SÃO PHILIPE DE BENGUELA HÁ CEM ANOS
A cidade de S Philipe de Benguela era, no ano de 1870, um importante centro comercial, onde os povos do interior, principalmente os Bienos, iam permutar seus artigos, fugindo à exploração dos funantes, que já não lhes davam condições satisfatórias.
Vinham estas comitivas de mercadores a pé, do Bié ou outras regiões ainda mais distantes, vender as suas mercadorias, a preços cujas cotações eram na época:
- Um Angolar e quarenta e cinco centavos, a libra de marfim de lei, não quebrado.
- Oitenta centavos a libra de cera limpa.
- Oito angolares e cinqüenta a arroba da borracha.
- Dois angolares a pele de onça, boa.
Os artigos mais procurados por essas caravanas vindas do interior, eram as bebidas alcoólicas, o sal, a pólvora, tecidos de riscado, armas, catanas-facões, espelhos e missangas.
Benguela foi primeiro um grande centro de concentração e exportação de escravos, e posteriormente tornou-se importante centro de comércio. Esses dois fatores, levaram a uma grande miscigenação de povos e costumes, gente de diferentes tradições, além de ter sofrido também, e em função das circunstâncias anteriores, muita influência por parte dos brancos.
Tudo isto alterou bastante os costumes e modo de vida do povo de Benguela, mas o dialeto, manteve-se M’bundu. Os homens do povo de Benguela ocupavam-se essencialmente da pesca; as mulheres da agricultura e criação.
Há cem anos, Benguela era uma cidade espraiada, com construções baixas, em que se destacavam o hospital municipal, o Palácio Residencial do Governador Colonial, o Quartel das tropas portuguesas e a Alfândega, cuja cifra de rendimentos aduaneiros, orçava já a expressiva ordem dos Cem Contos de Réis ao ano.
Após o pôr do sol, a atividade ficava restrita aos quintais das casas comerciais, onde as comitivas acampavam, e por vezes se demoravam nas barganhas comerciais.
Uma ou outra tipóia, em que dois homens transportavam o seu patrão, o seu amo, esgueirava-se rapidamente pelas ruas desertas, fugindo ao desagradável encontro com as hienas que, afoitas, à noite circulavam pelas ruas da cidade, procurando carniça ou caça fácil, e que, se sentiam em superioridade de força, atacavam o homem.
As hienas calculavam a sua possibilidade para o ataque, pelo tamanho da vítima em potencial, e assim, os europeus, desenvolveram um costume, de portarem sempre um guarda-chuva, ou bengala e chapéu; escutando a risada característica das hienas, abriam o guarda-chuva, ou penduravam o chapéu na ponta da bengala, mantendo o braço bem esticado para o alto.
As feras, equilibradas nas patas traseiras, achando-se mais baixas do que o adversário, não atacavam.