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A Cidade de Lobito-Angola


"Durante mais de 300 anos o Lobito e a sua baía foram totalmente ignorados pela Administração Portuguesa. No início do nosso século, quando a povoação se tornou testa do Caminho de Ferro de Benguela e o principal porto de Angola, conheceu um desenvolvimento sem paralelo na colónia. Tanto assim que aquando da Independência, em 1975, o Lobito era, sem dúvida, a mais promissora das cidades portuguesas do Ultramar. Não há quem tenha conhecido o Lobito que não reproduza, quase automaticamente, a frase assaz repetida nos folhetos turísticos da colónia nos anos 60: “A Sala de visitas de Angola.” E, se uma sala de visitas mostra o que há de melhor numa casa, então à cidade do Lobito, em relação a Angola, o epíteto assenta como uma luva. A urbe era arejada, limpa, modernamente traçada, com uma restinga de areia que se prolongava por mais de 7 km, toda ela bordada de viçosas e floridas moradias, que dividiam o mar alto do remanso da baía de águas tão tranquilas como uma piscina.


O jornalista Julião Quintinha, em África Misteriosa, chama-lhe “ cidadezinha-cromo, cidade azul, quase flutuante, que o mar beija e namora com perigoso amor”. O jornal O Lobito, o único título que ainda hoje resta da nossa imprensa colonial, refere a cidade como “uma estrofe d’Os Lusíadas, escrita por todos nós, numa estreita restinga de areia, sob a inspiração do mar”.


Todavia, por estranho que possa parecer, a cidade do Lobito é das mais recentes na colonização portuguesa de Angola. Durante 300 anos ninguém ligou nenhuma àquele couto de corsários e contrabandistas. Nesses longos anos todo o movimento passou pela vizinha e histórica Benguela, a 30 km dali. Esta sim, prosperou e tornou-se a segunda da colônia. Diversas explicações há para justificar a tardia ocupação da baía do Lobito: há quem diga que os primeiros navegadores a terão passado sem dela fazerem reparo devido à grande restinga que a oculta; outros argumentam que terá sido a falta de água potável; estudiosos dizem também que é fácil passar a 4 milhas da baía sem a ver. O que se sabe é que no início do século XVII, Manuel Cerveira Pereira recebera ordens para navegar para sul e fundar uma cidade quando encontrasse uma baía. Foi assim que, em Maio de 1617, nasceu Benguela.A letargia atravessada pelo Lobito foi tal que só no fim do século XVIII passa a ter este nome, porque até aí o assentamento era conhecido, para se distinguir da Katumbela propriamente dita, por Catumbela da Água Salgada ou Katumbela das Ostras.

Só depois da fundação da caieira de mariscos é que o Lobito entra para a história da ocupação do Reino de Benguela. O escritor Ralph Delgado, num apontamento sobre a história do Lobito, refere-se: “Baía abrigada e prenhe de matagais marinhos de caprichoso efeito (os mangais), onde se escondiam, à vontade, navios de contrabando, foi ela lugar de eleição para descaminho de direitos, a despeito das medidas adoptadas por Benguela, que destacara, para lá, um soldado com funções de cabo, a fim de dirigir os serviços da preparação da cal.


Dentro destas duas serventias (fornecimento da cal, de ostras e de mangues e embarques abusivos sem despacho) o Lobito evolucionou lentamente, com fraca sinalização do interesse despertado ao governo subalterno de S. Filipe.”

Foi curiosa a criação do Lobito. Nasceu a pedido de alguns moradores de Benguela, cansados com as baixas causadas pela insalubridade desta. E foi tal a vontade de o fazer que num ápice subscreveram 31 contos de réis para auxiliarem as despesas de transferência. Deste modo, em 1842, ainda antes da portaria régia aprovar a transferência, iniciou-se no Lobito a construção de um forte e do palácio do Governo, com fundos dos benguelenses e mão-de-obra escrava dos seus moradores. Quando, em Março de 1843, D. Maria II aprova o nascimento da cidade do Lobito, mais não havia que alguns barracões e uma plantação de coqueiros para consolidação da restinga de areia. Contudo, os interesses enraizados às pantanosas margens do Coringe, a carência de fundos e o esquecimento das epidemias – havia alguns anos que aquelas não fustigavam Benguela – adormeceram o ambicioso projecto, caindo o consentimento real na poeira dos arquivos sob a indiferença dos Chefes de Distrito. De tal forma que em 1853, quando o Lobito foi assaltado por uma quadrilha de gentio armado, apenas existiam escassas e insignificantes casas ligadas ao precário fabrico de cal das suas ostras.

Em 1888 foi criado um posto fiscal, que foi confiado ao velho José Maria dos Santos, então o único branco que ali residia há mais de 30 anos. Efetivamente, a baía do Lobito só começou a atrair as atenções mesmo nos fins do século XIX, quando o comércio da borracha atingiu o seu zénite. O volume de transações começou a reclamar um ancoradouro maior que o de Benguela, com capacidade somente para pequenas cargas. Foi assim que se começou a aproveitar as condições naturais da antiga Catumbela das Ostras. Mas foi só nos alvores do presente século (1902), com o início da construção do Caminho de Ferro de Benguela, que o Lobito saiu do marasmo em que esteve mergulhado durante mais de 300 anos. Com a concessão do caminho-de-ferro dada ao inglês Robert Williams, a cidade lançou definitivamente os seus alicerces, num combate quotidiano contra o pântano. Em menos de 20 anos o Lobito passava de uma baía abandonada coberta de mangal para uma cidade moderna, testa do Caminho de Ferro de Benguela e possuindo um moderno porto. Nestes anos aterraram-se pântanos, iniciou-se a construção do mercado, ergueu-se a ponte na Estrada Lobito-Benguela, levantou-se o edifício dos correios, do C.F.B., o Hotel Términus (o melhor da Província durante largos anos), a capela da N. S. da Arrábida. O “Boletim da Agência Geral das Colónias” de 1925 não tem pejo em afirmar que “o Lobito é a mais bela cidade desta costa”. E explica que tal se deve a três fatores: “Excelência do seu porto; Ser testa da linha do C.F.B; Riqueza da ‘bacia económica’, ou seja o conjunto das regiões cujas vias de comunicação para o litoral devem ter a sua testa no Lobito.”


Efetivamente, nessa altura a ponte-cais já possuía 225 m de muro acostável, comportando os maiores paquetes do mundo, sendo igualmente porta marítima de todo o vastíssimo planalto central de Angola, compreendendo as riquíssimas zonas do Huambo, Bié, Moxico. Mas não era só uma “gare” marítima do interior da colónia, era também o porto natural de uma grande parte da África Austral, e o mais económico para as comunicações entre as minas de cobre do Katanga (Congo Belga) e os portos da Europa. Em 1929, o C.F.B. atingiu finalmente a fronteira do Congo Belga. Em território angolano a linha ficou com 1347 km. Agora o porto do Lobito, mais económico por ser muito mais perto da Europa, já podia substituir os da Beira e do Cabo no escoamento do minério. O aumento do número de passageiros do comboio é impressionante: em 1908 é de 25.957 para passar, em 1926, a ser de 233.865. O jornalista Julião Quintinha, em África Misteriosa, não deixou de registar este enorme progresso: “(...) esta nova cidade marítima do Lobito, entre palmeiras, elegantes avenidas, chalés, pequeninos palácios, mimosos jardins orvalhados, e paquetes arrumados à terra, deu-me a sensação daqueles postais ilustrados que reproduzem magníficos portos estrangeiros - qualquer coisa de aguarela muito fresca e azul, com sabor salino, cheiro a carvão e ambiente cosmopolita (...)”Mais adiante, descreve: “Primeiro o Lobito Velho de casebres derrubados onde se acoitam mendigos e pretos ladrões; depois, sucessivamente, o Mangal com salgueiros encharcados; o bairro indígena, de palhotas em fila por onde os negros gritam, pulam ou tombam a descansar; as construções do Porto, Caminho de Ferro, oficinas, residências operárias; grandes armazéns alfandegários, um pequeno posto aduaneiro enfeitado a trepadeiras, guardado por soldados negros, descalços, vestidos de caqui; ruas comerciais onde passam comboios com vagões carregados de mercadorias, moradias ajardinadas de ar estrangeiro e feliz; e o palácio do govêrno, com parque e court de tênis, entre krotonos e roseiras.”

No fim dos anos 40 rasgaram-se grandes avenidas: Duplo Centenário, Império, Marechal Carmona, Marginal do Atlântico, D. Maria II. Iniciaram-se trabalhos de jardinagem e o primeiro arranjo das praças Salazar, Camões e Infante D. Henrique. Começaram-se a desenhar os principais bairros: a Restinga, o mais chique, exclusivamente residencial, com espaçosas moradias que ora dão para o Atlântico, ora para a baía. Com 6 km de extensão e em alguns sítios nem 300 m de largura, era um autêntico jardim emergido do mar. Dizia-se que até as palmas das palmeiras batiam palmas à sua beleza. O único senão era quando o mar galgava tudo em tempo de cheias, das “kalemas” tempestades frequentes nos equinócios e solesticios; o Bairro Central ou Comercial alternava esta atividade com as residências, aqui ficava também o porto e todas as suas dependências, a estação terminal do Caminho de Ferro de Benguela, a Câmara Municipal, os Correios, o Hotel Términus e o Mercado Municipal; mais à frente, no caminho para Benguela, já fora da zona portuária e de construção mais recente, situava-se o Bairro do Compão, uma zona reservada à classe menos abastada; com características idênticas, talvez um pouco mais comercial, surgia o Bairro da Caponte; mesmo em frente à restinga, do outro lado do porto, ficava a habitação reservada aos indígenas, conhecida pela Canata. Aqui, embora já houvesse construções de alvenaria, predominava ainda o caniço e o zinco. Na dobragem da década de 50 o Lobito “cosmopolitou-se” definitivamente. Para dar resposta ao constante apelo dos seus habitantes e visitantes, cujo número não parava de aumentar, sofisticou o comércio cada vez mais intenso nas três ruas que envolviam o Mercado Municipal, que se viu em pouco tempo completamente rodeado de requintadas lojas a fazer lembrar o portuense Bulhão. Surgiram novos hotéis. Nos arredores incrementou-se a indústria. A atividade portuária conhece um desenvolvimento sem precedentes. E com a Guerra da Secessão do Katanga, no ex-Congo Belga, o porto do Lobito ganhou ainda mais movimento. Nesta altura o total de minérios escoados rondava as 500 mil toneladas por ano. Tinha um movimento semelhante ao de Leixões, só sendo ultrapassado, quanto à tonelagem, pelo de Lisboa, Lourenço Marques e Beira.


Do Lobito saía também milho, cimentos, plásticos, zincos, sisal, óleos e açúcares. Eduardo Fernando de Matos, no seu livro Viagem por terras de África, chegou mesmo a afirmar: “(...) Comparando este porto ao de Luanda, temos a impressão de que é o Lobito e não Luanda a capital da colónia. Porém, Luanda, como cidade, é muito superior.” De 1952 a 1962 a população branca da cidade subiu 150%. O Anuário de Angola de 1962-63 regista 6500 europeus, 420 mestiços e 25000 negros. E nos últimos tempos do colonialismo (1974), a cidade rasava os 100 mil habitantes, dos quais 30 mil eram brancos. Não havia dúvida que era a urbe da colónia que registava maior crescimento a todos os níveis, e, se assim continuasse, facilmente ultrapassaria capital do Distrito, a histórica Benguela. Agora, a população jovem da cidade demandava diversões e entretimentos. Ficaram célebres as sessões de cinema no Cine-Esplanada do Jardim Flamingo, lá para os lados do Compão. Debaixo de uma gigantesca pala de betão, construída pelo engenheiro Edgar Cardoso.


O Carnaval tinha fama de ser o melhor de Angola. Ficaram célebres os seus desfiles na Praça Salazar. Aqui, em frente da Câmara Municipal e sob decorativa calçada portuguesa – esta praça pretendia assemelhar-se ao Terreiro do Paço, não faltando sequer o cais das colunas – tinham lugar também as marchas dos santos populares, em que os diferentes bairros competiam em função da originalidade dos trajes e da dança."


n MONOGRAFIA DA CATUMBELA - de 1836 a 1908 - escrito em1908 e publicado em 1912, pág. 84-90

facultado por J C Milhazes.


"... A descrição do sr. José Maria de Souza Monteiro (no Diccionário Geográfico) contem muitos erros: 1º O Lobito não é uma enseada, mas sim uma importante e bela baía que torna o Lobito um porto natural...; 2º Não é provido das águas do rio Catumbela, pois que a foz deste rio dista cerca de 20Km ao sul doLobito, 3º O autor dá como distante meia légua do rio Catumbela e um quarto de légua da praia, 4º Põe nas margens do rio montes com muita pedra calcárea, em que se trabalha no fabrico de cal, coisa que não existe ali, 5º Finalmente é de grande vulto o erro que o autor dá da situação do Selles, porquanto estes povos estão muito longe, além da Hanha, dos povos das margens do Catumbela.

... O Lobito foi ainda no segundo quartel do século XIX um coito de navios contrabandistas, principalmente negreiros, cujas tripulações desembarcavam e iam comprar escravos aos antigos colonos e fazer razias ao interior.

É verdade que também houve em 1836, quando se fundou a Catumbela (Asseiceira) e se aboliu o tráfico da escravatura, a ideia de se construir uma cidade no Lobito, sobre o morro da Kileva, ideia da qual se desistiu por falta água e pelas grandes despesas e trabalho de uma tal empresa.

Também é verdade que os terrenos que cercam o Lobito (chamados "Salgados" devido à grande infiltração de água do mar, de que se enchem, deixando por evaporação um depósito de sal) se inundam completamente na época de chuvas, impedindo o trânsito entre eles.

A história do Lobito é bem simples.

Há ainda poucos anos era este belo porto pouco conhecido, e nós próprios, os portugueses, nenhuma importância lhe ligávamos, uma vez banida a ideia da fundação de uma cidade sobre o morro da Kileva. O Lobito é hoje cobiçado pelos ingleses e alemães, e, pode-se dizer, foi a cobiça dos estrangeiros que abriu o porto aos olhos do mundo e, foi depois do contrato de William e da construção do caminho de ferro, no actual período, que se formou o Lobito conhecido e tão falado de hoje.

Antes do período atual, apenas vivia no Lobito, na margem oriental da baía um ou outro branco exercendo a pescaria e alguns indígenas que se dedicavam ao mesmo mister."

Nomes descritos nesse período como moradores: José Maria, João de Souza Honrado, Manuel Faustino (pescaria), Júlio Cardoso, Marques Esteves - Cachindindi (Pescaria - 1864-1874), Francisco Xavier de Castro, Domingos Fançony Moura (pescaria e carreira de botes de passageiros), Accacio Ribeiro da Silva (padaria), Abraham Levy Cohen, José de Jesus Pires, António da Costa, Manuel Joaquim de Carvalho (regedor, fiscal e telegrafista), António Alves Ferreira, João Marques Carneiro e Elvira de Vasconcellos (Kiosque Internacional).


"... O Lobito então só servia para pescarias, corte de tungas (mangues) e apanha de ostras para fornecimento de Catumbela e Benguela e para passeios (pic-nics)

É, só depois da construção do CFB, que se forma a actual povoação do Lobito, de ambas as margens da baía.


... É ali estabelecida uma regedoria, das quatro em que se divide atualmente o concelho.

Antes do estabelecimento da atual Delegação Aduaneira existia na margem oriental do Lobito um posto fiscal, que funcionava na casa do sr. Manuel Joaquim de Carvalho, junto à estação telegráfica, acumulando ambos os serviços pelo mesmo empregado, que também era regedor.

A margem ocidental (restinga) fez-se depois da construção do caminho de ferro e conta hoje (1908) obra de dez casas principais construídas em madeira, algumas das quais com primeiro andar. Há como dignas de se distinguir: o edifício do hospital, a casa do chefe da companhia, bungalow da antiga firma empreiteira Griffiths & Cª, Hotel principal do Lobito, a casa do Correio e Telégrafo, a casa dos empregados da Companhia CFB, a Delegação Aduaneira, o Kiosque internacional. Há ainda oficinas e armazéns de zinco, a estação do CFB, várias barracas de lona e cubatas de indígenas."

"Os vapores atracam à ponte de madeira construída pela Companhia, constando que a mesma companhia vai construir uma ponte de ferro.

Vê-se já hoje na restinga, feitas este ano, algumas ruas já macdamisadas que dão à pequena povoação um aspecto muito agradável. Estas ruas foram feitas pela Companhia do Caminho de Ferro. Antes de existirem tinha de se caminhar por sobre o areal quente e por sobre as inúmeras linhas que cruzam a restinga em vários sentidos.

O Lobito teve a sua maior força de população e movimento em fins de 1907 e princípios deste ano (1908). Nessa época chegou a ter, seguramente o mínimo de 200 europeus, sendo mais de 150 ingleses e alguns 500 negros, na maior parte também ingleses. Com a paralização dos trabalhos do caminho de ferro, retirou-se quase toda essa população, estando hoje limitada a uns 70 europeus (muito poucos estrangeiros) e cerca de 160 negros, quase todos cabindas e kintandeiras e lavadeiras da Catumbela e Benguela.

Dos habitantes do Lobito foram apenas incluídos no recenseamento eleitoral deste ano 26 munícipes.

Há hoje no Lobito: 10 senhoras na margem ocidental e 2 na margem oriental; 5 famílias legalmente constituídas na margem ocidental e uma na margem oriental.

Na margem ocidental (restinga) estão montadas 2 pescarias, sendo uma de um europeu de nome José e outra de pescadores naturais de Luanda.

O Hospital, além do médico diretor, tem um enfermeiro.

As pouquíssimas casas comerciais são todas portuguesa, a saber: na margem ocidental - o Kiosque Internacional, a casa de Horácio Lopes da Silva (comedorias) e o Hotel da Companhia. Na margem oriental - a casa de João Marques Carneiro e Accacio R. Silva.

Há 2 despachantes oficiais que residem na margem oriental.

A margem oriental fica a uma distância aproximada de 500 metros do Morro da Kileva

A restinga do Lobito tem uma área de, pouco mais ou menos, 45ha, quase todos ocupados pelos estabelecimentos e linhas do CFB e terrenos do governo, ficando apenas alguns 10ha para concessões a particulares.

Em fins de 1907 e princípios de 1908, em que o movimento do Lobito era grande, parecendo a nascente povoação, com o ruído constante do fervilhar das caldeiras e descargas de vapor das máquinas, o chiar das rodas sobre os rails, o silvar das locomotivas e o martelar das oficinas, uma pequena cidadela de ferro e aço fazendo antever um brilhantíssimo futuro à pequena e nova terra de promissão, houve a febre dos pedidos de concessões de terrenos na restinga, em número de dezenas, esperançados todos em novo futuro restaurador. Hoje veio a desilusão com as contínuas intermitências nos trabalhos de construção do caminho de ferro e com a retirada de todos o pessoal da companhia empreiteira.

À primeira esperança sucedeu a desilusão, depois a esta uma nova esperança e ainda depois desta uma nova desilusão.

Hoje ainda se está na expectativa esperançosa de que a companhia arranje capitais para a continuação dos trabalhos e assim venham a ser compensados os sacrifícios que alguns habitantes da Catumbela fizeram indo enterrar-se no Lobito.

...

Uma coisa que há a notar no Lobito é a falta de iluminação pública que, na margem ocidental, consta apenas de 4 candeeiros que cercam a delegação aduaneira.

A língua de areia ou restinga que forma a baía tem um comprimento aproximado de 4.500 metros (1908) e uma largura média de, pelo menos, 100 metros.

...

É digno de citar-se o grande mangal do Lobito, que se prolonga pelo fundo da baía fora até quase aos Salgados do Catuno, na grande curva da linha férrea de Catumbela ao Lobito. Mede uma área maior que a da baía.

É uma imensa floresta de mangues que foram sempre utilizados, sulcada por numerossímos canais, em caprichosos zigue-zagues, tendo alguns desses canais a extensão de 3Km. Toda esta floresta é habitada por um número incomensurável de ostras que vivem agarradas aos mangues, ficando a descoberto nas marés mortas. Dali trem saído sempre ostras para Catumbela, Lobito e Benguela e da sua casca têm alguns habitantes da margem oriental feito uma cal muito branca. Para se cortar mangues (tungas) é preciso uma licença da administração do concelho da Catumbela, e que só é passada depois de se ter pago à fazenda nacional um imposto de 200 réis por cada tunga a cortar. Esta madeira é muito resistente e empregava-se muito antigamente nos tectos das casas em Benguela e Catumbela.

O mangal e a ostreira foram sempre objecto de frequentes pic-nics antes do período actual.


A praia do Lobito abunda em conchas marinhas actuais e fósseis.


Existe no Lobito uma fonte de água salobra que, bebendo-se, produz nos primeiros dias diarreia a quem não estiver habituado a bebê-la. Esta nascente, serviu, em outros tempos de abastecimento aos navios negreiros que iam ao Lobito fazer aguada. A nascente fica no conhecido Vale da Quileva e o orifício de onde brota a água, tem, quando muito, um diâmtero de 10cm.

O abastecimento de água do Lobito é feito hoje pela água canalizada do Catumbela, pertencente à Companhia de Ferro, a qual vende aos habitantes a razão de 1$000 réis por metro cúbico."


A meio da década de 60, o centro de informação e turismo de Angola (CITA) criou regulamentos e junto das câmaras municipais, dinamizou um Carnaval ao seu jeito e para defesa das suas conveniências. Proibiram o uso das máscaras entre os elementos de cada grupo, passando a exigir que o desfile principal fosse na avenida da marginal, chamada então Paulo Dias de Novais, incrementaram então os corsos, corsos carnavalescos, corsos alegóricos que desfilavam nos espaços que separavam os grupos carnavalescos e incentivaram cada vez mais as festas de salão, entre outras acções. Nesse período, depois de Luanda, só o Carnaval de Lobito, na província de Benguela, se destacou, chegando a ser considerado o mais animado e mais organizado Carnaval de Angola. A câmara municipal fazia desfilar, na bela restinga e desde o início do Porto do Lobito à colina da saudade todos grupos de Carnaval e corsos alegóricos, para além dos guerreiros da fuba e banhos de ampulheta, das residências circunvizinhas.


As festas de salão, foram nessa cidade as mais animadas. Artistas e conjuntos musicais foram contratados do Huambo, Lubango e Luanda, para animar ao longo de 10 anos, os bailes de Carnaval de Lobito, Catumbela e Benguela. Deste modo, de todos os pontos do país, caravanas de automóveis dirigiam-se para lobito durante o período de Carnaval.




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