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Forte de Kabatukila


Entre Luanda e Kafunfo, na Serra de Kabatukila, dominando a grandiosidade da Baixa de Kassange, encontra-se o Forte na que a Serra deu o nome, e que encerra séculos de História, mistérios e lendas.


Construído inicialmente para repelir os ataques dos Bângalas, migrados do Nordeste de Angola, serviu mais tarde como ponto de apoio aos Portugueses, no combate à captura e comércio de escravos.


Foi também usado como base nas frentes de trabalho de pesquisa e combate à Mosca Tzé Tzé – Glosiana Morsitans – a Mosca do Sono; díptero hematófago, pouco maior do que uma mosca comum, cuja picada inocula um protozoário parasita no sangue, o tripanossomo, que provoca a doença do sono ou tripanossomíase, em homens e animais.


Essa doença provoca distrofia e lassidão muscular nas vítimas. A mosca, por meio de um gancho pontudo que tem nas extremidades das patas, crava-se nas vítimas e suga o quanto pode; mesmo animais de grande porte, acabam morrendo de inanição, em sonolentos bocejos.


A mosca do sono foi erradicada de Angola em 1950, e os principais focos eram a Baixa de Kassange e o Pungo Uá N’Dongo.


Na região de Kabatukila, reinou um Soba, de nome N’Ganga Kally, que passou à história do seu povo, pelo modo Salomônico com que ministrava a justiça; com uma rapidez e equilíbrio tal, que dificilmente tinha decisões contestadas por qualquer das partes.


Casos que em geral exigiriam réplicas e tréplicas morosas e pormenorizadas, evidenciando todos os nuances, resolvia-os N’Ganga Kelly em minutos.


Um exemplo de uma pérola de jurisprudência, é o de um súdito, que foi à sua presença, explicar que a mulher por quem havia dado caro Lembamento(1), o abandonara e voltara para casa do pai, sem qualquer motivo. Pretendia assim, que lhe fossem devolvidos os bens que dera, em sinal de apreço pela noiva.


O pai da noiva defendeu-se confirmando que recebera os bens citados, e os aceitara, pois até se juntar com o marido, a moça era digna do apreço por ela demonstrado; depois de casada, se o marido não conseguia controlar a esposa, como poderia ele, que era apenas o pai?


N’Gala Kelly, pensou um pouco e decidiu:


Ele, como pai, vivendo tanto tempo com a filha, tinha por obrigação conhecê-la, e assim saber que ela era capaz de tal atitude; e nessas circunstâncias, nunca deveria ter exigido um Lembamento tão vultoso.


Por ter procedido de má fé, obrigava-se a devolver ao frustrado marido, duas terças partes dos bens recebidos.


Caso a filha voltasse a ter um pretendente para casar, ele deveria pedir como Lembamento, bens equivalentes a uma terça parte dos anteriormente pedidos, já que ela não valia mais do que isso, e esse segundo Lembamento deveria ser integralmente entregue ao primeiro marido.


(1)Lembamento – Um dos costumes culturais africanos, motivo de divergências e incompreensões, entre colonizados e colonizadores. É o ritual em que o noivo oferece à família da noiva uma série de bens, e que tem por escopo demonstrar à família o apreço em que tem a futura esposa, bem como compensar os familiares pela perda de tão querido ente, para o noivo. Os colonizadores entendiam esse hábito cultural como uma mera negociação, uma compra!


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