O CARNAVAL DE ANGOLA
O festejo do carnaval nos bairros pobres as cidade de São Paulo da Assumpção de Loanda, remota a mais de um século; com efeito sabe-se de danças e mascaras carnavalescas, anteriores a 1870.
A primeira de que se tem registro, foi a “Matinguita”, dança em que só figuravam homens, trajados de branco, com boné e botas, à semelhança dos marinheiros de guerra.
Os instrumentos que faziam o acompanhamento musical da coreografia, eram o Batuque e as Puítas, e esta resumia-se a um andar bamboleante com pequenos pulos para a frente e para trás.
Por volta de 1880, apareceu uma dança, a “Kinava”, que era um aperfeiçoamento da Mantiguita. Na Kinava, à semelhança da anterior, também só figuravam homens trajados de marinheiros, mas em blocos, e com separação pela escala militar hierárquica.
Á frente ia um reduzido pelotão, com as fardas a imitar as dos oficiais da marinha, com Galões e Dragonas, e na cabeça, Boné de Pala; ao centro, puxado pelo grupo dianteiro, vinha um barco, armado sobre um carro de bois; o terceiro bloco, era o dos outros participantes todos vestidos de marinheiros.
Dançavam e cantavam ao som de Dikanzas e Batuque, a que se juntava o coro de vozes. A coreografia era uma marcha engraçada, imitando o andar bamboleante dos homens do mar.
Este grupo passava pelas ruas da cidade, parando às portas das casas, onde depois de um pouco de exibição, recebiam um “Matabicho”; o grupo parava no portão do quintal, o “comandante” subia ao posto de comando onde, com um tubo oco simulando uma luneta de longo alcance, fingia olhar o horizonte, dando tempo a que todos os moradores da casa se aproximassem do barco carnavalesco.
Quando o numero de espectadores já era considerado aceitável, descia do posto de observação e dava o sinal para começar a dança e o canto.
Terminada a exibição, com uma vênia cortês, davam a entender que estava terminada a apresentação, e esperavam o Matabicho – gratificação em dinheiro, ou um garrafão de vinho e um pouco de comida, para ajudar a “matar o bicho da fome e da sede”.
Poucos anos depois, por volta de 1885, apareceram nos Musseques de Luanda, dois outros tipos de grupo: os Jimbas e os Cazumbis.
Os Jimbas, ficaram com esse nome, por causa das Jimbas, principais instrumentos a acompanharem a musica e dança, apesar de usarem também Dikanzas, e latas percutidas com pedaços de pau.
Os homens alinhavam enfeitados com panos vistosos à cintura, e lenços cruzados no peito; as mulheres alem dos panos vistosos, usavam adornos nos pulsos e tornozelos.
Homens e mulheres, comunicamente pintados, dançavam em coreografia desconexa, esforçando-se as mulheres para associar ao ritmo, graciosidade e sensualidade.
Os Kazumbis, também em grupos mistos, vestiam todos de branco, e completamente tapados, com fronhas na cabeça e luvas nas mãos.
Eram grupos divertidos, que pulavam e emitiam sons guturais, fingindo assustar as pessoas; por fazerem lembrar fantasmas, foi-lhes dado o nome de Kazumbis.
Por volta de 1910, surgiu o “Samba Kuteco”, que eram pares de homens, um deles vestido de mulher, com saias curtas e calções por baixo.
Os pares faziam palhaçadas, sacolejavam com o corpo, e de vez em quando, o que se vestia de mulher, andava sobre as mãos, mostrando os calções, o que provocava hilaridade do publico.
O nome de Samba Kuteco, supõem-se vir de Kussamba, que quer dizer folgar, brincar, e de Kutekuka, que significa desatinar, em alusão as brincadeiras que o par de foliões fazia.
Desde o inicio, os grupos folclóricos que tomaram parte no carnaval de Luanda, procuraram como motivo das canções que acompanhava a coreografia, escarnecer e satirizar outros grupos rivais, aproveitando-se de qualquer falta cometida por dirigentes ou participantes.
Esta rivalidade carnavalesca era o ponto culminante do carnaval, e motivo de expectativa de todos os foliões.
O grupo “Cidrália” formou-se por volta do ano de 1935, resultado da fusão dos grupos “Invieta e caridade”, passando a designar-se por União Cidrália, abreviado para Cidrália.
Tinha mais de trezentos participantes, entre homens, mulheres e crianças, que se vestiam a preceito e apresentavam todos os anos temas variados.
No ano de estréia por exemplo, simularam o desembarque de entidades oficiais – nas pessoas dos Sobas kapulo, Munongo, e Kumbi - que o grupo foi recepcionar trajando à antiga, para subentender a vontade que essas entidades teriam de assistir o carnaval.
Essa primeira apresentação do grupo, teve tanto sucesso, que causou a inveja de muitos outros grupos carnavalescos, especialmente a do grupo do Musseque Prenda que, por causa da inveja demonstrada, passou a designar-se pelos “Invejados”.
Este grupo, também bastante numeroso, tinha cerca de duzentos elementos, homens, mulheres e crianças.
Os homens trajavam calças brancas, largas em baixo, casaco damasco debruado a preto, e sapatos de lona pintados de vermelho; as mulheres usavam os trajes regionais da festa.
Os invejados criticavam e satirizavam a Cidrália, dizendo serem estes incivilizados, que só desde que moravam no Musseque, é que sabiam construís casas para morar, e que haviam sido eles, Invejados, a ensinar.
Assim que o pessoal da Cidrália soube, regozijou-se, pois estava ali o motivo para o carnaval seguinte. A letra do tema, dizia o seguinte:
“Cidade tem um romance que conta toda a vida triste vida triste de quem ama vida triste de quem chora Cidrália em movimento Cidrália vem dançar
Santa Maria que nos acompanha
Olha a Cidrália em movimento
Olha a Cidrália em grande azul
Cidrália este ano é uma memória
Cidrália já aprovou (provou)
O gatuno do bacalhau
Santa Maria nos deu sempre
A providencia do gatuno do bacalhau
Fica todos sabendo
Que o presidente dos Invejados
Roubou o bacalhau na alfândega
Pra gozar mais os seus amigos
Toma cuidado com os rapazes da Cidrália
Santa Maria que é nossa mãe
Nos acompanha junto à nossa estrela.
Anos mais tarde, o grupo vocal “Duo Ouro Negro” grandes divulgadores do folclore musical Angolano, compôs uma musica com o nome Cidrália, cuja letra se baseava nessa original.
A partis de 1960, inicio dos conflitos armados pela independência de Angola, as autoridades coloniais, proibiram o carnaval, e as danças e demonstrações de rua.
Temia mais a critica e sátira política, do que eventuais degenerações violentas, numa festa que era alegria pura.