Saartjie Baartman a “Vênus Calipígia”!
Nunca o mundo ocidental se poderá desculpar o bastante, pelas atrocidades cometidas em África! Na África do Sul, no início da ocupação bôer, afrikânners enfastiados, saíam para caçar Köi San, o povo mais dócil e cordato que existe na face da terra. No ex Congo Belga, feudo conedido ao Rei Leopoldo na Conferência de Berlin, os brancos se arvoravam o direito de amputar, mãos, pés, pernas e braços, e também de matar, por coisas banais, choques culturais, ou apenas para demonstrar pátro poder. Ingleses saudosos dos campos e costumes rurais do reino Unido, instituíram a caça à raposa africana; na falta de raposas em África, estas eram substituídas por negros jovens, que eram perseguidos por cachorros até à axaustão, e então trucidados a mordidas, tal como as raposas. Não vou falar aqui nos roubos, nas traições políticas e econômicas a povos dóceis, não ocidentalizados, não preparados minimamente que fosse para a ignomínia ocidental! Não vou contar sobre os ataques, humilhações e tentativas de desmantelamento de culturas milenares e coerentes. Fatos históricos não devem ser analisados fora do contexto em que aconteceram, mas humaniasmo e piedade sim, podem e devem ser analisados em qualquer contexto!
Aqui vou falar na ignomínia praticada contra um ser humano, contra uma mulher jovem, considerada bonita para os padrões da tribo em que nasceu. Vítima de pura impiedade!
Saartjie "Sarah" Baartman (1789-1815) foi a mais famosa de, pelo menos, duas mulhereshotentotes usadas como atrações secundárias de circo na Europa do século XIX sob o nome de Vénus Hotentote ou Vênus Calipígia.
Nasceu no seio de uma família khöi san no vale do rio Gamtoos, na atual província do Cabo Oriental, na África do Sul. Esta é a forma afrikânner do seu nome, cujo original é desconhecido. Saartjie (que se pronuncia «Sarqui») pode ser considerado equivalente ao português «Sarazinha».
Saartjie era criada de servir numa fazenda de holandeses perto da Cidade do Cabo. Hendrick Cezar, irmão do seu patrão, sugeriu que ela se exibisse na Inglaterra, prometendo que isso a tornaria rica. Lord Caledon, governador do Cabo, permitiu a viagem, embora tenha lamentado tal decisão após saber o seu verdadeiro propósito.
Saartjie foi para Londres em 1810 e viajou por toda a Inglaterra exibindo as suas dimensões corporais «inusitadas» - segundo a perspetiva e padrões europeus.
Mediante um pagamento extra, os seus exibidores permitiam aos visitantes tocar-lhe as nádegas, cujo invulgar volume (esteatopigia), uma sifose lombar de acúlulo de gordura, que no povo Köi San é conservada nas nádegas, reserva fundamental a eventuais necessidades a uma vida de privações no deserto do kakaári, parecia estranho e perturbador ao europeu da época.
Por outro lado, Saartjie tinha sinus pudoris, também conhecido por «avental», «cortina da vergonha» ou «bandeja», em referência aos longos lábios da genitália de algumas Khoisan. Segundo Stephen Jay Gould, «os pequenos lábios ou lábios internos dos genitais da mulher comum são extremamente longos nas mulheres khoi-san e podem sobressair da vagina entre 7,5 e mais de 10 cm quando a mulher está de pé, dando a impressão de uma cortina de pele distinta e envolvente» (Gould, 1985). Em vida, Saartjie nunca permitiu que este seu derradeiro traço fosse exibido.
Entre as várias estátuas conhecidas de Vênus / Afrodite , destaca –se a famosa Vênus Calipígia , do Museu Nacional de Nápoles . A Vênus Calipígia , Afrodite de Belas Nádegas ou Aphrodite Kallipygos ( em grego ) é uma estátua de uma mulher que, parcialmente nua ao levantar seu peplo ( manto grego ) , expõe a sua bela bunda e a admira .
Aphrodite Kallipygos (do grego kalli = belo + pygos = nádegas) era venerada num templo especialmente erguido para ela , em Siracusa, que retrata uma figura feminina que levanta inocentemente o manto para que seu traseiro fique orgulhosamente à mostra.
“Calipígia, vocábulo oriundo do grego, refere-se a nádegas bonitas e bem proporcionadas. Seu primeiro elemento é "cali-", que significa "belo", o segundo elemento é "pyge", que significa "nádegas “Reza a lenda que ela e Marte foram protagonistas do único caso de sexo anal da mitologia. Venus era casada com Vulcano, o Deus Ferreiro, mas o amante a tentava com propostas nada sutis: “Se você me deixar penetrá-la por traz, será a mulher com a bunda mais bela do Olimpo”. Ela recusou várias vezes o convite. Porem, como Vênus era Deusa do amor e da beleza, houve um momento em que a vaidade falou mais alto. Então ela humilhou o marido, enfrentou a ira dos pais, Júpiter e Dione, e se entregou ao Deus da Guerra, que cumpriu o que prometeu. Usando o pênis como um cincel, esculpiu em Vênus as nádegas mais bonitas do Olimpo. Por esse motivo, ela é chamada de Calipígia, termo que vem do grego e que significa, bunda bonita.”
Saartjie tinha apenas 1,35 metro de altura e era considerada particularmente bonita entre as mulheres do seu povo. Tinha características físicas pelas quais, desde a mais remota antiguidade, as mulheres bosquímanas se notabilizaram: nádegas enormes e elevadas (como traço característico da sua etnia, os bosquímanos acumulam gordura não sobre a barriga, mas sobre as nádegas) e os pequenos lábios vaginais muito desenvolvidos.
A vida de Saartjie foi filmada um filme que tem como título AVÊNUS NEGERA, do diretor tunisiano Abdellatif Kechiche. O longa, conta a dramática história da famosa Vênus Hotentote, que foi atração de circo e objeto de estudo de etnocentristas europeus, como Georges Cuvier, graças ao tamanho excepcional de seus quadris.
O filme se inicia na Academia Real de Medicina, na Paris de 1817, onde Cuvier exibe para estudiosos um molde do corpo de Saartjie. Na cena, ele afirma que nunca havia visto uma cabeça humana tão parecida com a dos macacos, e que seus estudos concluem a inferioridade da raça negra. A inferioridade de Sarah – como Saartjie também é chamada – é reiterada constantemente por todos aqueles que cruzam seu caminho.
Pertencente à tribo africana Khoisan (povo também conhecido como hotentote), Saartjie servia fazendeiros holandeses, até que seu patrão Hendrick Cezar a leva para ir a Londres, prometendo-lhe que, ao chegar lá, eles farão apresentações nas quais Saartjie poderá dançar e cantar, e os dois ficarão ricos. O que acontece na realidade é um espetáculo que a expõe e humilha, no qual ela aparece acorrentada e enjaulada, fingindo que é uma selvagem que ataca os presentes. A selvageria, no entanto, restringe-se ao palco. Proibida por decisão de tribunal a exibição na Inglaterra, Saartjie foi vendida a um francês, domador de feras.
Por fim, doente e viciada em álcool, foi obrigada a se prostituir até morrer de doenças venéreas e pneumonia, em 29 de dezembro de 1815. Para não ter de pagar o enterro, o domador de animais vendeu o cadáver ao Musée de l'Homme (Museu do Homem), em Paris, onde foi feito um molde em gesso do corpo. Os resultados da autópsia foram publicados e consta que Saartjie era uma mulher “inteligente, com excelente memória e fluente em holandês”. Além do molde em gesso, o esqueleto, os órgãos genitais e o cérebro, conservados em formol, estiveram em exibição até 1974. Ela foi dissecada e seus órgãos (inclusive genitais) exibidos em aulas. O corpo foi totalmente investigado e medido, com registro do tamanho das nádegas, do clitóris, dos lábios e dos mamilos para museus e institutos zoológicos e científicos.
A partir da década de 1940, foram feitos apelos pela devolução dos seus restos mortais. Quando se tornou presidente da África do Sul, Nelson Mandela requereu formalmente à França a devolução dos restos mortais de Saartjie Baartman. Após inúmeros debates e trâmites legais, a Assembleia Nacional francesa acedeu ao pedido. Os restos mortais de Baartman foram inumados na sua terra natal em 3 de maio de 2002.