O Curumim de Rondônia ( Auto de Natal )
O Curumim de Rondônia ( Auto de Natal )
Peça Ecológica em Um Ato / Natal de 94
Ao Gabriel, meu presente de Natal em 1994
Carlos Duarte
Petrópolis Dez.94
Personagens:
Caboclo contador de histórias
Vários Curumins
Boto
Yára
Curupira
Caipora
Boitatá
CENÁRIO
Clareira no meio do mato. Em torno de uma fogueira onde assam pedaços de carne, sentam-se o Caboclo contador de histórias e diversos Curumins.
Atrás, mais ou menos mimetizados pela pujança da floresta Amazônica, estão os gênios da Floresta, irrequietos, se mexendo bastante: Curupira tenta tirar o cachimbo do Caipora, o Boto olha guloso para as formas da Yára, o Boitatá tenta se enroscar nas pernas do Boto.
Como música de fundo, escuta-se o canto do Uirapuru e diversos sons da floresta.
Obs. O número de Curumins participantes não é limitado, podem ser todos os alunos menores da classe. Os que interpretarem gênios da floresta devem ser os mais desinibidos. Todos os participantes devem ser estimulados a criar e interferir nos diálogos.
ATO ÚNICO
CENA I
Caboclo – Hoje é dia de Natal, de paz e de bondade, tem que respeitar o mato ... os bichos, as árvores.
1º Curumim – Não pode caçar?
2º Curumim - Não pode pescar?
3º Curumim – Não pode queimar?
4º Curumim – Não pode derrubar?
Caboclo – Caçar e pescar pode, mas só para comer. Não pode matar para deixar no mato ou no rio, no barranco do igarapé.
Derrubar pode, mas só para cultivar.
Queimar pode, mas só para limpar, com cuidado para não queimar tudo. Tem que juntar tudo no centro do terreno derrubado, afastado do mato, e aí taca fogo ... cuidado com o vento.
1º Curumim – E se matar muito ?
2º Curumim – E se pescar muito?
3º Curumim – E se queimar muito?
4º Curumim – E se derrubar muito ?
Caboclo - O mato tem seus guardadores, que castigam quem é mau, quem abusa, quem tem olho grande.
Quando alguém pesca muito e deixa estragar o peixe, o Boto pega. Se não conseguir pegar o pescador, se vinga na irmã ou na filha.
BOTO – Sou o Boto sedutor
Dos peixes protetor
as donzelas distraídas
eu desgraço, sem saída
Sopro o Boré
Chego de surpresa
No meio do mato
Donzela é minha preza
Galanteador sem igual
Exímio dançarino
Seduzo moças novinhas
E fujo rindo escarninho
Caboclo – Quando escapa da vingança do Boto, aí então é que é pior, porque quem vai se vingar vai ser a Yára ... linda de morrer!
Yára – Sou Yára da voz doce
Com a voz conquisto e encanto
Com o meu canto atraio os homens
Que paraliso ao meu mando
Com os meus braços os envolvo
Num abraço de acalanto
O fundo do rio revolvo
No ardor com meu amante
Ao entardecer calmante
Ou ao luar plangente
Escolho escravo ou amante
Que me sirva obediente
Caboclo – Se derrubar mato à toa, aí quem fica com raiva é o Curupira ...
Curupira – Da floresta o protetor
Sou o Curupira valente
Com os meus pés deformados
Faço medo a muita gente
Quem árvores derrubar
Muito caro vai pagar
Fica no mato à toa
Sem o caminho encontrar
Fico as árvores sacudindo
Para ver se fortes estão
Pra agüentar tempestade
Chuva vento trovão
Caboclo – E se matar os bichos que não vai comer ... cuidado, está mexendo com o Caipora.
Caipora – Com o meu cachimbo fumando ...
Sou o temido Caipora
Vivo no mato assustando
Quem anda fora de hora
Eu protejo os animais
Quem se atrever a caçá-los
Não encontrará jamais
O caminho para vir busca-los
Vivo exigindo fumo
Do caçador atrevido
Se não me der perde o rumo
E ainda é perseguido
Caboclo – Por isso é preciso cuidado, não estragar, não ser mau ...
3º Curumim – E se queimar o mato, quem é que fica com raiva?
Caboclo – Aí é o Boitatá ...
Boitatá – Eu sou o Boitatá
Sou cobra de fogo e de luz
Fogo fátuo a brilhar
Quando a lua não reluz
Quem quiser incendiar
O verde que é tão bonito
Eu vou me vingar
Vira fogo e fica perdido
Também me chamam papão ...
Coisa ruim ... mas ...
Não acreditem não,
É que o povo tem medo de mim!
( Todos os personagens, quando falam, devem vir à boca de cena, menos o Caboclo contador de histórias que, por ser um adulto, deve ser visto, mas não de forma muito clara. Os Curumins, nas perguntas seguidas, devem levantar-se, correr à boca de cena, fazer a pergunta e voltar para sentar no mesmo lugar em volta da fogueira, em rápida sucessão ).
( cai o pano )
CENA II
( Levanta o pano, depois de ter baixado rapidinho. O cenário de fundo, uma fatia da floresta pintada com cores fortes e exageradas em contrastes, mas com muito verde, com araras, tucanos, macacos etc... está agora fortemente iluminada. Todos os personagens estão falando animadamente. Assim que o pano de cena levanta, os Gênios da Floresta avançam até à boca de cena, de mãos dadas ).
Coro dos Gênios da Floresta :
Somos os Gênios da Floresta
Cada um com seu mister
Mas nossa vida é uma festa
Cada um faz o que quer
( Os Curumins vêm aos poucos também para a boca de cena , e juntam-se ao coro dos Gênios da Floresta; cantam o mesmo refrão, que depois de um pouco, vai diminuindo de intensidade, ao mesmo tempo que o pano vai baixando).
FIM