a doença do sono ou tripanossomíase, em homem e animais.Essa doença provoca distrofia e lassidão muscular nas vítimas. A mosca cravava-se nas vítimas por meio de uns ganchos que tem nas patas; as vítimas, mesmo animais de grande porte, acabam morrendo de inanição, em sonolentos bocejos.A Mosca do Sono foi erradicada de Angola em 1950, e s principais focos de concentração eram a Baixa de Kassange e o Pungo Andongo.Na região de Kabatukile, reinou um Soba, de nome N’Ganga Kally, que passou à história do seu povo, pelo modo salomônico com que ministrava a justiça; com uma rapidez e equilíbrio tal, que dificilmente tinha decisões contestadas por qualquer das partes.Casos que em geral exigiriam réplicas e tréplicas morosas e pormenorizadas, evidenciando todas as nuances, resolvia-os N’Ganga Kelly em minutos.Um exemplo de uma pérola de jurisprudência, é a do súdito que foi à sua presença, explicar que a mulher por quem havia dado caro “Lembamento”, o abandonara e voltara para casa do pai, sem qualquer motivo. Pretendia assim, que lhe fossem devolvidos os bens que dera em sinal de apreço pela noiva.O pai da noiva defendeu-se confirmando que recebera os bens citados, e os aceitara, pois até se juntar com o marido, a moça era digna do apreço por ela demonstrado; depois de casada, se o marido não conseguia controlar a esposa, como poderia ele, que era apenas pai?N’Gala Kelly, pensou um pouco e argüiu:Ele, como pai, vivendo tanto tempo com a filha, tinha por obrigação conhece-la, e assim, saber que ela era capaz de tal atitude; e nessas circunstâncias, nunca deveria ter exigido um Lembamento tão vultoso.Por ter procedido de má fé, obrigava-se a devolver ao frustrado marido, duas terças partes dos bens recebidos.Caso a sua filha voltasse a ter um pretendente para casar, ele deveria pedir como Lembamento, bens equivalentes a uma terça parte dos anteriormente ofertados, já que ela não valia mais do que isso, e esse segundo lembamento deveria ser integralmente entregue ao primeiro marido VULCÃO YÔNA.Em 1960, a imprensa angolana noticiou com um certo ênfase, a possibilidade da eclosão de um vulcão no Yôna.Primeiro foram escutados rumores subterrâneos fortes no maciço de Xamalinde, depois noticiou-se que, após serem escutados, o que já se considerava serem os sons de um vulcão prestes a eruptir, aparecia na Baía dos Tigres uma água esverdeada, forte cheiro de enxofre, e grande quantidade de peixes mortos.Falou-se em fumaça que saía do solo, perto da Espinheira.Enfim, falou-se o suficiente para atrair cientistas e pesquisadores de todo o mundo, que após acurados estudos acabaram por concluir que os estrondos o rumores subterrâneos tinham origem nas camadas de quartzo que se deslocavam, quando a erosão desgastava o terreno em que essas camadas se encontravam assentes horizontalmente.A mudança de cor da água, explicada como mudança de maré, e a influência da corrente fria de Benguela; a quantidade de peixes mortos, foi justificada como fenômeno cíclico ou sazonal, de natural controle de preservação das espécies, e motivadas por superpopulações em áreas em que os predadores naturais, estivessem temporariamente afastados.As fumaças que saíam do solo, não foram confirmadas, e as esperanças doa angolanos de terem o seu vulcão, abandonadas e esquecidas. BAÍA DOS TIGRESO nome dessa baía, se deve à grande quantidade de tubarões Tigre que, em cardume, podem ser vistos a deambular preguiçosamente por um mar de tal maneira rico em peixe, que eles não têm necessidade, nem motivo, para se afastarem do lugar.São Martinho dos Tigres, é uma vila espremida pelo deserto contra o mar, com uma única rua, que serve também de pista para os aviões. Conheci-a pouco depois de obter a minha licença para pilotar monomotores. Umas poucas casas de cada lado, açoitadas por ventos e tempestades de areia do deserto.É uma vila de pescadores, fundada por João Rosa Machado, que vivem da pesca e para a pesca, com tanto afinco e constância, que até os cachorros se alimentam de peixe, que vão pegar junto à rebentação das ondas, com ardis e perícia de felinos.Região áspera e agreste, é o paraíso para os adeptos da pesca e caça submarina.Na pista de pouso, e nos esporádicos aviões, se resume o lazer de uma população tímida e introvertida, que se aproxima aos poucos para saber notícias do exterior daquela ilha, cercada de mar e deserto.Antes de pousar, faz-se necessário sobrevoar duas ou três vezes a pista, para que pessoas e animais, indolentemente a abandonem e liberem.BAIXA DE KASSANGEAs lendas da Baixa de Kassange, contam em geral, da dificuldade de transpor a escarpa, no lugar onde a Serra se partiu ao meio, e uma das metades afundou; ou também em algumas de caráter romântico, como a dos dois amantes que no momento do fenômeno, escaparam milagrosamente de sucumbir com a metade afundada.Mas o que na verdade se passou na Baixa de Kassange, foi decerto mais drástico do que qualquer lenda poderia contar.Durante séculos, o que ficou na memória dos povos, foi a Baixa, onde os Sobas de Kassange, concentravam milhares de homens, mulheres e crianças, escravizados, depois de roubados aos seus povos.Era nessa Baixa de vegetação exuberante, onde pulava vida animal, que os escravos que resistiam as provações e tratamento bárbaro, eram comercializados com gado, antes da triagem para a barra do Kuanza,perto de São Paulo da Assumpção de Loanda, ou São Philipe de Benguela, estações de descanso e engorda, para o embarque definitivo para o Brasil, terra para eles ignorada, onde a troco de pancada, haveriam de enriquecer as tradições, o folclore, os senhores de engenho e os coronéis de cacau.Chagados ao Brasil, cantaram certamente ao som das Marimbas, Tchissange e batuque, a beleza e nostalgia da paisagem Angolana.xxxxxxxxxxxxxxxxxOs escravocratas tinham linhas de avaliação e preferência na aquisição dos escravos. Os Senegaleses eram apreciados por seu caráter taciturno; os povos de Serra Leoa, Costa do Marfim e Costa do Ouro, eram considerados rebeldes e desertores. Os Ibo da Nigéria, eram bons trabalhadores, mas propensos ao suicídio, e os povos do Congo e Angola eram os mais apreciados, por unirem robustez física a uma certa passividade.Os escravos Angolanos, eram disputados por fazendeiros de Haiti, das Bahamas e pelos senhores de engenho do Brasil, como mercadoria de primeira qualidade. TARATAS DO RUACANÁNo Rio Kunene – o nome vem de Kuonene, que quer dizer água grande – na Serra de Kaná, encontram-se as cataratas do Ruacaná, termo indígena que quer dizer Água da Serra de Kaná.É uma serie de cataratas múltiplas, em semi-circulo, sendo que a principal é de cerca de setenta metros de altura, numa extensão de aproximadamente oitocentos metros.A segunda queda, a meio de uma borda que vai até a margem esquerda tem aproximadamente quinze metros de altura, e as cutículas de água das duas principais quedas, formam na estação seca, um constante Arco-Íris, que só se dissipa quando as chuvas voltam.Na estação chuvosa, os três braços do rio, formam um só leito, e uma única queda com mais de trezentos metros.Os povos Ambó e Mukuankala, quando em movimento migratório, passam por toscas pontes, amarradas de cipós e lianas, na travessia do Rio.Posteriormente, nas guerras Boers, foi um ponto estratégico de defesa dos exércitos de Portugal.Mas o que há de destacar nas quedas de água do Ruacaná, é a beleza, e a atração turística que podem representar, principalmente numa viagem a partir da Baía dos Tigres, pela costa, entre o Oceano Atlântico e o deserto, acompanhado de manadas de Zebras, Gnus, Impalas e Orix Gazela, com seus chifres de sabre japonês, e os bandos de Avestruz de passada gigante. SÃO PHILIPE DE BENGUELA HÁ CEM ANOSA cidade de S Philipe de Benguela era, no ano de 1870, um importante centro comercial, onde os povos do interior, principalmente os Bienos, iam permutar seus artigos, fugindo à exploração dos funantes, que já não lhes davam condições satisfatórias.Vinham estas comitivas de mercadores a pé, do Bié ou outras regiões ainda mais distantes, vender as suas mercadorias, a preços cujas cotações eram na época:- Um Angolar e quarenta e cinco centavos, a libra de marfim de lei, não quebrado.- Oitenta centavos a libra de cera limpa.- Oito angolares e cinqüenta a arroba da borracha.- Dois angolares a pele de onça, boa. Os artigos mais procurados or essas caravanas vindas do interior, eram as bebidas alcoólicas, o sal, a pólvora, tecidos de riscado, armas, catanas-facões, espelhos e missangas.Benguela foi primeiro, um grande centro de concentração e exportação de escravos, e posteriormente tornou-se importante centro de comércio. Esses dois fatores, levaram a uma grande miscigenação de povos e costumes, gente de diferentes tradições, alem de ter sofrido também, e em função das circunstâncias anteriores, muita influência por parte dos brancos.Tudo isto alterou bastante os costumes e modo de vida do povo de Benguela, mas o dialeto, manteve-se Umbundo. Os homens do povo de Benguela ocupavam-se essencialmente da pesca; as mulheres da agricultura e criação.Há cem anos, Benguela era uma cidade espraiada, com construções baixas, em que se destacavam o hospital municipal, o Palácio Residencial do Governador Colonial, o Quartel das tropas portuguesas e a Alfândega, cuja cifra de rendimentos aduaneiros, orçava já a expressiva ordem dos Cem Contos de Réis ao ano.Após o pôr do sol, a atividade ficava restrita aos quintais das casas comerciais, onde as comitivas acampavam, e por vezes se demoravam nas barganhas comerciais.Uma ou outra tipóia, em que dois homens transportavam o seu patrão, o seu amo, esgueirava-se rapidamente pelas ruas desertas, fugindo ao desagradável encontro com as hienas que, afoitas, à noite circulavam pelas ruas da cidade, procurando carniça ou caça fácil, e que, se sentiam em superioridade de força, atacavam o homem.As hienas calculavam a sua possibilidade para o ataque, pelo tamanho da vítima em potencial, e assim, os europeus, desenvolveram um costume, de portarem sempre um guarda-chuva, ou bengala e chapéu; escutando a risada característica das hienas, abriam o guarda-chuva, ou penduravam o chapéu na ponta da bengala, mantendo o braço bem esticado para o alto.As feras, equilibradas nas patas traseiras, achando-se mais baixas do que o adversário, não atacavam. CATUMBELA DAS OSTRASCatumbela, hoje pequena vila entre o Lobito e Benguela, distando cerca de oito quilômetros do Lobito, e aproximadamente vinte e dois de Benguela, localizada na margem direita da foz do Rio que lhe deu o nome, foi um dos pontos de descanso e engorda dos escravos, que embarcariam em S. Philipe de Benguela, para as plantações agrícolas de todo o mundo.Esse descanso era fundamental, pois os escravos, arrancados violentamente aos arimos e senzalas pelos pombeiros – fornecedores de escravos, geralmente mulatos- eram obrigados a percorrer a pé, e sub-alimentados, centenas de kilometros, até aos locais de embarque.Eram embarcados por camadas, amontoados em porões de veleiros, no meio da imundice, e sem circulação de ar, com alimentação escassa e inadequada, para travessias que duravam até três meses.A percentagem de escravos que morriam por causas diretas ou indiretas dessas condições de sepcia e subnutrição era elevada, impunha-se por isso um período de descanso e alimentação consistente, que lhes refizesse as forças e a resistência.Em Catumbela eram batizados por padres cristãos que, além do nome escrito num papel, lhes faziam por meio de intérpretes, o seguinte discurso:“Meus amigos, vocês agora são filhos de Deus, livres do pecado original, e vão partir para terras portuguesas e espanholas, onde viverão segundo a nossa fé. Não pensem mais nas vossas casas, e partam com boa vontade”.Em princípios do século XVII, passavam por Catumbela, uma média de vinte mil escravos anualmente.Citando o Padre Antonio Vieira, o escritos inglês C.R. Boxer, no seu livro sobre Salvador Correia de Sá, o libertador de Luanda, da tomada desta pelos holandeses, diz que “O Brasil tinha a alma em África e o corpo na América”.O Lobito, uma restinga de areia, era o prolongamento de Catumbela, e em cuja entrada podiam ser encontrados bancos de ostras em numero incalculável.Devido a essas ostras, e à proximidade de Catumbela, o primeiro nome que Lobito teve, foi “Catumbela das Ostras”.Só bem mais tarde, no início do século XX, tomou o nome de Lobito, forma distorcida e adulterada de Lo Epito; em Umbundo, Epito significa porta, e Lo é a forma plural para o termo. É uma alusão à forma resguardada da baía, entre a costa e a restinga de areia, que faz da cidade uma abertura – porta - para o mar e a navegação. O CARNAVAL DE ANGOLAO festejo do carnaval nos bairros pobres as cidade de São Paulo as Assumpção de Loanda, remota a mais de um século; com efeito sabe-se de danças e mascaras carnavalescas, anteriores a 1870.A primeira de que se tem registro, foi a “Matinguita”, dança em que só figuravam homens, trajados de branco, com boné e botas, à semelhança dos marinheiros de guerra.Os instrumentos que faziam o acompanhamento musical da coreografia, eram o Batuque e as Puítas, e esta resumia-se a um andar bamboleante com pequenos pulos para a frente e para trás.Por volta de 1880, apareceu uma dança, a “Kinava”, que era um aperfeiçoamento da Mantiguita. Na Kinava, à semelhança da anterior, também só figuravam homens trajados de marinheiros, mas em blocos, e com separação pela escala militar hierárquica.Á frente ia um reduzido pelotão, com as fardas a imitar as dos oficiais da marinha, com Galões e Dragonas, e na cabeça, Boné de Pala; ao centro, puxado pelo grupo dianteiro, vinha um barco, armado sobre um carro de bois; o terceiro bloco, era o dos outros participantes todos vestidos de marinheiros.Dançavam e cantavam ao som de Dikanzas e Batuque, a que se juntava o coro de vozes. A coreografia era uma marcha engraçada, imitando o andar bamboleante dos homens do mar.Este grupo passava pelas ruas da cidade, parando às portas das casas, onde depois de um pouco de exibição, recebiam um “Matabicho”; o grupo parava no portão do quintal, o “comandante” subia ao posto de comando onde, com um tubo oco simulando uma luneta de longo alcance, fingia olhar o horizonte, dando tempo a que todos os moradores da casa se aproximassem do barco carnavalesco.Quando o numero de espectadores já era considerado aceitável, descia do posto de observação e dava o sinal para começar a dança e o canto.Terminada a exibição, com uma vênia cortes, davam a entender estava terminada a apresentação, e esperavam o Matabicho – gratificação em dinheiro, ou um garrafão de vinho e um pouco de comida, para ajudar a “matar o bicho da fome e da sede”.Poucos anos depois, por volta de 1885, apareceram nos Musseques de Luanda, dois outros tipos de grupo: os Jimbas e os Cazumbis.Os Jimbas, ficaram com esse nome, por causa das Jimbas, principais instrumentos a acompanharem a musica e dança, apesar de usarem também Dikanzas, e latas percutidas com pedaços de pau.Os homens alinhavam enfeitados com panos vistosos à cintura, e lenços cruzados no peito; as mulheres alem dos panos vistosos, usavam adornos nos pulsos e tornozelos.Homens e mulheres, comunicamente pintados, dançavam em coreografia desconexa, esforçando-se as mulheres para associar ao ritmo, graciosidade e sensualidade.Os Cazumbis, também em grupos mistos, vestiam todos de branco, e completamente tapados, com fronhas na cabeça e luvas nas mãos.Eram grupos divertidos, que pulavam e emitiam sons guturais, fingindo assustar as pessoas; por fazerem lembrar fantasmas, foi-lhes dado o nome de Cazumbis.Por volta de 1910, surgiu o “Samba Cuteco”, que eram pares de homens, um deles vestido de mulher, com saias curtas e calções por baixo.Os pares faziam palhaçadas, sacolejavam com o corpo, e de vez em quando, o que se vestia de mulher, andava sobre as mãos, mostrando os calções, o que provocava hilaridade do publico.O nome de Samba Cuteco, supõem-se vir de Kussamba, que quer dizer folgar, brincar, e de Kutekuka, que significa desatinar, em alusão as brincadeiras que o par de foliões fazia.Desde o inicio, os grupos folclóricos que tomaram parte no carnaval de Luanda, procuraram como motivo das canções que acompanhava a coreografia, escarnecer e satirizar outros grupos rivais, aproveitando-se de qualquer falta cometida por dirigentes ou participantes.Esta rivalidade carnavalesca era o ponto culminante do carnaval, e motivo de expectativa de todos os foliões.O grupo “Cidrália” formou-se por volta do ano de 1935, resultado da fusão dos grupos “Invieta e caridade”, passando a designar-se por união Cidrália, abreviado para Cidrália.Tinha mais de trezentos participantes, entre homens, mulheres e crianças, que se vestiam a preceito e apresentavam todos os anos temas variados.No ano de estréia por exemplo, simularam o desembarque de entidades oficiais – nas pessoas dos Sobas kapulo, Munongo, e Kumbi - que o grupo foi recepcionar trajando à antiga, para subentender a vontade que essas entidades teriam de assistir o carnaval.Essa primeira apresentação do grupo, teve tanto sucesso, que causou a inveja de muitos outros grupos carnavalescos, especialmente a do grupo do Musseque Prenda que, por causa da inveja demonstrada, passou a designar-se pelos “Invejados”.Este grupo, também bastante numeroso, tinha cerca de duzentos elementos, homens, mulheres e crianças.Os homens trajavam calças brancas, largas em baixo, casaco damasco debruado a preto, e sapatos de lona pintados de vermelho; as mulheres usavam os trajes regionais da festa.Os invejados criticavam e satirizavam a Cidrália, dizendo serem estes incivilizados, que só desde que moravam no Musseque, é que sabiam construís casas para morar, e que haviam sido eles, Invejados, a ensinar.Assim que o pessoal da Cidrália soube, regozijou-se, pois estava ali o motivo para o carnaval seguinte. A letra do tema, dizia o seguinte:“Cidade tem um romance que conta toda a vida triste vida triste de quem ama vida triste de quem chora Cidrália em movimento Cidrália vem dançarSanta Maria que nos acompanhaOlha a Cidrália em movimentoOlha a Cidrália em grande azulCidrália este ano é uma memóriaCidrália já aprovou (provou)O gatuno do bacalhauSanta Maria nos deu sempreA providencia do gatuno do bacalhauFica todos sabendoQue o presidente dos InvejadosRoubou o bacalhau na alfândegaPra gozar mais os seus amigosToma cuidado com os rapazes da CidráliaSanta Maria que é nossa mãeNos acompanha junto à nossa estrela.Anos mais tarde, o grupo vocal “Duo Ouro Negro” grandes divulgadores do folclore musical Angolano, compôs uma musica com o nome Cidrália, cuja letra se baseava nessa original. A partis de 1960, inicio dos conflitos armados pela independência de Angola, as autoridades coloniais, proibiram o carnaval, e as danças e demonstrações de rua. Temia mais a critica e sátira política, do que eventuais degenerações violentas, numa festa que era alegria pura. as em baixo, casaco damasco debruado a preto, e sapatos de lona pintados de vermelho; as mulheres usavam os trajes regionais da festa.

Os invejados criticavam e satirizavam a Cidrália, dizendo serem estes incivilizados, que só desde que moravam no Musseque, é que sabiam construís casas para morar, e que haviam sido eles, Invejados, a ensinar.

Assim que o pessoal da Cidrália soube, regozijou-se, pois estava ali o motivo para o carnaval seguinte. A letra do tema, dizia o seguinte:

“Cidade tem um romance que conta toda a vida triste vida triste de quem ama vida triste de quem chora Cidrália em movimento Cidrália vem dançar

Santa Maria que nos acompanha

Olha a Cidrália em movimento

Olha a Cidrália em grande azul

Cidrália este ano é uma memória

Cidrália já aprovou (provou)

O gatuno do bacalhau

Santa Maria nos deu sempre

A providencia do gatuno do bacalhau

Fica todos sabendo

Que o presidente dos Invejados

Roubou o bacalhau na alfândega

Pra gozar mais os seus amigos

Toma cuidado com os rapazes da Cidrália

Santa Maria que é nossa mãe

Nos acompanha junto à nossa estrela.

Anos mais tarde, o grupo vocal “Duo Ouro Negro” grandes divulgadores do folclore musical Angolano, compôs uma musica com o nome Cidrália, cuja letra se baseava nessa original.

A partis de 1960, inicio dos conflitos armados pela independência de Angola, as autoridades coloniais, proibiram o carnaval, e as danças e demonstrações de rua.

Temia mais a critica e sátira política, do que eventuais degenerações violentas, numa festa que era alegria pura.

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